A compreender o mercado de trabalho;
A conhecer o campo profissional e teórico em que os alunos estão ingressando;
A reconhecer a importância da atuação do profissional de Educação Física na formulação e execução de políticas de esporte e lazer.
Neste nosso terceiro capítulo, abordaremos os assuntos do mercado de trabalho e suas relações com a área de atuação. A abordagem parte do princípio de que o Mercado de Trabalho é responsável pelo desenvolvimento econômico e social do país e com várias formas existentes, sejam recompensados financeiramente ou simbolicamente, satisfazendo as necessidades de quem o exerce. Veremos como ele enfrenta oscilações constantes em sua oferta e procura e, dessa forma, a competitividade representa a motivação para a capacitação e desenvolvimento profissional.
Outra temática a ser explorada neste capítulo é sua relação com a área de atuação profissional em Educação Física do século XXI, que, de acordo com a própria historicidade, bem como as demandas impostas pelo mercado, depreendeu-se diversos campos de atuação.
É importante lembrar que o profissional de Educação Física deverá ter uma visão ampla do mundo que o cerca e que para manter a harmonia do corpo não basta trabalhar com a parte física, é preciso trabalhar também com a mental e social.
Mãos à obra!
A partir da revolução industrial, a relação entre as organizações e os trabalhadores adquiriu uma importância fundamental, sendo marcante na reação do mercado de trabalho.
Ele deve ser compreendido como um mecanismo de oferta e procura, baseando-se na troca de produtos, bens ou serviços objetivando atender as necessidades das duas partes, de forma que todos saiam satisfeitos. Uma das principais preocupações sobre a qualidade e desempenho do mercado é a formalização dos vínculos de trabalho, considerado um verdadeiro termômetro do crescimento econômico e social do país. Nesse sentido, o trabalho se torna exclusivo com a formação especializada e um diploma como garantia de serviços prestados à sociedade e estratégias de adesão e manutenção do emprego (OLIVEIRA, PICCININI, 2011).
O mercado de trabalho sofre constantes transformações, sendo extremamente dinâmico e exigindo adaptações dos profissionais e permanentes atualizações. Algumas características são fundamentais nessa competitividade, como conhecimento, agilidade, flexibilidade, pró-atividade, inovação e empreendedorismo, dentre outras. A competitividade representa a motivação para a capacitação e desenvolvimento profissional tanto para manter-se no emprego como para contribuir com o crescimento da organização. Assim, compreender o mercado de trabalho representa a aplicação dos esforços, pois sabe-se que o trabalho é fonte de sobrevivência do ser humano e busca-se continuamente compreender o Mercado de Trabalho para melhor aplicar esses esforços. A harmonia entre empresa e colaboradores é fundamental para um melhor rendimento e os empregados não devem visualizar o trabalho apenas para seu sustento, seu “ganha pão”, mas também como uma forma de realização pessoal, interação social e de se desafiar tentando alcançar seus objetivos (OLIVEIRA, 2007).
O mercado de trabalho na Educação Física ou em qualquer outra profissão sofre constantes mudanças e o profissional que deseja ingressar ou permanecer deverá ter competências específicas e manter-se atualizado. Essas competências estão atreladas às características que as organizações possuem, adquiridas através dos avanços tecnológicos (OLIVEIRA, 2011). As consequências entre a formação e a divisão do trabalho, como espaços assumidos pelas ocupações, são observadas no desenvolvimento da condição profissional e sua profissionalização.
A legislação vigente reconhece dois tipos de profissionais de Educação Física no Brasil: o primeiro é o diplomado Bacharel em Educação Física, que possui formação para atuar em academias, clubes, condomínios, ginástica laboral, preparador físico, treinamento desportivo, personal trainer, dentre outras áreas.
O campo de atuação é vasto, ficando sua atuação restrita a escolas, sejam públicas ou privadas e em qualquer nível de ensino. Isso é estabelecido pela resolução 7 de 2004 do CNE e definida pela resolução 046/2002 do CONFEF. Já o graduado em Licenciatura de Educação Física tem sua atuação direcionada para escolas de Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio). A definição dá-se pela Resolução 1 e 2 de 2002 do CNE e Resolução 7 de 2004 do CNE.
Atualmente, a Educação Física é descrita como área de conhecimento e de intervenção profissional com foco “nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, das lutas e da dança”, objetivando atender “as necessidades sociais no campo da saúde, da educação e da formação, da cultura, do alto rendimento esportivo e do lazer” (BRASIL, 2018, p.48).
Toda essa organização passou por diferentes mudanças ao longo do tempo e sua contextualização é necessária para entender o mercado de trabalho atual e sua evolução. A Educação Física, como profissão, surgiu com a necessidade de ampliação da educação no Brasil, uma base de conhecimentos condizentes, bem como a regulamentação profissional (BRASIL, 1998). Redimensiona especificidades dos campos de atuação no mercado de trabalho e como elas influenciam esse processo desde o século XIX até os dias atuais.
