Exposição virtual
Exposição virtual
Para aumentar a acessibilidade desta exposição, disponibilizamos abaixo o texto integral dos painéis, que pode ser ouvido com um leitor de tela ou lido com fonte ampliada.
Durante o século XX, toda cidade desejava possuir um distrito industrial, um símbolo de desenvolvimento e modernidade. Já nas cidades contemporâneas, a economia industrial dá lugar à economia do conhecimento, e surgem os territórios destinados à sua produção: o campus universitário, o parque tecnológico e o distrito de inovação. Esta exposição mostra como, além de desenvolvimento econômico, esses territórios podem também contribuir para o avanço e melhoria da sustentabilidade ambiental e social, aplicando os avanços da ciência e da tecnologia na criação de soluções replicáveis para toda a cidade.
Os territórios de produção do conhecimento reúnem equipamentos de produção científica e tecnológica, além de incubadoras e aceleradoras de empresas, mas também ONGs e startups de inovação sócio-ambiental. Alguns desses equipamentos podem ser muito caros e complexos, e por isso precisam ser compartilhados.
Um exemplo de equipamento multiusuário é o acelerador de partículas Sirius. Localizado em Campinas, ele é a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil e uma das mais avançadas fontes de luz síncrotron do mundo. Ele usa aceleradores de partículas para produzir a luz síncrotron, que é usada para investigar a composição e a estrutura da matéria em suas mais variadas formas, podendo ser utilizado em pesquisas de áreas como ciência dos materiais, nanotecnologia, biotecnologia, ciências ambientais, desenvolvimento de novos medicamentos, entre outras.
Além de incluir a academia, as empresas e o governo, os Territórios do Conhecimento de quarta geração se preocupam com a sociedade e com o meio ambiente, alinhando-se aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define inovação como a aplicação bem-sucedida de novos conhecimentos no mercado, sob a forma de novos produtos, métodos ou processos. Para que a inovação ocorra, é necessária uma conjunção de equipamentos científicos, de empresas inovadoras, de recursos humanos e financeiros e de um ambiente aberto e propício à colaboração.
A produção do conhecimento pode se dar em ambientes de diferentes escalas, desde um Centro de Inovação até uma Cidade da Ciência.
Esta exposição apresenta diferentes exemplos desses ambientes que possuem preocupações sociais e/ou ambientais.
CENTRO DE INOVAÇÃO
Exemplo: Inova USP São Paulo
É um espaço onde organizações estabelecem laboratórios ou espaços maker para desenvolver inovações, promover a interação entre seus colaboradores, realizar eventos e oficinas e apresentar novos produtos aos seus investidores e clientes.
HUB DE INOVAÇÃO
Exemplo: Kendall Square Cambridge
Concentração de várias instituições e empresas que têm como objetivo promover a inovação e o crescimento econômico. A densidade e a proximidade são essenciais em um hub de inovação, proporcionando oportunidades para que as pessoas se encontrem e criem novas ideias, a partir da combinação de seus diferentes pontos de vista e especialidades.
PARQUE TECNOLÓGICO
Exemplo: PIT São José dos Campos
Área delimitada, destinada a promover a transferência do conhecimento e a interação entre empresas e instituições de ensino e pesquisa, buscando o desenvolvimento regional. Pode também incluir incubadoras e aceleradoras de empresas.
DISTRITO DE INOVAÇÃO
Exemplo: 22@ Barcelona
Área urbana que concentra instituições de ensino e pesquisa, empresas, hubs de inovação, startups, incubadoras e aceleradoras de empresas, promovendo um ecossistema colaborativo. Em geral é um distrito compacto, acessível por transporte coletivo e caminhável, com uso misto, incluindo habitação, escritórios e comércio.
CIDADE DA CIÊNCIA
Exemplo: Guangming, Shenzhen
Grande complexo científico e tecnológico, criado principalmente para atender às prioridades nacionais. Área urbana com infraestrutura de pesquisa, serviços e instalações industriais (clusters), além de áreas de habitação, comércio e lazer destinadas prioritariamente aos trabalhadores desses setores.
O Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável é um exemplo de Território do Conhecimento que começou como um Parque Tecnológico de 2ª Geração e que irá se tornar um Distrito de Inovação de 4ª Geração.
