Mateus Ribeiro

Mateus Ribeiro

(Twitter )


  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Eu sempre quis ser cientista, desde que me entendo por gente. Quando criança eu adorava os documentários sobre ciências da Discovery e canais similares; o melhor momento do meu dia era assistir Planeta Terra, na TV Cultura. Eu decidi que ia ser biólogo ainda pequeno, vendo o biólogo Sérgio Rangel no programa da Eliana; minha mãe me disse que para ser como ele eu precisaria entrar na universidade, então cresci com essa meta/sonho. Eu queria ser como as pessoas que iam pro meio da floresta e viam todo tipo de planta e bicho. Hoje, cá estou eu no Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia.


  • Como surgiu o interesse pela Micologia?

Eu caí de paraquedas no trabalho com fungos. Quando eu entrei em Biologia na UFBA eu estava completamente maluco, alucinado, doido para estagiar em um laboratório. Eu não queria esperar então no meu segundo dia na universidade eu fui até o corredor do primeiro andar e saí batendo na porta de todos os laboratórios que eu via. Quem abria a porta me encontrava com uma cara de empolgação dizendo “Oi, vocês estão aceitando estágio voluntário?”. Não tive nenhuma resposta promissora. No mesmo dia eu fiz uma pequena trilha (no próprio campus) e encontrei uma coisa bem curiosa numa folha. Achei que era um fungo (hoje eu sei que aquilo era uma ooteca de algum inseto) e levei no Laboratório de Sistemática de Fungos (LABFUNGI – UFBA) pra ver se alguém me dava uma resposta. Eu sou insuportável quando fico curioso com alguma coisa; entreguei pra um dos estagiários e lelé me disse que ia mostrar para a coordenadora (e minha atual orientadora) do lab, que não estava no dia. No dia seguinte ao ocorrido, eu passei no LABFUNGI e a Profª Drª Bianca Silva me recebeu. Conversamos um pouco sobre o material que eu havia levado e no final da conversa eu solto um “A senhora aceita um estagiário voluntário?” e pra minha surpresa recebo um “sim” muito cordial! Na semana seguinte eu fui ao laboratório, a professora me mostrou o que era feito e eu gostei muito, tipo, muito mesmo. Esse ano eu faço quatro anos de LABFUNGI.

Eu comecei tão cedo a trabalhar no laboratório que quando eu tive a minha primeira aula prática no microscópio eu já sabia manuseá-lo, pois havia aprendido com a minha orientadora na minha primeira semana de lab.


  • No que você está trabalhando agora?

Atualmente eu trabalho com taxonomia de macrofungos da ordem Phallales no estado da Bahia, que são os cogumelos véu-de-noiva, chifres-fedidos e gaiolas-de-bruxa. Esse ano estou compilando os dados dos últimos anos e em processo de produção de um artigo, não vou dar spoilers mas VEM AÍ! Tem coisa muito legal pela frente e eu nem estou falando isso porque é o meu trabalho, eu juro! Paralelamente a isso, eu tenho aproveitado o tempo em casa para estudar ilustração científica. Além de ser um hobby muito legal, acaba sendo útil ao meu trabalho com taxonomia.


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Tem duas coisas. A primeira delas é que qualquer pessoa com disposição pode ser uma cientista, basta ter curiosidade, empenho, força de vontade e gostar de quebrar a cabeça. A outra coisa é que os macrofungos são simplesmente INCRIVEIS! Eles são lindos, dá pra comer alguns, outros produzem compostos que são nossos aliados em várias áreas, sendo que alguns podem nos ajudar inclusive na luta contra o câncer, fora toda importância ecológica desses organismos. Amem os fungos, eles são tudo de bom.


  • Como seria um dia perfeito para você?

O dia perfeito pra mim é um dia chuvoso e frio, sem a menor dúvida. Eu amo a chuva, até porque com ela chegam os cogumelos, hahaha. Tem gente que diz que só gosta de frio e chuva quem não precisa sair cedo pra trabalhar. Pois eu tô aqui contando pra vocês que eu preciso sair de casa às 5 da manhã se quiser chegar na UFBA às 7, e eu prefiro um milhão de vezes sair no frio e debaixo de chuva. Não sei explicar a minha relação com a chuva, só sei que é amor. Eu amo passar de ônibus pela orla de Salvador e ver o mar cinza e furioso em meio ao vento e a chuva. O mundo fica mais bonito sob a luz cinza de um dia nublado.