Ana Luísa Fares

Ana Luísa Fares

Lattes

  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Desde pequena eu sempre tive contato com a ciência através da leitura. Meu pai e minha mãe, mas principalmente meu pai, sempre me incentivaram a ler. E ele sempre me dava de presente livros de curiosidades, de astronomia, química, zoologia e botânica. Eu ainda lembro de vários livros de ilustrações científicas que eu adorava folhear. Inclusive foi assim que descobri várias curiosidades sobre alguns dos grupos de seres vivos que mais me interessam: as plantas!

Quando chegou a hora de prestar vestibular, eu até fiquei na dúvida se iria pra ciências humanas ou naturais, porque eu também gosto muito de linguística e literatura. Mas no final das contas ficou entre química e biologia. E eu optei pelo curso que achava que teria menos cálculo (e física). Um dos grandes enganos que um calouro de biologia comete, pois a gente usa estatística pra quase tudo! Detalhe que a pessoa não queria fazer licenciatura porque não queria ser professora, só trabalhar com pesquisa (erro número 2: mesmo na pesquisa você vai precisar dar dar aula em alguma momento). Mas eu não consegui passar no bacharelado e por isso cursei licenciatura mesmo, na Universidade da Amazônia (UNAMA).

No final das contas, foi a melhor coisa, pois eu adorei, e ao longo do curso, a gente vai percebendo várias coisas que não achava que poderia fazer. No final da graduação, a ideia de fazer mestrado veio naturalmente. Eu fiz TCC com etnobotânica, e por isso o objetivo era continuar trabalhando nesta área. Eu me inscrevi em 3 programas, que não tinham nada haver um com o outro! Um de biodiversidade, um de antropologia e um de botânica. Eu quase não me inscrevi no programa que cursei pois achava que não passaria. Acabou que no final das contas deu tudo certo, e fiz mestrado no Programa de Pós-Graduação em Botânica (Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade Federal Rural da Amazônia). A história da dissertação também foi engraçada pois no início eu tinha me inscrito pra trabalhar na linha de pesquisa de sistemática... Mas no final das contas fiz a dissertação e estou atuando na Ecologia, trabalhando com plantas aquáticas! Atualmente, estou fazendo doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (Universidade Federal do Pará e EMBRAPA).


  • Como surgiu o interesse por ecologia?

Como eu falei acima, a ecologia em si não era minha primeira área de interesse na biologia, meu interesse primordial sempre foi botânica. Tanto que quando me inscrevi pro mestrado, foi pra sistemática. Mas pra encurtar a história, acabei na ecologia. E não me arrependo. O que mais gosto da ecologia é a inter- e transdisciplinaridade desta área. A gente pode dialogar e agregar diferentes disciplinas como genética, física, química, hidrologia, ciências do solo, epidemiologia e até antropologia e sociologia, podendo ir muito além disso. Não da pra enjoar de assunto assim né? Porque as opções de áreas diferentes que podemos utilizar nos nossos estudos são imensas. E eu adoro botânica pois desde quando era criança achava as plantas os organismos mais incríveis do mundo, pelo fato de serem diferentes de outros seres vivos (naquela época eu achava elas muito diferentes se comparadas com animais, e a coisa mais louca o fato delas 'produzirem seu próprio alimento'), e isso continua até hoje.


  • No que você está trabalhando agora?

No momento eu atuo na área de ecologia de ecossistemas aquáticos, utilizando as plantas aquáticas (também conhecidas como macrófitas) como objeto de estudo para testar teorias ecológicas. Na dissertação eu trabalhei com ecologia de comunidades destes organismos, vendo como as mudanças no uso da terra afetam a diversidade do grupo. Atualmente no doutorado eu continuo usando as macrófitas como grupo de estudo, desta vez pretendo averiguar como diferentes formas de estresse abiótico afetam as respostas funcionais destes organismos, como elas respondem à limitação de luz e estresse causado por seca e cheia. Vamos ver se dá certo!


  • O que você gostaria que todos soubessem?

Gostaria que todos soubessem que ciência é divertido, mas não é brincadeira. Em tempos de pandemia, o que mais vejo é pessoas desconsiderando e desacreditadas no que os cientistas dizem, seja por interesse econômico, falta de informação ou mesmo egoísmo. Gostaria que entendessem que tudo que os especialistas falam agora é para o bem da humanidade, se eles falam que é preciso continuar com isolamento social ou certos remédios são prejudiciais aos pacientes, é porque eles querem que haja o mínimo de mortes possível em decorrência ao vírus e suas complicações. Nós trabalhamos com a realidade dos fatos e a verdade, e nem sempre a realidade é aquilo que gostaríamos de ouvir. Portanto antes de dizer que tudo aquilo que o especialista que você viu sendo entrevistado no jornal falou é mentira, porque alguma autoridade política (que infelizmente não está ligando pro bem estar das pessoas, e sim sendo movido por interesses econômicos) fica dizendo por aí que é balela, porque não pesquisar em fontes confiáveis ou perguntar aos pesquisadores da área? Muitos deles estão no nas redes sociais, ou até perto de você (sabe aquela prima bióloga da sua amiga que faz mestrado com um tema que você não entende muito?), e eu tenho certeza que eles não vão achar as suas perguntas bestas, e vão ter um prazer em tirar todas as suas dúvidas. Só conseguiremos sair dessa se houver cooperação, solidariedade, e conscientização por parte das pessoas, não adianta só uma pequena parcela se precaver, quando a grande maioria não está nem aí. Hoje você pode estar aí bem ou "curado", mas amanhã pode ser você ou um ente querido seu em um leito de uti (se tiver sobrando vaga).


  • Como seria um dia perfeito para você?

Um dia frio, passando o dia inteiro lendo um bom livro ou assistindo série, tomando chocolate quente