Tainá Rocha

Tainá Rocha

(GitHub - Twitter)

Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Meu interesse por temas como ciências naturais, biologia, a origem da vida, surgiram na infância. Estudei por muitos anos em colégio religioso, muitas questões ficaram obscuras, as perguntas que fazia nunca eram claramente respondidas. Foi então que descobri que os pesquisadores (da tal vida acadêmica) eram aqueles que poderiam responder minhas perguntas.

Fiz vestibular para biologia em 2006, já sabendo que gostaria de fazer pesquisa, o que provavelmente me levaria para uma uma vida acadêmica. E assim foi.


Como surgiu o interesse por padrões de distribuição da biodiversidade ?

Minha graduação em ciências biológicas foi pela Universidade Federal do Pará, no Instituto de Estudos Costeiros em Bragança, lugar que tenho muito apreço por ter tido o primeiro contato com pesquisa, no laboratório de genética e biologia molecular (que daqui pra frente chamarei de molecular). Meu primeiro estágio durante a iniciação científica (na molecular) foi com identificação de tubarões explorados pela indústria pesqueira na costa norte do Brasil. Desde então cresceu meu interesse por questões de conservação da biodiversidade, mas também surgiu um grande interesse por mapas, sempre gostei dessa parte: de ver a área de estudos em mapas bem feitos (ainda não sabia que isso refletia meu interesse por padrões de distribuição).

Foi durante um segundo estágio de iniciação científica (também na molecular), que deu origem ao meu TCC, que comecei de fato a estudar padrões de distribuição, numa perspectiva biogeográfica, porém, com aves. Esse estudo acabou se tornando o início do mestrado e depois foi continuado no doutorado em meados 2013 pelo Museu Paraense Emílio Goeldi.


No que você está trabalhando agora?

Durante o doutorado minha vida na pesquisa deu uma reviravolta! A molecular, como ferramenta para minha pesquisa deu lugar à novas ferramentas, que acabaram me levando à novas linhas de pesquisas. Alí estavam ao meu alcance os modelos de nicho ecológico/modelos de distribuição de espécies, o SIG (sistema de informação geográfica), ferramentas que conheci através de duas excelentes pesquisadoras: Mariana M Vale (UFRJ) e Marinez F Siqueira (Jardim Botânico-RJ), que sem dúvida foram importantes para que eu ressignificasse o que é fazer pesquisa, e mais do que isso, pude resgatar o prazer de fazer pesquisa. Essas novas ferramentas se apresentaram com todas suas versatilidades, além de serem ferramentas mais democráticas e acessíveis quando comparadas a molecular por exemplo. Agora, no pós-doc realizamos estudos biogeográficos, estudos com predições futuras (impacto de mudanças climáticas futuras nas distribuições das espécies), fazemos mapeamentos para buscar novas populações de determinadas espécies no espaço geográfico e etc.


O que você gostaria que todos soubessem?

Gostaria que todos soubessem da importância e valor econômico que tem a biodiversidade, e o quanto é lucrativo mantê-la. Um relatório divulgado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (ISS) mostrou que incluir áreas adicionais de proteção levariam a uma média de US $ 250 bilhões o aumento da produção econômica, essa informação está disponível ao público (Benefícios econômicos da proteção de 30% áreas terrestres e oceanos do planeta superam os custos numa proporção de 5 para 1 | IIS ). É lamentável que o nosso país, além de desperdiçar este potencial econômico que é a nossa biodiversidade, está também empenhado em destruí-la.

Eu gostaria que todos soubessem que fazer pesquisa (em qualquer área) pode e deve ser mais inclusivo, mais democrático, mais colaborativo e transparente, assim como dita a ciência aberta.


Como seria um dia perfeito para você?

A perfeição é relativa. Mas qualquer dia sem esse governo fascistas e mal enjambrado, já seria um bom começo!!!

Um dia em que nossa gente seja mais alfabetizada para além de ler e escrever, onde haja um mínimo de entendimento sobre a importância de fazer ciência e pesquisa nas diferentes área de conhecimento (das ciências exatas até as humanas), isso seria perfeito!

É desolador saber que uma um número significativo de pessoas acreditam em notícias absurdas (fake news). Pior do que isso, é ser taxado dos piores e mais baixos adjetivos...

Um dia em que as diferenças de gênero e raça não façam a menor diferença será um dia mais que perfeito! Um dia em que todos tenham igualmente assegurados seus direitos a saúde, a educação e a um trabalho digno, será um dia mais que perfeito!

Hoje percebo que já tive dias perfeitos, daqueles de poder ir na praia ver o fim da tarde no arpoador no meio da aglomeração, tomar banho de igarapé com a turma toda da faculdade, estar com meus amigos e familiares numa Algodoal lotada rsrs !! Ou simplesmente respirar sem máscara e tranquilamente pelas ruas do RJ num dia de carnaval…

Passados mais de cinco meses de isolamento, tento equilibrar dias difíceis de saudades e ansiedades, com dias que agora, são quase como o “novo perfeito”, que pra mim são dias de sol na varanda ou no terraço na companhia dos livros da TAG e dos meus vinis.

Um dia perfeito também é aquele em que troco experiência e conhecimento com outros pesquisadores e posso ajudar de alguma forma. E quando consigo colocar em prática algo que aprendi. O dia em que consigo montar um script (R) que funcione de primeira com meus dados, é um dia perfeito!!! Só que isso quase nunca acontece de primeira rsrs, mas é errando que também aprendo e avanço!

Adiante!