Abílio Ohana

Abílio Ohana
(Twitter: @AbilioOhana )

Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?


Puxando pela memória, meus primeiros contatos com a Biodiversidade (fora da cozinha de casa) me levam aos passeios no Parque do Goeldi e viagens pela Amazônia em família. Tenho certeza que esse privilégio de poder interagir com o mundo ao redor, em diversos lugares, influenciou demais na minha entrada no Clube do Pesquisador Mirim do Goeldi, ainda adolescente, e anos depois na Faculdade de Biologia da UFPA de Belém, através do concurso PSS de 2008 após uma tentativa frustrada.

Meu primeiro estágio na Biologia foi realizado no setor da Mastozoologia do campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. Antes ainda consegui uma vaga no Laboratório de Ecologia de Vertebrados com a Cris Oliveria (Drª Ana Cristina Mendes de Oliveira, UFPA), mas achei que a experiência no Museu poderia oferecer uma base maior sobre o conhecimento da Biologia Geral dos mamíferos, ao invés de me dedicar "de cara" aos estudos ecológicos (o que percebi ter acertado com o passar do tempo).

Pra minha alegria, depois trabalhei algumas vezes com a equipe da Cris, a quem sou grato pelas experiências em ecologia de campo de mamíferos. No Goeldi, eu presenciei absolutamente tudo sobre mamíferos em coleções científicas. Dois tipos de estudos acadêmicos que se complementam e interdependentes.

O curioso foi ter tentado estágio em outros três setores do Museu, por e-mail. Simplesmente, enviei mensagens PEDINDO bolsas (puff...), pois li no jornal que o setor de bolsas do Goeldi estava com processo seletivo aberto para o ano de 2006. Recebi uma resposta do gentil Dr. Alexandre Bonaldo, explicando como se dava o processo de seleção; e, depois, do coordenador do serviço da Mastozoologia, Dr. José de Sousa e Silva Júnior (Cazuza), convidando para uma entrevista.

Assim começa uma vida na academia. Vamos adiante.


Como surgiu o interesse por mamíferos em propriedades rurais?


Os mamíferos sempre despertam interesse. Dificilmente você não sente a emoção explodir diante de um macaco, boto ou deu um simples gatinho doméstico.

A minha história em propriedades rurais surge de uma ideia de negócios (!). Conheci o Paneiro Cabano, uma rede de consumidores conscientes ligada a um produtor rural que, semanalmente, vende parte da produção familiar e sem veneno a preço justo para a rede. É um ganha-ganha lindo.

Naquela época meu irmão possuía um espaço ocioso na galeria dele e pensei (por que não?) em abrir uma culinária totalmente à base de produtos do Paneiro Cabano (atualmente Gruca - Grupo de Consumo Agroecológico). Então passei a estudar sobre o assunto e descobri que os mamíferos possuem papel ecológico importantíssimo para a produção de alimentos. Eles simplesmente eram classificados como pertencentes à Agrobiodiversidade (o que disparou meu coração).

Então, passei a coletar informações sobre o tema. Numa dessas "xeretagens", descobri uma referência super importante com a TC (Drª Teresa Cristina Sauer de Ávila-Pires) sobre um Índice de Agrobiodiversidade que viraria referência para meu projeto de tese em andamento sobre o estudo de mamíferos em propriedades rurais na Amazônia Legal.


No que você está trabalhando agora?


Estou trabalhando como gestor na Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Belém. Exerço a função gratificada de chefe da Divisão de Monitoramento e Fiscalização Ambiental no Departamento de Controle Ambiental, na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues.


O que você gostaria que todos soubessem?


Gostaria que cada cientista soubesse que muitas pessoas precisam da Ciência, mas não tem como pedir. Que a Ciência precisa da Política, mas não tem como pedir. Que a vida é política, mas não reconhece isso.


Como seria um dia perfeito para você?


O dia que não precisar trancar as portas.