Imagens:
Antigo CIATEC2, criado em 1992
Master plan desenvolvido pelo KRIHS em 2022
Proposta de nova legislação para a área enviada à Câmara em 2023
Nos anos 1970, a Telebrás instala seu centro de pesquisas próximo à Unicamp. Pouco depois, também nessa área, começa a ser implantado o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron. O professor da Unicamp Rogério Cerqueira Leite idealiza então o Polo de Alta Tecnologia de Campinas, que viria a ser denominado CIATEC 2. No entanto, no final dos anos 1990, a área já apresentava sinais de estagnação. Segundo o Plano Local de Gestão Urbana de Barão Geraldo, a região carecia de investimentos em infraestrutura. No início dos anos 2000, alguns projetos foram elaborados com o objetivo de dar continuidade à implantação do pólo, mas nenhum deles chegou a ser implementado.
Em 2013, a Unicamp adquire, por meio de uma desapropriação, a Fazenda Argentina, que se estende desde o campus Zeferino Vaz até a Rodovia Adhemar de Barros. Como proprietária de uma porção significativa do território destinado ao pólo tecnológico, a Unicamp cria o conceito de um Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, o HIDS, que implementará os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Em seguida, juntamente com a Prefeitura de Campinas, celebra um acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a elaboração de um projeto para a região.
Entre 2020 e 2022, um master plan é desenvolvido pela empresa Korea
Research Institute for Human Settlement (KRIHS), a partir de diversos estudos e levantamentos contratados pelo BID. O planejamento inclui, além da área do antigo CIATEC 2, os campi da Unicamp e da PUC-Campinas. O trabalho foi acompanhado por professores, estudantes de pós-graduação, pesquisadores e técnicos das áreas de Biologia, Economia, Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil da Unicamp.
A partir do masterplan desenvolvido pelo KRIHS, a Prefeitura de Campinas elabora uma nova proposta de legislação urbanística para a área, a lei complementar do PIDS, abarcando uma área mais ampla que a do HIDS.
O HIDS se situa em um território que possui uma longa tradição de produção do conhecimento. A Universidade Estadual de Campinas se instalou nessa área em 1966.
1ª GERAÇÃO: UNIVERSIDADES E EMPRESAS
Os parques tecnológicos começaram a surgir nos anos 1950, nos Estados Unidos, quando algumas Universidades começaram a oferecer suas descobertas científicas às empresas. Neste modelo de inovação, conhecido como science push, as universidades abrigam as empresas em seu próprio campus ou em áreas próximas a ele. Criado em 2013, o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp é um exemplo de parque de primeira geração, baseado na relação entre universidades e empresas.
3ª GERAÇÃO: GOVERNO, UNIVERSIDADES, EMPRESAS E SOCIEDADE
Os parques tecnológicos de primeira e segunda geração carecem da vitalidade urbana encontrada nos centros das cidades, algo importante para a promoção da inovação. Surge assim um novo modelo de território de produção do conhecimento: o distrito de inovação. Ao invés de se instalarem em uma área delimitada, em geral afastada da cidade, as universidades e as empresas instalam-se em uma área urbana consolidada, tendo como vantagens a presença do uso misto, com comércio e habitações, e a vitalidade social. Os distritos de inovação são em geral capitaneados pelo governo, por meio de projetos que visam também requalificar áreas decadentes da cidade. Um exemplo de distrito de inovação é o Porto Digital, em Recife, criado em 2000.
2ª GERAÇÃO: GOVERNO, UNIVERSIDADES E EMPRESAS
Pouco tempo depois, surge um novo tipo de parque tecnológico, ocupando áreas mais extensas, resultante da associação entre empresas, governo e universidades. Nesse modelo de inovação, denominado market pull, procura-se desenvolver tecnologias em resposta às demandas da indústria, e há um incentivo para que os alunos das universidades se tornem empreendedores. O Polo de Alta Tecnologia de Campinas, também conhecido como CIATEC II, criado nos anos 1980, é um exemplo de parque que surge a partir da união entre esses três atores.
