Verônica Marques

Verônica Marques

Lattes

  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Meu interesse em ciência começou desde a infância, mas foi perdido ao longo do tempo. Até que uma amiga de faculdade e minha vizinha me apresentou o mundo dentro da UFRJ e eu pude ver a materialização de um sonho de criança. Decidi largar o trabalho e guardei o dinheiro para iniciar o mestrado. No entanto, não sabia que o processo seria tão complicado, pois minha formação não dava suporte para acompanhar todos os assuntos. Comecei a procurar livros que estavam nos editais do mestrado em ecologia, mas muitos deles eu ainda não entendia. Decidi assistir aulas como ouvinte no ciclo básico da graduação e nesse momento fui saindo da escuridão. Nesse processo meu dinheiro estava acabando e eu tinha total ciência que não estava preparada para fazer mestrado naquele ano. No ano seguinte, fiz a seleção em duas universidades. Na primeira eu não passei e, na semana da inscrição da seleção da UFRJ, eu fui assaltada. Levaram todo o material de estudo que eu tinha, incluindo a minha apresentação do mestrado. Por sorte eu enviei a última versão do projeto escrito para minha orientadora. Pensei em desistir, tudo parecia tão difícil. Mas minha orientadora, meus amigos e minha família me deram todo apoio que eu precisava. Além disso, consegui um emprego de professora em uma escola que me permitiu continuar. Dentro da realidade que vivo, ainda sou ainda muito privilegiada. Ciência no Brasil não é para toda a população, infelizmente. Precisamos de suporte financeiro dos nossos pais. No segundo ano que tentei, passei nas universidades e escolhi a UFRJ. Meu sonho estava iniciando.


  • Como surgiu o interesse por Ecologia Vegetal?

Eu não sabia exatamente o que era a ecologia vegetal. Só sabia que eu gostava de ecologia e de plantas. Quando fui estagiar no laboratório que minha amiga fazia parte, o laboratório de peixes, eu descobri que amava ecologia, porém peixe não era minha praia. O laboratório do lado era o de ecologia vegetal e eu sabia que gostava de plantas e de ecologia e assim começou minha vida no Laboratório de Ecologia vegetal da UFRJ. E a cada dia eu me apaixono mais, o difícil é saber que você não pode estudar tudo. rs...


  • No que você está trabalhando agora?

Agora, eu vou começar a escrever meu artigo sobre meu mestrado. Porém, no doutorado eu pretendo trabalhar com ecologia funcional como preditor de desempenho e estratégias populacionais em fisionomias da Mata Atlântica. Para isso selecionei alguns atributos morfo-fisio-fenológicos de 5 populações distribuídas nos limites altitudinal superiores e inferiores, que descrevem como essas plantas estão lidando com condições ambientais tão diferentes e como a demografia está sendo afetada.


O que você gostaria que todos soubessem?

Sou a primeira pessoa da família formada em uma universidade e pós-graduada. Moro numa região periférica do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense, onde a ciência não é muito difundida. Na verdade, o acesso à educação é um recurso para poucos. Sou licenciada em Ciências Biológicas pela Unigranrio, Mestre em Ecologia e Doutoranda em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sou membro do Laboratório de Ecologia Vegetal da UFRJ.

Esse processo não é nada fácil, principalmente para quem tem uma origem como a minha. Todavia, esse processo não deveria ser assim, mas existem muitas falhas que se iniciam na desigualdade social e se mantém por toda nossa vida e quem tenta furar o que foi projetado para sua classe sofre demais. Não existe meritocracia, essa é uma falácia criada pelo sistema social cruel em que vivemos. Onde educação é garantida pela constituição, mas na verdade é fornecida a poucos. Fazer ciência nesse país é doloroso e é desigual, estamos sempre sob pressão. Contudo, até hoje nunca conheci uma pessoa que não amasse a pesquisa. A ciência traz o conhecimento, é libertadora, transformadora, traz senso crítico, é coletiva, te proporciona sair de uma esfera e visitar outras, é transcende. Por isso, perigosa para muitos governos e arma destes é fazer a população desacreditar, tentar invalidar, descaracterizar a pesquisa. Fazer ciência nesse país é ser resistência.

Hoje sou mestre e doutoranda em Ecologia de uma Universidade Federal, estou contribuindo para crescimento do conhecimento do meu país e do mundo. Amo ser pesquisadora, amo fazer ciência e amo saber que meu trabalho é transformador. Me orgulho muito de quem me tornei e sei o quanto a Universidade Pública tem papel fundamental nesse processo.


Como seria um dia perfeito para você?

Um dia perfeito para mim seria o dia que eu puder sair sem medo de me contaminar com corana vírus e poder estar em campo (na natureza) de novo.