Informações Técnico-Científicas

O que se sabe e não se sabe sobre a variante ômicron

Neste artigo da Revista Questão de Ciência, a Prof. Natália Pasternak informa que a ômicron é muito mais transmissível que as outras variantes conhecidas, porém, causa uma doença aparentemente menos grave. Por outro lado, a variante ômicron é capaz de escapar das vacinas e se transmite entre vacinados. Mesmo assim, as vacinas continuam servindo para nos proteger contra doença grave e morte.

Variante Delta em Guará

O caso é de uma mulher de 30 anos que mora em Guaratinguetá. Teve sintomas leves, com tosse, coriza e dor muscular iniciados no dia 28 de junho. De acordo com a prefeitura de Guaratinguetá, a mulher de 30 anos teve contato com outras duas pessoas, de 49 e 75 anos que também tiveram os sintomas da doença. A secretaria de saúde informou que as duas já tinham sido imunizadas com ao menos uma dose e cumpriram o isolamento sem precisar de internação.

A reportagem completa está aqui.

Por que pessoas que tomaram vacina estão tendo Covid grave

Por que mesmo pessoas vacinadas contra a COVID estão tendo COVID grave? Se a pessoa foi vacinada, ela não deveria estar protegida? Por que algumas pessoas morreram, mesmo após tomarem a vacina contra Covid? Qual é a REAL EFICÁCIA da vacina da COVID?

Nesse vídeo do canal Olá, Ciência! é explicado por que pessoas que tomaram vacina estão tendo COVID grave e até mesmo morrendo. Para isso, são avaliados os resultados dos testes da vacina da Pfizer, da vacina de Oxford-Astrazeneca e da Coronavac. Vacinas com eficácia mais baixa podem estar falhando? Quem tomou vacina está completamente protegido contra COVID? Qual a melhor vacina contra COVID? O coronavírus pode escapar da imunidade produzida pela vacina?

A vacina é como um goleiro

"As pessoas têm muita dificuldade de entender qual é a função de uma vacina", diz Natalia Pasternak, bióloga e divulgadora científica brasileira, fundadora e primeira presidente do Instituto Questão de Ciência. "Elas acham que a vacina é mágica. Ou seja, tomou a vacina, está protegido; não tomou, vai ficar doente. Não é assim que vacinas funcionam."

(...)

"Uma boa vacina é como se fosse um bom goleiro. E como sabemos que o goleiro é bom? Vamos olhar o histórico dele. A frequência com a qual ele faz defesas. Se ele defende com frequência, ele é um bom goleiro. Isso não quer dizer que ele (...) nunca vai deixar de tomar gol. Mas, mesmo se tomar gol, ele não deixa de ser um bom goleiro. Precisamos olhar o histórico dele", diz. "Mas se o time dele for uma droga (...), ele vai tomar mais gol, porque vai ter muito mais bolas indo para o gol, então a probabilidade de ele errar aumenta", acrescenta.

"Se a defesa do time dele não usar máscara, fizer aglomeração, haverá muito mais vírus circulando, ou seja, mais bolas para o gol, então a probabilidade dele tomar gol é maior. A mesma coisa acontece com uma vacina"


Riscos de transmissão aérea visualizados

Reportagem do Washington Post mostra, através de tecnologia de câmeras infravermelhas, o perigo de não usar máscaras e porque máscaras cirúrgicas bem ajustadas contribuem para reduzir o risco de transmissão do Covid-19.

Clique na seta para ler a tradução da reportagem

Nas últimas semanas, os EUA viram o maior aumento no número de novos casos de infecção pelo coronavírus desde o início da pandemia. Autoridades de saúde alertaram que o vírus pode se espalhar através de contato próximo com um indivíduo infectado. Em outubro, o Centro de Controle de Doenças revisou e expandiu suas diretrizes e reconheceu que o vírus pode se espalhar através de gotas microscópicas que exalamos, e que, às vezes, podem alcançar distâncias maiores que 1,80 m (6 pés) e permanecem suspensas no ar por horas. A agência afirma que o risco de transmissão aumento em espaços fechados e naqueles com ventilação ruim. (0:40). Para visualizar estes riscos, o Washington Post usou uma câmera infravermelha de alta tecnologia capaz de detectar a expiração humana. A tecnologia avançada da câmara é mais tipicamente utilizada em aplicações militares e industriais, tais como a detecção de vazamento de metano em tubulações. Em 2013, foi usada por agentes da lei durante a caçada de 20 horas dos homens-bomba da maratona de Boston. A câmera, altamente sensível, detecta variações na radiação infravermelha que são invisíveis a olho nu. A câmera foi montada com um filtro que busca especificamente a assinatura infravermelha do CO2, o gás que expiramos. (1:17) O CO2 é então usado para mapear a trajetória parcial dos aerossóis, incluindo as partículas que expirados em tempo real. Um filtro digital altamente sensível é aplicado aqui (1:27) para enfatizar fluxos do ar. Quando suspenso no ar, um vírus se moverá junto com o fluxo de ar mostrado pela câmera infravermelha. Aqui (1:37) vemos um indivíduo expirando partículas. Se estiverem presentes, vírus em suspensão, como o novo coronavírus, se moverão junto com o fluxo de CO2 aquecido, capturado pela câmera infravermelha, antes de se dissipar. Provavelmente, você não está vendo diretamente as gotículas. O que você vê é o efeito global desta pluma respiratória que está saindo. O Washington Post usou a câmera (2:00) para ilustrar como os fluxos de ar capazes de transportar as partículas virais em suspensão transmitidas em nossa respiração, poderia se deslocar sob circunstâncias variadas e espalhar o Covid-19. De acordo com especialistas ouvidos pelo Washington Post, a filmagem é uma sub-representação do potencial risco de exposição a partir dessas partículas em suspensão potencialmente capazes de transmitirem o vírus. Essas partículas se espalham mais ou duram mais do que a pluma de expiração visível, que se dissipa rapidamente para um nível de concentração que não é mais detectável pela câmera. Fatores ambientais, tais como fluxo de ar em um espaço, vento e luz solar podem amortecer a transmissão do vírus, mesmo nas proximidades de uma pessoa infectada. Assim que a temperatura cai e as pessoas permanecem em espaços fechados, reuniões em família podem se tornar eventos super transmissores (2:49). Basicamente, o inverno traz mais as pessoas para dentro de casa, onde há mais com centração de pessoas e menos espaço para distanciamento social. Como o coronavírus pode se espalhar por distâncias superiores a 1,80 m (6 pés), precauções como distanciamento social não são “balas de prata” quando se trata de reuniões em espaços fechados. Se há diversas pessoas em um ambiente interno (3:10), o vírus meio que continua s se acumular. E esse, eu penso, é um dos maiores fatores a se atentar. Neste vídeo (3:20) filmado em ambiente interno, duas pessoas conversam afastadas por 30 cm (1 pé). As pessoas filmadas que permanecem juntas sem máscaras pertenciam ao mesmo lar. O operador da câmera usava máscara e estava a 1,8 m de distância (6 pés). Devido a estarem próximos o suficiente, pode-se ver claramente como o ar expirado por uma pessoa alcança a outra. De acordo com Jimenez, o ar expirado de cada pessoa alcança a outra com pouca interferência. O risco de transmissão é aumentado por duração prolongada de exposição e concentração de partículas virais em um ambiente confinado, como uma sala. Se você estiver a um metro de mim (3:56) sem usar máscara e estivermos conversando por 10 a 15 minutos, clinicamente em doenças infecciosas e controle de infecções, esta é uma exposição suficiente para lhe infectar a partir de fontes virais em aerossóis. Aqui (4:13) há uma pessoa em um ambiente interno rindo sem máscara, e uma outra (4:18) falando ao telefone usando uma máscara cirúrgica mal ajustada. Essas condições simulam situações do dia a dia em que o vírus pode se espalhar. Como visto nesses exemplos, a pluma respiratória muda de direção quando se usa máscara (4:29). Sem usar máscara, as gotículas capazes de transmitir o vírus se projetam adiante (4:31). Se a máscara estiver apropriadamente ajustada (4:40), ela pode filtrar as gotículas e redirecionar a expiração. Quando isso ocorre, pode haver menos vírus lançados ao ar quando estes alcançam outra pessoa, reduzindo as chances de infecção. Digamos que você tem 100 gotículas (4:52) saindo da boca. Ao passar pela máscara, talvez haja 80 ou 50 gotículas, dependendo da qualidade da máscara usada. De todo modo, a máscara vai reduzir, em algum grau, o número de gotículas saindo. Neste vídeo filmado em ambiente interno (5:06), duas pessoas estão conversando e usando máscaras. Muita coisa é contida pela máscara. Não vejo qualquer fluxo de ar cruzando aquela região. Máscaras (5:18) podem limitar a transmissão do vírus, mas o risco de transmissão de outras doenças aumenta se a máscara não estiver bem ajustada. Se há uma pessoa (5:28) usando uma máscara mal ajustada, pode-se ver no vídeo que a curvatura da máscara envia o ar para trás. Assi, o último lugar que você quer estar é atrás de uma pessoa que usa máscara mal ajustada, porque se há vírus, é onde os vírus estarão. A câmera infravermelha (5:43) oferece uma visualização limitada de alguns meios que o Covid-19 pode se espalhar em tempo real. Enquanto os norte-americanos (e brasileiros, mais ainda – nota do tradutor) sofrem para conter esta pandemia mortal e entram em uma estação que celebra as próprias atividades que nutrem a contaminação comunitária, o que fazemos para limitar a transmissão do vírus é uma questão de vida ou morte.