4ª GERAÇÃO: GOVERNO, UNIVERSIDADES, EMPRESAS, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE
Frente aos desafios ambientais do mundo contemporâneo, os parques tecnológicos e os distritos de inovação vêm passando a adotar medidas para criar um ambiente mais sustentável. Esses desafios representam uma oportunidade para o empreendedorismo inovador, como o desenvolvimento de novas formas de energia limpa e de mobilidade urbana. Assim surgem os Territórios do Conhecimento de 4ª geração, que demonstram preocupações sócio-ambientais juntamente com o foco em inovação. Tendo como presmissas os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o projeto para o HIDS é um exemplo de distrito de 4ª geração.
A radiação infravermelha proveniente do sol atravessa o vidro e aquece o ambiente interno tornando necessário o uso do ar condicionado, que consome muita energia. O condicionamento passivo busca proporcionar conforto ambiental aos usuários do edifício de forma natural. Muitos Territórios do Conhecimento procuram diminuir o consumo de energia e tornar os ambientes mais agradáveis, adotando diretrizes da arquitetura bioclimática em suas construções. As estratégias variam de acordo com o clima local. Para o clima tropical, as principais estratégias a serem adotadas são:
1. Janelas sombreadas
2. Isolamento da cobertura
3. Ventilação cruzada
4. Resfriamento evaporativo
5. Massa térmica
No edifício do CENPES, uma sobrecobertura com isolamento térmico sombreia todas as áreas construídas, permitindo a ventilação cruzada, reduzindo a absorção de radiação térmica e consequentemente o uso de ar condicionado.
CENPES UFRJ, Rio de Janeiro
Sombreamento de janelas
Telhado verde
Ventilação cruzada
Resfriamento evaporativo
Massa térmica
Muitos edifícios de laboratórios ou de centros de inovação possuem fachadas de vidro, o que não é nada eficiente no clima tropical.
Para garantir a vitalidade, esses distritos devem ter espaços públicos ativos, onde as pessoas possam se reunir, interagir e criar um senso de comunidade; uma diversidade de usos – escritórios, moradias, lojas, restaurantes e espaços culturais – para que sempre haja algo acontecendo; espaços públicos com mobiliário para se sentar e com atividades interessantes, como apresentações de rua e instalações temporárias; uma variedade de negócios, de startups a empresas consolidadas, criando um ambiente dinâmico; eventos, palestras e workshops que aproximam as pessoas e incentivam a inovação; horários de funcionamento ampliados para cafés, espaços de coworking e terceiros lugares em geral, garantindo atividade ao longo do dia e da noite; ruas bem iluminadas e ambientes seguros e acolhedores, incentivando a permanência após o anoi- tecer; uma forte presença de arte, música e cultura, trazendo criatividade para o distrito; oportunidades para encontros espontâneos, networking e colaboração, tanto em ambientes formais quanto informais; e um equilíbrio entre movimento e relaxamento – ruas animadas ao lado de refúgios tranquilos.
A Kendall Square, em Cambridge, é um exemplo de distrito de inovação com vitalidade urbana, obtida por meio de uso misto, diversidade de serviços, compacidade e oferta de espaços para inovação economicamente acessíveis.
Os Territórios do Conhecimento devem ser vibrantes, dinâmicos e cheios de vida. Além do trabalho e da pesquisa, esses espaços precisam de locais com energia, movimento e oportunidades para as pessoas se conectarem.
Espaços públicos de permanência, como parques, praças e espaços de fruição.
Ruas ativas, projetadas para fomentar o engajamento com cafés, lojas e eventos culturais.
Combinação de espaços residenciais, comerciais e culturais, que funcionam em todos os horários.
Ruas amigáveis para pedestres, contribuindo para uma mobilidade segura e acessível.
Programação cultural, com feiras de produtos locais e apresentações, que incentivam a participação social.
Jardim de chuva Telhado verde Biovaleta Lagoa de retenção Praça inundável
Diante das mudanças climáticas, uma questão importante para os Territórios do Conhecimento é saber lidar com as chuvas torrenciais de forma a evitar enchentes. Uma alternativa aos sistemas de drenagem tradicionais são as chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN).
