Os principais grupos sanguíneos do homem podem ser classificados de acordo com os sistemas ABO e Rh. No sistema ABO, existem quatro grupos sanguíneos determinados geneticamente (A, B, AB e O), dependendo da presença ou ausência de determinados aglutinogênios (antígenos) que são apresentados na superfície das hemácias humanas e são constituídos de açúcares ou proteínas (Figura 1). Essas moléculas foram denominadas antígenos, pois podem induzir à produção de anticorpos. Pode-se apresentar, portanto, a presença de aglutinogênio A (sangue tipo A), presença de aglutinogênio B (sangue tipo B), presença de aglutinogênio A e B (sangue tipo AB) e a ausência de aglutinogênios A e B (sangue tipo O). É importante destacar que os anticorpos do sistema ABO são naturais, enquanto os anticorpos do sistema Rh são produzidos por sensibilização.
Figura 1. Antígenos e anticorpos relacionados ao sistema ABO.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sistema_ABO.jpg. Acesso em: 17 abr. 2023.
A composição antigênica dos tecidos no homem é muito complexa e variada. A variabilidade encontrada é definida por herança genética. A complexidade antigênica das hemácias humanas é menor que a dos tecidos, o que facilita na prática a transfusão sanguínea sem a necessidade do uso de terapia imunossupressora.
A demonstração do fenótipo “ABO” é baseada em testes sorológicos, mais especificamente através de uma reação de aglutinação direta entre um antígeno e um anticorpo específico. A verdadeira função desses antígenos nas membranas das células é ainda desconhecida.
Observação: existe um grupo raríssimo na população (<0,01%) > grupo Bombay (indivíduos que não têm o antígeno H); só podem receber transfusão de hemácias, de um indivíduo Bombay (geralmente da mesma família).
O grupo sanguíneo Rh foi descoberto em 1940 por Landsteiner e Weiner. Em experimentos, os cientistas perceberam que ao injetar hemácias de macacos Rhesus em coelhos, os coelhos produziam anticorpos capazes de aglutinar as hemácias.
O termo Rh positivo ou Rh negativo refere-se à presença ou ausência, respectivamente, do antígeno D na membrana da hemácia, que é após os antígenos A e B, o mais importante em transfusões de sangue. Os anticorpos anti-D não estão normalmente presentes no soro/plasma dos pacientes Rh negativos. Seu desenvolvimento depende de uma exposição prévia ao antígeno. Os mecanismos comuns de imunização são: gestação e/ou transfusão.
Foram descritos cinco antígenos Rh diferentes (C, c, D, E, e), sendo o antígeno Rh D o mais imunogênico. Portanto, o termo fator Rh refere-se somente ao antígeno Rh D.
Existem duas formas de se fazer a tipagem sanguínea do sistema ABO: em lâminas ou tubos de ensaio. Quando feita em lâmina, há um grande risco de o resultado dar errado.
Pode não haver uma equivalência entre o soro e o sangue. Às vezes, há mais antígenos do que anticorpos, ou vice-versa. Isso interfere direto no resultado. No tubo, as chances de isso acontecer são menores já que é feita uma diluição com salina.
O encontro, na lâmina, de antígeno e anticorpo ocorre ao acaso, portanto pode haver falta de aglutinação porque não houve uma homogeneização correta. No tubo, a homogeneização é feita na centrífuga, o que diminui a chance de não acontecer o encontro.
luvas;
lâmina de vidro;
tubo de ensaio;
estante para tubo;
pipetas e ponteiras
espátulas plásticas;
lanceta estéril;
algodão;
álcool 70%;
solução fisiológica (NaCl: 0,9%);
cronômetro;
centrífuga;
banho-maria a 37 °C;
Amostras de sangue total e de soro.
Soro anti-A, anti-B, anti-AB, anti-D, Revercel, controle de Rh, Controcel e soro de Coombs.
Técnica para determinação em lâmina
Amostra: pode ser realizada empregando sangue total ou uma suspensão de hemácias a 3-5% (50 µL de sangue total + 1 mL de solução fisiológica).
Nota: o sangue total pode ser coletado utilizando lanceta estéril. Para isso, lavar bem as mãos, massagear a ponta do dedo indicador ou médio e pressioná-la, a fim de reter o fluxo sanguíneo. Fazer a antissepsia do dedo com álcool 70% e fazer a punção utilizando lanceta estéril.
Para determinação ABO e Rh
Identificar a lâmina de vidro com A, B, AB e D. A cada uma destas regiões adicionar uma gota de suspensão de hemácias ou de sangue total.
Acrescentar na lâmina de vidro uma gota de soro anti-A, anti-B, anti-AB e anti-D nas respectivas regiões identificadas anteriormente contendo a amostra de sangue.
Misture com ajuda de um palito descartável. Empregar palitos distintos para cada amostra.
Realizar movimentos circulares com a lâmina para assegurar a completa homogeneização da mistura entre o soro e o sangue.
