Tábata Ferreira

Tábata Ferreira

Lattes

  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

A minha entrada na vida acadêmica foi bastante natural.... Quando eu era criança, minha mãe estava fazendo o primeiro doutorado dela, e depois, na minha adolescência, ela fez seu segundo doutorado. O desenvolvimento de uma tese de doutorado (quem fez/está fazendo saberá do que eu estou falando) exige muito da pessoa e acaba envolvendo a família um pouco também, e mesmo criança eu me sentia envolvida por toda aquela movimentação pela expectativa do famigerado dia da defesa. Então essa foi a primeira profissão com que eu tive contato, e foi muito natural pra mim, na época do vestibular, pensar em uma carreira na pesquisa. Como desde criança eu me interessava muito pela natureza (Animal Planet era meu canal favorito e eu não perdia um só capítulo de No Reino dos Suricatos), eu me inscrevi no SISU para o curso de Ciências Biológicas, já com a intenção de seguir vida acadêmica.

  • Como surgiu o interesse por paleontologia?

Eu, como toda pessoa nascida nas décadas de 80/90, tinha uma visão romantizada da paleontologia por causa da série Jurassic Park. Eu achava que os paleontólogos eram superestrelas e nunca achei que fosse possível pra mim, reles mortal, seguir por esse caminho. Durante os primeiros anos da graduação eu me interessei imensamente por mastozoologia e por um tempo não pensei em paleonto. No meu quarto período da graduação eu estava buscando estágio com mamíferos recentes, porém nenhum dos laboratórios próximos de mim parecia ter vaga. Foi então que me falaram que havia uma vaga para trabalhar com mamíferos fósseis no departamento de geologia. Eu fiquei muito reticente e animada com essa possibilidade. Reticente por estagiar num laboratório de outro departamento, em outro prédio, do outro lado do campus. Como a paleontologia envolve muitos conhecimentos da biologia e da geologia também, inicialmente eu me senti um pouco intimidada de ser “só bióloga”. Acho que esse é um sentimento que deve atravessar muitos paleontólogos iniciantes. Mas eu estava MUITO animada de descobrir que era possível para mim trabalhar com fósseis! Com aquilo que foi uma das grandes paixões da minha infância! Daí pra frente eu senti que eu também podia ser uma superestrela.

  • No que você está trabalhando agora?

Agora eu estou na primeira metade do meu doutorado, e estou fazendo uma revisão taxonômica do grupo Protolipternidae. Esses animais são pequenos mamíferos fósseis que deviam se parecer com pequenos cavalinhos do tamanho de gatos. Nós conhecemos muito pouco sobre esses animais ainda! No momento eu estou olhando todos os fósseis desses bichos e lendo tudo que já foi publicado sobre eles. Nós só conhecemos os dentes e alguns outros poucos ossinhos desse grupo, e cada dente e cada osso estão misturados e embaralhados. Outros pesquisadores antes de mim viram esses fósseis e estudaram quantas espécies existem naquele embaralhado, e quais são elas. Agora eu estou olhando todo esse material de novo e estou chegando a conclusões diferentes. Muita coisa mudou desde a primeira proposta. Foram encontrados mais materiais, se descobriu mais coisas sobre esses animais... E agora eu estou reestudando esses fósseis tendo todo esse conhecimento extra, tendo mais “peças do quebra-cabeça” para montar. Para estudar grupos fósseis, onde a informação já é muito fragmentária, nós utilizamos também muitos métodos matemáticos de análise da forma, que hoje estão disponíveis. Uma parte significativa do meu trabalho é feito no computador, apenas com fotos do material, que são processadas através desses métodos.


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Eu gostaria que soubessem a quantidade de projetos incríveis que são desenvolvidos pela academia brasileira. Ouço muitas vezes comentários sobre como parece não existir ciência nacional, e isso não poderia estar mais incorreto. Eu mesma não conhecia nada sobre paleontologia brasileira e quase deixei de fazer algo que sou apaixonada por causa desse desconhecimento

  • Como seria um dia perfeito para você?

Um dia perfeito pra mim começa às 7h da manhã, com um café da manhã bem demorado! Sou um pouco como aquele ditado diz: acordar cedo pra poder se atrasar com calma haha. Brincadeiras a parte, o café da manhã é a minha parte favorita de todo um dia. Então eu começaria a trabalhar umas 9h-10h. No meu dia perfeito eu estaria trabalhando nos meus projetos de pesquisa de manhã e dando aula à tarde. Eu amo a sala de aula tanto quanto a pesquisa. Os meus dias favoritos da semana são os dias que eu tenho aula pra dar. A minha orientadora de doc me dá bastante espaço pra participar das disciplinas dela como professora convidada e, nossa!, como isso me faz bem. No dia perfeito, e não pegaria nenhum trânsito na volta pra casa, e iria à academia fazer musculação à noite. Depois sairia pra jantar com meu namorado, ou mesmo via um filme com ele e meus gatos em casa. Parece simples, mas esse dia seria a perfeição pra mim.