A International Union for Conservation of Nature (IUCN) define as soluções baseadas na natureza (SBN) como “ações para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar os ecossistemas naturais ou modificados, que respondam aos desafios societais de forma eficaz e adaptável, proporcionando simultaneamente benefícios ao bem estar humano e à biodiversidade”.
É necessário repensar a forma de projetar a drenagem urbana. Os sistemas convencionalmente adotados, chamados de infraestruturas cinzas, buscam escoar rapidamente a água captada, de forma a afastá-la do meio urbano por meio de tubulações com grandes vazões. Esse modelo, no entanto, nem sempre se mostra eficaz diante dos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. Entretanto, com o uso de SBN, é possível diminuir o impacto ao meio ambiente.
As SBN incluem duas estratégias principais para evitar a sobrecarga dos cursos d’água e consequentes inundações:
1. Absorção
Aumentar a absorção da água da chuva no solo, para diminuir o escoamento superficial em direção a outras áreas, por meio de dispositivos como jardins de chuva, pisos drenantes e biovaletas.
2. Retenção
Reter temporariamente a água da chuva em lagoas de retenção ou praças inundáveis, para depois liberá-la lentamente em direção aos córregos e rios.
Campus urbano da Universidade Paris-Saclay
A construção do campus urbano da Universidade Paris-Saclay, situado em um platô de terreno argiloso, representava uma ameaça para as regiões de várzea ao seu redor. A impermeabilização do solo poderia resultar em inundações frequentes nessas regiões, que são habitadas. Para evitar que isso ocorresse, o projeto implementou diversos dispositivos de SBN, evitando o aumento do escoamento da água da chuva para os vales.
Muitas vezes os Territórios do Conhecimento ficam longe dos centros urbanos. Contudo, para que a inovação e a colaboração ocorram, é importante que todas as pessoas tenham fácil acesso a eles.
Um bom sistema de mobilidade urbana deve levar em conta vários meios de transporte, especialmente os coletivos, como ônibus, trens e metrôs, integrados a mobilidade ativa, como a bicicleta e a caminhada. Isto se reflete diretamente no desenho das ruas e calçadas.
Territórios do Conhecimento ao redor do mundo como, por exemplo, o distritotec, no México, têm adotado a abordagem das Ruas Completas para requalificar estes espaços e torná-los acessíveis, confortáveis e seguros para quem os utiliza, independentemente do modo que estejam usando.
Uma Rua Completa deve contar com calçadas amplas, arborizadas, bem iluminadas, com bancos e mobiliários adequado. Deve incluir ciclovias separadas das faixas de tráfego e faixas exclusivas para o transporte público. Dessa forma, é possível tornar os meios de transporte coletivos e ativos mais atraentes, estimulando as pessoas a reduzirem o uso do carro particular.
A partir de suas iniciativas para implantação de diferentes projetos de Ruas Completas e investimentos em transportes coletivos para os usuários do campus, o distritotec tem incentivado a escolha de meios de transporte mais social e ambientalmente responsáveis em seu território.
ITENS QUE FACILITAM A MOBILIDADE EM UM TERRITÓRIO DO CONHECIMENTO:
▪ Linhas de transporte coletivo para outras áreas da cidade
▪ Meios de transporte não poluentes
▪ Ruas seguras, em que o pedestre e o ciclista são a prioridade
▪ Calçadas largas, planas e arborizadas
▪ Áreas públicas bem iluminadas e monitoradas
▪ Uso misto, incluindo habitação, comércio e serviços
▪ Ruas com poucas faixas de tráfego
▪ Travessias de pedestres em todas as esquinas
▪ Ciclovias separadas das faixas de tráfego
O distritotec, em Monterrey, México, é um distrito de inovação que está melhorando sua mobilidade urbana a partir da implantação de Ruas Completas.
O campus urbano da Universidade Paris-Saclay se destaca como um laboratório vivo para experimentação em agricultura urbana e participação cidadã.
Em Paris-Saclay, a associação de agricultores da região teve um papel decisivo na manutenção das atividades agrícolas após a implantação do campus urbano, por meio do tombamento de parte das terras produtivas.
Nos Territórios do Conhecimento, o conhecimento científico e a inovação tecnológica podem ser aplicados para solucionar desafios sociais e ambientais, como a produção de alimentos em ambientes urbanos.
