Conceito de Mulligan
O conceito de Mulligan é uma abordagem terapêutica utilizada na fisioterapia, baseada na mobilização articular com movimento (Mobilization with Movement – MWM). Essa técnica tem sido amplamente aplicada para o tratamento de disfunções musculoesqueléticas, promovendo alívio da dor e melhora da funcionalidade (Mulligan, 2010).
Foi desenvolvido pelo fisioterapeuta neozelandês Brian Mulligan na década de 1980. Sua abordagem se baseia no princípio de que algumas disfunções musculoesqueléticas podem resultar de uma falha na posição articular normal, denominada positional fault. Para corrigir essa falha, Mulligan propôs a combinação de mobilizações passivas acessórias com movimentos ativos realizados pelo paciente (Mulligan, 2010; Vicent; Goulart; Silva, 2014).
A técnica de Mulligan pode ser utilizada em diversas regiões do corpo, tais como:
Coluna cervical: aplicada para o tratamento de cervicalgia, dor irradiada e restrição de movimento.
Coluna lombar: utilizada em casos de lombalgia e instabilidade segmentar.
Ombro: indicada para casos de impactação do ombro, capsulite adesiva e restrição de mobilidade.
Joelho: aplicada no tratamento da dor femoropatelar e de restrições de movimento.
Tornozelo e pé: utilizada para tratar entorses crônicas e limitações de dorsiflexão.
Estudos recentes demonstram que a aplicação do conceito de Mulligan pode proporcionar benefícios significativos na reabilitação musculoesquelética. De acordo com uma revisão sistemática realizada por Vicent, Goulart e Silva (2014), pacientes submetidos à mobilização com movimento relataram redução significativa da dor e melhora da amplitude de movimento.
Entre os principais benefícios do conceito de Mulligan estão:
Rápida redução da dor durante e após a sessão de fisioterapia.
Melhora a mobilidade articular sem desconforto.
Segurança e facilidade de execução da técnica, tornando-a acessível para diferentes condições clínicas.
Compatibilidade com outras abordagens fisioterapêuticas, como fortalecimento muscular e terapia manual.
O conceito de Mulligan tem se mostrado uma abordagem eficiente para o tratamento de disfunções musculoesqueléticas, sendo um recurso terapêutico seguro e indolor. Seu uso requer conhecimento anatômico e técnico adequado por parte do fisioterapeuta, visando à obtenção dos melhores resultados clínicos. Estudos futuros devem continuar explorando sua efetividade em diferentes populações e condições patológicas.
A técnica de Mulligan se baseia em alguns princípios fundamentais:
A mobilização articular é aplicada em conjunto com o movimento ativo do paciente.
A intervenção deve ser indolor.
Os efeitos da técnica são imediatos e verificáveis.
O fisioterapeuta deve manter a mobilização até que o paciente complete o movimento funcional (Mulligan, 2010).
A aplicação clínica da técnica inclui disfunções da coluna vertebral, dos ombros, dos joelhos e dos tornozelos. Estudos apontam que a mobilização com movimento pode ser eficaz no tratamento de dores lombares, cervicalgias e tendinopatias, contribuindo para a restauração da função (Hall; Harden; Mcneill, 2016).
O conceito de Maitland foi desenvolvido pelo fisioterapeuta australiano Geoffrey Maitland na década de 1960. Seu método se baseia na avaliação clínica detalhada e na aplicação de mobilizações articulares graduadas para restaurar a função e reduzir a dor. Maitland enfatizou a importância da adaptação da terapia às necessidades específicas de cada paciente, tornando seu conceito altamente individualizado (Hengeveld; Banks, 2005).
A técnica de Maitland é estruturada em diferentes graus de mobilização articular, variando segundo a intensidade da disfunção e a resposta do paciente:
Grau I: pequena amplitude em um movimento oscilatório para alívio da dor.
Grau II: amplitude maior sem atingir a barreira articular, também visando à analgesia.
Grau III: mobilização de maior amplitude até a barreira articular para melhorar a mobilidade.
Grau IV: pequena amplitude e alta precisão na barreira articular, visando ao ganho de movimento.
