pesquisas Em andamento


Relações Afroindígenas: Teorias Etnográficas da Mistura, do Sincretismo e da Mestiçagem

Descrição: Este projeto coletivo visa retomar em bases etnográficas dois temas que, articulados entre si, vêm ocupando o campo das ciências sociais brasileiras há quase dois séculos: o "sincretismo" e a "mestiçagem". Desde seu nascimento, esse campo têm se dedicado a tais fenômenos sobre o pano de fundo dos problemas da "construção da nação". De modo geral, as teorias a respeito desses temas se dividem entre perspectivas negativas, que os encaram como males a combater, e positivas, que os celebram como conquistas a preservar e desenvolver. Para além de suas disparidades, esses pontos de vista parecem ter em comum o fato de adotarem uma concepção substancialista da diversidade, que faz supor que a pureza ou a mistura sejam vistas como o destino inelutável de qualquer agenciamento entre diferenças. Em contraste com essas perspectivas, um número apreciável de etnografias vêm mostrando que muitos dos coletivos estudados apresentam uma visão distinta, que se caracterizaria (é a principal hipótese aqui em jogo) por não supor que a combinação de elementos de origem diversa deva necessariamente desembocar nem em um processo de homogeneização laminadora, nem em um processo de simples fusão sincrética. O objetivo deste projeto consiste, portanto, em proceder a um levantamento, análise e comparação de diferentes casos etnográficos em que contra-discursos sobre sincretismo e mestiçagem apareçam com maior ou menor clareza. Ao mesmo tempo, trata-se de promover uma releitura das principais teorias sobre sincretismo e a mestiçagem, a serem confrontadas com os discursos locais estudados. Essas análises e confrontos permitirão a melhor compreensão das teorias locais e das dominantes, assim como fornecerão elementos para uma revisão de alguns dos principais temas e debates que permeiam a sociedade brasileira: coexistência de diferentes religiões; reivindicações identitárias indígenas e afro-brasileiras contemporâneas; os problemas e debates levantados pelas políticas de ação afirmativa étnico-raciais.

Agência financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq



Ana Claudia Cruz da Silva (UFF) - Etnografando o enfrentamento ao racismo

Este projeto de pesquisa parte de uma concepção ampla de movimento negro, concebendo-o no plural e designando as mais diversas práticas organizadas e efetuadas por coletivos no enfrentamento ao racismo e às desigualdades por ele provocadas. Ele abarca diferentes frentes de pesquisa em diferentes campos e propõe, por um lado, a reflexão a respeito de valores, ideias, concepções e categorias utilizadas por esses movimentos e, por outro, suas consequências em instituições, na produção de políticas e visões de mundo. Assim, longe de ser um projeto que investiga o “pensamento” e a “cultura” negros, sua proposta é refletir também sobre o pensamento branco e o mundo que ele tem produzido, tendo o racismo como parte constitutiva. Trata-se de compreender as relações raciais como relações sociais de poder. Alguns desse s campos de trabalho são a análise e produção de materiais didáticos buscando contribuir com a efetivação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 que tratam da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena; as ações afirmativas, especialmente na forma de cotas raciais no ensino público secundário e superior e de cotas raciais epistemológicas; grupos culturais negros; projetos sociais de base e atuação negras; territórios negros; coletivos estudantis negros; representatividade negra em diversos campos de atuação profissional, entre outros. O projeto reúne pesquisadores e estudantes que privilegiam a etnografia para o entendimento dos processos em curso. Desenvolve-se no âmbito do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Sociais – LEPECS e do Cosmopolíticas Núcleo de Antropologia, ambos da Universidade Federal Fluminense.

Ana Claudia Cruz da Silva) - Gestão municipal da igualdade racial e políticas inclusivas de educação e trabalho no município de Niterói: estudos e ações para sua implementação

Projeto de pesquisa aplicada, em convênio com a Prefeitura de Niterói, voltado para o estudo da gestão municipal da igualdade racial e para o subsídio de ações de implementação de pol&iacut e;ticas inclusivas de caráter racial na cidade de Niterói, notadamente o apoio à efetivação da Lei 10.639/2003, e à reserva de vagas para negros e negras no serviço público municipal.