Perigos da variante de Sorocaba

Uma nova variante do coronavírus foi detectada em Sorocaba/SP. Ela é diferente da variante P1 que surgiu em Manaus, mas é quase idêntica à variante da África do Sul, que foi associada à maior taxa de transmissão e a uma redução da eficácia das vacinas de Oxford, Pfizer, Moderna e Novavax. Este vídeo explica por que devemos nos preocupar com a nova variante do coronavírus de Sorocaba, como surgem variantes do coronavírus e por que uma variante quase idêntica à variante da África do Sul apareceu no Brasil. Será que a pandemia de COVID nunca vai acabar? A variante escapa do sistema imune? A variante do coronavírus escapa da vacina?

Como o lockdown funciona

"Depois do lockdown (...), Araraquara viu queda em casos diários e mortes. Já em Bauru, nas últimas semanas, tanto a média diária de mortes quanto a de casos subiram.


(...)


Não existe definição única para
'lockdown', mas o termo se refere a medidas duras tomadas por governos para restringir radicalmente a circulação de pessoas. Isso inclui o fechamento por longos períodos de escritórios, serviços considerados não-essenciais (fora saúde e segurança, por exemplo) e locais públicos.

Em alguns países, decretos de lockdown incluíram multas e outras penas para quem insistir em sair de casa e desobedecer regras de isolamento.

O objetivo da medida é garantir o distanciamento social - uma prática defendida por cientistas, governos e pela Organização Mundial da Saúde para reduzir contaminações e mortes pelo coronavírus."

Leia a matéria completa em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56640000

O segredo das máscaras PFF2

O que é máscara PFF2? O que é máscara N95? Por que usar máscara PFF2 ou N95? Qual a diferença entre máscara PFF2 e N95? Essas e tantas outras perguntas podem ser respondidas pela física. Neste vídeo do (excelente) canal Minuto da Física é contado o segredo da melhor máscara contra COVID.

ENCONTRE A SUA PFF2 AQUI: https://www.pffparatodos.com/

A matemágica das máscaras

Máscara realmente funciona contra a COVID? Máscara 3D de tecido, máscara PFF2, máscara N95 ou máscara cirúrgica? Hoje, já sabemos o grande segredo das PFF2 para ser a melhor máscara contra COVID. Mas a verdade é que máscaras são ainda melhores do que você pensa! Neste vídeo do (excelente) canal Minuto da Física é explicada toda a matemática por trás da eficiência das máscaras contra a pandemia!

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Dados do Vale do Paraíba confirmam: segunda onda de Covid-19 é mais perigosa.

(clique na seta para ler o artigo da Equipe Monitor Covid UNESP Guaratinguetá)

Reportagem de O Vale [1] mostra que somente nas seis primeiras semanas de 2021 (janeiro e metade de fevereiro) ocorreram 44% do total de casos confirmados de Covid-19 de toda a pandemia na região. Desde março de 2020, foram confirmados 135.549 casos, dos quais 59.402 foram confirmados desde o início de 2021.


Fevereiro já tem mais casos do que dezembro e ultrapassou a metade dos registros de janeiro, que terminou com 38.365 casos confirmados da doença na região, o maior número de toda a pandemia. Se a média diária superior a 1.300 casos se mantiver, fevereiro pode chegar perto do volume de contaminados de janeiro e encerrar seus 28 dias, três a menos do que o primeiro mês do ano, com mais de 36.800 diagnósticos positivos. Dados do Monitor Covid-19 UNESP Guaratinguetá [2] mostram que o tempo de duplicação (isto é, o número de dias que levaria para dobrar o número de casos) atingiu 250 dias em meados de novembro, na melhor (ou menos pior) situação da pandemia até aquele momento. Desde então, observa-se uma piora expressiva, atingindo o mínimo de 40 dias em 21 de janeiro.


Os óbitos apresentam situação semelhante. As seis primeiras semanas de 2021 (quase 50 dias) acumulam 799 óbitos por Covid-19, quase um terço do total da pandemia. Na Região Metropolitana do Vale do Paraíba, 2.478 moradores da região faleceram por causa do novo coronavírus.


A existência de uma nova cepa, identificada como P.1 e conhecida como variante de Manaus, já causa o receio de uma terceira onda. De acordo com reportagem do site Infomoney [3], o maior temor dos médicos é que essa variante possa saturar o sistema de saúde de muitos estados e municípios, visto que duas mutações dentro da variante de Manaus estão ligadas à maior transmissibilidade e a maior resistência do vírus.


A reportagem do Infomoney [3] informa que a cepa P.1 já causa lockdowns no país, como na cidade de Araraquara, SP. Com 12 casos detectados de P.1 e risco iminente de colapso no sistema de saúde, a cidade decidiu adotar um lockdown rígido por 15 dias, a partir de 15 de fevereiro, para tentar conter o avanço da nova cepa. A cidade já se encontrava na Fase Vermelha do Plano São Paulo, fase com mais restrições do plano articulado pelo governo do estado para enfrentamento à pandemia e reabertura da economia. Araraquara tem um índice de ocupação de leitos de UTI superior a 95%, segundo a Secretaria Estadual de Saúde [2].


No Vale do Paraíba, já foram confirmados seis casos da variante de Manaus [4] em São José dos Campos, de acordo com a Secretaria de Saúde. Segundo a prefeitura, nenhum dos pacientes com variantes de Covid-19 viajou, o que significa que se contaminaram na sua cidade. A Secretaria de Saúde informou ainda que investiga a forma de contágio e acompanha os parentes dos pacientes. Naquela cidade, são 44.641 casos de Covid-19 e 786 óbitos. Cerca de 3,5 mil aguardam confirmação de exames para Covid-19. A taxa de ocupação dos leitos exclusivos para Covid nos hospitais públicos e privados da cidade era de 58,9% na UTI e 48,7% na enfermaria [4].


É comum em pandemias que surjam mutações genéticas do vírus que levem a novas variantes, como a de Manaus, do Reino Unido e a da África do Sul. As mutações se tornam cada vez mais prováveis quanto maior o tempo de circulação livre do vírus. Por isso, vacinar rápido e em massa é crucial. Há o temor de que as vacinas atualmente disponíveis não sejam eficazes frente às novas cepas. De acordo com a BBC [5], a África do Sul chegou a suspender o início da vacinação com Oxford/AstraZeneca depois de um estudo preliminar da Universidade de Witwatersand, em Joanesburgo, apontar que a vacina oferece "proteção mínima" contra casos leves e moderados causados pela variante que predomina no país. A mesma reportagem, no entanto, informa que vacinas tradicionais baseadas em vírus inteiros inativados, como a Coronavac, não têm a eficácia tão afetada por novas mutações. Para confirmar a eficácia frente à variante de Manaus, as duas vacinas atualmente produzidas no Brasil, Coronavac e Oxford/AstraZeneca, o Instituto Butantan e a Fiocruz já estão realizando testes [6].



[1] O Vale. Fevereiro e janeiro têm 44% dos casos de Covid e 32% das mortes de toda a pandemia. Disponível em <https://www.ovale.com.br/_conteudo/nossa_regiao/2021/02/122036-fevereiro-e-janeiro-tem-44--dos-casos-de-covid-e-32--das-mortes-de-toda-a-pandemia.html>. Acesso em 18/02/2020.


[2] Monitor Covid-19 UNESP Guaratinguetá. Disponível em <https://sites.google.com/unesp.br/monitorcovidunespguaratingueta/p%C3%A1gina-inicial/an%C3%A1lise-dos-dados>. Acesso em 18/02/2020.


