Yūko 夕子 - Yū 夕 27-1 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Danse ダンス 27-24 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Yū 夕 27-20 • 2022 • fotografia impressa • 29,7 × 42 cm
Yūko 夕子 - Kachō-ga 花鳥画 27-27 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Danse ダンス 27-21 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Rei 霊 27-1 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Yū 夕 27-27 • 2022 • fotografia impressa • 42 × 29,7 cm
Yūko 夕子 - Danse ダンス 27-17 • 2022 • fotografia impressa • 29,7 × 42 cm
Yūko (夕子) (2022), de M.A.D.A.L.I
Um labirinto de dualidades imagéticas
Texto por: Lizia Ymanaka
As fotografias que compõem Yūko (夕子) (2022) requerem do espectador uma demorada e atenta contemplação. Infundido nas imagens está um complexo labirinto de temas e referências percorrido pela artista e que, oculto no seu resultado, provoca o observador a segui-lo.
O ponto de partida nos transporta geográfica e temporalmente à Europa do final do século XIX, onde a peça musical Dança Macabra, op. 40, de Camile Saint-Saëns (1835-1921) oferece inspirações melódicas, líricas e imagéticas. A fantasia proposta em seu texto suspende à noite a separação entre aqueles que estão ou não vivos, todos tornados iguais na festa cuja anfitriã é a Morte. Uma celebração que escapa da tristeza e do macabro, para ser coberta de euforia e deleite.
Movido pela música e pelo texto da peça, o labirinto de M.A.D.A.L.I se ergue. O longo caminho à frente tenta desconstruir as angústias comumente associadas à morte para propor um espaço de existência e criação. A argumentação se desloca entre França e Japão em busca de representações artísticas e culturais onde a morte não é apenas tragédia, mas também humor, romance, fantasia e celebração.
Constatados nesse trânsito estão aos temas que inspiram as imagens, organizadas em pares de baile. Ainda há vida explícita em kachōga (花鳥画, “pintura de flores e pássaros”), onde as flores exibem sua delicada presença, simbolicamente necessárias, surpreendentes e melancólicas na sua existência espontânea. Tudo se transforma quando a Morte chega em rei (霊, espírito, alma, fantasma) e traz para a festa os corpos desprovidos da vitalidade da carne, substituído pelo viço do indício humano.
Não vemos os passos dados, nem ouvimos o ritmo que os move. Mas somos induzidos a senti-los quando yū (夕, entardecer) nos aclimata, com a luz dourada fragmentada que se despede do dia e acolhe a noite. Celebramos então o momento difuso, de dança caótica e limites suspensos. Vestígios de luz e forma bailam febrilmente em danse (ダンス, dança) até que a manhã surge, a festa termina, e a Morte se torna mais uma vez o fim.
Mas aos que seguem o labirinto de M.A.D.A.L.I, o percurso não se encerra com o baile. As imagens exigem uma forma assim como a alma - quando em vida - exige um corpo. Na construção de Yūko, vaga-se pela Europa e pela Ásia, em busca da sua matéria. Papel e costura se tornam de igual importância às imagens que trazem, conjuntamente formando e concluindo o labirinto.
Completá-lo, porém, não significa encerrá-lo. Da próxima vez que o sol se pôr, a Morte talvez lhe convide para dançar.
M.A.D.A.L.I. Artista Visual e Pesquisadora, Mestre e Doutoranda pela ECA USP, tem uma produção intermidiática, especialmente desenvolvida como Livros de Artista, nos últimos anos. Interessa-se pelas conjunções culturais entre o oriente distante e nosso ocidente geográfico e pela profusão de possibilidades artísticas que destas nascem. Trabalha com temas que circundam as relações humanas com a Morte, principalmente desenvolvidos nas atuais pesquisas acadêmicas.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2956103209293311 • Behance: https://www.behance.net/M_A_D