A integração entre pesquisa acadêmica, participação comunitária e desenvolvimento tecnológico permite que os territórios do conhecimento sejam laboratórios vivos dinâmicos de segurança alimentar e resiliência ambiental. Dessa forma, eles podem contribuir para a criação de cidades mais sustentáveis, facilitando o acesso a práticas agrícolas inovadoras e acessíveis.
A integração da agroecologia e da economia circular na agricultura urbana e periurbana acontece por meio de redes colaborativas e parcerias estratégicas entre agricultores, universidades, poder público e empresas inovadoras:
▪ Laboratórios vivos promovem a experimentação e adaptação de técnicas agroecológicas às especificidades urbanas e periurbanas, garantindo produção sustentável, inclusão social e inovação tecnológica.
▪ A governança cidadã, via conselhos participativos e oficinas colaborativas, fortalece o envolvimento das comunidades nas decisões sobre o sistema alimentar, promovendo justiça social e segurança alimentar.
▪ A sociedade se engaja através de iniciativas participativas, como as mercearias comunitárias e circuitos curtos de comercialização, que conectam consumidores e produtores locais.
Projetos como a Plataforma Manger Local, em Paris-Saclay, demonstram o potencial de incentivo a práticas sustentáveis em Territórios do Conhecimento.
O saneamento é um elemento essencial para o desenvolvimento sustentável das cidades. Os Territórios do Conhecimento representam uma oportunidade única para a implementação de sistemas de saneamento inovadores.
O saneamento se conecta a quatro dimensões principais:
Infraestrutura: desenvolvimento de soluções inovadoras, como tratamento descentralizado de esgoto, reúso de água, logística reversa e aproveitamento de resíduos sem produção de lixo (lixo zero).
Economia: potabilização de qualidade das águas, bioeconomia, economia circular a partir da hierarquização de tratamento dos resíduos, como a valorização de lodo e resíduos.
Governança: gestão eficiente dos serviços com políticas públicas informadas por dados e com participação ativa da sociedade, modelos colaborativos, como laboratórios vivos e parcerias universidade-empresa-governo-sociedade.
Cultura: a transformação do saneamento em um eixo de inovação e educação fortalece a cultura de sustentabilidade, por meio da participação comunitária e de ações de extensão universitária que promovam mudanças estruturais, institucionais e socioambientais.
Um exemplo de Território do Conhecimento que implementa o saneamento sustentável é o WaterCampus Leeuwarden, na Holanda, um hub de tecnologias da água que promove o desenvolvimento de soluções avançadas em saneamento, gestão hídrica e recuperação de recursos.
No WaterCampus, universidades, centros de pesquisa, empresas e governo trabalham em conjunto para desenvolver e aplicar tecnologias inovadoras,, incentivando o conhecimento aberto, o empreendedorismo e as políticas públicas informadas pela ciência. Dois exemplos de conceitos implementados nesse campus são os wetlands construídos e o saneamento descentralizado.
Wetlands Construídos: sistemas de tratamento de esgoto baseados em processos naturais com plantas aquáticas e solo filtrante.
Economia circular a partir da hierarquização de tratamento dos resíduos.
O campus urbano Paris-Saclay promove a diversidade de tipologias habitacionais para diferentes públicos, muitas delas construídas em madeira engenheirada. Além disso, há diversos exemplos de projetos inovadores, como um edifício-garagem que será progressivamente convertido em habitação, à medida em que a dependência do automóvel diminuir, após a chegada do metrô ao campus.
Moradia social no campus Paris-Saclay com telhado verde.
O morar é fundamental para que um Território de Conhecimento tenha vitalidade e urbanidade, incluindo atividades, usos e apropriações dos lugares e a diversidade de pessoas, sempre em harmonia com suas características socioecológicas e a cultura local.
O conhecimento se dá por meio da percepção, dos sentidos, da experimentação, da imaginação e do intelecto e seu território deve promover e estimular lugares e estruturas de encontro, convivência e troca. Quanto mais diverso o perfil das pessoas e moradores, maior é a oportunidade de aprendizagem coletiva e avanço do conhecimento. Um território pautado pelo conhecimento deve ser inclusivo, para que todas as pessoas possam morar nele, de acordo com seu interesse, vínculos ou propósitos.
