Francesca Palmeira

Francesca Palmeira
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Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Fui criada no centro da cidade de São Paulo, dentro de um apartamento de 40m2. O bairro era perigoso e a paisagem era do medo. Sempre gostei de animais. Acordava domingo de manhã para assistir o Globo Rural. Com 12 anos eu ganhei meu primeiro computador e comecei fazer uns cursos de Windows, Excel, etc. Com 14 anos eu optei cursar o segundo grau em uma escola técnica ao invés do ensino convencional clássico. Após três anos no curso técnico em Processamento de Dados, eu tinha centenas de horas de laboratório, tinha aprendido algumas linguagens de programação (ex.: COBOL e BASIC), Estatística, Contabilidade, entre outras disciplinas. Aos 17 anos a minha vida estava urbana demais e eu acreditava que Biologia era a profissão do futuro. Fui morar no interior de São Paulo e comecei a fazer estágio e trabalhos de campo desde o primeiro ano da Graduação. Foi quando eu comecei a me interessar pelo Método Científico e a ler uns artigos de Biologia da Conservação. No terceiro ano, eu escrevi o meu projeto de Iniciação Científica para estudar grandes felinos e os conflitos de conservação em comunidades quilombolas no Vale do Ribeira. A partir daí, eu já sabia que faria Mestrado e Doutorado.

Como surgiu o interesse por análise de dados de biodiversidade?

Eu sempre gostei de ler e interpretar os gráficos de matérias em jornais e revistas. Aprendi a fazer gráficos manualmente usando folha milimetrada, era assim que eu tinha que entregar os trabalhos de Estatística na escola técnica. Quando comecei a fazer Iniciação Científica durante a Graduação, veio a necessidade de analisar os dados e eu fiz tudo no Excel, pois eram análises descritivas bem simples. Já no Mestrado, surgiu a necessidade de fazer análises mais robustas e eu queria ter autonomia em todo o processo, do campo ao laboratório. Comecei a estudar a linguagem SAS, era a primeira vez que eu usava uma linguagem de programação depois de seis anos sem ter contato nenhum com isso. Eu pensava que nunca mais iria precisar da linguagem de programação e lá estava eu de novo de frente de um computador, com o prompt piscando... Dessa vez era diferente, eu tinha um objetivo. Precisa analisar os dados que eu coletei. Sabia exatamente quais eram as análises que eu queria fazer baseada em artigos que eu tinha como inspiração. Fiz as minhas análises, mas a linguagem SAS ainda não me oferecia a autonomia que eu precisava. Era uma linguagem paga e eu só podia usar na universidade ou uma versão gratuita que durava apenas três meses. Sete anos depois, entrei no Doutorado e a minha primeira disciplina foi a sobre a linguagem de programação R. O professor era muito exigente, eu fui uma aluna mediana e tirei nota B. Mesmo assim eu persisti. Continuei estudando a linguagem R, concomitante a outros cursos de Estatística e Modelagem Ecológica. Tudo isso para conseguir rodar as minhas análises. Eu queria entender como os dados entravam, como eram tratados, como os resultados eram estimados e interpretados. Hoje eu tenho autonomia para rodar diferentes análises e consigo ajudar outras pessoas que precisam.


No que você está trabalhando agora?

Sou uma mistura de bióloga de campo e de computador. Utilizo a linguagem de programação R para analisar e visualizar dados socioambientais e de biodiversidade. Tenho uma empresa chamada analisaR e presto serviços de consultoria para profissionais, empresas privadas, governo e terceiro setor. Também ofereço mentoria para estudantes por meio das RLadies Ribeirão Preto, uma organização sem fins lucrativos. Atualmente, estou analisando os indicadores socioambientais de oito projetos no Cerrado que fazem parte do Plano de Investimentos do Brasil para o Fundo de Investimento Florestal (PIB/FIP), uma iniciativa do governo federal que faz parte de um programa internacional de longo prazo. Assim que possível, pretendo fazer pós-doutorado em alguma instituição de pesquisa.


O que você gostaria que todos soubessem?

Você não precisa ser bom em Matemática para analisar dados ecológicos utilizando a linguagem de programação. Você precisa ter um objetivo claro. Aprenda a programar por demanda, conforme a sua necessidade. Muitas vezes as pessoas desistem porque não estabelecem uma meta que possa ser alcançada em curto prazo.


Como seria um dia perfeito para você?
Um dia perfeito seria um dia que não existisse nenhum tipo de conflito entre humanos, nehuma treta, nenhum barraco. Todo mundo de boa fazendo as suas miçangas e vivendo da sua arte.