Dener Neves

Dener Neves

(Instagram: @nevesdener | Researchgate)


Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Minha trajetória na vida academia, diferente da maioria dos nossos amigos pesquisadores, começou de forma secundária. Ingressei no curso de Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), no ano de 2012, com objetivo de atuar como professor de biologia no ensino básico, profissão essa que desempenho até os dias atuais, em paralelo à carreira acadêmica.

No segundo ano da minha graduação, ao cursar boa parte das disciplinas de ecologia e zoologia, surgiu um interesse maior em conhecer as linhas de pesquisa dos laboratórios da minha Universidade. Meu primeiro contato foi com a limnologia e alguns meses depois, migrei para o Laboratório de Biossistemática de Anfíbios (LABAN), onde permaneço até os dias atuais. Dentro da pesquisa me sinto diariamente desafiado a pensar, buscar soluções e contribuindo para a construção de conhecimento. Um trabalho publicado, para muitos, pode significar apenas mais uma pontuação alcançada, ou uma meta de produção atingida. Na minha visão, um trabalho publicado é um passaporte para a eternidade. Os nossos resultados podem

influenciar a tomada de decisões importantes por diferentes esferas e é nessa responsabilidade que acordo diariamente e encontro forças para continuar fazendo o que amo.


Como surgiu o interesse por anfíbios?

Nós biólogos compartilhamos uma visão sensível e apaixonada por todas as formas de vida. O fascínio pelos anfíbios, em especial pelos girinos, surgiu durante as atividades de campo realizadas na disciplina de Zoologia de Cordados.

Os anfíbios anuros (popularmente conhecidos como sapos, pererecas e rãs), possuem hábitos extremamente variados, formas corporais e coloração exuberantes além disso, os machos da maioria das espécies emitem um canto de anúncio que o auxilia em eventos reprodutivos.

Outro aspecto encantador, é que os anfíbios são os únicos vertebrados tetrápodes que possuem um ciclo de vida bifásico. Esse ciclo envolve a passagem por uma fase larvar aquática, conhecida como girino.

O conhecimento sobre os girinos é extremamente escasso. Até mesmo a morfologia básica dos girinos é desconhecida para muitas espécies da região Neotropical do planeta. Levando em consideração as lacunas de conhecimento sobre essa fase de vida tão particular e a rápida taxa de extinção sofridas pelos anuros em todo planeta, resolvi dedicar meu tempo e esforço para ajudar a recolher informações sobre taxonomia e ecologia dos girinos.


No que você está trabalhando agora?

No momento, acabo de finalizar o mestrado em Ciências Biológicas (Biodiversidade

Neotropical), pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Durante o mestrado abordei aspectos taxonômicos, ecomorfológicos e epidemiológicos dos girinos de riacho da Mata Atlântica.

A partir desse estudo, conseguimos produzir uma chave taxonômica para os girinos de riacho do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, sendo essa localidade responsável por abrigar a maior diversidade de anfíbios dentro todas as áreas de proteção da Mata Atlântica.

Além disso, usamos essa mesma localidade para compreender como os fatores bióticos e abióticos influenciam sobre a prevalência da Quitridiomicose. Uma das maiores epidemias já relatada na vida selvagem e responsável pelo declínio de mais de 500 espécies de anfíbios em todo mundo.


O que você gostaria que todos soubessem?

Como essa pergunta é bem ampla, resolvi responder em forma de desabafo. Gostaria que todos soubessem que é possível atuar como pesquisador e ao mesmo tempo, como professor do ensino básico.

Por diversas vezes, sofri críticas dentro da academia por dividir meu tempo de bancada com o giz e o quadro escolar. De fato, é uma rotina árdua, que demanda bastante força de vontade e organização, mas entendo que cumpro um papel importante em duas esferas que deveriam andar sempre de mãos dadas (ciência e educação). Dentro da sala de aula, consigo estimular a produção do pensamento crítico e passar para muitos dos meus alunos o amor que sinto pela ciência.

Acredito que a divulgação científica é um processo que precisa ser realizado de forma séria e constante. Os muros das Universidades, por muitas vezes, encontram-se fechados para a comunidade e como professor, me sinto honrado em poder levar esse conhecimento para dentro das salas de aula e mostrar que a ciência pode ser feita por todos, inclusive pelo professor deles.


Como seria um dia perfeito para você?

Um dia fresco, com tempo disponível para fazer uma boa comida e de preferência, com a população mundial vacinada.