[3] Infomoney. Risco de terceira onda: 5 fatos sobre a P.1, variante brasileira do novo coronavírus. Disponível em <https://www.infomoney.com.br/economia/risco-de-terceira-onda-5-fatos-sobre-a-p-1-variante-brasileira-do-novo-coronavirus/>. Acesso em 18/02/2020.


[4] G1. São José dos Campos registra seis casos de novas variantes do coronavírus. Disponível em <https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2021/02/17/sao-jose-dos-campos-registra-dois-casos-de-nova-variante-de-covid-19.ghtml>. Acesso em 18/02/2020.


[5] BBC News Brasil. A potencial vantagem da CoronaVac contra variantes do coronavírus. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55989590>. Acesso em 18/02/2020.


[6] Metrópoles. Coronavac e vacina de Oxford serão testadas contra variante brasileira. Disponível em <https://www.metropoles.com/saude/coronavac-e-vacina-de-oxford-serao-testadas-contra-variante-brasileira>. Acesso em 18/02/2020.

Por que há cientistas muito preocupados com a variante do Brasil?

(clique na seta para ler a tradução do artigo de Michaeleen DoucleffI, do NPR's Science Desk)

Parecem estar surgindo novas variantes do coronavírus em toda parte. Há a variante do Reino Unido, que é mais contagiosa e já circula nos Estados Unidos. Há uma da África do Sul, que está forçando a Moderna e a Pfizer a reformularem suas vacinas COVID-19 e criarem injeções de "reforço", apenas para garantir que as vacinas mantenham a eficácia.

Para alguns cientistas, contudo, a variante mais preocupante pode ser a mais recente. Uma variante chamada P.1, que surgiu no início de dezembro em Manaus, Brasil, e em meados de janeiro já havia causado uma enorme onda de casos em toda a cidade de 2 milhões de habitantes.

Na segunda-feira, as autoridades detectaram o primeiro caso confirmado de P.1 nos EUA, especificamente, em Minnesota. O Departamento de Saúde do estado identificou o caso sequenciando aleatoriamente 50 swabs [1] nasais de pacientes positivos a cada semana. A pessoa infectada com P.1 havia viajado para o Brasil.

"Se você me perguntasse agora o que é mais preocupante, de todas as coisas das que ouvi até agora, é o fato de que estão relatando um aumento repentino de casos em Manaus, Brasil", disse à NPR o especialista em vírus Jeremy Luban, da Universidade de Massachusetts, duas semanas atrás, antes que a variante chegasse aos Estados Unidos. "Manaus já tinha 75% das pessoas infectadas [na primavera do ano passado]."

A preocupação com a variante P.1 é dupla: os cientistas não entendem por que a variante se espalhou tão explosivamente no Brasil, e a variante carrega um conjunto de mutações particularmente perigoso.

Enquanto a variante do Reino Unido levou cerca de três meses para tornar-se predominante na Inglaterra, P.1 levou apenas cerca de um mês para tornar-se a variante predominante em Manaus [2]. Além disso, Manaus já havia sido gravemente atingida pelo vírus em abril. Um estudo estimou que a população deveria ter atingido a imunidade coletiva e o vírus não deveria se espalhar facilmente na comunidade. Então, por que a cidade viu um aumento ainda maior dez meses depois? P.1 poderia estar evitando os anticorpos desenvolvidos contra a versão anterior do vírus, facilitando as reinfecções? Poderia ser significativamente mais contagioso? As duas coisas podem ser verdadeiras?

"Embora não saibamos 'exatamente' por que essa variante parece ter tanto crescimento no Brasil, nenhuma das explicações disponíveis é boa", escreveu no Twitter o epidemiologista Bill Hanage, da Universidade de Harvard.

As reinfecções são uma preocupação séria por vários motivos. Em primeiro lugar, como a variante da África do Sul, P.1 carrega um grupo de mutações ao longo da superfície do vírus, onde os anticorpos - especialmente os anticorpos potentes - costumam se ligar. “Eles são os principais alvos do sistema imunológico”, disse Penny Moore, especialista em vírus, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul e da Universidade de KwaZulu-Natal. "Então, quando vemos muitas mutações [nessas superfícies], aumenta a possibilidade de que as mutações possam estar conferindo escape imunológico”. Ou seja, as mutações estariam ajudando o vírus a escapar dos anticorpos ou escapar de ser reconhecido pelos anticorpos. Em essência, as mutações estariam fornecendo ao vírus uma espécie de capa de invisibilidade.

Para testar essa hipótese, Moore e seus colegas coletaram soro sanguíneo de 44 pessoas infectadas com a versão anterior do vírus e verificaram se os anticorpos naquele soro ainda funcionavam contra a nova variante da África do Sul. Ou os anticorpos teriam perdido a sensibilidade?

"Na verdade, foi isso que vimos", disse ela. "Houve uma queda dramática na sensibilidade. Vimos que, em metade do soro, os anticorpos eram significativamente menos eficazes contra a nova variante [da África do Sul]." Até agora, os cientistas não testaram P.1 em experimentos de neutralização semelhantes, mas P.1 tem duas mutações que os cientistas já mostraram que reduzem a ligação de anticorpos.

E assim, agora temos um jogo de "gato e rato" entre o vírus e a vacina, disse o especialista em vírus Ravi Gupta. O vírus encontra formas de contornar a vacina (e nosso sistema imunológico), disse Gupta, e, por isso, os fabricantes têm que reformular as vacinas (ou então corremos o risco de ser infectados duas vezes).

"Já passamos por isso com a gripe. Temos que conviver com a gripe e descobrir uma maneira de nos anteciparmos ao vírus, fabricando vacinas anualmente", disse Gupta, da Universidade de Cambridge.

"Portanto, posso imaginar que faremos algo semelhante com [o] coronavírus. No final, precisaremos desenvolver vacinas diferentes que têm como alvo diferentes partes do vírus - aquelas que o vírus tiver mais dificuldade para mudar."

Esse processo vai custar muito dinheiro ao mundo - e levar tempo, acrescentou Gupta. “Não acho que haverá uma solução única que apareça em 2021 que diga: 'É isso, terminamos.'

"O coronavírus vai causar uma disrupção de longo prazo."


[1] Swab é um coletor de amostras microbiológicas da região nasal e faríngea, para realizar exames de verificação da presença de Coronavírus.

[2] Nota dos tradutores: Como praticamente não havia isolamento social em Manaus no segundo semestre, essa comparação fica prejudicada. Como não se praticava isolamento social, a transmissão de qualquer variante do vírus ficou bastante facilitada.

Tradução da equipe do Monitor Covid-19 UNESP Guaratinguetá do artigo original publicado em 27/01/2020, no blog Goats and Soda: Stories of Life in a Changing World, do site da NPR (National Public Radio), organização norte-americana de produção de programas de radio. Disponível em <https://www.npr.org/sections/goatsandsoda/2021/01/27/961108577/why-scientists-are-very-worried-about-the-variant-from-brazil,> Acesso em: 01/02/2021.

Um complemento interessante é este artigo, publicado no site G1, sobre pesquisa realizada por cientistas brasileiros: Especialistas dizem que variante brasileira tem potencial de reinfectar quem já teve Covid (https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/29/especialistas-dizem-que-variante-brasileira-tem-potencial-de-reinfectar-quem-ja-teve-covid-mas-dizem-que-ainda-faltam-estudos.ghtml).

Vacinar o maior número de pessoas rapidamente e com pandemia sob controle é mais importante do que a eficácia da vacina

(clique na seta para ler o artigo do Professor Eduardo Kokubun, da UNESP de Rio Claro)

Enquanto corre uma guerra se uma vacina é melhor do que outra, um grupo de cientistas sugere que, a estratégia de implementação é mais importante do que a eficácia de cada produto.

Para a Covid-19, os cientistas estimam que é necessário ter 60 a 70% da população imunizada, ou porque já adquiriu e se curou da doença ou porque foi vacinada. Com os dados oficiais de 6.934 casos notificados, Rio Claro teria 3,4% confirmados oficialmente. Mas, sabe-se que há grande subnotificação de casos: se considerarmos que a covid-19 mata em média 1% dos casos, Rio Claro, com os 171 óbitos de hoje, teria 17,1 mil casos, ou 8% da população. Para chegar à imunidade rebanho, seria necessário imunizar 52 a 62% dos moradores do município, ou de 107 a 128 mil pessoas. Sem a vacina, seriam mais 1070 a 1280 mais óbitos.

