Joice Souza

Joice Silva de Souza

Lattes - ResearchGate

  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

A minha trajetória acadêmica começou de forma curiosa. Eu estava cursando o 3º período do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas e participei de uma atividade de campo do meu então orientador Prof. Dr. Luciano Neves dos Santos (que me orienta atualmente no Doutorado também), onde realizamos coleta de peixes através de arrastos de praia. Eu e uma amiga nos interessamos bastante pela dinâmica da coisa e fomos conversar com o Prof. Luciano pra ver se seria possível realizar um estágio em seu laboratório. E ele conta até hoje que minha amiga chegou mais animada do que eu pra essa conversa, e ele apostou que ela ficaria no laboratório e eu não, até pela vivência com pesca de linha que ela tinha. E, na realidade, ela desistiu antes mesmo de começar o estágio e eu, "o azarão", acabei seguindo na carreira. E é uma loucura pensar nisso porque minha intenção quando ingressei na faculdade era de atuar na área biomédica.


  • Como surgiu o interesse por ictiologia?

Meu interesse pela ictiologia na verdade foi uma consequência do meu interesse pelo mar. Como eu mencionei na resposta anterior, eu entrei na faculdade achando que iria atuar na área biomédica. E eu até achei as disciplinas interessantes, mas acho que a rotina de laboratório da área não me seduziu muito. Então eu assisti as aulas de ecologia e conservação e percebi que adorava os campos, assim como a parte de tratar os dados, interpretar, responder perguntas, etc. E eu sou uma pessoa do mar, sempre fui (mas não igual a esse pessoal do Canal OFF, então escolher entre ecologia terrestre x aquática foi muito fácil. E no primeiro momento eu pensei em trabalhar com mamíferos marinhos, mas percebi que ia ser complicado porque o contato "direto" com esses animais era escasso. Então juntando isso e as idas à campo, quando você vê toda a diversidade debaixo d'água (que é completamente diferente do que vemos em uma peixaria), eu virei #mãedepeixe .


  • No que você está trabalhando agora?

Eu sou discente do Doutorado em Ecologia e Evolução da UERJ há pouco mais de um ano, e estou tendo a chance de desenvolver pesquisa em uma área que eu desejava desde a graduação, que são as mudanças climáticas. Em poucas palavras, o meu projeto consiste em avaliar a tolerância térmica e capacidade de aclimatação de espécies de peixe estuarinas ao aumento da temperatura projetado para 2100. Em outras palavras, eu estou tentando avaliar se as espécies serão capazes de sobreviver às taxas de aquecimento previstas para os próximos anos, e como isso pode impactar na manutenção e funcionamento do ecossistema. Eu faço isso através de experimentos laboratoriais onde controlo a temperatura, salinidade, e simulo diferentes níveis de eutrofização para investigar como variações nestes fatores podem interferir na capacidade de aclimatação (resposta) dos peixes. A ideia é usar populações de algumas espécies como proxy dos possíveis impactos do aquecimento em diferentes áreas do estuário (alto-estuário x baixo-estuário), assim como de ecossistemas em diferentes zonas climáticas (tropical x temperada), a fim de identificar as áreas e espécies mais vulneráveis ao aquecimento global.


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Fazer ciência é um caminho difícil, cheio de pedras e alguns dos maiores obstáculos que temos que ultrapassar são as nossas próprias inseguranças. Muitas vezes pode parecer que você está no lugar errado, que não "serve" pra isso, que não é inteligente o suficiente (ainda mais quando nos comparamos com outras pessoas ou quando recebemos o feedback de uma revista). É um caminho lento também. Um trabalho científico exige anos de planejamento, execução, escrita e revisão antes de ser publicado. Mas quando esse momento chega, ele se torna marcante. A satisfação pessoal é gigante por estar fazendo algo que está contribuindo para a sociedade, para o planeta, e que vai além do tempo, além do hoje. E o que hoje pode ser uma descoberta incrível, amanhã vai servir de degrau para alguém que veio depois de você e que vai continuar construindo essa "escada". Resumidamente, eu diria que fazer ciência é se desafiar o tempo todo; é pra quem não tem medo de se descobrir; e tem que ter paixão.


  • Como seria um dia perfeito para você?

Um dia de folga/férias né?!

Um dia perfeito começa com uma noite bem dormida. Um café da manhã bem gostoso pela manhã vendo o céu azul límpido, os raios de sol e escutando os passarinhos cantando. Depois, partiu praia. E aí é ficar alternando entre pegar sol e mergulhar pra observar a vida marinha, porque dentro d'água as preocupações, prazos, etc, boiam. Não afundam junto com a gente. rs

Depois, ver o pôr-do-sol e o cair da noite na rede, e curtir um sambinha ou forrózinho debaixo do céu estrelado.

Basicamente, um dia de férias em uma casa de praia!

No trabalho, um dia perfeito seria em que o Laboratório não estivesse muito movimentado e meus experimentos corressem bem!