Coordenadora: Flávia Mateus Rios (UFF)

Barbara Cruz (Museu Nacional) - O Tambor da Mata Codoense: Um Estudo Antropológico do Terecô, Religião de Matriz Africana de Codó, Maranhão

Este projeto consiste em uma investigação etnográfica sobre o Terecô, religião de matriz africana praticada eminentemente na região dos Cocais, onde está localizado o município de Codó/Maranhão. A região é tida como berço do terecô, prática religiosa que concebe a incorporação sobretudo de encantados, também identificada como Brinquedo de Santa Bárbara, Verequete, Encantaria de Barba Soeira, Tambor da Mata ou Mata. Coloca-se em uma posição de intensa circulação e cruzamento entre diferentes tradições religiosas como tambor de mina, candomblé, umbanda, pajelança, espiritismo, catolicismo. Por essa razão, tem sido amplamente considerado entre as práticas tidas como altamente sincréticas. Mestiçagem e sincretismo, esses dois conceitos que estão entrelaçados no coração dos discursos de identidade nacional brasileira, foram frequentemente pensados como processos espelhados. Melhor dizendo, sincretismo como um reflexo cultural/religioso da mestiçagem como fenômeno racial/biológico. No entanto, o Terecô praticado em uma região onde 85% da população é negra - “pouco misturada” por essa lógica de pensamento - aparece como caso privilegiado para pensar outras teorias etnográficas sobre essas misturas, em um contraste com os discursos dominantes que tenderam a explicá-las. Assim, abre para pensar as relações entre raça e religião; o lugar das religiões de matriz africana/afroindígenas no imaginário nacional; e o lugar do sincretismo nas ideologias nacionais de mestiçagem.

Ellen Araujo (Museu Nacional) - Frações da vida Fulni-ô: uma etnografia dos possíveis

A pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, tem por objetivo a produção de uma etnografia centrada na socialidade (Wagner 1974; Strathern, 1988) do povo indígena Fulni-ô – que habita a região da Serra do Comunaty, entre o Agreste meridional e o sertão sub-médio Rio São Francisco no Estado de Pernambuco, em uma terra indígena localizada na circunscrição do município de Águas Belas. Junto ao português, também são falantes de uma língua própria, o yathê (ISA, 2017) e sua população tem 4.689 integrantes (IBGE, 2014). Inspirada por uma vertente etnológica desenvolvida nos estudos das sociedades indígenas amazônicas, denominada economia simbólica da alteridade (VIVEIROS DE CASTRO, 2002[2013], p.335), a pesquisa se realiza através de trabalho de campo e busca compor uma etnografia dos Fulni-ô ao descrever os princípios de organização social e cosmologia.

Helena Santos Assunção (Museu Nacional) - Relações entre mulheres e madjine: casamentos espirituais na Ilha de Moçambique

A pesquisa realizada na Ilha de Moçambique/Nampula, norte de Moçambique, trata de relações entre pessoas e espíritos, mais especificamente de um fenômeno frequente entre mulheres, conhecido como marido da noite, ou doença de madjine. Esses seres espirituais sexuados entram em relações com pessoas podendo se manifestar em sonhos ou por possessão, e causam uma série de efeitos, sobretudo no que tange a esfera da maternidade e da sexualidade. Através do acompanhamento de diagnósticos e diversos percursos de tratamento com algumas amigas mais próximas da Ilha de Moçambique, busco entender como se dá esse "casamento espiritual", por que se utiliza esse termo para as relações entre pessoas e espíritos e como elas influenciam nas demais relações amoroso-afetivas. Para tal, estabeleço conexões e comparações entre os batuques de madjine (ekoma ni madjine) e os ritos de iniciação femininos (ekoma za quintale), e dialogo com a literatura que aborda as relações de gênero e de parentesco nas sociedades matrilineares makhuwa/nahará. Pretendo, através do estudo das relações entre mulheres e seus madjine, contribuir para pensar relações de gênero/gendrificantes que não passam unicamente pelas relações de poder entre homens e mulheres, tendo em vista também as relações entre humanos e espíritos que constituem uma pessoa.