A prefeitura anunciou que, seguindo a estratégia de vacinação do estado, vacinará 33 mil pessoas em 56 dias entre o dia 25/01 e 22/03. Isso dá uma média de 589 pessoas, ou 0,3% por dia. Nesse ritmos levaríamos 7 meses para imunizar o número suficiente de pessoas para alcanças a imunidade rebanho.

Um estudo conduzido por Paltiel e outros mostrou que é mais importante vacinar o maior número de pessoas rapidamente com a pandemia em controle. Eles mostram que mesmo vacinas com eficácia de 25%, menor do que o limite recomendado pela OMS, FDA nos Estados Unidos e ANVISA no Brasil podem evitar um pouco mais de 80% de novos casos se aplicado a um ritmo de 1% da população por dia e com a pandemia relativamente controlada com Rt=1,5 (número de reprodução: cada 100 pessoas transmite a doença para 150 pessoas). A vacina com a eficácia mínima de 50% evitar um pouco mais de 90% de novos casos.

Uma lição importante do estudo é que, se a pandemia não estiver controlada, com casos crescendo rapidamente como ocorreu em julho de 2020 em Rio Claro, caem dramaticamente. No ritmo previsto de vacinar 0,3% da população por dia, a proteção seria de apenas 10%.

A vacinação ainda demorará no país, no Estado e no Município. Ainda teremos o ano de 2021 convivendo com a pandemia. Para diminuir seus impactos negativos será necessário realizar a vacinação mais rapidamente possível, alcançando o maior número de pessoas possível, pelo menos 70% da população.

A chegada da vacinação não significa que poderemos abandonar as medidas de distanciamento, higiene e uso de máscaras. Se elas forem abandonadas, poderemos perder os efeitos benéficos da vacina.

Referênciado artigo:

A. David Paltiel, Jason L. Schwartz, Amy Zheng, and Rochelle P. Walensky. Clinical Outcomes Of A COVID-19 Vaccine: Implementation Over Efficacy. Health Affairs 2021 40:1, 42-52. Disponível em https://www.healthaffairs.org/action/showCitFormats?doi=10.1377%2Fhlthaff.2020.02054. Acessado em 11/01/2021.

Publicado originalmente em:
BOLETIM ANTI COVID-19, Rio Claro: Unesp, n. 74, janeiro 2021. Disponível em: https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/ed_anteriores/bac-74-15012021. Acesso em 14/jan/2021.

Como os cientistas sabem que as vacinas COVID-19 aprovadas são seguras

(clique na seta para ler a tradução do artigo de Eva Hamrud, do Metafact)

Após um ano que resultou em mais de 1,7 milhão de mortes e vários bloqueios, muitas pessoas estão recebendo a notícia de que as vacinas COVID-19 estão começando a ser distribuídas ao público. A vacinação generalizada pode significar que a vida pode retornar à normalidade pré pandêmia; no entanto, esse cenário depende da disposição das pessoas em receber a vacina.

Algumas pessoas estão preocupadas com a segurança das vacinas em geral, enquanto outras suspeitam da novidade e do rápido tempo de resposta das vacinas COVID em particular. Perguntamos a 14 especialistas em imunologia, bioestatística e vacinologia se as vacinas COVID-19 são seguras.

Quais vacinas COVID-19 foram aprovadas e o que isso significa?

As vacinas, junto com todos os outros medicamentos, não podem ser usadas até que um país as "aprove". Este processo de aprovação é realizado em cada país ou grupo de países por uma agência independente.

Nos EUA, isso é feito pela FDA (Food and Drug Administration), no Reino Unido pela MHRA (Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde) e na União Europeia pela EMA (Agência Europeia de Medicamentos).

Para que qualquer vacina/remédio seja aprovada por essas agências, ela deve mostrar que 1) é segura e 2) faz o que deve fazer. Existem várias vacinas COVID-19 atualmente em pesquisa e desenvolvimento. As vacinas mais promissoras contra COVID-19 são Pfizer/BioNTech, Moderna, Instituto Gamaleya (Sputinik V), AstraZeneca/Oxford e a Sinovac (Coronavac). Embora algumas delas já estejam sendo usadas na Rússia e na China, apenas duas vacinas estão atualmente aprovadas para uso nos EUA e no Canadá.

Uma é resultado de um esforço conjunto da Pfizer e da BioNTech denominado 'BNT162b2' e outro é fabricado pela Moderna e denominado 'mRNA-1273'. O BNT162b2 foi aprovado em 9 países em todo o mundo, incluindo o Reino Unido, e também é autorizado pela EMA .

Como uma vacina é aprovada?

Para que as vacinas da Pfizer e Moderna sejam aprovadas pelos órgãos mencionados acima, elas devem ter se mostrado seguras. Os dados de segurança examinados durante o processo de aprovação cobrem todas as etapas da jornada de uma vacina, desde os experimentos iniciais no laboratório até o processo de fabricação.

Uma parte importante desses dados são os ensaios clínicos. Todos os medicamentos, incluindo vacinas, passam por três estágios de ensaios clínicos :

• Estágio I - testar a vacina em um pequeno grupo de voluntários (20-80) para verificar se é segura e encontrar a dose certa;

• Estágio II - descobrir se a vacina realmente funciona dividindo 100-300 voluntários em dois grupos e administrando a vacina a um grupo e ao outro grupo um placebo;

• Estágio III - dividir milhares de voluntários em um grupo de vacina e um grupo de placebo, aleatoriamente. Não diga aos voluntários ou aos médicos quem está em qual grupo (isso é chamado de fazer o ensaio 'duplo-cego') e verifique se a vacina está funcionando e se há algum efeito colateral.

Se um ensaio não for bem-sucedido, por exemplo, os resultados mostram que a vacina não está realmente prevenindo a doença ou causando efeitos colaterais adversos, o ensaio é interrompido e a vacina não é aprovada.

Mesmo depois de aprovada, a vacina passa para a Fase IV, onde continua a ser monitorada e são coletadas informações sobre os efeitos adversos. Isso é importante para estabelecer se há efeitos muito raros, por exemplo, uma chance de 1 em 100 milhões.

Por exemplo, duas pessoas no Reino Unido tiveram uma reação alérgica à vacina Pfizer depois que ela foi aplicada a milhares. Isso às vezes também acontece em resposta às vacinas contra a gripe, e os profissionais de saúde estão prontos para lidar com essas reações quando administram a vacina.

Ambas as pessoas se recuperaram totalmente, mas coletar informações sobre isso é útil, por exemplo, o Reino Unido já emitiu “recomendações de cautela” para pessoas que têm alergias graves.

A Dra. Olivera Finn, da Universidade de Pittsburgh, explica que “Todas as novas vacinas continuam a ser monitoradas assim que começam a ser amplamente distribuídas. Agora estamos bem conectados com o mundo inteiro, portanto, um único problema com a vacina em qualquer parte do mundo exigirá um exame rápido e alterações, se garantido”.

Que dados de segurança existem?

Ambas as vacinas Pfizer e Moderna foram submetidas aos três ensaios clínicos, descritos acima e não encontraram quaisquer efeitos colaterais graves de suas vacinas. Para a vacina Pfizer, 195 pessoas foram recrutadas no estudo de Fase I com base nos EUA e 456 foram incluídas no estudo de Fase II na Alemanha. Em ambos os ensaios, ninguém que recebeu a vacina teve efeitos colaterais graves. O ensaio de Fase III da Pfizer foi publicado em um jornal revisado por pares e incluiu mais de 40.000 voluntários em 152 locais em todo o mundo.

Neste ensaio, os voluntários foram divididos em dois grupos. Um grupo recebeu duas vacinas de placebo com 21 dias de intervalo, e um grupo as vacinas reais. Isso significa que no final 18.566 pessoas receberam as 2 doses completas da vacina.

Durante 14 semanas após a segunda injeção, todos os 18.366 voluntários foram avaliados quanto aos efeitos colaterais, tanto por pesquisas quanto por coleta de amostras de sangue. Após a segunda injeção, apenas 0,8 por cento deles teve febre. Os sintomas mais comuns foram dor no local da injeção e, às vezes, músculos doloridos e dores de cabeça.

O professor Rick Kennedy, da Mayo Clinic, explica que “a grande maioria dos efeitos colaterais vistos eram esperados e são resultado direto da resposta imunológica à vacina. Os efeitos colaterais são semelhantes aos observados com a maioria das outras vacinas licenciadas ou

ocorrendo em taxas semelhantes e com níveis semelhantes de gravidade (principalmente leve e moderada)”. Ninguém no estudo teve uma reação grave à vacina.

