Everton Miranda

Everton Miranda

(Twitter - ResearchGate)


  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Eu entrei no curso de biologia com a intenção de me tornar analista ambiental em algum órgão público, como Petrobrás, Ibama ou ICMBio. No momento da minha entrada na graduação, eu estava lendo um livro de divulgação do Carl Sagan, que tem um título bem merda inclusive: “O mundo assombrado pelos demônios: A ciência vista como uma vela no escuro”. Esse livro me deixou balançado com relação a me tornar cientista, embora eu soubesse que tinha talento natural para coisa. Eu lia artigo “só de feliz” desde muito antes de entrar na graduação. Durante o primeiro e segundo semestre eu meio que continuei nessa, meu querer pelos predadores foi aumentando, pintou uma vaga de estágio no Laboratório de Ecologia e Conservação de Populações para trabalhar com lontra. Eu passei no estágio, e daí em diante eu tive uma vida fácil com relação ao trabalho. Fazer ciência é uma segunda natureza para mim. Fernando Fernandez, chefe do laboratório, sabia da minha arrogância e nunca me fazia elogios, exceto um quando eu estava prestando a seleção de mestrado: que ele passou a vida inteira achando que ninguém vinha pronto para nada, que “ninguém nasce astronauta”, mas que eu já nasci cientista.

  • Como surgiu o interesse por predadores?

Eu sempre gostei muito de violência desde a primeira infância. Assisto uma luta profissional como se fosse um balé. Os predadores me deram um acesso para apreciar a violência livre de amarras morais ou consequências sociais. Na natureza todo sangue derramado é justo e honesto.

  • No que você está trabalhando agora?

Além dessa iniciativa maior com as harpias—pelas quais eu sou mais conhecido—eu também trabalho com outros predadores. Desenvolvo alguns projetos de pesquisa com sucuris, além de ser parceiro do Instituto Onça-Pintada no desenvolvimento de ações com essa espécie. Recentemente, coletei um conjunto extenso de dados sobre quatro predadores aquáticos: pirarucu, ariranha, boto e jacaré-açu. Esse trabalho de campo foi realizado na região do rio Araguaia, e vai ser publicado durante esse ano.


Eu hoje sou cientista em uma instituição especializada em aves de rapina, chamada The Peregrine Fund (Idaho, EUA). Além disso, tenho uma empresa que desenvolve operações de turismo de fauna no Brasil, através da qual presto consultoria para empreendimentos de turismo, assim como para a produção de documentários de natureza.

  • O que você gostaria que todos soubessem?

Se todo mundo conhecesse o que está escrito no “Os Anjos Bons” (Stephen Pinker, Cia das Letras, 2017) e no “Armas, Germes e Aço” (Jared Diamond, Record, 2017), eu acho que a gente viveria num mundo melhor.


  • Como seria um dia perfeito para você?

Pergunta de questionário pre-teen, gente? Idealmente, 1g de maconha, uma rede e o último livro do David Quammen. Mas vamos falar de uma semana perfeita? 40h de computador, programando no R e redigindo artigo (gosto muito de ambos) de segunda a sexta, ouvindo música no meu escritório. Meus dias raramente funcionam bem se eu não fizer atividade física antes do expediente, então isso também é fundamental. Fim de semana em campo, preferencialmente achando um novo ninho de harpia, e topando com outros predadores no caminho.