EntreEstratos I • 2023 • jornal, parafina, cogumelo • 28 × 28 × 10 cm
EntreEstratos II • 2023 • jornal, parafina, pregos • 15 × 9 × 7 cm
EntreEstratos III • 2023 • jornal, parafina, pregos • 15 × 9 × 7 cm
EntreEstratos
Este texto produzido como experimentação para o pensamento, se constitui por registros de modos de segmentariedades. Não se trata apenas de uma escrita sobre matérias diversamente formadas, e ainda não formadas, mas também sobre suas linhas de fuga e movimentos desterritorializantes. Esses deslocamentos visam superar a disposição das comparações definitivas buscando elaborar uma espécie de dialética proliferante em oposição a uma dialética unificante.
O desejo que entra em operação é o de problematizar os discursos polarizados, o predomínio das verdades e proposições indiscutíveis que pretendem governar e submeter todos os setores da vida. Para isso, faz preciso reativar a imaginação, no campo das sensações, para tentar romper a estrutura dicotômica do tipo "bem" e "mal" das narrativas dogmáticas, impregnadas por forças conservadoras, quando o tecido da realidade não para de exceder essa repartição em duplos, multiplicando em seu meio dobras inimagináveis. Na transitoriedade entre o campo expressivo dos jornais (da comunicação) e o da poética, poderiam as narrativas efêmeras serem rearticuladas de modo a abrirem a percepção para afetividades inauditas, que fizessem o pensamento ascender à visão de contrapotências e perspectivas que a ordem totalizadora encobre?
Em meio ao caos das ruínas que restam, que aflora dos escombros da história, na solidão povoada de vozes emudecidas, no qual possibilidades de mundos emergem baseadas na construção de novas relações entre os seres. Busca-se no esgotamento e nas fagulhas virtuais, maneiras de superar a repetição do mesmo para fazer brotar a diferença e com ela as novas formas de vida.
A heterogeneidade apresentada no corpo de um jornal é similar ao nosso modo vida – múltiplo, diverso e controverso. No entanto, as suas narrativas, uníssonas, pretendem ser as verdadeiras e únicas interpretações dos acontecimentos de seu tempo. Essa característica comum às mídias de comunicação, abre uma oportuna e singular possibilidade de subversão das mensagens considerando a percepção da realidade, tanto do ponto de vista espacial, quanto temporal.
A recomposição espacial das notícias num jornal como um noticiário de presente contínuo possibilita a percepção de cronotopias (do grego khrónos (tempo) e tópos (lugar) e heterotopias do grego héteros (diferente) e tópos (lugar), em que os novos encontros de velhas narrativas produzem novos sentidos sempre em devir. Conhecer o que nos antecedeu nos alerta para a repetição do mesmo. Convocar a história na ação política leva a estabelecer paralelismos entre os agenciamentos do passado e as situações presentes.
Katia Speck é mestranda em poéticas visuais na Escola de Comunicações e Artes da USP, sob a orientação da artista e profª. Branca de Oliveira. É bacharel em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Apresenta em seus trabalhos artísticos o uso de diferentes mídias para compor as suas séries narrativas; o principal tema que persegue e atravessa seus trabalhos diz respeito à periodicidade e persistência de fatos expressivos publicizados em mídias impressas, capazes de inflectir o rumo dos acontecimentos políticos e sociais, problematizando seu caráter trágico e a unidimensionalidade do tempo de natureza histórica, teleológica.