Um fator importante é que este estudo de Fase III incluiu pessoas de origens diversas: 49 por cento eram mulheres e 37 por cento eram negras, afro-americanas ou hispânicas. Além disso, o estudo incluiu pessoas que podem estar em um nível de risco mais alto: 35 por cento dos participantes eram obesos, 21 por cento tinham pelo menos uma condição coexistente e a idade média dos voluntários era 52.

A vacina Moderna também incluiu 120 pessoas em seu ensaio de Fase I e 600 pessoas em seu ensaio de Fase II. Embora nem todos os dados da Fase III estejam disponíveis para o público ainda (as agências aprovadoras têm acesso), eles incluíram 30.000 pessoas de diversos grupos demográficos e não viram quaisquer efeitos colaterais graves.

Todas as informações acima estão disponíveis gratuitamente para qualquer pessoa ler. Além disso, as agências regulatórias que aprovaram essas duas vacinas tiveram acesso a muito mais dados que cobrem não apenas os ensaios clínicos, mas também os estudos em laboratório e em animais. Essas informações costumam ter mais de 10.000 páginas e são cuidadosamente examinadas pelo FDA, MHRA e EMA.

O que está nas vacinas COVID?

As vacinas Moderna e Pfizer são vacinas de RNA. O RNA é a informação no interior do SARS CoV-2 vírus que codifica todas as estruturas dos vírus.

As vacinas tradicionais usam uma versão morta ou modificada do vírus para fazer com que o corpo crie uma resposta imune, de modo que aprenda a reconhecer esse vírus e, portanto, se torne imune a ele. As vacinas de RNA usam uma versão modificada do RNA do vírus SARS-CoV 2.

Quando o RNA entra na célula das pessoas, elas produzem seus próprios fragmentos de vírus, que então ensinam seu corpo a se tornar imune como qualquer outra vacina. O RNA por si só não é prejudicial; na verdade, suas células produzem e usam RNA o tempo todo.

Como explica o professor Crotty, do Instituto La Jolle de imunologia, “A qualquer momento, uma célula humana tem mais de 5.000 mensagens de RNA diferentes e são todas mensagens temporárias, como post-its que são rasgados pelas células minutos ou horas depois de serem ler”.

O RNA da vacina é decomposto um dia após a injeção. É importante ressaltar que as vacinas contêm apenas uma pequena seção do RNA, "a mensagem de RNA é para uma única proteína de coronavírus. São necessárias 25 proteínas de coronavírus diferentes para fazer um coronavírus, então não há preocupação com o RNA de fazer um vírus".

O RNA é embalado em pequenas bolas de gorduras chamadas nanopartículas lipídicas. Esses lipídios são decompostos e eliminados pelas células. Os outros ingredientes são água e alguns sais e açúcares para manter essas partículas estáveis.

Esta tecnologia de entrega de RNAs por nanopartículas lipídicas não foi usada para vacinas antes. No entanto, os medicamentos que usam nanopartículas lipídicas (denominados 'nanomedicamentos') estão em uso desde a década de 1990 e, até o momento, mais de 20 medicamentos diferentes foram aprovados pelo FDA ou EMA. Alguns desses medicamentos

são baseados em RNA, semelhantes às vacinas de RNA. Eles geralmente são usados para câncer e terapias genéticas.

Por que as vacinas foram feitas tão rapidamente?

Normalmente, as vacinas levam anos para serem desenvolvidas e produzidas. As vacinas COVID-19 duraram menos de um ano. Isso se deve a uma série de razões, três das quais são explicadas pelo Dr. Robert Carnahan do Vanderbilt University Medical Center:

“Primeiro, todas as vacinas ... foram fabricadas 'em risco'”. Isso significa que estavam sendo produzidas antes mesmo de os testes clínicos serem concluídos. Isso nunca aconteceria em uma situação normal. Muitos desses custos foram suportados por várias organizações governamentais ao redor o globo. Portanto, assim que a aprovação de emergência fosse obtida, a distribuição poderia começar.

Em segundo lugar, os desenvolvedores de vacinas estavam analisando rapidamente os dados à medida que surgiam e comunicando-os em tempo real a várias agências reguladoras. Frequentemente, há intervalos de meses a anos entre as várias fases dos ensaios clínicos devido apenas a essas atividades.

Terceiro, o recrutamento para ensaios clínicos é frequentemente um processo lento e trabalhoso. Tem de haver pessoas "em risco" para a doença em muitas categorias demográficas e de saúde diferentes. Devido ao imenso escopo da pandemia, foi rápido encontrar voluntários suficientes e apropriados”. É importante ressaltar que a velocidade não afetou os ensaios clínicos e os aspectos de segurança do processo: “O tamanho, a eficácia e a complexidade dos ensaios clínicos conduzidos para as vacinas COVID-19 atuais não foram diferentes dos ensaios clínicos tradicionais. Estes são tão seguros quanto vacinas e intervenções desenvolvidas em prazos muito mais lentos”. - diz o Dr. Carnahan.

Um equilíbrio de risco

Nada na medicina é 100 por cento seguro - você não toma medicamentos para uma doença que não tem ou uma vacina contra uma doença que não existe.

O Dr. William Hausdorff da PATH, uma organização global sem fins lucrativos de saúde pública, explica que “todas as discussões sobre 'segurança' para vacinas (ou medicamentos em geral) devem começar com discussões sobre a gravidade e frequência da doença que você está tentando prevenir ou tratar. Se a condição for muito pequena, mesmo os efeitos colaterais triviais podem não valer a pena. Se a condição for muito séria, as pessoas aceitarão efeitos colaterais potenciais muito maiores”.

Cada intervenção médica é um equilíbrio entre risco e benefício. Ambas as vacinas Pfizer e Moderna mostraram eficácia maior que 90 por cento na proteção de pessoas contra COVID-19 em seus ensaios clínicos de Fase III. Essa proteção contra um vírus que até agora causou mais de 1,7 milhão de mortes em todo o mundo também é uma consideração importante quando se pensa sobre a segurança da vacina.

Todos os 14 especialistas concordaram com o consenso científico de que as vacinas COVID que foram aprovadas pelas agências regulatórias apropriadas, como o FDA, são tão seguras quanto qualquer outra vacina ou medicamento.

Nada na medicina é isento de riscos e a decisão de tomar a vacina é pessoal e depende das circunstâncias individuais de cada pessoa.

Artigo baseado em 14 respostas de especialistas a esta pergunta: As vacinas COVID-19 são seguras?

Esta resposta de especialista foi publicada em parceria com a plataforma independente de verificação de fatos Metafact.io

(Tradução Equipe Monitor Covid UNESP Guaratinguetá a partir do original disponível em https://www.sciencealert.com/how-scientists-know-the-approved-covid 19-vaccines-are-safe)



Efeitos da vacinação em Israel

(clique na seta para ler o artigo da Equipe Monitor Covid UNESP Guaratinguetá)

Israel é o país mais adiantado hoje na campanha de vacinação contra o Covid-19, com quase 43% de sua população vacinada [1] . A vacina usada em Israel é da Pfizer/BioNTech [2].

Efeitos positivos da vacinação em massa já se observam no país. O Maccabi Health Services estudou uma amostra de 50777 pessoas acima de 60 anos inoculadas no final de dezembro e novamente em meados de janeiro. Dados preliminares indicam que, dois dias após a aplicação da segunda dose, o número de novos casos e hospitalizações caiu 60% em comparação ao pico [3]. Este é um dos efeitos mais desejados, pois o sistema de saúde e seus profissionais deixam de ser sobrecarregados.

Em termos de eficácia, cerca de 0,01% de um grande grupo de pessoas que receberam duas doses da vacina Covid-19 da Pfizer testaram positivo para o novo coronavírus após a segunda injeção. Estes pacientes apresentaram apenas uma forma leve da doença, de acordo com dados preliminares de um sistema de saúde israelense [4]. É importante enfatizar que a imunização só se completa após a segunda dose. De fato, no início da campanha, 240 israelenses foram contaminados após tomarem a primeira dose. De acordo com especialistas, a vacina não oferece imunidade imediata, o que explicaria este contágio. Estudos apontam que o sistema imunológico começa a desenvolver proteção contra o vírus de 8 a 10 dias depois da primeira dose [5].

A taxa de transmissão Rt* do coronavírus em Israel caiu de 1,13 em dezembro para 0,99 após 40 dias [6]. Para efeito de comparação, a Rt da Divisão Regional de Saúde XVII, em que se encontra Guaratinguetá, é de 1,47 [7]. Mas não é só à vacina que se pode atribuir este resultado. O país está em seu terceiro lockdown desde o início da pandemia, com escolas, restaurantes, shoppings e hotéis fechados. O vice-ministro da saúde, Yoav Kish, afirma que essas medidas foram decisivas para reduzir a taxa de transmissão e a gravidade dos casos, explicando que “as vacinas reduziram principalmente a morbidade grave, não necessariamente o número de portadores”.

