IV Colóquio Internacional de Clínica da Atividade (CICA)

Câmpus Bragança Paulista da USF, de 12 a 14 de novembro de 2019

A preocupação central da Clínica da Atividade é com o desenvolvimento da atividade de trabalho. Partindo de uma perspectiva interdisciplinar ela dialoga com várias áreas: educação, psicologia, linguística aplicada, ergonomia, saúde, entre outras. Nesse sentido, o evento reúne pesquisadores dessas diversas áreas do conhecimento, com um objetivo comum: encontrar meios não apenas para analisar melhor a atividade de trabalho, mas para transformá-la. Nas palavras de Yves Clot:

... a clínica da atividade é, há quase vinte anos, uma metodologia de ação para mudar o trabalho. Ela se desenvolveu ao mesmo tempo na filiação da ergonomia francófona e da psicopatologia do trabalho. No âmbito mais vasto da clínica do trabalho, ela propõe meios de agir sobre as relações entre atividade e subjetividade, indivíduo e coletivo (Vygotski, 2010). Não se trata, em primeiro lugar, de uma análise do risco, quer seja ele físico ou psicológico. [...] É menos a atenção voltada ao trabalhador “exposto” aos riscos, com sua suposta passividade, do que a busca de capacidades de ação imprevisíveis em sua atividade; é menos a preocupação de promover o suposto “bem-estar” do operador, do que a preocupação de redescobrir, com ele, os prazeres do “bem-fazer”. Pois aqui se encontra a mola propulsora da saúde no trabalho.

A saúde, longe de ser reduzida à ausência de doença ou mesmo a uma satisfação mostrada, pode ser definida como Winnicott: “A vida de um indivíduo saudável se caracteriza tanto pelos medos, pelos sentimentos conflituosos, pelas dúvidas, pelas frustrações quanto pelos aspectos positivos. O essencial é que o homem ou a mulher se sinta viver sua própria vida, tomar a responsabilidade de sua ação ou de sua inação, se sinta capaz de se atribuir o mérito de um sucesso e a responsabilidade de um fracasso” (1988, p. 30). Saúde e poder de agir têm, portanto, uma ligação naqueles que trabalham. Sem estar – ao menos de tempos em tempos – na origem do que lhe acontece, o trabalho se torna rapidamente insustentável aos seus próprios olhos. No entanto, o que lhes cabe fazer é cada vez mais desatado daquilo que conta realmente para eles. Sua própria atividade é, então, desafetada. Pode-se, dessa forma, perder a saúde antes mesmo de ficar doente. A passividade que se impõe aos sujeitos diminuídos por um “trabalho nem feito, nem a fazer” envenena uma existência profissional abortada. É no encontro da atividade contrariada que se coloca uma clínica da atividade a serviço do trabalho.

Trecho do artigo de Yves Clot publicado na Revista Horizontes:

https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/526

A primeira edição do Colóquio foi realizada em 2010, na Universidade Federal de São João del Rey, organizado por Elizabeth Antunes Lima (Unihorizontes), tematizando os Diálogos, controvérsias e desenvolvimentos dessa perspectiva teórica. Reuniram-se pesquisadores do Brasil e da França interessados em discutir os pressupostos dessa abordagem sob a ótica de diferentes contribuições. Esse encontro contou com a participação de Yves Clot, principal pesquisador dessa linha teórica no CNAM de Paris, e de outros membros da equipe francesa, como Katia Kostulski. Do lado brasileiro, participaram desse encontro as professoras Leny Sato (USP), Anna Rachel Machado (PUC/SP; Grupo ALTER-CNPq), Cláudia Osório da Silva (UFF), entre outros.

Em 2013, tivemos o II Colóquio Internacional de Clínica da Atividade, sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e organizado pelo professor Jorge Tarcísio da Rocha Falcão (UFRN), tendo como tema central: Conexões Franco - Brasileiras e Processos de Estilização no Brasil. O objetivo era o debate de repercussões ou ramificações da Clínica da Atividade no Brasil. Participaram desse evento pesquisadores do CNAM como Yves Clot, Katia Kostulski, Livia Scheller, Malika Litim, Maryse Bournel-Bosson além de pesquisadores e estudantes brasileiros, tais como Maria Elizabeth Barros (UFES), José Newton Garcia de Araújo (PUC-MG), Lavinia Lopes Salomão Magiolino (UNICAMP), Leny Sato (USP). Nessa ocasião foi lançado o número especial sobre a Clínica da Atividade, da periódico: Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, reunindo publicações de pesquisadores brasileiros e franceses que haviam exposto trabalho no I Colóquio Internacional de Clínica da Atividade: http://www.revistas.usp.br/cpst/issue/view/5959

Em 2016, foi realizado o III Colóquio Internacional de Clínica da Atividade, na Universidade de São Paulo, organizado por Eliane Lousada (Grupo ALTER-CNPq) (http://cica2016.fflch.usp.br/node/19). Nessa ocasião, além dos pesquisadores do CNAM como Yves Clot, Katia Kostulski, Livia Sheller e Yvon Miossec, contamos também com a presença de Daniel Faïta, da AMU Université, Marseille, França. E pesquisadores brasileiros como Rozania de Moraes (UECE), Lília Abreu-Tardelli (UNESP), Jaqueline Tittoni (UFRGS), Maria Chalfin Coutinho (UFSC), Luiz Gonzaga Chiavegato Filho (Universidade Federal de São João Del Rei) e Fábio de Oliveira (USP). Em 2017 foi lançado um número especial da Revista Horizontes, reunindo artigos de vários pesquisadores, brasileiros e franceses que estiveram presentes no Colóquio: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/issue/view/24

O IV Colóquio Internacional de Clínica da Atividade (CICA) vai ser realizado na Universidade São Francisco (USF), em Bragança Paulista-SP, de 12 a 14 de novembro, reunindo uma comissão organizadora composta por membros de três universidades do Estado de São Paulo (USF, USP e UNICAMP).

O evento tem como objetivo geral refletir sobre os desafios do trabalho na contemporaneidade, buscando, no diálogo entre os pesquisadores, compreender as contribuições da Clínica da Atividade na análise da atividade e os possíveis impactos dessa análise na (re)organização do trabalho.

Eixos Temáticos

    • A Clínica da atividade e o diálogo com outras abordagens de análise do trabalho;
    • Afetos e emoções: no trabalho, nas intervenções;
    • Autoconfrontações e instrução ao sósia: possibilidades e desafios;
    • Análise dos dados das intervenções;
    • A Clínica da atividade e a Formação docente;
    • Resultados das intervenções – impactos na atividade e na organização do trabalho;
    • A perspectiva histórico-cultural como orientação para intervenção e para a pesquisa;
    • Os desafios do trabalho na contemporaneidade