Diante das inúmeras oportunidades de atuação profissional da Educação Física, identificamos cinco campos que em muitos momentos se entrelaçam, destacando-se o educacional; o desportivo ou o da performance; o da saúde; o do lazer e da recreação; e o da gestão e do empreendedorismo (OLIVEIRA, 2014).
Até a década de 1990, mesmo com a proliferação de atividades no campo esportivo e do lazer, a principal alternativa para a atuação profissional foi o campo educacional considerado a própria base da Educação Física, pelo fato de “tudo começou na escola” como área de atuação, quer fossem eles legalmente delimitados ou não, o que acabou por conferir à área uma profunda identidade docente, trabalhando com a formação humana em diferentes faixas etárias (BAGNARA et al., 2010).
Isso se deve pela sua trajetória iniciada em 1882, quando Rui Barbosa demonstrou a importância dos conteúdos escolares na formação do estudante brasileiro, na intenção de conferir “disciplina” e “obediência”, além de preparar os alunos para o combate através do exercício.
Amparado pela situação da Educação Física em países mais adiantados socialmente e politicamente, como elemento fundamental para formação integral, conferindo equiparação salarial em relação aos professores de outras disciplinas. Diante desse cenário, observa-se que as aulas eram ministradas por profissionais de outras áreas, como militares, ex-atletas, médicos e profissionais da saúde, até porque o primeiro curso provisório em Educação Física no Brasil iniciou-se somente em 1910, com a duração de cinco meses (TOJAL, 2005).
Portanto, o campo educacional deve ser escolhido por aqueles que pretendem desenvolver ações no ambiente escolar, no aspecto educacional da formação do indivíduo social que se movimenta, capaz de se tornar um cidadão crítico e consciente daquilo que se faz com o próprio corpo nas mais variadas esferas do exercício físico, saúde e esporte (OLIVIERA, 2014).
O campo desportivo surgiu de um uma manobra do governo militar da época, seguindo exemplos de outros países denominadas políticas esportivistas, que tinham em comum desviar o foco através de políticas públicas que visavam investir maciçamente no esporte e nos atletas de alto nível, criando uma falsa impressão de que um país campeão esportivamente também representava uma nação saudável, feliz, próspera econômica e socialmente. No caso do Brasil, utilizou-se o futebol, transformando os atletas do tricampeonato mundial de futebol em verdadeiros heróis nacionais, deixando heranças culturais até hoje, pois a sociedade brasileira ainda os toma como os representantes mais legítimos de nossa nação. Não demorou muito para que as escolas adotassem nas aulas de Educação Física o esportivismo, detectando talentos e valorizando os alunos mais aptos à prática esportiva (OLIVEIRA, 2014).
Com esse fato, surgiu um novo campo de atuação para o profissional de Educação Física vinculados à performance, ao resultado, à vitória, ao rendimento e a todos os valores ligados à competição. Nessa fase, grandes nichos de atuação surgem através de uma demanda do mercado: o técnico de esporte, preparador físico, fisiologista, biomecânico, anatomista, avaliador físico, ou seja, um perfil que atua em clubes, escolas desportivas e demais entidades com atletas “profissionais” (OLIVEIRA, 2014).
Seguindo essa linha de tempo, em meados de 1970, percebe-se em outros países o aumento preocupante da obesidade e suas complicações, fazendo com que as pessoas fossem estimuladas a praticar exercícios físicos em casa ou qualquer ambiente. Dentre essas diretrizes e metodologias desenvolvidas para academias de ginástica e para o cidadão, citam-se a confecção de fitas videocassete que difundiram a ginástica aeróbica. Claramente, o fato de as atividades recomendadas no programa não serem orientadas e individualizadas para os objetivos e problemas de cada um não garantiram os resultados. Contudo, não se pode negar que esses fatos estimularam o mercado mundial de prática de exercícios físicos, impulsionando o mercado de academias de ginástica e, consequentemente, a crescente área para atuação do profissional de Educação Física (SABA, 2003).
Portanto, nesse campo de trabalho, as intervenções profissionais da área de Educação Física associam-se para minimizar os fatores de risco para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) relacionadas aos aspectos da saúde pública e qualidade de vida, surgindo os nichos de atuação: as próprias academias de ginástica, os hotéis, os spas, os clubes, as praças públicas, hospitais etc. Mercado e demanda se diversificam, a exemplo dos professores e instrutores de ginástica, de musculação, o personal trainer, o pilates, a ginástica laboral, o crossfit, a hidroginástica, as danças e o condicionamento físico (OLIVEIRA, 2012).
