Contar histórias é um hábito imemorial do ser humano. Muito além de um momento de entretenimento, contar histórias já foi, em tempos pré-históricos, uma necessidade de sobrevivência, pois através desse processo era possível propagar os conhecimentos entre as gerações. Na sociedade atual, acelerada, esse ritual é cada vez menos presente nos cotidianos e, embora não sejam imprescindíveis para a evolução da espécie, como já foram, essas narrativas são elementos culturais fundamentais para a preservação do patrimônio cultural imaterial.
Nesse contexto, nasce o projeto "Assim era Camboriú", que foi viabilizado por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020) no Município de Camboriú”. Ele recolheu quatro histórias que têm a esta cidade como pano de fundo.
O proponente, Cidelsi M. Ferreira, através de entrevistas com três moradores de Camboriú, Sr. Próspero Abraão dos Santos, Sr. Márcio Pereira e Sra. Maria do Carmo Teixeira, recolheu histórias e memórias da cidade, compondo, a partir dos relatos, quatro textos que compõem o ebook e que foram transformados em registros fonográficos.
Sob essa perspectiva, o projeto está ce acordo com a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, publicada pela UNESCO em 2006, que indica que esse patrimônio é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades detentoras, proporcionando um sentimento de continuidade e identidade, o que contribui com a promoção do respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
Compreendendo esse contexto, o projeto “Assim era Camboriú” buscou ser uma ação para salvaguardar esses registros narrativos do patrimônio cultural imaterial do município, contribuindo com o mantimento, mas também com a produção de uma memória coletiva. Tal memória é muito importante não apenas por questões subjetivas, como o saudosismo dos velhos tempos, mas principalmente porque ela contribui com um processo de (re)significação dos modos de fazer e criar, dos saberes tradicionais, das vivências que precederam os que aqui estão. Esse processo fortalece a identidade local através da manutenção do patrimônio, que deve ser uma ação educativa a ser disseminada pelas gerações futuras.
Dessa forma, o projeto “Assim era Camboriú” também objetivou contribuir com a educação patrimonial, usando como instrumento as histórias populares, o que legitima outras formas de ver o patrimônio, para além das antigas construções. Nesse sentido, fez isso valendo-se de outro elemento fundamental para os seres humanos: a atividade de leitura, considerando que esses contos estão registrados em um ebook, que pode fazer parte das atividades escolares, contribuindo com a formação de leitores. Vale mencionar que as histórias também foram registradas em formato de áudio, o que, além de aumentar a sua portabilidade, também inclui o público cego, que poderá ter acesso a essas narrativas.
Além disso, o projeto também vai ao encontro da Estratégia 11, proposta nas discussões do Plano de Cultura Municipal, que tem como objetivo promover a valorização do patrimônio material e imaterial, bem como um dos objetivos do Plano Estadual de Cultura, que é o de preservar, salvaguardar, valorizar e reconhecer o patrimônio cultural do Estado em sua diversidade. Ele também colabora com o cumprimento da Lei Complementar nº 13/08, que dispõe sobre a proteção, fiscalização, conservação, tombamento e valorização do patrimônio histórico cultural do Município de Camboriú.