Rony Almeida

Rony Almeida

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  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Sempre fui curioso com o funcionamento das coisas, dos eletrônicos até as engrenagens. Quando criança, sempre destruí os brinquedos, minha brincadeira predileta era descobrir como funcionava, qual fio desligava o sistema (não falo nada disso com orgulho!). Apesar desse mundo direcionado a física e química, sempre fui um apaixonado pelos animais. Os animais não eram tão simples como um sistema, não era um simples fio que mostrava o que eles faziam ali, a relação entre eles era complexa! Gostava de aprender e explicar as pessoas sobre aquilo que aprendia. Com isso tudo, em 2008, comecei o curso de Ciências Biológicas – Licenciatura (UFS). Me encontrei! Adorava insetos, mas por ser uma universidade pequena e não ter especialistas, trabalhei com anfíbios. Aprendi a gostar da herpetofauna, que é um grupo maior formado por anfíbios, lagartos e serpentes. Desenvolvi alguns trabalhos, foi minha entrada na ciência e a herpetofauna ainda é um tema que me fascina.

  • Como surgiu o interesse por formigas?

Na disciplina de Invertebrados II, ainda na graduação, estudamos sobre insetos, e a diversidade de formas e cores me fascinou. Aquele mundo em miniatura, escondido, que pouco se sabia ou se via e que frequentemente passava desapercebido. Diante de tamanha diversidade, ainda existia um superorganismo: as formigas. A relação dentro de uma colônia me chamou atenção, como conseguem dominar tudo e ser tão coordenadas? A diversidade de formas e funções que realizam e a incrível diversidade de espécies em uma pequena área de floresta. Assim, comecei a trabalhar com o grupo em 2013, já no mestrado em Ecologia e Conservação (UFS).


  • No que você está trabalhando agora?

Atualmente curso desde 2016 doutorado em Zoologia (UFPA/MPEG), onde estudo formigas em uma área de Floresta Amazônica que passa por uma seca induzida. Desde 2002 pesquisadores estudam o que acontece com uma floresta que recebeu um telhado plástico para que a chuva não chegue ao solo. Dentre essas pesquisas, no meu trabalho, pretendo saber o que acontece com as formigas nessa área que não chove (sítio experimental), sempre comparando com outra área ao lado que a chuva cai normalmente (sítio controle). Entender tudo é complexo, então estudamos por partes. Avaliamos primeiro o que muda no ambiente com a seca e se isso afeta as espécies de formigas. Depois, avaliamos a diversidade funcional de e as funções que elas realizam na floresta. Descobrimos que a seca reduz a quantidade de espécies de formigas, fazendo com que algumas espécies desapareçam e algumas poucas dominem o ambiente. É um impacto gigantesco para a biodiversidade e ainda nas funções que as formigas desempenham. Estudamos isso em uma pequena área, mas tudo pode se tornar uma realidade com as mudanças climáticas e caso aconteça longos períodos de seca.

  • O que você gostaria que todos soubessem?

Gostaria que todos soubessem respeitar a biodiversidade, dos grandes animais e plantas ao menor dos seres. Seria interessante se todos soubessem da incrível dinâmica e complexidade que ocorre em uma floresta e no oceano ou em um simples punhado de solo e poça d’água. Algumas pessoas conhecem a realidade e são movidas pela ganância, mas ainda creio que o desconhecimento da sociedade seja o maior problema. Precisamos levar esse conhecimento e trabalhar como formigas, unidas, cada um fazendo um pouco para o bem de todos.


  • Como seria um dia perfeito para você?

Acredito que os melhores dias que tenho vivido sejam aqueles explicando para as pessoas um pouco do que aprendi. Isso acontece principalmente durante as exposições do Grupo de Estudo de Artrópodes da Amazônia (GEAA). É sensacional passar o conhecimento que aprendemos na academia, uma sensação de retorno para a sociedade. Aprender sobre a relação do homem com esses animais (sobretudo lendas e mitos), tentar desconstruir algumas informações equivocadas e ensinar as várias coisas boas que os artrópodes fazem. Sem palavras para expressar o quanto é gratificante está ali conversando com crianças, jovens, adultos e idosos sobre esses animais fantásticos.