Gabriel Holliver (Museu Nacional) - Experiência e Desmantelo no semiárido paraibano

O presente projeto tem por objetivo dar continuidade a uma pesquisa que realizo desde 2015 junto a agricultores camponeses habitantes do Médio Sertão da Paraíba, autodenominados por “agricultores experimentadores”. Aqui, tenho como alvo especialmente a tessitura das relações multiespecíficas no cotidiano rural e a agrobiologia presente nos sistemas agrícolas existentes na região. Em um contexto de desertificação, erosão genética e crescentes períodos de depressão pluviométrica abaixo da média, caracterizados segundo meus amigos por “tempo desmantelado”, pretendo cartografar estratégias de pequenos núcleos familiares que visam manter a existência da agricultura como modo de vida local. Essas práticas, cuja finalidade objetiva é manter condições ecológicas favoráveis para manutenção da atividade agrícola, têm gerado como efeito prático na paisagem desses sítios a vigorosa recomposição da vida. Neste sentido, é oportuno realizar um esforço comparativo, no sentido de compreender as diferentes práticas que resultaram no presente estado de entropia em que se encontra tal paisagem, e os atuais movimentos moleculares diametralmente opostos realizados por essas pessoas. Delineia-se, assim, a importância de compreender as transformações não apenas ao nível sincrônico (as práticas atuais de cerâmica, mineração e energia eólica), mas também diacrônico, e portanto se faz necessário o investimento na história dos modos de ocupação da terra. para compreender em especial o passado das plantations de algodão.

Gabrielle Cardoso (Museu Nacional) - Os Rikbaktsa: história e socialidade na Amazônia Meridional

Esta dissertação tem por objetivo situar os deslocamentos feitos pelos Rikbaktsa ao longo do rio Juruena, afluente da margem esquerda do Tapajós, desde a época do contato em 1957. Esses deslocamentos históricos fornecerão subsídios para explicar brevemente aspectos culturais internos e a relação com alguns grupos vizinhos no tempo e no espaço; com especial atenção aos vizinhos Tupi, com quem os Rikbaktsa conservam algumas afinidades culturais. O primeiro capítulo faz uma breve contextualização histórica da região, comentando sobre os povos que ali vivem. O segundo capítulo, por sua vez, trata da socialidade rikbaktsa em duas partes: a primeira em termos axiomáticos (organização social e terminologia de parentesco) e a segunda em termos processuais (regime alimentar e ciclo ritual). À guisa de conclusão, o terceiro capítulo retoma o ímpeto comparativo do primeiro, o fio condutor permanece sendo a socialidade, agora percebida pela ótica da guerra e da predação.

Gustavo Fialho (Museu Nacional) - Entre rezas, curas e festas: o Peji do sertão baiano

A presente pesquisa pretende descrever e analisar o Peji, religião de matriz africana típica da região de Jacobina, localizada no sertão baiano. O Peji é considerado uma prática sincrética, que conjuga diversas influências dos universos católico, indígena e afro-brasileiro. As lideranças religiosas, os “pejizeiros”, trabalham diariamente com rezas e processos de cura, além de realizarem esporadicamente celebrações e festas para os caboclos e orixás. Por essa razão, o principal foco desta investigação coloca-se sobre o modo de composição da multiplicidade que possibilita a organização singular da religião em questão. As discussões em torno da mistura e do sincretismo ocupam lugar de destaque e a apreciação dos rituais e da cosmologia, bem como dos processos sociais envolvidos, permitirá um estudo no qual o Peji se destaca tanto por sua organização ritual quanto por sua história e território social. Nesse sentido, explora-se o sertão como um lugar povoado por plantas, seres naturais e espirituais que compõem, de modo singular, as práticas dos “pejizeiros”. E ainda, as dinâmicas entre rural e urbano, compreendidas em sua relação recíproca, permitem refletir sobre os arranjos e as tensões entre o Candomblé e o Peji.

Humberto Manoel (UNICAMP)- Na encruzilhada se faz o caminho: criatividade e confluência nos encontros com Pombogira

Minha pesquisa é uma etnografia sobre os (des)encontros entre os mundos espiritual e material. O caminho na pesquisa é construído na encruzilhada em composição com as Pombogira e as pessoas que as procuram em busca de acertos. É no processo de composição da busca de equilíbrio e força na encruzilhada que são construídas as relações entre os quereres, os fazeres e os acertos para fins pragmáticos, estabelecendo assim, a comunicação entre os mundos. Esta pesquisa é, ao mesmo tempo na encruzilhada, se faz em encruzilhada e dela precisa enquanto conceito do próprio campo. É uma pesquisa em que a encruzilhada se faz presente enquanto território em confluência (SANTOS, 2015) de forma direta, mas também em composições inesperadas em que pode ser ponto de encontro ou não, como também pode ser ponto final, ou o início da escolha de possibilidades, mas constantemente sendo parte do fazer o caminho com respeito, pois na encruzilhada tem morador. Além da encruzilhada enquanto território em confluência, utilizo a noção de encruzilhada que o campo apresenta como forma de lidar com a diferença presente na filosofia política da religiosidade de matriz africana (ANJOS, 2008).

