Arianny Storari

Arianny Storari

(Lattes - ResearchGate - Twitter)


  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Eu sempre fui apaixonada pelo trabalho de cientista. Claro, quando criança com aquela visão romantizada hollywoodiana, mas ok, era isso que queria pra mim. Apesar de morar na cidade grande, quando criança eu sempre estava em contato com a natureza porque meu pai é fissurado por animais (ele é quase um ornitólogo, sabe reconhecer todas as aves nativas da nossa região pelo canto), então acho que ele passou essa curiosidade pelo mundo natural para mim. Mas eu era a diferentona, gostava dos animais "asquerosos". Gostava de colecionar besouros em caixinha de fósforo, e meu sonho de criança era estudar o sistema imune de urubus (olha as ideias). Entrando no curso de Ciências Biológicas, já de cara quis fazer a iniciação científica em um laboratório focado em insetos, no caso, comecei nas abelhas solitárias da tribo Euglossini, e depois descobri que os melhores campos são os de insetos aquáticos, então dediquei minha monografia as libélulas e posteriormente fiquei interessada nas efêmeras. Sempre tive na minha cabeça que queria seguir a carreira científica, logo, acabando a graduação, já pedi ajuda de um professor para conseguir uma vaga no mestrado, e hoje, já estou no doutorado trabalhando com insetos aquáticos fósseis.

  • Como surgiu o interesse por paleontologia?

No meu caso, o interesse primário não foi pela paleontologia (apesar de ser uma área fascinante), e sim entomologia. Durante a graduação, eu trabalhei com ecologia e conservação de espécies de libélulas nativas da Mata Atlântica. Quando me formei, o interesse pela paleontologia surgiu porque descobri que aqui no Brasil a gente tem um tesouro paleoentomológico basicamente inexplorado atualmente. Ainda tem espaço para muito pesquisador se aventurar no estudo dos insetos fósseis dos depósitos brasileiros. O professor que estava me auxiliando a conseguir uma vaga de Mestrado (especialista em efêmeras) me alertou que outra professora (paleontóloga) da mesma universidade sempre o convidou a se aventurar no mundo das efêmeras fósseis, e eu resolvi embarcar nessa também.

  • No que você está trabalhando agora?

Durante o doutorado estou trabalhando com tafonomia de insetos aquáticos de dois depósitos (Formação Crato no Brasil e Solnhofen na Alemanha. Inclusive, nesse momento escrevo diretamente de Stuttgart, na Alemanha). Com novas escavações paleontológicas na região do Crato, novas informações sobre a evolução das efêmeras estão surgindo. Mas no meu caso, além de taxonomia e sistemática, eu estou interessada em desvendar aspectos sobre os paleoambientes que esses insetos aquáticos viviam. Venho analisando os próprios fósseis, mas também realizando alguns experimentos de tafonomia atualística com representantes viventes. Por exemplo, eu crio as larvas aquáticas em laboratório e submeto elas a diversas condições abióticas diferentes. Os insetos podem parecer insignificantes perto dos gigantes pterossauros que sobrevoavam o Crato durante o Cretáceo, mas o estudo das efêmeras e libélulas fósseis pode nos dar respostas sobre como era o ambiente desta região no passado. Várias espécies de efêmeras são excelentes bioindicadores ambientais. Se isso ocorre hoje em dia, é de se esperar que também ocorresse há milhões de anos.

  • O que você gostaria que todos soubessem?

Que além da biodiversidade incrível, o Brasil carrega um patrimônio geopaleontológico também incrível. Nosso país é extremamente rico para o desenvolvimento de diversas áreas científicas, e de certa forma me entristece muito a situação de fuga de cérebros que estamos passando (completamente compreensível). Apesar das oportunidades inatas dessa terra, não é fácil sobreviver como cientista no Brasil.

  • Como seria um dia perfeito para você?

Acordar com um e-mail do editor da revista dizendo que meu artigo mais recente foi aceito! Brincadeira! Isso seria maravilhoso, mas um dia perfeito pra mim não inclui nada de trabalho. Eu acordaria cedinho, daria um mergulho no mar (com a praia absolutamente vazia), voltaria pra casa pra ficar em completo silêncio no resto da manhã com meus gatos. Ficar sozinha recarrega minhas energias, então no final do dia eu estaria pronta para simplesmente tomar um café com alguém que eu goste conversando e nos indagando sobre as coisas mais aleatórias e idiotas.