Há o temor de que novas variantes sejam resistentes às atuais vacinas. A Moderna já trabalha em um reforço contra a variante sul-africana [8]. Ainda não se sabe se a variante de Manaus é resistente às vacinas [9], mas é um risco que não podemos nos dar ao luxo de correr. Por isso, a vacinação em massa é urgência urgentíssima no Brasil e no mundo.


*Rt é a taxa de transmissão de um vírus. Um Rt = 1,47 significa que 100 pessoas transmitem o vírus para outras 147. Quando o Rt é maior que 1, o número de casos aumenta com o tempo; quando é menor que 1, a transmissão diminui. Para epidemiologistas, medidas de flexibilização das quarentenas só deveriam ocorrer com o Rt abaixo de 0,8 ou 0,7 [10]


[1] CNN Brasil. Israel já vacinou 42% da população; veja como está imunização nos países. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/01/06/israel-lidera-vacinacao-contra-covid-19-veja-como-esta-a-imunizacao-nos-paises>. Acesso em 26/01/2021.

[2] Estado de Minas. Recusada pelo Brasil, vacina da Pfizer apresenta boa eficácia em Israel. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/01/25/interna_internacional,1232232/recusada-pelo-brasil-vacina-da-pfizer-apresenta-boa-eficacia-em-israel.shtml>. Acesso em 26/01/2021.

[3] Fortune Magazine. Israel is leading the world in COVID vaccinations—and its cases and hospitalizations are starting to decline. Disponível em: <https://fortune.com/2021/01/24/israel-covid-vaccine-cases-hospitalizations-decline/> Acesso em 25/01/2021.

[4] CNN Brasil. Vacinação derruba contágio entre imunizados em Israel para apenas 0,01%. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/26/0-01-dos-vacinados-com-2-doses-testaram-positivo-para-covid-19-diz-israel>. Acesso em 26/01/2021.

[5] Poder 360. 240 pessoas pegam covid-19 em Israel após receberem vacina da Pfizer, diz TV. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/coronavirus/240-pessoas-pegam-covid-19-em-israel-apos-receberem-vacina-da-pfizer-diz-tv/>. Acesso em 25/01/2021.

[6] UOL. Com lockdown e vacinação em massa, Israel tem queda na taxa de transmissão. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/01/22/com-lockdown-e-vacinacao-em-massa-israel-tem-queda-na-taxa-de-transmissao.htm>. Acesso em 25/01/2021.

[7] SP Covid-19 Info Tracker. Disponível em <https://datastudio.google.com/u/0/reporting/5b72d54e-a0c2-4748-acf0-9688f42278aa/page/iLbbB>. Acesso em 26/01/2021.

[8] The Guardian. Moderna begins work on booster to protect against South African variant. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2021/jan/25/moderna-begins-work-on-booster-to-protect-against-south-african-variant>. Acesso em 26/01/2021.

[9] Viva Bem. Virologista faz alerta sobre novas variantes do coronavírus no Brasil. Disponível em: <https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/01/19/virologista-faz-alerta-sobre-novas-variantes-do-coronavirus-no-brasil.htm>. Acesso em 26/01/2021.

[10] Nexo Jornal. O que é taxa de transmissão. E o que significa sua queda no Brasil. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/08/20/O-que-%C3%A9-taxa-de-transmiss%C3%A3o.-E-o-que-significa-sua-queda-no-Brasil>. Acesso em 21/01/2021.

O retorno escolar em tempos de pandemia

(clique na seta para ler o artigo da Equipe Monitor Covid UNESP Guaratinguetá)

No dia 18 de janeiro, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo informou que havia sido homologada a deliberação do Conselho Estadual da Educação sobre o retorno das aulas presenciais no Ensino Fundamental e Médio, para as unidades da rede estadual e privada, assim como para escolas municipais, onde não haja conselho municipal de educação. O Secretário estadual, Rossieli Soares, justificou a decisão alegando que nas escolas o risco de contaminação seria baixo. [1]

Segundo a deliberação aprovada, a carga horária mínima anual obrigatória será de 800 horas para o ensino fundamental e médio, com no mínimo 1/3 dessas horas realizadas de forma presencial. O restante poderá ser cumprido de forma remota, com mediação de computador ou não. Apenas alunos incluídos em algum grupo de risco poderão requerer realizar toda a carga horária de forma remota. O retorno poderá ocorrer em datas diferentes, o que será decidido pelos Departamentos Regionais da Saúde. De acordo com a Secretaria, "nas duas primeiras semanas, as escolas receberão até 35% de sua capacidade de alunos por dia. Após esse período, se uma área estiver nas fases vermelha ou laranja do Plano São Paulo, as escolas da educação básica, que atendem alunos da educação infantil até o ensino médio, poderão receber diariamente até 35% dos alunos matriculados. Na fase amarela, elas ficam autorizadas a atender até 70% dos estudantes; e na fase verde, até 100%.”

Em Guaratinguetá, a Prefeitura Municipal confirmou, em 20 de janeiro, que as escolas reabrirão para atividades presenciais no início de fevereiro e divulgou dois documentos para orientar esse retorno, o "Plano de Retorno às Atividades Letivas Presenciais no Âmbito da Rede Pública Municipal” e os “Protocolos de Biossegurança para Estabelecimentos de Ensino de Educação Básica”. [2]

Para termos melhores condições de julgar a adequação de manter atividades presenciais em estabelecimentos da educação básica, pode ser útil buscar informações sobre o que tem ocorrido em outros países quanto à abertura ou fechamento de escolas e universidades em meio à pandemia de COVID19.

Nos países da Europa, o ano letivo tem início por volta de setembro. Boa parte dos países europeus iniciou o período letivo 2020-21 com escolas abertas para atividades presenciais, com diferentes protocolos voltados para reduzir a possibilidade de contaminação no ambiente escolar. Esses protocolos podem incluir: uso de máscaras por adultos e crianças maiores; presença de um número menor de estudantes em cada sala de aula, para garantir o afastamento entre eles; rotina de frequente lavagem de mãos ou higienização com outro meio, como álcool; criação de horários específicos de uso de refeitórios e pátios, para que poucas pessoas os frequentem ao mesmo tempo; redução do número de pessoas autorizadas a circular pelo espaço escolar. Em alguns casos, houve reformas nas instalações, para permitir maior circulação de ar em salas de aula, por exemplo. Em algumas cidades do Reino Unido, turmas passaram a ter aulas também em museus ou centros culturais, para dividir turmas e haver o distanciamento necessário entre as pessoas. Outra medida importante proposta foi a testagem frequente dos integrantes da comunidade escolar, para identificar casos positivos, afastar temporariamente essas pessoas e verificar a situação de familiares e contatos, também com realização de testes. Na identificação de um surto, a escola fecha temporariamente. [3], [4], [5], [6]

Em muitos países, a proposta inicial era a de que, mesmo se fossem necessárias medidas mais rígidas de confinamento, as escolas deveriam permanecer abertas. Essa decisão teve como fundamento a importância do ensino presencial para a saúde mental de crianças e jovens e para a aprendizagem, principalmente entre aqueles com menos recursos para participar de ensino remoto, sem espaço tranquilo para estudo ou cujos responsáveis não têm condições de ajudá-los nessas atividades. Manter as escolas abertas seria uma medida para reduzir os impactos negativos para a saúde mental e não agravar desigualdades entre estudantes com diferentes condições sócio-econômicas e familiares. Outro fator indicado foi a ideia de que os estudantes obedeceriam melhor às regras sanitárias no ambiente escolar e de que estariam mais protegidos nesse ambiente. Como alegou o Secretário estadual, alguns especialistas afirmam que a transmissão do vírus não seria tão intensa na escola, que o impacto da convivência nas escolas para a disseminação do vírus não seria tão significativo. Há, no entanto, controvérsias a respeito desse ponto.