Karen Shiratori (USP) - O fitomorfismo Jamamadi (médio Purus, AM): etnologia indígena e vida vegetal

Partindo dos problemas conceituais postos pela etnografia dedicada aos Jamamadi (Shiratori 2018), povo de língua arawá do médio rio Purus (AM), este projeto de pesquisa versa sobre o seu “fitomorfismo metafísico”, que constitui o registro analógico fundamental da imaginação coletiva deste povo, bem como as suas consequências etnológicas e filosóficas para uma reconceitualização da relação com as plantas. A importância do universo vegetal para o pensamento jamamadi (como também de outros povos arawá) os singulariza dentro da paisagem etnográfica na qual a relação especulativa dominante dos humanos com o ambiente privilegia a fauna antes que a flora. Neste sentido, o projeto 1) pontua e problematiza a ênfase que os estudos recentes sobre as dimensões “animistas” ou “perspectivistas” das cosmologias amazônicas deram ao mundo animal, tanto do ponto de vista prático-etológico (caça, predação) como simbólico-cosmológico (mitologia, ritual) em detrimento de outras formas de vida, notadamente as plantas (restritas aos domínios da consanguinidade e convivialidade). 2) E, através da sistematização da bibliografia especializada, o projeto busca ampliar o seu escopo para além da contribuição restrita ao interflúvio Juruá-Purus em vista de abordar os efeitos teórico-conceituais produzidos com o reposicionamento das plantas sobre as socialidades indígenas de outras regiões etnográficas sul-americanas. Em suma, pelo fato da antropologia jamamadi investir fortemente em esquematismos fitomórficos, fundamentando uma cosmologia onde a vida das plantas e a vida dos humanos se espelham e se entrelaçam em múltiplas dimensões, tal singularidade etnográfica convida a uma reavaliação das imagens produzidas pela etnologia recente a respeito do universo conceitual, estético e ético dos povos amazônicos, em consonância com um interesse renovado de diferentes áreas do saber pelo universo vegetal, em especial, a filosofia.

Kauã Vasconcelos (Museu Nacional) - Encantaria amazônica na Ilha de Marajó

A pesquisa em andamento busca investigar as relações entre práticas e praticantes das linhas de trabalho mobilizadas por mães/pais de santo e pajés na Ilha de Marajó, no município de Soure (PA). Ela busca empreender uma descrição dos movimentos de composição que se dão com diferentes forças, energias e entidades - como os Caboclos da linha de Mina (ou Umbanda) e os Caruanas da linha do Fundo (ou Pena-e-Maracá) - nos terreiros e cabanas e no cotidiano de seus adeptos.

Lucas Marques (Museu Nacional) - Retomadas negras: espiritualidades afro-americanas e seus encontros no Pacífico sul colombiano

O Pacífico Sul Colombiano é uma região marcada pela presença significativa de populações negras e uma intensa migração e circulação de pessoas, bens e práticas religiosas. Recentemente, tal região vem atravessando diversas mudanças socioculturais, motivadas tanto pelos conflitos armados quanto por novas políticas identitárias e dinâmicas de circulação. Este estudo irá analisar como as distintas espiritualidades negras da região se inserem e se transformam neste novo cenário. Mais especificamente, a proposta da pesquisa é etnografar as práticas religiosas locais – como a leitura do tabaco e os rituais de nascimento e morte – e o modo como essas práticas se transformam a partir do encontro com diversas práticas oriundas das chamadas “religiões afro-cubanas”, como a Santería, o Palo Monte e o Espiritismo Cruzado. Através de uma pesquisa etnográfica aprofundada na cidade de Tumaco, a pesquisa irá explorar como os encontros entre as distintas espiritualidades negras envolvem e são conectados com uma série de dimensões políticas, sociais e cosmológicas – ou seja, com toda uma cosmopolítica. O objetivo é explorar tais encontros sem reduzi-los a alguma dimensão extrínseca ao próprio acontecimento, mas buscando trata-los enquanto movimentos criativos que envolvem e agenciam uma série de seres e relações.

