História de Coimbra

Da época islâmica perdurou a denominação dada ao interior da cidade intra-muros, a almedina, e extra-muros, o arrabalde. A localização da alcáçova, ou seja o palácio fortificado onde vivia o governador da cidade, foi também estabelecida durante a permanência islâmica na cidade. Esta construção será mais tarde o paço real, onde viveram os primeiros reis de Portugal.

A cidade foi reconquistada pelos cristãos definitivamente em 1064 por D. Fernando I, o Magno, ficando o governo da região entregue a D. Sesnando, que a reorganizou económica e administrativamente.

Os condados de Portucale e de Coimbra foram entregues ao conde D. Henrique pelo rei de Castela, D. Afonso VI, em 1096, assim como a mão da sua filha ilegítima Teresa. O conde tinha como tarefa manter e, eventualmente, expandir as linhas de fronteira do condado que confrontavam com o território islâmico. Com a sua morte, em 1112, fica D. Teresa como condessa de Portucale e de Coimbra, condados que entretanto se unificaram.

O filho de D. Henrique e D. Teresa, D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal instalou-se com a corte em Coimbra, passando esta a ser a cidade sede do reino. A situação estratégica da urbe e as sua imponentes muralhas, eram factores favoráveis à política de conquista de território do monarca. Da cidade partiam as expedições militares em direcção ao sul. A defesa de Coimbra foi consolidada com a edificação de uma rede de castelos que protegia a cidade a Sul e a Oeste, como por exemplo Leiria, Soure, Rabaçal, Alvorge e Ansião. Para além das questões militares a cidade tinha, também, a seu favor uma certa dinâmica comercial adjuvada pelo cruzamento das duas importantes vias (fluvial e terrestre).

O século XII foi um período áureo na história da cidade. Bem localizada com terrenos férteis, com um bom porto fluvial, bem fortificada e povoada – calcula-se cerca de 6000 habitantes – Coimbra tinha entre a sua população um número considerável de magnates, infanções, cavaleiros e membros do alto clero. D. Afonso Henriques impulsionou a construção ou a reconstrução de vários edifícios. O mosteiro de Santa Cruz foi fundado em 1131 por D. Telo e D. Teotónio, com o apoio do monarca, encontrando-se o seu túmulo e o do seu filho na respectiva igreja. Promoveu a construção da catedral românica da cidade, a Sé (Velha), no local de um antigo templo dedicado a Santa Maria. A reconstrução da ponte (de origem romana) iniciou-se em 1132. Recuperaram-se novas estruturas de utilidade colectiva como fontes, fornos, ruas, calçadas. Reconstruiu-se e melhorou-se a muralha e fundaram-se infra-estruturas assistenciais. No sentido de confirmar e reforçar o poder do Concelho, D. Afonso Henriques, concede à cidade uma carta de foral em 1179.

Nos finais do século XIII inícios do XIV, acabou por se consolidar o confronto espacial entre a cidade aristocrática, política e militar (na Almedina) e a cidade mercantil, artesanal e laboriosa (no arrabalde). No arrabalde situavam-se, também, as judiarias, a “velha” e a “nova” – a primeira na actual Rua Corpo de Deus e a segunda nas imediações da rua Direita. Para além das duas zonas principais da cidade, existiam ainda pequenos aglomerados de casas em torno de mosteiros e conventos (localizados perifericamente) como os de Celas, Santa Clara, Santo António dos Olivais.

Em 1537, a Universidade instala-se definitivamente em Coimbra por ordem de D. João III. A partir deste ano a sua existência e funcionamento condicionaram a dinâmica do espaço urbano da cidade. Ainda em 1535, e tendo em vista a instalação dos estudos, D. João III com a colaboração de Frei Brás de Barros mandou rasgar a Rua de Santa Sofia. Nesta artéria ficariam instalados os Colégios Universitários, cujo objectivo seria albergar os estudantes, e prover uma formação base preparatória. A rua apresentava umas notáveis dimensões de 200 braças (440 metros) de extensão e seis braças (13,2 metros) de largura e os edifícios construídos estavam organizados linearmente e apresentavam uma tipologia conventual, com uma igreja externa adjacente a um claustro.