Observar a presença ou não de aglutinação macroscópica em até 2 minutos.
Atenção: não interpretar secagem periférica como aglutinação (Figura 2).
Figura 2. Presença e ausência de aglutinação durante a reação da pesquisa de antígenos do sistema ABO
Aglutinação e Ausência de aglutinação, respectivamente
Fonte: a autora.
Utilize o quadro 1 para interpretar e identificar o tipo sanguíneo.
Se o teste for negativo, fazer o teste para detecção de Dfraco (antiga variante Du).
Técnica para determinação em tubo - Pesquisa direta
Amostra: sangue total.
1. Lavar as hemácias
1.1. Adicionar 100 µL da suspensão de hemácias em um tubo de ensaio.
1.2. Adicionar 2 mL de solução fisiológica.
1.3. Centrifugar à 3000 r.p.m. por 1 min.
1.4. Desprezar o sobrenadante com cuidado para deixar o “botão” de hemácias no fundo do tubo.
1.5. Repita o processo mais duas vezes (totalizando três lavagens).
1.6. Na última vez, com o auxílio de um papel toalha, desprezar toda a solução fisiológica.
1.7. Adicionar 1 mL de solução fisiológica ao tubo e agitar levemente para a homogeneização das hemácias.
2. Identificar 5 tubos, com A, B, AB, Rh e CRh.
Figura 3 - Direta
Fonte: a autora.
4. Colocar 50 µL da suspensão de hemácias em 5 tubos distintos.
5. Acrescentar ao tubo A uma gota do soro anti-A; ao tubo B, adicionar uma gota de soro anti-B; ao tubo AB, adicionar uma gota do soro anti-AB; ao tubo Rh, adicionar uma gota de soro anti-D; ao tubo CRh, adicionar 1 gota de controle Rh.
6. Agitar levemente os tubos.
7. Centrifugar os tubos a 1.000 rpm por 1 min.
8. Observar a presença ou não de aglutinação (Figura 3).
9. Examinar os tubos, fazendo a suspensão oscilar levemente e anotar se ocorreu aglutinação.
Figura 4. Aglutinação + e Aglutinação -
Fonte: a autora.
A Figura 4 ilustra a técnica de tipagem sanguínea em tubo. A presença de aglutinação nos tubos de hemácias indica reações positivas. Hemácias suspensas, após leitura do botão de hemácias, correspondem a resultados negativos.
Interpretação:
Sistema “ABO”
Quadro 1. Quadro para interpretação para identificação do sistema ABO pelo método direto
Fonte: a autora.
Se ocorrer aglutinação no tubo Rh, o paciente é considerado Rh positivo.
Se não aglutinar, incubar à 37 °C por 15 min, centrifugar e reexaminar.
Se ocorrer aglutinação depois da incubação, o paciente é considerado Rh positivo.
Se não ocorrer aglutinação, a reação deve prosseguir para a pesquisa de possível presença de D fraco.
Observação: os anticorpos imunes do sistema Rh (salinos ou albuminosos ou incompletos) aglutinam em temperatura ótima de 37 °C.
É importante utilizar nas detecções de antígeno Rh, paralelamente ou em tubo contendo as hemácias e soro controle de Rh, o qual deverá ser analisado em todas as etapas da tipagem ao lado do tubo da tipagem. O resultado da tipagem só poderá ser aceito se não houver aglutinação em nenhuma das etapas. Caso o controle se torne positivo, o resultado não poderá ser liberado.
Utilizar os tubos Rh e CRh que deram negativos na pesquisa anterior.
Realizar a lavagem, adicionando 2 mL de soro fisiológico seguido de centrifugação à 3.500 rpm por 1 minuto. Desprezar o sobrenadante e repetir a lavagem por mais 2 vezes.
Desprezar o sobrenadante e secar bem utilizando papel toalha.
Adicionar 2 gotas de soro de Coombs (anti-IgG) e agitar levemente os tubos.
Centrifugar os tubos a 1.000 rpm por 1 minuto.
Observar há presença ou não de aglutinação.
Se ocorrer aglutinação do tubo Rh, o paciente é considerado D fraco.
Se não ocorrer aglutinação em ambos os tubos dar seguimento ao protocolo.
Adicionar controle de Coombs (Controcel) em cada tubo e agitar levemente os tubos.
Centrifugar os tubos a 1.000 rpm por 1 minuto.
Repetir a leitura.
Se ocorrer aglutinação do tubo Rh, o paciente é considerado Rh negativo.
Se não ocorrer aglutinação, ou aglutinar o controle Rh (CRh), repetir a técnica.
Atualmente sabemos que a diferença entre D-positivo e D-fraco é quantitativa, não qualitativa. Algumas vezes, um indivíduo classificado pela tipagem sanguínea como Rh negativo possui em menor proporção antígenos D na superfície de suas hemácias. Em transfusões sanguíneas, esses indivíduos reagem como aqueles Rh positivos (eles têm o antígeno D na superfície de suas hemácias), são “D-fraco”. Isto é, indivíduos “D-fraco” positivos podem ser erroneamente classificados como Rh negativo devido às dificuldades das ligações dos anticorpos anti-D com o antígeno D.
