Carina Maria Vela-Ulian

Carina Maria Vela-Ulian
(Lattes - ResearchGate - Twitter)


Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Entrei para vida acadêmica muito por "culpa" de uma professora de Biologia que lecionou na escola durante o ensino médio. Ela falava das aventuras caçando caranguejo na praia e como as pessoas ao redor dela achavam que tinha ficado doida, pois aparecia na praia de galochas, calça com vários bolsos, blusa de manga comprida, colete, chapéu, luvas, peneiras e baldes. Ela mostrava foto das coletas e dos bichos e falava com tanto entusiasmo sobre o quê a pesquisa dela representava e isso despertou meu lado aventureira. Queria trabalhar com algo que me fizesse sentir confortável e feliz mesmo com os olhares céticos ao redor, exatamente como ela fazia.


Como surgiu o interesse pela Ecologia?

Não foi de primeira que cai nas asas dos morcegos. Quando entrei na faculdade (Unesp - Botucatu), comecei trabalhando com câncer de estômago em humanos, mas não deu certo. Era laboratório demais pra mim. Depois dei um pulo no laboratório de crustáceos, para tentar descobrir como era trabalhar com caranguejos, igual a professora do ensino médio. Durei pouco nesse laboratório também. O glamour que ela me mostrou era diferente da realidade de "contadora de ovos de caranguejo" que me tornei nesse projeto. Larguei e fui atrás de trabalhar com serpentes, mas esse laboratório estava cheio e não aceitavam mais estagiários. Nem comecei e já fui dispensada. A vida do estudante não é fácil. Passei então a trabalhar com Paleontologia, onde fiquei uns 2 anos trabalhando com fósseis de invertebrados marinhos. Foi bem legal e ainda usei esse aprendizado para oferecer oficinas nas escolas públicas da região. Só que eu ainda não me sentia realmente satisfeita. Então fui procurar um professor que tinha acabado de voltar de licença e então, foi o ápice da minha graduação! Conheci os morcegos e me apaixonei. E quando digo apaixonei, é isso mesmo: eu chorei muito de alegria a primeira vez que subi no telhado de uma casa para pegar morcego. Só emoção. E foi aí que percebi que o meu "caranguejo" eram os morcegos.


No que você está trabalhando agora?

Eu estou fazendo o levantamento de espécies e distribuição altitudinal de morcegos na Serra do Caparaó como projeto de doutorado pela UFES - Universidade Federal do Espírito Santo. Com isso, poderei saber quais espécies vivem nessa região de forte pressão climática e altitudinal, além de tentar entender como as mudanças climáticas podem afetar a comunidade de morcegos dessa região.


O que você gostaria que todos soubessem?

Morcegos não são ratos! Morcegos são mais parecidos com baleias e cavalos do que com ratos. São animais importantíssimos para a saúde da natureza, ajudando a controlar pragas, dispersar sementes e restaurar ambientes. Por isso, mesmo que você não goste ou não ache os morcegos animais lindos e fascinantes, respeitem a vida desses animais e de todos os outros. Talvez você não saiba, mas o alimento que você coloca no prato pode sumir se eles desaparecerem.



Como seria um dia perfeito para você?

Um dia na meio no mato, acampada próximo de uma cachoeira para poder ouvir o barulhinho da água enquanto eu passeio olhando as plantas e procurando abrigo de morcegos para fotografá-los. Se for um local alto, melhor ainda, pois assim posso assistir o nascer e o por do sol no horizonte enquanto ligo meu aparelho de bioacústica e ouço os morcegos passeando sobre minha cabeça.