Limosilia • 2023 • fotografia digital • 60 × 300 cm
Caminho Suave I • 2023 • fotografia digital • 27,5 × 41 cm
Caminho Suave II • 2023 • fotografia digital • 27,5 × 41 cm
Caminho Suave III • 2023 • fotografia digital • 27,5 × 41 cm
As obras apresentadas na exposição, Limosilia e a série Caminho Suave, fazem parte do conjunto desenvolvido no mestrado, intitulado Dispositivos para experiências em suportes móveis, que tem como objeto de pesquisa o automóvel (e outros veículos) e suas complexidades como meios para a discussão sobre as desigualdades do uso do espaço nas grandes cidades.
No ano de 1973, a Volkswagen do Brasil colocava nas ruas o Brasilia, um automóvel produzido 100% em território nacional, batizado em homenagem à capital do país, fundada 13 anos antes. E essa beldade de formas retas, espaçosa, projetada para a família brasileira, assim como a nova cidade, carregava ainda o perfume do progresso e a crença em um futuro promissor.
A capital Brasília privilegiou a circulação de automóveis em seu afã desenvolvimentista. O Plano de Metas proposto pelo presidente Juscelino Kubitschek tinha o setor de transportes, principalmente o rodoviário, como uma de suas prioridades e em seu programa de modernização a indústria automobilística foi uma das mais impulsionadas.
Nos anos 1970 o país vivia uma ressaca amargada pelo regime militar e a paleta de cores dos automóveis da época coloria as ruas do anos de chumbo, entre os fuscas baratinha e as veraneio utilizadas pela polícia.
Para evocar a utopia modernista do Brasil dos anos 60, trago a Limosilia, uma imagem do emblemático Volkswagen Brasilia alongado digitalmente, para impressão. Em uma situação oposta à riqueza da limusine, a Limosilia, branca como as edificações de Oscar Niemeyer, é cria de um desejo de esperança refletido em uma época. A fotografia foi estendida para exibir um espaço sem conforto aparente, espichado para as nossas ambições de luxo no meio da pobreza, em um país com tanta desigualdade.
E os contrastes sociais em que vivemos são produtores de revolta. Carros incendiados durante protestos, são veiculados pela imprensa internacional e, principalmente na França, acontecem em resposta à violência policial contra jovens de famílias imigrantes. Muitas vezes, a mídia simplifica esses eventos como atos de vandalismo, ignorando as motivações e a realidade das pessoas que enfrentam abusos diários.
No Brasil, também vemos situações semelhantes, como demonstrado na série "Caminho Suave". Manifestações que resultam em danos a propriedades, incluindo veículos, são frequentemente atribuídas ao que a imprensa chama de "crime organizado". Essas ações têm raízes complexas na marginalização social e falta de acesso à justiça por parte de comunidades em desvantagem.
A série homônima se baseia em uma cartilha educacional brasileira da década de 1950 a 1990 que utilizava a "alfabetização por imagem". As obras consistem em imagens digitalmente manipuladas, onde veículos incendiados, retratados na mídia, são colocados no cenário da capa desta cartilha. Ainda que o método do livro tenha sido considerado ultrapassado, somos cada vez mais informados por imagens. E “suave”, na gíria do paulistano, quer dizer que está tudo tranquilo.
Edilaine Cunha nasceu e vive em São Paulo. Possui graduação em Licenciatura em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (1998). Trabalha com design gráfico e ilustração para empresas de mídia impressa e digital. Participou de exposições na Pinacoteca do Estado de São Paulo (1997), Museu de Arte Moderna (1998), Paço das Artes (1998, 1999), galerias comerciais e outras instituições. Desenvolve projetos em música e atua na área de artes visuais com enfoque especial em desenho e tridimensional. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo na área de Poéticas Visuais.
Instagram: @didi_cunha