A urinálise é um exame laboratorial mais usado na prática clínica, pois ajuda na detecção de enfermidades do trato urinário ou renal, sendo considerado um dos mais importantes indicadores de saúde e doença. Esse exame é composto por três etapas, que incluem: análise física, análise química e sedimentoscopia.
A sedimentoscopia é uma das etapas do exame de urina, realizada após a centrifugação do material biológico. Essa etapa permite avaliar diversos elementos encontrados na amostra de urina, através da observação microscópica. A utilização do microscópio permite avaliar a presença de bactérias; hemácias; células epiteliais; cristais, como oxalato de cálcio; presença de muco, dentre outros elementos.
Entenda o que significa a presença de alguns elementos quando presentes nos resultados do exame de sedimentoscopia:
Os cilindros são estruturas formadas exclusivamente nos rins. Essas estruturas não são frequentemente identificadas na urina de uma pessoa saudável. Dessa forma, quando observados no exame de urina, os chamados EAS (Elementos Anormais do Sedimento Urinário) podem ser um indicativo de que há alguma alteração nos rins, seja uma inflamação ou destruição das estruturas renais, por exemplo.
As hemácias são caracterizadas como um disco bicôncavo, sendo um elemento presente na corrente sanguínea, porém, quando encontradas no exame de urina, são caracterizadas como um achado anormal. A presença de numerosas hemácias no sedimento urinário é um indicativo considerado anormal, e pode ser um sinal de lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas nas vias urinárias. A hematúria é o termo usado para relatar a presença desordenada de hemácias no exame de urina, que, dependendo da intensidade, pode ser observada a olho nu devido à coloração avermelhada.
Os leucócitos, quando presentes em quantidade elevada na urina, estão associados a alguma infecção ou inflamação. A piúria corresponde à presença de três ou mais leucócitos por campo da microscopia.
O muco é um elemento fino e claro, produzido pelo trato urinário para revesti-lo e protegê-lo contra infecções, no entanto, quando existe uma quantidade excessiva de muco, ou quando surgem alterações na consistência ou cor, pode ser um indicativo de alguma alteração urinária ou intestinal.
Existem diversos elementos que podem ser encontrados nas urinas de pessoas não saudáveis devido a alterações fisiológicas e metabólicas. Vale salientar que o médico deve ser consultado após a percepção de qualquer alteração, pois o profissional irá solicitar ao paciente a realização do exame de urina, para que seja assegurado um diagnóstico correto e com um tratamento eficaz.
Câmara de Neubauer.
Lamínulas.
Tubos de centrífuga afunilados (Falcon) com capacidade para 10 ml.
Estantes.
Centrífuga.
Luvas.
Microscópico óptico.
Pipeta de 20 µL (Norma ABNT).
O exame microscópico do sedimento urinário tem a finalidade de detectar e, eventualmente, quantificar alguns elementos figurados presentes na urina, entre os quais se destacam as células epiteliais, os leucócitos, as hemácias, os cilindros, os cristais, as bactérias e os fungos.
PROCEDIMENTO:
Transferir 10mL da urina, previamente homogeneizada, para um tubo cônico graduado.
Centrifugar por cinco minutos a 2500 rpm.
Retirar e desprezar os 9mL superiores, cuidadosamente, sem agitar e sem ressuspender o sedimento.
Agitar o tubo, no vórtex, para homogeneizar o material restante no tubo (1 mL).
Inclinar o tubo e, com o auxílio de uma pipeta automática, transferir 20µL da amostra homogeneizada para a câmara de Neubauer, preenchendo cuidadosamente a área de contagem, observando para que não haja transbordamento.
Identificar a câmara com os números das amostras (lembrar que, em cada câmara, é possível colocar duas amostras diferentes ao mesmo tempo).
Aguardar três minutos para realizar a leitura.
A contagem dos elementos figurados deve ser feita de acordo com a Figura 2.
Figura 1 - Câmara de Neubauer
Fonte: Wikimedia Commons (2007).
Figura 2 - Imagem microscópica da câmara de Neubauer
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
No quadrante central, são contadas as hemácias, e seu fator de correção para conversão em hemácias/mL de urina é 1000.