Com o crescimento do número de casos e de óbitos no final de 2020, a chamada segunda onda, em boa parte dos países europeus não se retomaram plenamente as aulas presenciais após as férias de Natal e Ano Novo. Na Espanha, não foram reabertas escolas em regiões que tivessem taxas elevadas no crescimento do número de casos e hospitalizações. A Alemanha fechou todas as escolas, que permanecerão fechadas enquanto durar o estrito confinamento em que se encontram. Nesse país, a reabertura de escolas só poderá vir a ocorrer com redução significativa do número de novos casos. Na maior parte da Itália, as escolas devem permanecer fechadas enquanto durarem as medidas de confinamento e restrições à movimentação de pessoas. Em Portugal, as escolas voltaram a abrir em janeiro, mas, com o crescimento descontrolado do número de infecções e óbitos, os portugueses estão considerando voltar a fechar os estabelecimentos escolares, caso se verifique que há uma forte presença da variante do vírus com disseminação mais rápida. Na Inglaterra, houve idas e vindas quanto à reabertura das escolas após as festas de fim de ano. Com a elevadíssima taxa de crescimento do número de casos e de hospitalizações, acabaram por só manter abertas as creches. As escolas devem receber apenas filhos de profissionais de atividades essenciais, impedidos de trabalhar de casa, ou crianças em situação de vulnerabilidade, sem acesso a computador em casa ou a um local adequado ao estudo. Nas demais regiões do Reino Unido (Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) as escolas permanecem fechadas até fevereiro, pelo menos. [3], [4], [5], [6]

Como já foi dito, não há consenso de que as crianças transmitiriam menos o vírus. Há estudos que indicariam que os adultos que trabalham em escolas, não as crianças e adolescentes, é que seriam os responsáveis iniciais por surtos nesses locais. Outros pesquisadores, no entanto, têm observado significativas similaridades no padrão de ocorrências em ambientes escolares e na região em que se localizam, o que poderia significar que as escolas tenham tido um papel na disseminação comunitária do vírus. Alguns pesquisadores afirmam que os estudos indicando menor transmissão do vírus por parte de estudantes talvez tenham realizado testes insuficientes em crianças e jovens e que infecções transmitidas por crianças não tenham sido devidamente observadas, principalmente por ser comum, entre os mais jovens, abaixo de 13 anos, não apresentarem sintomas. [7]

A abertura de escolas e a manutenção de atividades presenciais, sem a realização de um bom volume de testes com toda a comunidade escolar em cada região e o adequado rastreio de familiares e contatos daqueles que tiverem resultado positivo, pode corresponder então a um experimento realizado às cegas, que poderá intensificar a transmissão do vírus, com crianças e jovens contaminando avós e outras pessoas do grupo de risco, em casa. É essencial saber quais os procedimentos e protocolos quanto à testagem o poder público pretende realizar nas escolas da rede pública e exigir das escolas da rede particular durante 2021.


[1] “Secretário da Educação determina 1/3 de aulas presenciais obrigatórias". Site da Secretaria Estadual de Educação - SP. Notícia disponível em <https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimasnoticias/educacao/secretario-da-educacao-determina-1-3-de-aulas-presenciais-obrigatorias/>. Acessado em 19 de janeiro de 2021.

[2] Prefeitura Municipal da Est. Turística de Guaratinguetá. “Plano de Retorno às Atividades Escolares Presenciais em Guaratinguetá”. Postagem no Facebook disponível em <https://www.facebook.com/474837449241711/posts/3772635426128547/>. Acessado em 20 de janeiro de 2021.

[3] Maria João Guimarães. “Covid-19: escolas abertas ou escolas fechadas? Na Europa não há uma receita única”. Jornal Público. 11 de janeiro de 2021. Notícia disponível em <https://www.publico.pt/1945888>. Acessado em 18 de janeiro de 2021.

[4] Clara Barata. “Britânicos e alemães põem as escolas sob suspeita na transmissão da covid-19”. Jornal Público. 10 de janeiro de 2021. Notícia disponível em <https://www.publico.pt/1945688>. Acessado em 18 de janeiro de 2021.

[5] BBC News. “Covid: When will schools reopen?” BBC NEWS. Notícia disponível em <https://www.bbc.com/news/education-51643556>. Acessado em 19 de janeiro de 2021.

[6] S. Michael; S. Reicher e J. Drury. “Creating covid secure schools: We need strategy, not just adhoc responses.” The BMJ Opinion. Artigo disponível em <https://blogs.bmj.com/bmj/2021/01/12/creating-covid-secure-schools-we-need-strategy-not-just-ad-hoc-responses/>. Acessado em 17 de janeiro de 2021.

[7] Clara Barata. “Se não vemos surtos de Covid19 nas escolas pode ser por falta de testes - a experiencia britânica. Jornal Público. 19 de janeiro de 2021. Notícia disponível em <https://www.publico.pt/2021/01/19/ciencia/noticia/nao-vemos-surtos-covid19-escolas-falta-testesexperiencia-britanica-1946902>. Acessado em 19 de janeiro de 2021.

Vacinar o maior número de pessoas rapidamente e com pandemia sob controle é mais importante do que a eficácia da vacina

(clique na seta para ler o artigo do Professor Eduardo Kokubun, da UNESP de Rio Claro)

Enquanto corre uma guerra se uma vacina é melhor do que outra, um grupo de cientistas sugere que, a estratégia de implementação é mais importante do que a eficácia de cada produto.

Para a Covid-19, os cientistas estimam que é necessário ter 60 a 70% da população imunizada, ou porque já adquiriu e se curou da doença ou porque foi vacinada. Com os dados oficiais de 6.934 casos notificados, Rio Claro teria 3,4% confirmados oficialmente. Mas, sabe-se que há grande subnotificação de casos: se considerarmos que a covid-19 mata em média 1% dos casos, Rio Claro, com os 171 óbitos de hoje, teria 17,1 mil casos, ou 8% da população. Para chegar à imunidade rebanho, seria necessário imunizar 52 a 62% dos moradores do município, ou de 107 a 128 mil pessoas. Sem a vacina, seriam mais 1070 a 1280 mais óbitos.

A prefeitura anunciou que, seguindo a estratégia de vacinação do estado, vacinará 33 mil pessoas em 56 dias entre o dia 25/01 e 22/03. Isso dá uma média de 589 pessoas, ou 0,3% por dia. Nesse ritmos levaríamos 7 meses para imunizar o número suficiente de pessoas para alcanças a imunidade rebanho.

Um estudo conduzido por Paltiel e outros mostrou que é mais importante vacinar o maior número de pessoas rapidamente com a pandemia em controle. Eles mostram que mesmo vacinas com eficácia de 25%, menor do que o limite recomendado pela OMS, FDA nos Estados Unidos e ANVISA no Brasil podem evitar um pouco mais de 80% de novos casos se aplicado a um ritmo de 1% da população por dia e com a pandemia relativamente controlada com Rt=1,5 (número de reprodução: cada 100 pessoas transmite a doença para 150 pessoas). A vacina com a eficácia mínima de 50% evitar um pouco mais de 90% de novos casos.

Uma lição importante do estudo é que, se a pandemia não estiver controlada, com casos crescendo rapidamente como ocorreu em julho de 2020 em Rio Claro, caem dramaticamente. No ritmo previsto de vacinar 0,3% da população por dia, a proteção seria de apenas 10%.

A vacinação ainda demorará no país, no Estado e no Município. Ainda teremos o ano de 2021 convivendo com a pandemia. Para diminuir seus impactos negativos será necessário realizar a vacinação mais rapidamente possível, alcançando o maior número de pessoas possível, pelo menos 70% da população.

A chegada da vacinação não significa que poderemos abandonar as medidas de distanciamento, higiene e uso de máscaras. Se elas forem abandonadas, poderemos perder os efeitos benéficos da vacina.

Referênciado artigo:

A. David Paltiel, Jason L. Schwartz, Amy Zheng, and Rochelle P. Walensky. Clinical Outcomes Of A COVID-19 Vaccine: Implementation Over Efficacy. Health Affairs 2021 40:1, 42-52. Disponível em https://www.healthaffairs.org/action/showCitFormats?doi=10.1377%2Fhlthaff.2020.02054. Acessado em 11/01/2021.

Publicado originalmente em:
BOLETIM ANTI COVID-19, Rio Claro: Unesp, n. 74, janeiro 2021. Disponível em: https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/ed_anteriores/bac-74-15012021. Acesso em 14/jan/2021.

Por que usar máscaras?

Por que usar a máscara?

Veja aqui um estudo mais aprofundado da OPAS - Organização Pan-americana da Saúde com orientações sobre o uso de máscaras, incluindo evidências científicas atualizadas pertinentes visando prevenir a transmissão da Covid-19, além de considerações práticas.

Aerossóis são uma ameaça maior do coronavírus do que as diretrizes da OMS sugerem - eis o que você precisa saber

Publicado originalmente aqui.