Amostra: soro.
Nota: obter o sangue do paciente por punção venosa sem anticoagulante, centrifugar para obter o soro.
Identifique os tubos (tubo A e tubo B).
Adicione a suspensão de hemácias A ao tubo A e a suspensão de hemácias B ao tubo B.
Adicione aos tubos 50 µL de soro do paciente.
Agite levemente os tubos.
Centrifugue os tubos a 1.000 rpm por 1 minuto.
Observar a presença ou não de aglutinação (Figura 3). Examinar os tubos, fazendo a suspensão oscilar levemente e anotar se ocorreu aglutinação.
Interpretação:
Se não ocorrer aglutinação em ambos os tubos, o soro não contém as aglutininas anti-A e anti-B, o tipo sanguíneo é AB.
Se ocorrer aglutinação no tubo B, o soro contém aglutinina anti-B, o tipo sanguíneo é A.
Se ocorrer aglutinação no tubo A, o soro contém aglutinina anti-A, o tipo sanguíneo é B.
Se ocorrer aglutinação nos tubos A e B, o soro possui ambas as aglutininas, o tipo sanguíneo é O.
1) A Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), também chamada de eritroblastose fetal, é um tipo de anemia hemolítica causada por incompatibilidade sanguínea materno-fetal, resultado da agressão provocada pelos anticorpos maternos contra antígenos das hemácias do concepto. O feto representa organismo estranho ao sistema imunológico materno, e apesar disso não é rejeitado. Baseado nesse contexto, ANALISE a imagem a seguir e as afirmações propostas sobre ela:
Figura 5. Reação de aglutinação para a identificação dos antígenos do sistema ABO e Rh de dois pacientes (A e B)
Fonte: adaptado de: https://bit.ly/3mMSJbp. Acesso em: 13 abr. 2023.
I- Sabendo que se trata de um caso suspeito de eritroblastose fetal em que foi analisado o sangue da mãe e do filho, podemos afirmar que o paciente A é a mãe e o paciente B é o filho.
PORQUE
II- A DHPN está relacionada a quadros de incompatibilidade materno-fetal, principalmente do sistema Rh, que acontecem em mães que foram previamente sensibilizadas.
A respeito dessas asserções relacionadas à imagem, ASSINALE a alternativa correta:
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I.
c) As asserções I e II são proposições falsas.
d) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é falsa.
e) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é verdadeira.
2) A primeira transfusão de sangue documentada aconteceu no século XVII, quando o médico francês Jean-Baptiste Denis infundiu sangue de uma ovelha em um ser humano. Infelizmente, o procedimento foi malsucedido. A terapia de transfusão de sangue começou a obter êxito após a descoberta dos grupos sanguíneos e da compatibilidade sanguínea. Sobre a tipagem sanguínea, ANALISE as afirmativas a seguir:
I - A fenotipagem para o sistema ABO/Rh, realizada por prova direta, visa pesquisar os antígenos na membrana das hemácias.
II - Nos casos em que o tubo D (Rh) se mostrar negativo, deve-se prosseguir realizando o teste do Du ou D fraco antes de afirmar ser um Rh negativo.
III - A prova reversa realizada por pesquisa de anticorpos naturais e regulares do sistema Rh é utilizada para a confirmação da prova direta.
IV - A prova reversa realizada por pesquisa de anticorpos naturais e regulares do sistema ABO é utilizada para a confirmação da prova direta.
ASSINALE a alternativa correta:
a) I, apenas
b) I e III, apenas
c) II e III, apenas
d) I, II e IV, apenas
e) I, II, III e IV.
3) Na imuno-hematologia, são estudados os antígenos eritrocitários, plaquetários e leucocitários, bem como a sua importância nas incompatibilidades transfusional e materno-fetal. Os antígenos eritrocitários são apresentados na superfície das hemácias humanas e são constituídos de açúcares ou proteínas. São conhecidos e determinados geneticamente por volta de 285 antígenos eritrocitários contidos em 29 sistemas.
Figura 6. Reação de aglutinação para a identificação dos antígenos do sistema ABO e Rh de dois pacientes (A e B).
Fonte: adaptado de: https://bit.ly/3KL2azO. Acesso em: 13 abr. 2023.
Sobre o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I- Podemos afirmar que o paciente B trata-se de um receptor universal.
PORQUE
II- Ele possui todos os tipos de antígenos sanguíneos, portanto é incapaz de produzir anticorpos que levariam às reações transfusionais.
Assinale a alternativa correta:
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I.
c) As asserções I e II são proposições falsas.
d) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é falsa.
e) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é verdadeira.
1) E - A asserção I é uma proposição falsa, e a II é verdadeira.
2) D - I, II e IV, apenas.
3) C - As asserções I e II são proposições falsas.