Raul Pereira

Raul Pereira


  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Comecei a cursar Ciências Biológicas na Universidade Castelo Branco em 2016 e após entrar no curso de extensão “O Bicho Vai Pegar” (educação ambiental sobre animais peçonhentos) da Universidade, conheci a aluna de graduação Rarysa Castro, que após ir ao setor de Ictiologia do Museu Nacional e ter conhecimento de que eu gostava muito de peixes de água doce, me informou que o Professor Doutor Marcelo Ribeiro de Britto estaria interessado em conhecer alunos que tivessem interesse com pesquisa na área. Essa mensagem me animou muito, pois eu não imaginava que tão próximo havia pesquisa com peixes de água doce! Após tentativas de contato, consegui me comunicar e marcar um horário de entrevista com o Professor. Desde então, tenho o orgulho e honra em fazer parte da equipe do setor de Ictiologia do Museu, tendo o exímio Professor Dr. Marcelo como meu orientador.


  • Como surgiu o interesse por ictiologia?

Desde criança os peixes me fascinavam. Para quem estava acostumado com aves, cachorros, gatos e jabutis, os peixes intrigavam bastante. Como conseguem viver debaixo d’água? Como conseguem respirar? Como é criar um peixe? Como eles se comportam? O que são esses nomes grafados de forma “torta” (nomes científicos em itálico)? Por que esses nomes são assim estranhos? Bem, todas essas perguntas ficaram no meu imaginário quando eu tinha por volta dos 5 aos 12 anos de idade, pois era caro e de difícil manutenção ter um aquário à época, como materiais específicos não eram nada fáceis de achar e também caros. Em 2007 ganhei uma “bereta” (recipiente pequeno muito comum na criação de peixes Betta) com um casal de Platy (Xiphophorus sp.) de minha explicadora e a partir daí começaram as pesquisas para responderem as perguntas acima, com o escasso material que havia na internet de outrora, chagando ao ponto dos peixes que morriam, servirem de “estudos” ao serem abertos para eu ver o que tinha e como eram dentro, como também os que eu ficava tempos olhando os ossos. Logo me questionei se em algum lugar do RJ haveria pesquisas com peixes de água doce, porém me frustrava não saber onde. Daí, uma coisa levou à outra.


  • No que você está trabalhando agora?

Atualmente estou trabalhando em minha monografia com morfologia comparada dos espinhos dorsal e peitoral da família Callichthyidae. Diversos estudos foram realizados nos espinhos dos Siluriformes (Ordem que abarca bagres e cascudos), porém a família carece de um estudo morfológico aprofundado nessas estruturas. São estruturas muito importantes que podem nos mostrar características comportamentais, fisiológicas e das relações filogenéticas. Os espinhos dos Siluriformes são estruturas bem peculiares, sendo utilizados como forma de defesa perante ataque de predadores, produzem sons, podem possuir glândula de veneno, dimorfismo sexual como nos Tamboatás e podem possuir diversas ornamentações como serras e sulcos. Toda essa variedade faz com que os espinhos em cada gênero sejam únicos, com características únicas. Sendo assim, venho analisando para encontrar um possível padrão morfológico para a família. Também venho colaborando com Karina Ferreira e outros colegas em trabalhos de peixes invasores no Rio Itabapoana (ES-RJ), onde a bioinvasão se mostra muito preocupante, pois soma a outros problemas uma séria ameaça aos peixes nativos. Participo na pesquisa da distribuição dos odontódeos, também na família Callichthyidae, do doutorando Gabriel Araújo; sendo uma estrutura presente apenas na superfamília Loricarioidea, onde esta estrutura se apresenta de variadas formas na família, nos permitindo averiguar desde dimorfismo sexual até relações filogenéticas.

  • O que você gostaria que todos soubessem?

Gostaria que a sociedade e os políticos dessem o devido valor aos rios. Que não fossem vistos como um meio de levar a sujeira, ou uma lixeira, que são o problema da área urbanizada e por isso aterrá-los ou transformar em galeria. Gostaria que todos os vissem como uma extensão de nós, como locais de preservação, de contemplação, que entendêssemos seus valores históricos, seus ricos valores naturais, a grande importância que eles possuem para nós se mantidos preservados, o quão saudável eles mantem a cidade e o campo se intercedermos e prezarmos por eles. Todos nós achamos esplendorosos e magnânimos os rios que se mantem inalterados quando visitamos um parente no interior ou fazemos uma trilha em áreas preservadas, então por que não podemos olhar para nossos rios, que sofrem com forte interferência humana, com os mesmos olhos? Rios que já foram tão ou mais incríveis e que hoje são subjugados, denegridos e descriminados injustamente.


  • Como seria um dia perfeito para você?

É muito variável... Para meu dia perfeito não existe a fórmula exata. Tenho momentos que me alegram num dia como o prazer de dirigir (carro/moto) curtindo uns ‘beats’ e as paisagens, encontrar as pessoas que gosto, bater aquele papo diário tanto “jogando papo fora” e rindo muito com elas quanto falando assuntos mais sérios, conhecer pessoas legais, mexer com aquário, um ótimo café da manhã e almoço, falar de qualquer coisa que tenha motor e rodas, tomar cerveja, apreciar meu quintal pela manhã, ter a satisfação do bom progresso na pesquisa... Nem mesmo que eu formulasse o “dia perfeito”, talvez ele acabasse não sendo tão perfeito assim.