Nos Territórios do Conhecimento, novas tipologias de habitação emergem para atender às necessidades locais. As moradias nesses territórios devem ter características variadas, tanto em termos de tipologias habitacionais e dimensões (habitações temporárias, coliving, habitações familiares), como em termos de formas de contrato (compra, aluguel de longo prazo, aluguel de curto prazo), de modo a acomodar estudantes, pesquisadores, professores visitantes e diferentes arranjos familiares, de todas as faixas de renda.
A moradia humanizada e digna vai além da simples habitação. Refere-se também a um espaço que proporcione condições adequadas de qualidade de vida, segurança, saúde, conforto e privacidade a custos acessíveis.
Habitação coletiva estudantil Rosalind Franklin, em edifício-garagem.
Habitação coletiva estudantil Hacker House, em madeira engenheirada.
Para um forte senso de apego ao lugar, esses distritos devem ter:
Espaços públicos onde é possível relaxar e interagir com outras pessoas, fazendo com que as pessoas se sintam parte de uma comunidade;
expressões culturais e artísticas no ambiente, para que as pessoas vejam sua identidade refletida no espaço;
áreas verdes e paisagens convidativas, onde é possível fazer uma pausa e aproveitar a natureza; uma mistura de edifícios antigos e novos, preservando a história ao lado da inovação;
oportunidades para participar da construção do espaço, para que as pessoas sintam que possuem voz ativa;
comércio local e iniciativas comunitárias, fortalecendo a conexão das pessoas com o distrito;
eventos, festivais e atividades que aproximam as pessoas e criam experiências compartilhadas;
espaços seguros e acolhedores, onde é possível estar a qualquer hora do dia;
elementos de referência, como marcos e pontos de encontro, para que as pessoas não se percam;
e opções de moradia que permitam a uma diversidade de pessoas viver perto de onde estudam ou trabalham, tornando mais fácil criar raízes e permanecer no local por mais tempo.
O Porto Digital, no Recife, é um exemplo de distrito de inovação em que os projetistas se preocuparam em fazer com que seu público tivesse apego ao lugar.
Edifícios históricos renovados
Espaços públicos como praças e parques
Valorização da cultura local através de eventos
Mescla de edifícios novos e antigos
Arte local e murais que contam a história do bairro
Distritos de inovação são mais do que espaços para trabalho e estudo — eles devem ser lugares onde as pessoas se sintam conectadas e incluídas, como se estivessem em sua própria casa.
Um exemplo de ação visando prevenir a ocorrência de ilhas de calor é o projeto de corredores ecológicos do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), elaborado pela Unicamp e premiado internacionalmente. Ele contribuirá para o conforto térmico na região, melhorando os níveis de umidade do solo e do ar nos períodos de seca. Além disso, ele contribuirá com a drenagem da água das chuvas e com a biodiversidade local.
Territórios do Conhecimento podem ser exemplos de mitigação dos desafios climáticos, promovendo cidades sustentáveis e resilientes. Integrar natureza, edifícios e espaços urbanos é essencial. Isto Inclui:
▪ Planos climáticos locais adaptáveis, com zonas de conforto e de alívio térmico em casos de eventos climáticos extremos.
▪ Planos para valorização de corpos d’água existentes, como rios e lagos, com manejo otimizado de águas pluviais.
▪ Planos de redução de impacto no ciclo de vida do território, em sua pegada ecológica e no local de origem dos recursos naturais.
▪ Planos de edificações bioclimáticas com materiais de construção adequados, duráveis e preferencialmente de fontes renováveis.
▪ Planos para promover energia renovável, eficiência e circularidade energética que auxiliem a regular temperaturas.
▪ Planos de aproveitamento de recursos naturais, como o de apro- veitamento de água da chuva para resfriamento urbano.
▪ Planos para integrar a vegetação existente a sistemas de arborização urbana, privilegiando espécies nativas e permeabilidade do solo.
O espaço saudável é entendido como um lugar a ser “tecido” constantemente.
