A Ferramenta*

Esta pesquisa teve o objetivo de desenvolver uma ferramenta que pudesse recomendar tecnologias 4.0 para qualquer processo organizacional de uma PME brasileira do setor agropecuário, a fim de que esse tipo de organização iniciasse a sua modernização, tornando-se mais competitiva frente ao cenário 4.0. Para isso, optou-se pela adaptação de uma ferramenta já conhecida da literatura, o QFD – Quality Fuction Deployment (Desdobramento da Função Qualidade) das 4 fases, proposto por Hauser e Clausing (1998), a fim de que a partir das necessidades e desejos de um cliente (no caso, uma PME), pudessem ser identificadas quais características do produto (no caso, quais tecnologias), seriam as mais importantes para se garantir a satisfação do cliente e as necessidades do seu negócio.

Sobre o QFD

O QFD é mundialmente conhecido pela sua estrutura de tabelas e matrizes que organizam as informações acerca do desenvolvimento de um produto, possibilitando a escolha, priorização ou desdobramento de quaisquer aspectos através da "voz do cliente" (requisitos do cliente). Com a ferramenta desenvolvida nesta pesquisa, ao final do preenchimento de 3 matrizes, obtém-se uma recomendação das tecnologias 4.0 mais importantes para as necessidades da PME analisada, a indicação de em quais etapas de um processo tais tecnologias poderiam ser mais benéficas e uma lista de parâmetros de controle dessas etapas para se garantir a qualidade do processo.

Contexto

Esta pesquisa compreende que a ferramenta poderia ser utilizada dentro de um Sistema de Gerenciamento de Processos, o BPM – Business Process Management, que trata de “uma abordagem disciplinada para identificar, desenhar, executar, documentar, implantar, medir, monitorar, controlar e melhorar processo de negócios com o objetivo de alcançar resultados consistentes e alinhados com as estratégias de uma organização (BALDAM, VALLE, ROZENFELD, 2014, p. 4). Com isso, a ferramenta poderia ser empregada na etapa de modelagem e otimização de processos, recomendando a implementação de certas tecnologias 4.0 para melhoria desses processos. A figura abaixo ilustra o contexto idealizado pela pesquisa para uso da ferramenta desenvolvida dentro do BPM.

Visão Geral do QFD T4.0

A ferramenta proposta é composta por três matrizes: Planejamento das Tecnologias, do Processo e da Produção.

PLANEJAMENTO DAS TECNOLOGIAS

DEFINE-SE QUAL(IS) TECNOLOGIA(S) 4.0 UTILIZAR CONSIDERANDO O(S) REQUISITO(S) DO CLIENTE

PLANEJAMENTO DO PROCESSO

DEFINE-SE EM QUAL(IS) ETAPA(S) DO PROCESSO SERÃO UTILIZADA(S) A(S) TECNOLOGIA(S) 4.0 SELECIONADA(S)

PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO

DEFINE-SE AS VARIÁVEIS DE CONTROLE (E SEUS VALORES) PARA AS ETAPAS SELECIONADAS DO PROCESSO ANALISADO

Comparação entre o QFD original e a proposta

Na figura abaixo tem-se uma comparação entre o QFD das 4 fases, proposto por Hauser e Clausing (1998), e o QFD proposto por esta pesquisa. Abaixo, são apresentadas as principais semelhanças e diferenças entre essas duas versões.

Semelhanças

Uso da filosofia de se realizar a escolha, priorização e desdobramento de quaisquer aspectos através da "voz do cliente" (requisitos do cliente).
Uso da estrutura de tabelas e matrizes para organizar as informações e realizar as análises.
Uso de pontuações para as análises e realização de priorizações através de pesos absolutos e relativos.
Uso de grande parte das operações e análises da Matriz 1 (casa da qualidade) propostas originalmente pelo QFD de 4 fases, como: análise do cliente, kano, qualidade planejada, índice de melhoria, argumento de vendas, entre outras.
Uso de 3 das 4 matrizes propostas pelo QFD das 4 fases (Planejamento do Produto, do Processo e da Produção).

Diferenças

Este trabalho fornece roteiros que ajudam o aplicador a obter as informações necessárias para o preenchimento do QFD.
Houve a subtração de algumas operações comumente realizadas na primeira matriz do QFD, como aquelas relacionadas a conversão dos requisitos dos clientes em características do produto e aquelas relacionadas a análise da relação (positiva ou negativa) entre os requisitos ou características de qualidade do produto. Um exemplo disso são as operações de conversão e correlação que existem na versão original do QFD.
Troca das Características de Qualidade do produto pela Lista de Tecnologias 4.0. Entrada necessária para iniciar o preenchimento da Matriz 1.
Retirada da análise dos concorrentes da Matriz 1, uma vez que está fora do objetivo principal da pesquisa.
Adição da Análise de Requisitos das Tecnologias 4.0 na Matriz 1, a fim de se verificar a presença de algum impedimento para o uso das tecnologias 4.0 analisadas.
Adição da Análise da Tecnologia Planejada na Matriz 1, porque caso haja algum impedimento para o uso das tecnologias analisadas, verifica-se se o cliente é capaz de atendê-lo ou se planeja superá-lo.
Modificação na forma como o resultado de uma matriz fornece informação para as demais. A fim de se priorizar o que irá passar para a próxima matriz, ao final das matrizes 1 e 2 são calculados os pesos absolutos e relativos, evidenciando o grau de importância dos aspectos analisados para facilitar a escolha.
Retirada da Matriz “Planejamento de Componentes”, uma vez que está fora do escopo da pesquisa.

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MOURARIAS, Murilo Neves. Ferramenta para recomendação de tecnologias 4.0: um caso de aplicação em uma produção de queijo artesanal. 2021. Dissertação (Mestrado em Economia, Organizações e Gestão do Conhecimento) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2021. doi:10.11606/D.18.2021.tde-03012022-163445.

O trabalho original pode ser acessado através deste link:

https://doi.org/10.11606/D.18.2021.tde-03012022-163445

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