Arachne • 2020 • óleo sobre tela de veludo • 80 cm de diâmetro
Entre a “Vênus Celestis” e a “Vênus Naturalis” existe um ponto de interseção onde a carne violentamente sublima até alcançar o mármore dos deuses, ofegante: A morte! Este abismo que cava em todas as direções seu frêmito azul como o olhar rarefeito de um cego. É um céu assassinado, Uranos, que faz espumar na esquálida face do oceano a fonte do amor, que engendra em pérola um corpo de mulher. Este jorro criador da morte tem seu maior intérprete na vida: O orgasmo ou “pequena morte”, conceito apresentado por Georges Bataille em seu livro O Erotismo, ponto de partida para a produção das imagens.
Arachne reinterpreta o mito da tecelã que é transformada em aranha por Atena, explorando esse momento de metamorfose como metáfora para o animalesco do sexo, adentrando o sagrado ancestral do animal e da morte. A escolha do veludo busca atiçar a experiência sensorial do observador até o desejo de tocar a obra.
Alam Lima é poeta e artista visual. Mestre em artes visuais pela universidade de São Paulo, orientado pelo professor doutor Geraldo Souza Dias. Concluiu sua pesquisa La petite mort: uma metanoia erótica no ano de 2020. O trabalho investiga a tensão erótica do erotismo pela materialidade dos suportes e fabricação de imagens que oscilam entre o prazer e a morte.