A HISTÓRIA DA MANUTENÇÃO, SEUS TIPOS E FORMAS DE GESTÃO
Prof. Miguel Afonso Flach
Nesta unidade temática, você vai aprender
Compreender a história da manutenção;
Compreender a evolução dos tipos de manutenção.
Introdução
A manutenção tem início nos primórdios da civilização. Cuidar do corpo humano é um tipo de manutenção, bem como lascar uma pedra ou afiar uma lança para melhor caçar animais.
O foco do nosso estudo será a manutenção desde a revolução industrial até os dias de hoje.
A manutenção no início era um aborrecimento a ser tolerado pelas indústrias, após, devido aos prejuízos causados por sua execução, teve sua importância sucessivamente sendo aumentada.
Após ser tratada com níveis de atenção próximos ao exagero, chegou em um ponto de equilíbrio, onde tem estado até então.
Vamos conhecer esta trajetória?
Onde tudo começou
Início da História da Manutenção
O ato dos antigos humanos, como visto na Figura 1, de afiar uma ponta de lança para a caça é um ótimo exemplo de manutenção com o domínio do fogo, o ser humano descobriu que aquecendo a ponta da lança ela ficava muitas vezes mais resistente. Depois, vieram outras épocas e ferramentas, como pedra polida, pedra lascada, idade do bronze e idade do ferro. Em cada uma delas, novas técnicas surgiram para manter as ferramentas e objetos em perfeito funcionamento.
Já em tempos mais recentes com a utilização de máquinas como torno e fresa na produção, intensificou-se a necessidade de ferramentas cortantes e sua afiação, de modo análogo aos antigos humanos que afiavam suas lanças periodicamente. Com a mecanização das indústrias e o surgimento da linha de produção de Henry Ford, surgiu a necessidade dos primeiros reparos nestas máquinas e, no início, a manutenção era deixada em segundo plano sendo executada pela mesma equipe de produção. Com o início da produção em série, conforme Figura 2, as fábricas passaram a perceber que a manutenção tinha importância vital na produção e assim especializar colaboradores para a função específica de manutenção.
Assim, surgiu um departamento diretamente subordinado ao setor de produção, cujo objetivo básico era de execução da manutenção de equipamentos quebrados, a chamada manutenção corretiva.
Todos sabemos as desvantagens da guerra e todas as coisas ruins vinculadas a ela. Paradoxalmente, observa-se uma evolução conseguida na indústria, como, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, que conseguiu aumentar significativamente a produção e a confiabilidade. Isso mostrou que só consertar quando estraga não era suficiente em vários setores da produção, principalmente os mais estratégicos e que paravam a linha de produção.
Então, a manutenção preventiva surgia não só para corrigir as falhas, mas também para tentar evitá-las, visto que no Japão, neste período, começava a se desenvolver mais fortemente o sistema Toyota de produção e sua necessidade de produzir mais, com menos recursos.
Reflita
Após a segunda guerra mundial, surge uma grande evolução tecnológica na aviação comercial, ramo automotivo e também na indústria eletrônica.
Nessa época, os equipamentos se tornaram mais complexos e difíceis de consertar. Surgiu então a engenharia de manutenção utilizando dados coletados da empresa toda para definir qual a solução mais se adequaria ao problema em questão. Esses dados puderam ser colocados em forma de gráficos e uma melhor visualização e entendimento foi possível. Com esses gráficos relacionando o indicador e o tempo, era possível prever quando a máquina iria chegar em um ponto inaceitável. Esses indicadores do estado da máquina podem ser, por exemplo, ruído, vibração, temperatura, potência, desgaste e qualquer propriedade que possa ser paulatinamente medida. Plotando essa propriedade em um gráfico em relação ao tempo, podemos notar um padrão de evolução e fazer uma previsão de como ela estará no futuro. Essa ferramenta matemática chamada extrapolação de curva, nos dá uma previsão razoavelmente assertiva de quando necessitamos fazer a manutenção. Surge então a manutenção preditiva.
Linha do tempo
Segundo Nakajima (1986), é apenas na década de 1950 que o termo manutenção consolida-se na indústria, nos Estados Unidos, surgindo:
1951, a Manutenção Preventiva (MP);
1954, a Manutenção do Sistema Produtivo (MSP);
1957, a Manutenção Corretiva com incorporação de Melhorias (MM).
Com a difusão dos computadores, o fortalecimento das Associações Nacionais de Manutenção e a sofisticação dos instrumentos de proteção e medição, a engenharia de manutenção passou a desenvolver critérios mais sofisticados de manutenção baseada em condições, estes foram unidos a sistemas automatizados de planejamento e controle, reduzindo os serviços burocráticos dos executantes de manutenção. Essas atividades acarretaram a divisão da engenharia de manutenção que passou a ter duas operações distintas: a de corretiva e a de planejamento e controle de manutenção – com o objetivo de desenvolver, implementar e analisar os resultados dos serviços de manutenção, utilizando-se um sistema informatizado para auxílio nas decisões.
Na década seguinte, 1960, aparecem:
Introdução da Prevenção de Manutenção, em 1960;
Engenharia da Confiabilidade, a partir de 1962;
Engenharia Econômica.