Grau V: manipulação de alta velocidade para restaurar a função articular.
A aplicação do conceito de Maitland pode ser utilizada para tratar condições como dores na coluna vertebral, disfunções articulares periféricas e neuropatias, sempre considerando a individualidade de cada paciente (Hertling; Kessler, 2006).
A técnica de Maitland pode ser aplicada nas seguintes regiões:
Coluna cervical e lombar: para tratamento de dores, hipomobilidade e compressões nervosas.
Ombro: indicado para capsulite adesiva e impacto subacromial.
Quadril e joelho: para disfunções articulares e melhora da mobilidade.
Punho e mão: utilizado em casos de restrição de movimento e recuperação pós-fraturas.
Ambos os conceitos são amplamente utilizados na fisioterapia, mas apresentam diferenças fundamentais (Tabela 1).
Tabela 1 – Comparação entre as técnicas Mulligan e Maitland na fisioterapia manual
Fonte: a autora
Os conceitos de Mulligan e Maitland são abordagens eficazes e baseadas em evidências dentro da fisioterapia manual. O primeiro enfatiza a mobilização associada ao movimento ativo do paciente, proporcionando resultados rápidos e indolores. Já o segundo se baseia em uma avaliação detalhada e na aplicação de mobilizações graduadas para restaurar a função articular. Ambos os métodos exigem capacitação profissional adequada para sua correta aplicação e otimização dos resultados clínicos.
Maca;
Papel toalha;
Álcool 70%;
Toalha
Faixa de resistência.
Para o conceito de Mulligan, o exemplo, a seguir, relaciona a prática à articulação do joelho.
POSICIONAMENTO DO PACIENTE
O paciente deve estar em posição supina (decúbito dorsal) sobre a maca.
A perna do paciente deve ser flexionada ligeiramente (cerca de 30 a 40 graus de flexão do joelho).
O pé deve estar apoiado de forma firme na maca ou em uma superfície estável.
Uma faixa será posicionada na parte medial da tíbia do paciente, e suas pontas ficarão em suas mãos para auxiliar na execução do exercício.
POSICIONAMENTO DO TERAPEUTA
O fisioterapeuta deve se posicionar ao lado da perna do paciente.
Uma das mãos do terapeuta será posicionada na parte distal do quadríceps, próxima ao joelho, aplicando leve força para estabilização.
A outra mão do terapeuta aplica uma pressão lateral ou superior na parte proximal da tíbia (logo abaixo do joelho). A pressão deve ser firme, mas sem causar dor ao paciente.
MOBILIZAÇÃO PASSIVA COM MOVIMENTO ATIVO
Como veremos, a seguir, a técnica de Mulligan envolve a mobilização passiva da articulação enquanto o paciente realiza um movimento ativo.
O terapeuta começa a mobilização aplicando a pressão na direção correta (geralmente para corrigir a posição do joelho, como uma deslizada para lateral ou medial) enquanto o paciente faz uma extensão ou flexão ativa do joelho.
O paciente deve ser orientado a realizar o movimento de extensão ou flexão de forma suave e sem dor, mas o terapeuta mantém a mobilização passiva durante o movimento.
EXECUÇÃO DA MOBILIZAÇÃO
O paciente deve tentar estender o joelho ativamente enquanto o terapeuta aplica a pressão na direção desejada.
O terapeuta mantém a pressão por cinco a dez segundos, permitindo que o paciente mova o joelho dentro de seu limite de conforto.
Repita o movimento de três a cinco vezes, sempre verificando a resposta clínica do paciente (se há dor ou aumento da amplitude de movimento).
AVALIAÇÃO DE RESULTADOS
Após a série de mobilizações, o fisioterapeuta deve avaliar a amplitude de movimento (ADM) do joelho, tanto passiva quanto ativamente.
Pergunte ao paciente se há diminuição da dor ou aumento da mobilidade.
Se houver alívio ou melhora no movimento, a técnica pode ser considerada eficaz.
ENCERRAMENTO DA SESSÃO
Informe o paciente sobre o que foi feito e forneça orientações sobre cuidados pós-tratamento.