Nos quatro quadrantes laterais, são contados os leucócitos e as células epiteliais, e seu fator de conversão em leucócitos/mL e células epiteliais/mL é 250.
Os cilindros urinários devem ser quantificados na câmara toda, e seu fator de conversão em cilindros/mL é 110.
Os demais elementos devem ser quantificados na câmara toda, usando a seguinte designação: ausente, raros, +,++,+++.
Figura 3 - Células epiteliais presentes no sedimento urinário
Fonte: a autora.
Figura 4 - Sedimento urinário com a presença de bactérias e leucócitos
Fonte: a autora.
Figura 5 - Hemácias presentes no sedimento urinário
Fonte: a autora.
Figura 6 - Sedimento urinário com predomínio de cristais de urina ácida: oxalato de cálcio
Fonte: a autora.
Figura 7 - Bactérias e leucócitos presentes no sedimento urinário
Fonte: a autora.
Figura 8 - Presença de espermatozoides no sedimento urinário
Fonte: a autora.
1) INSTRUÇÃO: Leia os textos I e II, a seguir, para responder à questão:
I - O exame urina de rotina, também denominado Elementos Anormais do Sedimento (EAS), constitui importante ferramenta para avaliação do sistema urinário. Existem determinadas alterações que, quando evidenciadas, sugerem patologias e auxiliam o clínico na tomada de decisões para o seguimento farmacoterapêutico.
II - Um paciente hipotético apresenta um laudo de exame de urinálise com as seguintes alterações: 1) análise física: aspecto turvo, pH 5, presença de depósito; 2) análise química: reagente para leucócitos (+++), hemácias (+), proteínas (++), nitrito (+); 3) sedimentoscopia: leucocitúria maciça, eritrócitos (6 p/c), cilindros leucocitários (4 p/c), microbiota aumentada.
Fonte: ALVARENGA, F. Q. Urinálise. São João Del Rei: [s. n.], 2023.
Com base nas informações dos textos I e II sobre o exame de urina rotina, é possível afirmar que o paciente hipotético apresenta alterações compatíveis com:
a) Infecção urinária e/ou suspeita de glomerulonefrite, evidenciada pela leucocitúria, bactérias e cilindros.
b) Síndrome metabólica, evidenciada pela presença de eritrócitos, cilindros e acidez urinária.
c) Erros inatos do metabolismo, evidenciados pela acidez urinária, presença de depósito e leucocitúria.
d) Uretrite não gonocócica, evidenciada pela presença de bactérias, nitrito positiva e leucocitúria.
Infecção fúngica, evidenciada pela presença de depósito, turbidez urinária, hemácias e proteinúria.
2) Considere os resultados dos exames físicos, químicos e microscópicos da urina dos pacientes A e B para analisar as afirmativas a seguir:
Resultados do EAS dos pacientes A e B
I - O resultado de urinálise do Paciente A exibe alterações características de uma infecção urinária, que pode ser facilitada pela presença concomitante de diabetes mellitus.
II - A imagem do elemento anormal, destacado pela seta na sedimentoscopia do Paciente A, refere-se aos leucócitos, corroborando os achados laboratoriais na análise química da urina.
III - O resultado de urinálise do Paciente B exibe alterações características de uma hematúria e cilindrúria, podendo ser sugerido a ocorrência de litíase renal.
IV - A imagem do elemento anormal, destacado pela seta e círculo na sedimentoscopia do Paciente B, refere-se, respectivamente, aos eritrócitos e cristais de ácido úrico, sendo que o primeiro corrobora com os achados laboratoriais na análise física e química da urina.
Estão CORRETAS as afirmativas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
1 - A - infecção urinária e/ou suspeita de glomerulonefrite, evidenciada pela leucocitúria, bactérias e cilindros.
2 - A - I e II, apenas.
STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2009.
WIKIMEDIA COMMONS. Hemocytometer. 2007. 1 fotografia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hemocytometer.jpg. Acesso em: 21 jun. 2023.
WIKIMEDIA COMMONS. Reticulo de Neubauer. 2012. 1 imagem. Disponívem em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Reticulo_Neubauer.jpg. Acesso em: 21 jun. 2023.