A quem amamos e compartilhamos a existência!

Inspirando-nos no inquietante conceito de otimismo apocalíptico acionado pelo professor neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, expresso no livro "Sonho Manifesto: dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico" (Companhia das Letras, 2022), é que movimentamos esta terceira edição do Seminário Internacional de Educação em Direitos Humanos da Universidade Estadual do Paraná, evento este organizado pela Pró-Reitoria de Politicas Estudantis e Direitos Humanos, Diretoria de Direitos Humanos, Centro de Educação em Direitos Humanos, bem como seus núcleos: Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais, Núcleo de Educação Especial e Inclusiva, Núcleo de Educação para as Relações de Gênero e Programa de Apoio Emocional - CEDH Acolhe.

Para cultivamos a chance de prosseguir, ecoamos Sidarta, que, por sua vez, ecoa benzedeiras, pajés, xamãs, mestras(es) de saber popular, artistas, inventoras(es), tradições religiosas e filosóficas diversas e cientistas, convocando-nos a assumir as tensões, ambiguidades, complexidades e potencialidades de nosso tempo. O convite é ativarmos a capacidade imaginativa vital de sonharmos coletivamente e nos corresponsabilizarmos eticamente em nome do cuidado, da colaboração, da solidariedade e da confiança mútua, qualidades estas desenvolvidas ancestralmente por outros seres e sociedades que coabitam e coabitaram esta casa-comum.

Urge a coragem de denunciar e renunciar as lógicas da competição patriarcal, da mercadoria e do descarte que nos conformaram como espécie homo sapiens e como sujeitos da (tardo) modernidade capitalista-colonialista. Urge tomarmos nas mãos este tempo que nos acontece, suas constelações perigosas, mas que, concomitantemente, anunciam - no instante-já, aqui e agora - possibilidades promissoras e libertárias à vida-em-comum. Neste sentido, endereçamo-nos para este nosso TEMPO...

...que dói e que cura, que arde e que nutre, que periga e que esperança, que amedronta e que encoraja, que oprime e que liberta, que embrutece e que artista, que totaliza e que imagina, que odeia e que irmana.

...UM TEMPO

... de metástases, de padronizações, de cansaço, de solidão, mas também de metamorfoses, de multiplicidades, de renovação, de comunhão.

...UM TEMPO

... (in)sustentável, (in)consciente, (im)possível, (ir)responsável, (in)delicado, (des)cuidado, (ir)respirável.

...UM TEMPO

... ubuntu, ancestral.

Todas estas palavras urgem a nós como imagens deste nosso tempo que precisam friccionar-se às memórias e às histórias das existências subalternizadas e excluídas, a fim de produzir outras significações e modos de ser. Imagens-palavras-verbos, que indicam ações no mundo; imagens-palavras-substantivos, que indicam nossa capacidade de nomear o que nos acontece; imagens-palavras-adjetivos, que indicam as qualidades das existências, os sentimentos do mundo, como que embalando-nos na poesia de Drummond: "[...] Estou preso à vida e olho meus companheiros/ Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças/ Entre eles, considero a enorme realidade/ O presente é tão grande, não nos afastemos/ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.

Com amor de toda gente que organiza este Seminário.