Ainda nessa perspectiva de promoção da saúde e qualidade de vida, em meados 1980 emergiu fortemente o campo do lazer e recreação, contemplando, também, o profissional de Educação Física, com exclusividade quando a atividade recreativa caracteriza-se como exercício físico. A vivência recreativa conduzida ou promovida por um profissional especialista ou instituição recreativa pode gerar um ganho adicional, intelectual, social, emocional, terapêutico, físico e ser ministrada por profissionais de Educação Física, além das áreas do turismo, da hotelaria, da fisioterapia, enfermeiros, músicos, recreadores com formação técnica ou até mesmo sem formação, palhaços, artistas etc. Trata-se de nicho extremamente rentável e carente de bons profissionais que poderá ser explorado pelos profissionais da Educação Física tanto do bacharelado como da licenciatura, desempenhando funções em hotéis, escolas, spas, instituições específicas, clubes, hospitais, áreas de lazer, de comércio, públicas etc. (OLIVEIRA, 2014).
O campo da gestão esportiva e do empreendedorismo em Educação Física teve sua origem com a transição do século XX para o XXI através de funções de gerenciamento, de direção, de gestão de pessoas e de recursos humanos, materiais e financeiros de academias, escolas, clubes e entidades prestadoras de serviços nas áreas do exercício físico, saúde, esportes, qualidade de vida ou de educação. Seu enfoque é promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o sucesso nos desafios de um mercado que oscila e no surgimento constantemente de novas tecnologias e materiais, na economia e em uma sociedade globalizada, exigente, com o profissional centrado no conhecimento científico da área (SABA, 2003).
Esse nicho cresceu absurdamente nos últimos tempos devido à procura da sociedade por qualidade de vida, prevenção de doenças e longevidade. Grande parte das pessoas buscam estúdios de treinamento personalizados, academias de ginástica e clubes esportivos a fim de ter o acompanhamento do profissional de Educação Física. Esse especialista deve estar capacitado para conseguir conquistar a meta desejada pela empresa ou comandar seu próprio negócio, sendo, geralmente, os administradores dessas instituições ex-professores ou técnicos que não possuem obrigatoriamente a qualificação necessária para sua função ou administradores sem um conhecimento mais aprofundado sobre a área de Educação Física. Diante disso, observamos que as principais competências do gestor esportivo devem ser: o conhecimento sobre sua área de atuação; habilidade de negociar; planejamento para antecipar e organizar as ações pretendidas; poder de decisão; aprender a lidar com críticas e sugestões; ter conhecimento da área legal e jurídica e ter habilidade para captar recursos (FERRAZ, 2010).
A ampliação das possibilidades de atuação na Educação Física em ambientes não tradicionais representa um desafio para o controle do trabalho entre os profissionais e não profissionais. Em algumas áreas ainda a serem mais exploradas, como hospitais, equipes multidisciplinares, em clínicas de reabilitação e em grupos especiais como o da terceira idade, pessoas com deficiências e outras já consolidadas da intervenção em contextos habituais, como nas academias de ginástica e nos clubes esportivos.
Ser ágil, ser aberto a mudanças e ter a capacidade de assumir riscos continuamente;
Ter flexibilidade às novas exigências do mercado;
Ampliar suas competências para além das tradicionais, com olhar para a educação continuada;
Compreender as atividades corporais em suas dimensões culturais, sociais e biológicas, extrapolando a questão da saúde;
Relacionar-se com as produções culturais que envolvem aspectos lúdicos e estéticos, deixando de ter como foco apenas o esporte ou os exercícios físicos voltados para uma perspectiva restrita à saúde ou à performance;
Entregar serviços confiáveis e de qualidade regular.
Fica evidente que a área do profissional de Educação Física deve estar atenta aos obstáculos para o acesso aos serviços dos seus profissionais, à sua competência e como promovem a saúde, à segurança, ao comando das questões que interessam aos usuários, e, do mesmo modo, a como essas questões dependem da construção de um sólido campo de atuação para os profissionais, capaz de conduzi-los entre os diferentes segmentos e o seu público. “É preciso reconhecer em todas as esferas, tanto formativa, normativa e de intervenção, que a profissionalização da Educação Física deve ser um projeto coletivo, um sistema interdependente, comprometido com as relações micro e macrossociais” (FONSECA, NETO, 2020).
BAGNARA ,I.C. MROGINSKI, L.R.N. BALSANELLO, A.P. Diferentes aspectos do mercado de trabalho em educação física, suas interfaces e formação profissional. Revista Digital. Buenos Aires. Ano 15, nº 145. Junho, 2010.
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______. Resolução nº 6, de 18 de dezembro de 2018. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Educação Física e dá outras providências. Conselho Nacional de Educação, Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2018-pdf/104241-rces006-18/file Acesso em: 17 set. 2022.
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