Lucinea dos Santos Ferreira (Museu Nacional) - Descolonizando corpos nas artes de Rosana Paulino

O presente trabalho de pesquisa versa compreender um recorte do cenário das artes plásticas/artes visuais “afrobrasileira” contemporânea (afrobrasileira como categoria estética, por isso grafo sem ifem), a partir do estudo das obras de Rosana Paulino (São Paulo). Para isso, torna-se necessário observar a descategorização conceitual da história da arte para questionamentos sobre o cotidiano, suas origens e o lugar do negro na sociedade brasileira (em especial a mulher negra brasileira). Desta forma, pensar a produção das artes por artistas negros como instrumento político, como forma de resistência, mas também, como um movimento artístico contemporâneo, com estética própria e suas entrelinhas sem deixar de ser mágica, crítica e sensível.

A ideia é pensar como Rosana Paulino transita entre o imaginário, a estética e o conhecimento institucional, que se fundem a suas experiências de vida como afro-descendente. Preenchendo lacunas da história a partir de questões diaspóricas que constituem a cultura brasileira. Deste modo, compreender a importância da cidade de São Paulo como centro irradiador da arte negra. Tendo grande relevância a composição da base da pirâmide social da sociedade brasileira, como paradoxo do fazer artístico que narra através de seus trabalhos problemas sociais estruturais.

Luis Reyes Escate (Museu Nacional) - De ingas e mandingas ou existindo nas dobras do mundo: uma teoria etnográfica da (contra)mestiçagem afroandina no Peru.

A noção hegemônica de mestiçagem é a de um processo de hibridez entre duas raças / culturas discretas, geralmente brancura e indigeneidade, que resultam na formação de um novo Raça / cultura "mestiço". Esta pesquisa busca desafiar esse entendimento hegemônico, construção de uma teoria etnográfica afro-andina da mestiçagem em Zaña, um distrito peruano constituído por pessoas que se identificam automaticamente como mestiços afro-andinos, descendentes de africanos escravizados e indígena andina. Desde a independência do Peru, números diferentes foram usados para criar um identidade nacional como "o mestiço peruano", "o índio peruano", "o camponês peruano", e finalmente "a interculturalidade peruana". Apesar dessas flutuações no uso de vários categorias, a maioria da sociedade peruana identifica-se predominantemente como "mestiço". Contudo, parafraseando Marisol de la Cadena, pode-se dizer que no Peru o mestiço é um mestiço, mas não só (De la Cadena 2014). Baseado em uma pesquisa etnográfica comparada em Zaña e Subtanjalla, este projeto foca em apreender as concepções locais da população mestiça afro-andina sobre a mestiçagem e o ser mestiço. Além disso, concentrando-se nos agenciamentos estabelecidos entre indígenas e afrodescendentes, esta pesquisa analisará os conceitos analíticos êmicos de enxerto e cruzamento, que são as palavras usadas pelos mais velhos em Zaña e Subtanjalla para definir a mestiçagem e o mestiço.

Nicole Soares Pinto (UFES) - A catástrofe da sobrenatureza: histórias de Terra e Guerra no Complexo do Marico

O objetivo da pesquisa é investigar, junto aos povos indígenas do Complexo de Marico (Maldi 1991), habitantes das margens direita do Rio Guaporé (Amazônia Meridional/RO), suas atuais condições de habitabilidade em contextos de cerco territorial e destruição ambiental causada por não-indígenas. Em observância a uma espécie de toxicidade anímica altamente saturada dos lugares, o interesse recai na relação entre guerra e terra em suas mais variadas atualizações, incluindo o registro xamânico e as transformações da comunicação com o plano virtual. O foco do estudo é a crise ecológica, política e cosmológica, como formulada e vivenciada por esses povos, investindo nos modos como contra-efetuam abordagens e experiências enraizadas em um espaço-mundo despedaçado e fissurado pela acumulação e exploração capitalista.

Noshua Amoras (Museu Nacional) - "A jurema manda": etnografia do culto da Jurema em Recife-PE.