No início dos anos 70, foi levado em questão o envolvimento dos aspectos de custos no processo de gestão da manutenção. Esta técnica propunha a capacidade de combinar os meios financeiros, estudos de confiabilidade, avaliações técnicas econômicas e métodos de gestão, de modo a obter ciclos de vida dos equipamentos cada vez de maneira mais econômica. Essa nova postura é fruto dos novos desafios que se apresentam para as empresas nesse novo cenário de uma economia com competição global, onde as mudanças se sucedem em alta velocidade e a manutenção, como uma das atividades fundamentais do processo produtivo, precisa ser um agente proativo (KARDEC, 2002).
Ainda na década de 70, os japoneses criaram a Total Productive Maintenance – TPM, Manutenção Produtiva Total, envolvendo a equipe de produção que naquele momento se encontrava ociosa devido à quebra da máquina para execução de pequenos problemas de manutenção permitindo que o mantenedor fizesse análises mais técnicas dos equipamentos.
Nos anos 70, desenvolvem-se:
Incorporação dos conceitos das Ciências Comportamentais;
Desenvolvimento da Engenharia de Sistemas;
Logística e a Terotecnologia;
TPM – Manutenção Produtiva Total – na empresa japonesa Nippon Denso, em 1971.
Com o surgimento mais forte da informática nos anos 80, as áreas de manutenção passaram a desenvolver e processar programas específicos, melhorando o processamento das informações e reduzindo a dependência de técnicas intuitivas de seus manutentores para aumentar a disponibilidades de máquinas e equipamentos. No final da década de 80, com um mercado recessivo e menor que a capacidade produtiva das empresas, a manutenção afirmou definitivamente seu papel nas empresas, haja vista impactar diretamente na qualidade do produto final. Este reconhecimento foi acatado pela ISO, quando em 1993 revisa a série 9000 para incluir a função manutenção no processo de certificação dando, portanto, o reconhecimento da função manutenção na melhoria da qualidade, aumento da confiabilidade operacional, redução de custos e redução de prazos de fabricação e entrega, garantia da segurança do trabalho e da preservação do meio ambiente.
Na década de 1980, temos:
Fundação do JIPM (Japan Institute of Plant Maintenance);
Introdução do TPM no Brasil, em 1986.
Dias atuais
No final do século passado, a manutenção passou a ter uma importância em grau equivalente ao que já vinha sendo dado à Operação. Em consequência, passou a desempenhar importante função estratégica dentro da área de produção, através do registro das informações e da análise de resultados, auxiliando os gerentes de produção, operações e manutenção na tomada de decisão.
Na década de 1990, registra-se:
Introdução da Engenharia Mecatrônica;
Empresas brasileiras implantando o TPM.
Já a partir deste século, mais fortemente aparece a robótica e os problemas relativos à falta de mão de obra, em um país que se mostra pouco interessado em cursos técnicos a falta de profissionais eletrônicos, mecânicos especializados, robotistas e programadores era algo previsível.
Complexidade de seus processos e produtos. Além das exigências de custos e do mercado consumidor que dão origem à densidade tecnológica do setor, ainda há outros direcionadores:
Exigências ambientais;
Preocupações com segurança;
Busca pela diferenciação de produtos; e
Preocupação com a eficiência operacional dos veículos.
Mais do que qualquer outro elemento da manufatura, a tecnologia do processo define a natureza da operação. Miltenburg (2008) categoriza os fatores tecnológicos como níveis de manufatura ou subsistemas relacionados à estrutura da organização. Segundo o autor, esses níveis são naturais dos processos produtivos e se referem ao tipo de equipamento, à quantidade de automação, e às ligações entre as partes do processo de produção.
Para o processo tecnológico, Slack e Lewis (2008) argumentam que, mesmo nos tipos mais dominantes de tecnologia, sempre há um grau de escolha. Três dimensões devem ser analisadas:
Tamanho;
Grau de automação;
Grau de integração dos processos.
A automação, em qualquer tipo de processo, pode economizar em mão de obra, reduzir a variabilidade no sistema de manufatura. Normalmente, justifica-se a automação com base na economia de mão de obra, mas a diminuição na variabilidade do processo automatizado traz ganhos mais significativos.
A escolha tecnológica também deve ser adequada ao perfil do produto. A dinâmica dos novos produtos, bem como a diminuição do seu ciclo de vida, faz com que os Sistemas de Manufatura Flexível (FMS – Flexible Manufacturing System) sejam projetados para tal propósito, possibilitando que a troca de produtos (setups) se torne automática e independente do volume a ser produzido.
Referências
KARDEC, A.; NASCIF, J. Manutenção: Função Estratégica. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
MILTENBURG, J. Setting manufacturing strategy for a factory-within-a-factory. Int. Journal Production Economics, v. 113, p. 307–323, 2008.
NAKAJIMA, SEICHI. Introdução ao TPM Total Productive Maintenance. São Paulo: Impresso pela IMC International, 1986.
SLACK, N.; LEWIS, M. Operations strategy. 2. ed. Harlow: FT Prentice Hall, 2008.
Créditos
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra