Anna Landim

Anna Rebello Landim

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  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Eu entrei na biologia um pouco perdida, achando que queria fazer zoologia por gostar de animais. Até que eu descobri no meu segundo período que havia um laboratório que trabalhava com conservação, colocando cutias de volta na Floresta da Tijuca. A palavra conservação sempre me atraiu muito, mesmo conhecendo muito pouco sobre o assunto de um ponto de vista acadêmico. Então eu fui bater na porta do laboratório do professor Fernando Fernandez (esse que trabalha com cutias na Floresta da Tijuca) e recebi um não duas vezes até que na terceira vez, quando eu estava no final do terceiro período, consegui entrar! E lá estou até hoje, apesar de trabalhar com um assunto um tanto diferente do que me fez entrar.


  • Como surgiu o interesse por biologia da conservação?

Hoje eu trabalho buscando compreender o efeito das reintroduções (quando colocamos espécies extintas numa área onde ela existia originalmente) nos processos ecológicos da área onde elas ocorrem. Inicialmente eu comecei estudando a dinâmica populacional das cutias, mas percebi que me interessava muito mais pelo efeito da reintrodução na floresta do que na reintrodução em si. A partir de então comecei a me aproximar dos projetos no meu laboratório que estudam as interações entre as espécies de animais reintroduzidos e as plantas na floresta.


  • No que você está trabalhando agora?

O REFAUNA é um projeto do qual meu laboratório faz parte, onde reintroduzimos espécies localmente extintas em fragmentos de Mata Atlântica (hoje as ações ocorrem no Parque da Tijuca e na Reserva Ecológica de Guapiaçu). As ações do REFAUNA tem o objetivo de reestabelecer processos ecológicos perdidos com a extinção da fauna local. Até hoje já reintroduzimos cutias, bugios, antas e jabutis. No meu projeto eu busco compreender o papel do bugio na rede de dispersão de sementes no Parque da Tijuca. A dispersão de sementes é uma relação mutualística entre os frugívoros e as plantas com fruto. Os animais comem os frutos e acabam engolindo algumas sementes inteiras que são defecadas mais tarde longe da planta que as produziu. Quando isso não acontece todos os frutos acabam caindo embaixo da planta mãe e ai a sobrevivência dessas sementes e sua transformação em planta é muito mais difícil porque esse aglomerado atrai muitas doenças e animais que comem a semente em si. Além disso, a dispersão das sementes por diferentes animais pode ter resultados distintos. O bugio por exemplo come principalmente folhas, então o cocô dele é muito atrativo para besouros rola-bosta, que se alimentam das suas fezes. Nesse processo ele faz uma bola com o cocô, muitas vezes enterrando-a e muitas vezes levando sementes com ele. Isso pode ser vantajoso para a semente, uma vez que dessa forma ela fica escondida de predadores. Meu trabalho consiste então em acompanhar a sobrevivência de sementes desde o momento que elas são defecadas até elas se transformarem em plantas, para ver se esse processo é muito diferente quando é feito pelo bugio e quando é feito pelo macaco prego e a jacupemba, dois animais que já existiam na Floresta da Tijuca.


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Se eu tivesse que escolher uma mensagem para passar para o máximo possível de pessoas essa mensagem seria sobre florestas vazias. Quando olhamos o mundo de cima existem muitos pedacinhos verdes que podem parecer conservados mas que na realidade estão sem a maiorias dos animais que deveriam estar lá. Principalmente os animais de grande porte, que são os mais visados na caça e tem funções que não são substituíveis pelos animais menores. Isso é muito preocupante porque as pessoas tendem a associar florestas à locais funcionais, cheios de bicho e isso infelizmente não é verdade. E essas florestas vazias estão condenadas, por não terem mais seus processos ecológicos. Por isso as reintroduções são tao importantes (!), para as florestas voltarem a funcionar como deveriam.


  • Como seria um dia perfeito para você?

Eu tenho dois dias perfeitos na minha vida acadêmica. Em um eu acordo cedo e faço exercício. Depois vou para o meu laboratório no fundão e começo lendo um artigo científico. Afinal, como tem pendurado na parede do LECP: "um paper por dia faz gente sadia". Depois do almoço temos seminário, onde alguém traz um artigo interessante que leu, apresenta e depois discutimos sobre ele. E no resto do dia continuo com outras funções, organizando saída de campo, fazendo análises, escrevendo.. No final do dia volto pra casa e estudo um pouco outras coisas, pode ser estatística, ecologia básica ou qualquer outro assunto de biologia que tenha me chamado atenção. Meu outro dia perfeito é acordar já na floresta (lá tem uma casa de apoio à pesquisa onde podemos dormir) e passar o dia acompanhando meus experimentos ou os animais que reintroduzimos.