Minha pesquisa de doutorado se dedica ao estudo da jurema, modalidade religiosa presente em larga extensão no Nordeste, caracterizada pelo uso de elementos da planta da jurema, e culto a entidades e divindades como caboclos, índios, mestres, exus. Meu foco de estudo é na Zona Norte do Recife, região que já foi conhecida como Catimbolândia em referência à intensa presença de religiões de matriz africana e que permanece lócus de antigos terreiros e famílias dedicados ao culto. Em contraste com sua predominância numérica, a jurema é uma modalidade religiosa ainda pouco descrita nos registros etnográficos. Meu objetivo é observar a preponderância da jurema na vida das pessoas, especialmente na sua relação com demais modalidades religiosas com a qual convive, me atentando também a intensa variabilidade ritual que a caracteriza.

Suzane de Alencar Vieira (UFG) - Antropologia da vida: políticas da natureza e ontologias ambientais

O objetivo deste projeto é compreender incidência da questão da vida na antropologia em diferentes sentidos e práticas: 1- emaranhados multiespécies, relações entre humanos e não humanos em diversos arranjos ecológicos; 2- noção de natureza agenciada por práticas e concepções científicas e suas controvérsias; 3- arranjos de seres e forças tais como concebidos por coletivos não-ocidentais, mais especificamente conhecimentos indígenas, camponeses e quilombolas; 4- sentido existencial suscitado pela reflexão sobre mudanças climáticas e catástrofes ambientais de escala global e questões provocadas, em grande medida, pelo debate sobre o Antropoceno. Por uma antropologia da vida (sem o qualificativo ?social? ou ?cultural?), designa-se uma sensibilidade ou atenção às diversas ontologias, pragmáticas e éticas ecológicas. Essa abordagem cultiva a habilidade de estar atento à vida que extrapola e tenciona o domínio do ?social?: as convivialidades multiespécies, as relações entre humanos e animais, plantas, espíritos, paisagens, objetos, máquinas/dispositivos digitais, etc. A pesquisa se desdobrará em três etapas: estudo teórico, levantamento bibliográfico, análise comparativa e pesquisas de campo conduzidas pelas coordenadoras do núcleo e suas/seus orientandas/os..

Alunos envolvidos: Graduação: (7) / Mestrado acadêmico: (3) / Doutorado: (3) .

Integrantes: Suzane de Alencar Vieira - Coordenador / Indira caballero - Integrante.

Priscilla Lessa de Mello (Museu Nacional) - Política, Religião e Trabalho em um assentamento no sul da Bahia

O projeto de pesquisa do doutorado pretende dar continuidade ao estudo realizado no mestrado junto a uma comunidade negra localizada em um assentamento da reforma agrária na cidade de Ilhéus no sul da Bahia, onde também fica localizado o terreiro de candomblé Ilê Axé Ode Omi Ewá. A pesquisa tem como objetivo realizar uma ‘teoria etnográfica da raça’, acompanhando e descrevendo a forma como os integrantes desta comunidade compõem sua existência a partir de uma multiplicidade de linhas de atuação: o candomblé, o movimento negro, movimentos de luta pela terra, dentre outros, buscando compreender a forma como essas dimensões ali se conjugam sem pretender à eliminação das asperezas entre elas, assim como etnografar as técnicas de resistência e os processos criativos e singulares de diferenciação envolvidos nessa experiência.

Ximena Flores (Museu Nacional) - "Vivendo com HIV": caminhos, fazeres e o uso das plantas entre os Awajún (Amazônia Peruana)

Desde el 2005 los awajún del distrito de El Cenepa vienen luchado contra el VIH/SIDA. El objetivo de mi investigación es ampliar la comprensión de las nociones awajún sobre el VIH/SIDA en el distrito de El Cenepa. Propongo hacer un análisis comparativo de historias de vida de personas awajún seropositivas para conocer la heterogeneidad de sus experiencias de salud, de enfermedad y de cuidado. Las concepciones “bienestar” y “malestar” en los cuerpos awajún conjugan dimensiones corporales, sociales y espirituales que se entrelazan. Por ello, abordar el VIH/SIDA en este contexto implica adentrarse en experiencias personales y colectivas en dimensiones físicas y sensoriales en continua actualización. Lejos de un abordaje biomédico, esta investigación mostrará los procesos de enfermedad en la vida cotidiana de las personas, la redes de relaciones que se activan en los procesos de búsqueda de salud y el uso terapéutico del Toé (Brugmansia suaveolens), planta maestra que es criada y dotada por las madres awajún, para tornar fuerte el cuerpo de sus hijos.