Yasmin Canalli

Yasmin Canalli

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  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Quando eu era pequena, morava em um local muito afastado de tudo. Poucos horários de ônibus, escolas longe, sem oportunidades de cursos. Meus pais eram professores (são ainda) da rede pública e já haviam feito pós-graduação latu-sensu. Ainda no primário eu já falava que faria faculdade, mestrado e doutorado. Quando eu tinha uns 10 anos a minha mãe terminou o mestrado em matemática e pouco tempo depois começou a dar aula em uma universidade. Nesse meio todo a vida acadêmica me parecia um caminho muito natural. Mesmo sendo natural, foi muito difícil chegar. Já na quinta série (atual sexto ano) eu e meu irmão precisávamos sair de casa de madrugada para pegar ônibus lotado carregando muitos livros juntamente com os trabalhadores. Voltar para casa também era difícil, pois tinham poucos horários de ônibus. O tempo foi passando e ficando cada vez mais difícil, pois as horas de estudo se estendiam. Saia 4:20 da manhã e chegava 22:30. Um pouco antes de entrar na faculdade me mudei para o centro da cidade que morava e tudo ficou bem mais fácil. Comecei a usar o trem como meio de transporte principal e isso me permitiu estudar em locais mais longe. A faculdade de biologia foi bem tranquila, a parte difícil era pegar o trem Japeri extremamente cheio. No período da faculdade fiz estágios em várias áreas e várias instituições, até que cheguei no último ano e decidi escolher a botânica para o meu TCC. Na botânica eu tive a oportunidade de acompanhar vários campos e acabei decidindo cursar o mestrado na mesma área. Em 2014 fui aprovada para cursar o mestrado botânica e cursei juntamente a licenciatura em biologia. Nas muitas saídas de campo a botânica e as plantas aquáticas começaram a fazer parte da minha vida, eu respirava alagados. Em 2015 terminei o mestrado e a licenciatura (com 15 dias de diferença) e decidi parar um pouco de estudar. Estava cansada da vida acadêmica e sem vontade de seguir o “rumo natural” do meu projeto. Em 2018 decidi sair da taxonomia e procurar algo na área da ecologia, eu estava com muita curiosidade em saber quando as plantas florescem, quais condições, quando encontro determinadas espécies, quanto tempo dura o ciclo de vida...e assim entrei no doutorado em um projeto sobre ecologia de plantas aquáticas. Daqui para frente ainda não me decidi, mas gostaria muito de ter um projeto meu, um projeto de vida nas plantas aquáticas. Não sei bem como fazer, mas criei o Projeto Hidrófitas e espero que ele me leve à muitos alagados e brejos!


  • Como surgiu o interesse por botânica?

Meu interesse na biologia foi meio estranho. Primeiro quando eu era criança, todos achavam que eu faria veterinária. Onde eu morava tinha muitos animais e eu amava cuidar de todos eles. Vivia cercada de bichos. Porém quando cheguei no ensino médio a matemática me conquistou! Todos aqueles problemas matemáticos, as várias formas de chegar a um resultado e a criatividade envolvida. Basicamente me inscrevi em matemática para todos os vestibulares, menos na faculdade que entrei! Só não me inscrevi para matemática lá, pois não tinha o curso. De todas as carreiras a única que eu havia me interessado era a biologia. Meses depois descobri que havia passado e chegou a hora de escolher. Comecei matemática e biologia, porém depois do primeiro semestre tive a oportunidade de começar um estágio na biologia. Saí da matemática e já estava gostando demais da biologia. Fiz estágio com biorremediação, resposta genética à stress, mutagênese ambiental e por fim...cheguei na botânica. Todos os outros estágios foram oportunidades que iam surgindo e eu topava. A botânica foi escolha. Enviei e-mail para vários professores em vários locais e depois de algum tempo consegui. Sigo nela até hoje.


  • No que você está trabalhando agora?

Atualmente estudo a relação das plantas aquáticas com alguns fatores abióticos. Questões como flutuações da diversidade, fatores estruturantes na comunidade, homogeneização ambiental e levantamento florístico. O projeto está sendo desenvolvido na REBIO Poço das Antas (Rio de Janeiro) e no Programa de Pós Graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva na Universidade Federal do Rio de Janeiro.


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Que a carreira acadêmica não é o único rumo! Você pode fazer mestrado, doutorado, pós-doc... não importa. Existem outros locais para se trabalhar. Podemos trabalhar com consultoria, ministrar cursos, ter projetos apoiados por empresas, fazer educação ambiental em meio corporativo... até mesmo virar youtuber! O importante é você gostar e se empenhar para chegar lá. Não escute pessoas que falam que vida acadêmica é a única saída.


  • Como seria um dia perfeito para você?

Uma bela saída de campo com 4x4, barco, especialistas de diversas áreas, muita aventura, muitas espécies, muitas fotos e muitas perguntas na cabeça!