Por meio da gestão pública participativa, intersetorial, interseccional, inclusiva e solidária, busca diferentes caminhos para a felicidade coletiva.
O Plano Diretor do Parc de l’Alba, na Espanha, incorpora o conceito de Cidade Saudável, estabelecendo indicadores para monitorar diferentes parâmetros sobre a saúde física, social e ambiental da área.
Projeto para o Parc de l’Alba Ciclovia no Parc de l’Alba
Estação de reparo de bicicletas na área empresarial do Parc de L’Alba
Elementos materiais de um espaço saudável
O espaço saudável é um lugar em que as pessoas se capacitam para as tomadas de decisões para o bem coletivo, como por exemplo, o acesso aos elementos materiais (água potável, habitação, transporte público, hortas urbanas) e o acesso aos elementos não materiais (vontade política, participação social, coalizões locais, compreensão e revitalização da autonomia coletiva, amorosidade, comunicação, espiritualidade, entre outros).
Todos os temas abordados nesta exposição, como arquitetura bioclimática, vitalidade urbana, drenagem, mobilidade, produção de alimentos e saneamento, são fundamentais para o desenvolvimento de um espaço saudável.
O Parc de l’Alba situa-se sobre um antigo aterro sanitário, localizado entre um campus universitário e dois parques naturais, na Catalunha, Espanha. Ele tem como âncora um acelerador de partículas (semelhante ao Sirius), além de um parque empresarial e uma área residencial. Por esse motivo, a restauração ambiental e a questão da saúde são tão importantes para o projeto, que inclui desde medidas de descontaminação e remediação do solo até a implantação de um grande parque urbano e um corredor verde de quase 1 km de largura, que contribuirá para a conectividade ecológica entre os parques naturais a seu redor. Esse corredor inclui ainda áreas agrícolas de alta diversidade biológica que serão preservadas por meio de acordos com os agricultores tradicionais. As novas áreas residenciais serão conectadas às demais áreas por ciclovias e transporte público.
Um Território do Conhecimento próspero cria um ecossistema que apoia negócios, atrai investimentos e fornece oportunidades diversas:
Modelos de financiamento e políticas favoráveis ao investimento, com equilíbrio entre incentivos e regulamentação;
Suporte para negócios novos e existentes, como programas de inovação, incubação, diálogos, divulgação e ampliação de mercado;
Infraestrutura com espaços adaptáveis, acessíveis e integradores;
Estratégias inclusivas que beneficiem a comunidade, reduzam a desigualdade e promovam a retenção de talentos;
Parcerias com universidades e centros de pesquisa, promovendo transferência de conhecimento e inovação aplicada.
Diferencial competitivo local e global, aliado à uma especialização técnica flexível definida em um projeto financeiro de longo prazo.
No Brasil, o Território do Conhecimento de São José dos Campos (PIT) se destaca no aspecto da sustentabilidade econômica. Por meio de eventos simultâneos de empreendedorismo e ciência, o PIT estimula novos negócios inovadores. Encontros para trocas de experiências entre empresas de diferentes portes e fases de desenvolvimento aumentam as chances de sucesso empresariais. E as parcerias formadas entre diversos setores fortalecem suas redes. Assim, o PIT colabora para que a cidade onde se localiza seja uma das mais favoráveis para empreender no país. Sobretudo, posicionam-se como pólo tecnológico de referência na América Latina.
Em muitos países, especialmente em democracias como o Brasil, os processos participativos são fundamentais para a formulação, implementação e avaliação de políticas públicas. Esses processos ocorrem em espaços de discussão (dinâmicas, oficinas, conselhos e fóruns) que reúnem a sociedade civil e organizações não governamentais.
Processo participativo do distrito de inovação 22@
No contexto dos Territórios do Conhecimento, a participação ativa de diversos agentes é essencial em áreas como planejamento urbano, políticas fiscais, investimentos e análise dos impactos do desenvolvimento local.