Dependendo da resposta do paciente, pode ser interessante repetir a técnica em sessões subsequentes para garantir a eficácia e melhorar a mobilidade a longo prazo.
Para o conceito de Maitland, o exemplo, a seguir, relaciona a prática à região cervical.
AVALIAÇÃO INICIAL
O terapeuta deve explicar o procedimento, seus benefícios e possíveis sensações, garantindo a compreensão do paciente. Deve-se obter consentimento verbal ou escrito e reforçar a importância da comunicação para um tratamento seguro.
Realize a anamnese e identifique a presença de dor, limitações de movimento ou disfunções cervicais.
A avaliação da amplitude de movimento (ADM) e mobilidade articular da coluna cervical envolve a observação da postura e possíveis assimetrias, seguida da análise dos movimentos ativos do paciente, como flexão, extensão, inclinação lateral e rotação, comparando ambos os lados. Caso necessário, o terapeuta realiza movimentos passivos para identificar restrições articulares. Instrumentos, como o goniômetro, podem ser usados para medir a ADM com precisão, e testes específicos, como o de deslizamento segmentar, ajudam a avaliar a mobilidade entre as vértebras.
POSICIONAMENTO DO PACIENTE
O paciente deve estar deitado de decúbito ventral em uma maca.
O terapeuta deve se posicionar ao lado, confortavelmente, garantindo controle e precisão nos movimentos.
ESCOLHA DO GRAU DE MOBILIZAÇÃO
Conforme a classificação de Maitland:
Grau I: pequenas oscilações no início da amplitude (para analgesia).
Grau II: oscilações maiores dentro da amplitude livre, sem atingir a barreira (para alívio da dor).
Grau III: oscilações amplas até o final da amplitude (para ganho de ADM).
Grau IV: pequenas oscilações no final da amplitude (para aumento da mobilidade).
EXECUÇÃO DA MOBILIZAÇÃO
Identifique a vértebra-alvo e estabilize a estrutura inferior com uma das mãos.
Com a outra mão, aplique a mobilização passiva na direção desejada (anterior, posterior, lateral ou rotação).
Mantenha um ritmo constante e dentro do grau escolhido.
Duração: geralmente de 30 segundos a dois minutos, dependendo do objetivo clínico.
REAVALIAÇÃO
Após a mobilização, reavalie a mobilidade e a dor do paciente.
Pergunte sobre a percepção de alívio ou qualquer desconforto.
ORIENTAÇÃO PÓS-TERAPIA
Instrua o paciente sobre possíveis sensações após a técnica (alívio, leve desconforto transitório).
Oriente-o sobre exercícios complementares ou cuidados domiciliares. Recomendam-se suaves para a cervical, como inclinação lateral e rotação da cabeça, mantendo cada posição por 20 a 30 segundos. Fortalecimento leve com isometria também pode ser indicado, pressionando suavemente a mão contra a testa ou lateral da cabeça. Ademais, cuidados posturais são essenciais, como evitar longos períodos com o pescoço inclinado para frente (uso de celular/computador) e manter o travesseiro adequado ao alinhamento cervical.
Figura 1 – Dor na articulação do joelho
Figura 2 – Técnica de Mulligan
Figura 3 – Dor na região cervical
Figura 4 – Técnica de Maitland
HALL, T.; HARDEN, R. N.; MCNEILL, W. Mobilization with movement: principles and techniques. Journal of Manual & Manipulative Therapy, [s. l.], v. 24, n. 1, p. 23-31, 2016.
HENGEVELD, E.; BANKS, K. (ed.). Maitland's Peripheral Manipulation. 4. ed. New York: Elsevier, 2005.
HERTLING, D.; KESSLER, R. Management of common musculoskeletal disorders: physical therapy principles and methods. 4. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2006.
MULLIGAN, B. Manual therapy: nags, snags, MWMs etc. 6. ed. Wellington: Plane View, 2010.
VICENT, D. S.; GOULART, I. B.; SILVA, A. C. Aplicabilidade da mobilização com movimento na dor musculoesquelética: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 18, n. 2, p. 144-152, 2014.