Byron Erath, Professor Associado de Engenharia Mecânica, Clarkson Un. (EUA)
Andrea Ferro, Professora de Engenharia Civil e Ambiental, Clarkson Un. (EUA)

Goodarz Ahmadi, Professor de Engenharia Mecânica, Clarkson Un. (EUA)


Tradução e adpatação: Equipe Monitor Covid UNESP Guaratinguetá

Quando tossem, falam ou mesmo respiram, as pessoas enviam pequenas gotas, ou gotículas, para o ar ao redor. A menor dessas gotículas pode flutuar no ar por horas. São os chamados aerossóis e há fortes evidências de que podem carregar o coronavírus vivo se emitidas por alguém infectado.

Até meados de julho de 2020, no entanto, o risco desses aerossóis não foi incorporado à orientação formal da Organização Mundial da Saúde para as nações. Na ocasião, a OMS sugeria que o coronavírus era transmitido principalmente pela tosse ou espirro de grandes gotas no rosto de alguém, em vez de ser uma ameaça de longo prazo que pode flutuar no ar.

Foi preciso pressão dos cientistas para começar mudar essa percepção.

Em 06 de julho de 2020, mais de 200 cientistas publicaram uma carta aberta à OMS alertando sobre a transmissão aérea de COVID-19 via aerossóis e instando a organização a reconhecer os riscos. Três dias depois, a OMS respondeu com uma atualização na qual reconheceu a crescente evidência de propagação da doença pelo ar, mas o fez com hesitação.

Como professores que estudam dinâmica de fluidos e aerossóis, acreditamos ser importante que as pessoas entendam os riscos e o que podem fazer para se proteger. (Nota do tradutor: No curso de Engenharia Mecânica da UNESP/Guaratinguetá, a disciplina Mecânica dos Fluidos fornece aos alunos as bases para a compreensão destes fenômenos. A disciplina também fundamenta outras disciplinas do curso em que são abordados sistemas de ventilação e ar-condicionado).

O que é um aerossol e como ele se espalha?

Aerossóis são partículas suspensas no ar. Quando os humanos respiram, falam, cantam, tossem ou espirram, as gotículas respiratórias emitidas se misturam no ar circundante e formam um aerossol. Como as gotículas maiores caem rapidamente no solo, os aerossóis respiratórios são frequentemente descritos como sendo feitos de gotículas menores, com menos de 5 micrometros de diâmetro, cerca de um décimo da largura de um fio de cabelo humano (Nota do tradutor: Um micrometro corresponde a um milímetro dividido por mil. A resolução do olho humano nos faz enxergar até 100 micrometros a olho nu, ou um décimo de milímetro).

Em geral, as gotículas se formam à medida que uma camada de líquido se rompe. Você provavelmente já experimentou esse fenômeno soprando bolhas de sabão. Às vezes, a bolha não se forma totalmente a partir da camada presa no círculo de arame, mas em vez disso se parte em muitas gotas.

Da mesma forma em nosso sistema respiratório, pequenas camadas e filamentos de líquido (muco) frequentemente se estendem ao longo das vias aéreas. Isso ocorre com mais frequência em locais onde as vias aéreas se abrem e fecham continuamente. Estes locais são: i) o interior dos pulmões, à medida que os bronquíolos e as bolsas alveolares se expandem e se contraem durante a respiração; ii) a laringe, quando as pregas vocais vibram durante a fala ; iii) a boca, quando a língua e os lábios se movem durante a fala. O fluxo de ar produzido pela respiração, fala e tosse rompe essas camadas de muco, exatamente como sopramos com força a camada de líquido quando tentamos fazer uma bolha de sabão.

O tamanho das gotículas varia com base em como e onde são produzidas nas vias respiratórias. Embora a tosse gere a maior quantidade de gotículas, uma pesquisa da Universidade da Califórnia Davis mostrou que apenas dois a três minutos de fala podem produzir tantas gotículas quanto uma tosse.

Outra pesquisa mostra que gotículas menores que 5 micrometros podem permanecer suspensas no ar por muitos minutos ou mesmo horas, porque o efeito da resistência do ar em relação à gravidade é grande. Além disso, o conteúdo de água das gotículas portadoras de vírus evapora enquanto estão no ar, diminuindo seu tamanho. Mesmo que a maior parte do fluido evapore de uma gotícula carregada de vírus, ela não desaparece; apenas se torna menor e, quanto menor for a gotícula, mais tempo permanecerá suspensa no ar. Como as gotículas de menor diâmetro são mais eficientes em penetrar profundamente no sistema pulmonar (de acordo com esta pesquisa), elas também apresentam um risco de infecção muito maior.

As diretrizes da OMS sugeriam que o vírus RNA encontrado em pequenas gotículas não era viável na maioria das circunstâncias. No entanto, pesquisa anterior sobre o vírus SARS-CoV-2 mostraram que ele é viável como aerossol por até 3 horas.

As máscaras protegem da transmissão de aerossóis?

Coberturas faciais e máscaras são absolutamente necessárias para proteção contra a transmissão de aerossóis. Eles servem a dois propósitos.

Primeiro, as máscaras filtram o ar expelido por um indivíduo, retendo as gotículas respiratórias e assim reduzindo o risco de exposição de terceiros. Isso é muito importante porque as máscaras são mais eficazes na captura de gotículas maiores, que têm mais chances de conter grandes quantidades de vírus. Isso evita que as gotas maiores afetem alguém diretamente ou evaporem para um tamanho menor, formando aerossóis (Nota do tradutor: Usar a máscara é um gesto de solidariedade, cidadania e respeito ao próximo, já que protege os outros muito mais do que quem a usa).

Máscaras também reduzem a velocidade do fluxo de ar que é produzido ao espirrar, tossir ou falar (veja este vídeo). Diminuir a velocidade do ar expelido reduz a distância que as gotículas são inicialmente transportadas para o ambiente da pessoa.

É importante perceber, no entanto, que a proteção fornecida pelas máscaras e coberturas faciais varia dependendo do material a partir do qual são construídas e como elas se encaixam no rosto. Mesmo assim, o uso de coberturas faciais para diminuir o risco de exposição no ar é fundamental.

Ficar a 1,8 metros de distância é suficiente para ficar seguro?

A recomendação de manter uma separação de 1,8 metros é baseada em um estudo de W. F. Wells (1934), em que se mostrou que uma gota de água expelida ou cai no solo ou evapora a uma distância de aproximadamente 1,8 metros. O estudo, entretanto, não levou em consideração o fato de que, após a evaporação da água em uma gota carregada de vírus, o núcleo virótico da gota ainda permanece, representando um risco de infecção pelo ar, de acordo com este estudo.

Consequentemente, manter distância de 1,8 m de outras pessoas reduz a exposição, mas pode não ser suficiente em todas as situações, como demonstrado nesse estudo em salas fechadas e mal ventiladas.

Como posso me proteger de aerossóis em ambientes fechados?

As estratégias para mitigar a exposição no ar são semelhantes às estratégias para permanecer seco quando está chovendo. Quanto mais tempo você ficar na chuva e quanto mais chover, mais molhado você ficará. Da mesma forma, quanto mais gotículas respiratórias você se expõe e quanto mais tempo você permanece naquele ambiente, maior o risco de contaminação. A atenuação do risco é, portanto, baseada na redução dos níveis de concentração de aerossol e do tempo de exposição.

As concentrações de aerossol podem ser reduzidas com o aumento da ventilação, embora a recirculação do mesmo ar deva ser evitada, a menos que o ar possa ser filtrado de forma eficaz antes da reutilização. Quando possível, abra portas e janelas para aumentar o fluxo de ar fresco.

Diminuir o número de fontes de emissão - pessoas - dentro de um espaço e garantir que coberturas faciais sejam usadas o tempo todo pode diminuir ainda mais os níveis de concentração.

Métodos de desativação do vírus, como luz ultravioleta germicida, também podem ser usados (Nota do tradutor: Foi desenvolvido um purificador de ar na UNESP/Guaratinguetá. Atestou-se que é altamente eficaz na eliminação de fungos e bactérias do ambiente. O próximo passo é atestar a eficácia na eliminação de vírus, especificamente do Sars-Cov-2).

Finalmente, reduzir a quantidade de tempo que você passa em áreas lotadas e mal ventiladas é uma boa maneira de reduzir o risco de exposição no ar.


O Dr. Luiz Fernando Reis é Bioquímico formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Microbiologia e Imunologia pela New York University School of Medicine. Pós-doutorado em biologia Molecular pela Universidade de Zurich. Foi pesquisador do Instituto Ludwig de Pesquisa Sobre o Câncer e dirigiu, por 10 anos, o Programa de Pós Graduação em Oncologia do Hospital A.C. Camargo. É Diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e Coordenador do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde do Hospital Sírio-Libanês.

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