Sem esse envolvimento, os territórios podem perder legitimidade e recursos. Um exemplo é o 22@, em Barcelona (Espanha), onde a população, em fóruns de debate, solicitou a criação de um órgão e um conselho para a gestão do território, com participação de moradores e organizações locais. Outro caso é o distritotec, em Monterrey (México), que realizou 72 oficinas com a população e atores locais para um diagnóstico participativo dos desafios do projeto. Esses exemplos mostram que a conflituosidade faz parte do processo, com debates sobre os efeitos do desenvolvimento nos territórios e aspectos urbanísticos. Ao mesmo tempo, reforçam a importância da participação para orientar recursos públicos e fortalecer o compromisso coletivo com o desenvolvimento local.
Reunião do Conselho de Vizinhos do Distritotec
PARA GARANTIR A EFETIVIDADE DOS PROCESSOS PARTICIPATIVOS, ALGUMAS CARACTERÍSTICAS SE DESTACAM:
▪ Adoção de técnicas de consenso;
▪ Planejamento conjunto com os atores envolvidos ou seus representantes;
▪ Participação ativa dos interessados ou afetados pela questão;
▪ Incorporação das demandas apresentadas;
▪ Tomada coletiva de decisões.
Essas características não são simples de alcançar e, em geral, quando efetivamente praticadas, geram debates — por vezes acalorados — entre os participantes, algo chamado de conflituosidade. Entretanto, esse processo faz parte da democracia.
Os Territórios do Conhecimento de quarta geração destacam-se por valorizar a sociedade e as questões ambientais nos ecossistemas de inovação. Neles, o urbanismo sustentável é parte essencial das dinâmicas sociais, tecnológicas e produtivas.
Um exemplo de Território do Conhecimento que implementou uma gestão participativa é o Movimento Pacto Alegre, que surge a partir da sociedade civil organizada, em conjunto com três universidades gaúchas (UFRGS, PUCRS e Unisinos), com empresas e com poder público (prefeitura e governo do estado do RS). O movimento conta com o apoio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A., do BADESUL, Sebrae e Sicredi.
O movimento, criado em 2019, já desenvolveu mais de 40 projetos voltados aos desafios prioritários, que vão ao encontro de impulsionar a cidade como um território inovador. Um elemento interessante é o uso de oficinas participativas para estimular o debate e sugestões de projetos a serem implementados.
Plenária de Oficina Participativa do Pacto Alegre
Nesses territórios, é necessária uma gestão mais participativa e inclusiva, em que os envolvidos possam interagir, deliberar e atuar de forma mais horizontal. Esse modelo permite que o fluxo do conhecimento e das informações seja interativo e baseado em processos coordenados e de cooperação entre sociedade, universidades, empresas e governos. Além disso, a co-criação entre os atores gera políticas, tecnologias e inovações mais aderentes aos envolvidos e alinhadas ao contexto e às necessidades locais.
A GESTÃO PARTICIPATIVA REQUER:
▪ Objetivos comuns com metas claras;
▪ Coordenação e habilidades colaborativas;
▪ Tomada de decisão coletiva;
▪ Comunicação aberta e eficiente;
▪ Controle mútuo e responsabilização;
▪ Capacidade de negociação, flexibilidade e adaptabilidade;
▪ Acompanhamento e avaliação das ações e metas;
▪ Respeito à cultura organizacional.
Alguns Territórios do Conhecimento, em particular os distritos de inovação, têm enfrentado críticas por serem iniciativas top-down que incentivam a gentrificação. No entanto, esta exposição mostra que diferentes Territórios do Conhecimento conseguiram enfrentar os desafios existentes, implementando soluções que poderão ser replicadas para outras partes das cidades.
Os estudos de caso mostram que de nada adianta focar apenas nos objeti- vos econômicos, nas grandes empresas de tecnologia e no mercado imobiliário, e ignorar os desafios sociais. A simples replicação de um modelo em outro lugar geralmente não funciona. A diversidade social, a vitalidade urbana e a qualidade dos espaços públicos são fatores essenciais para a atração de talentos.
Outros elementos, como a produção de energia limpa, não foram incluídos nesta exposição por limitação de espaço, mas eles são igualmente importantes para a sustentabilidade desse territórios.
Com os exemplos apresentados nesta exposição, esperamos contribuir para a implementação de Territórios do Conhecimento mais sustentáveis, mais inclusivos, mais confortáveis, mais saudáveis, mais criativos e que perdurem por muito mais tempo.