A identificar as características dos relatórios financeiros;
Os objetivos e limitações dos relatórios financeiros,
Os princípios contábeis e seu legado para a contabilidade.
No presente capítulo, vamos falar sobre os conceitos iniciais constantes na estrutura conceitual da contabilidade. Esses conceitos são fundamentais para que o futuro profissional possa levantar relatórios financeiros para propósitos gerais, ou seja, aqueles que não estão relacionados com exigências regulatórias específicas, como normas do Conselho Monetário Nacional ou Agência Nacional de Saúde Suplementar.
As Demonstrações Contábeis são partes desses relatórios, mas para levantar essas demonstrações é necessário entender quem serão os usuários dessas demonstrações, bem como quais as características que devem constar nelas.
Informar é o propósito de qualquer relatório financeiro, mas para isso ser atingido é necessário conhecer os pressupostos, e isso não vem com o advento do Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Durante muitos anos, esses pressupostos básicos foram conhecidos como Princípios Contábeis, que foram revogados e até hoje são referências para alguns profissionais. Embora eles tenham sido revogados na forma, seu legado é perfeitamente identificável na estrutura conceitual, por isso, ao final do capítulo, também revisaremos esses princípios que foram tão importantes como base da informação contábil no Brasil.
Bons estudos.
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado em 2005, por meio da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) no 1.055/05 e é composto pelas seguintes entidades:
Associação Brasileira das Companhias Abertas - ABRASCA
Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais - APIMEC
Bolsa Brasil Balcão - B3
Conselho Federal de Contabilidade - CFC
Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras - FIPECAFI
Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - IBRACON
O objetivo do CPC é o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira (CFC, CVM, Susep e Bacen, por exemplo), visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.
O CPC possui uma série de pronunciamentos contábeis e podemos citar como exemplo o CPC 00 (Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro), e o CPC PME (Contabilização para Pequenas e Médias Empresas com Glossário de Termos).
A estrutura conceitual constante no CPC 00, que é a base deste tema, guarda a normativa basilar e estrutural para emissão de relatórios financeiros, mas, além disso, a estrutura conceitual tem ainda as seguintes funções: difusão das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) através da disseminação de conceitos contábeis consistentes; auxílio àqueles que elaboram os relatórios financeiros para desenvolver políticas contábeis consistentes quando não se tem outro pronunciamento de referência além de auxiliar todos os interessados no entendimento e interpretação dos demais Pronunciamentos.
A razão para o levantamento de um conjunto de demonstrações contábeis, que a norma chama de relatório financeiro para fins gerais, é basicamente simples: fornecer informações sobre determinada empresa para os seus interessados, que podem ser, credores, órgãos governamentais, investidores e demais tomadores de decisão.
Cabe aqui destacar que os relatórios financeiros para fins gerais não se destinam a apresentar o valor da empresa que divulga, mas fornecem informações para auxiliar investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, a estimar o valor da entidade que reporta.
Outro conceito fundamental é o de usuários primários individuais, que são a grande maioria dos usuários dos relatórios financeiros, e possuem necessidades e desejos de informação múltiplos. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis ao desenvolver os Pronunciamentos, busca fornecer um conjunto de informações que atenda às necessidades do maior número de principais usuários. Contudo, concentrar-se em necessidades de informação ordinárias não impede que a entidade que reporta inclua informações adicionais que sejam mais úteis para um outro grupo específico de usuário com necessidades mais específicas.
Relatórios financeiros, também fornecem informações sobre a posição financeira e econômica da empresa que divulga, além de fornecer ainda informações sobre os efeitos de transações e outros eventos que possam modificar a dinâmica financeira econômica.
É nesse ponto que está centrado um dos pilares da contabilidade, o Regime de Competência, que reflete os efeitos de transações e outros eventos da entidade que reporta nos períodos em que esses efeitos ocorrem, ainda que os pagamentos e recebimentos à vista resultantes ocorram em período diferente.
As características qualitativas de informações financeiras são os tipos de informações que tendem a ser mais úteis para que os usuários possam tomar decisões sobre a entidade que reporta com base nas informações contidas em seu relatório financeiro.
As informações financeiras para cumprir seu papel devem ser relevantes e representar fidedignamente aquilo que pretendem representar. O grau de utilidade dos relatórios financeiros pode ser aumentado se forem comparáveis, verificáveis, tempestivas e compreensíveis.
Perceba, portanto, que há divisão das informações financeiras úteis em fundamentais e de melhoria. Vamos falar um pouco sobre cada uma delas, iniciando pelas características fundamentais.
Só é informação útil a que faz diferença para o usuário. Ser relevante significa que o relatório deve conter informação com capacidade de influenciar decisões, e essa influência só ocorre se as informações tiverem valor preditivo ou valor confirmatório, ou ambos.
Informações que podem ser utilizadas pelos usuários para estimar resultados futuros, já valor confirmatório é aquele tipo de informação que confirma ou altera estimativas anteriores.
Além de ser relevante, a informação financeira deve refletir a realidade de forma fiel e para representação perfeitamente fidedigna a realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro.
Agora vamos estudar as características de melhoria, aquelas que aumentam a qualidade da informação financeira:
Comparabilidade é a característica qualitativa que permite aos usuários identificar e compreender similaridades e diferenças entre itens. Diferentemente das outras características qualitativas, a comparabilidade não se refere a um único item. A comparação exige, no mínimo, dois itens, que é o caso quando publicamos os relatórios financeiros referente a dois exercícios.
Significa que diferentes observadores bem informados com as informações disponíveis, ainda que independentes, podem chegar ao consenso, embora não a acordo necessariamente completo, de que a representação específica é representação fidedigna.
É o fato de disponibilizar informações aos tomadores de decisões a tempo para que sejam capazes de influenciar suas decisões. De modo geral, quanto mais antiga a informação, menos útil ela é.
A correta classificação, caracterização e apresentação auxilia na compreensão das informações do reporte financeiro.
Antes de citarmos os conceitos sobre as demonstrações contábeis, importa explicar sobre a Premissa da Continuidade, pois todas as demonstrações contábeis são normalmente elaboradas com base na suposição de que a entidade que divulga está em continuidade operacional e continuará em operação no futuro previsível. Caso exista essa intenção ou necessidade, as demonstrações contábeis podem ter que ser elaboradas em base diferente.
O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações financeiras sobre os ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas e que elas sejam úteis aos usuários das demonstrações contábeis na avaliação das perspectivas para futuros fluxos de entrada de caixa líquidos para a entidade que reporta e na avaliação da gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos da entidade.
O balanço patrimonial, pelo reconhecimento de ativos, passivos e patrimônio líquido;
A demonstração do resultado ao reconhecer receitas e despesas; e
Em outras demonstrações e notas explicativas.
Conforme já dito, em aderência à característica de comparabilidade as demonstrações contábeis também devem conter informações comparativas de, pelo menos, um período de relatório anterior.
Os elementos das demonstrações contábeis definidos no CPC 00 são os seguintes:
São recursos econômicos controlados pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem benefícios econômicos futuros.
São obrigações presentes da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados.
Participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus passivos.
Se referem ao desempenho financeiro da entidade que reporta.
Conhecer as definições é fundamental para classificação e reconhecimento, afinal somente itens que atendem à definição de ativo, passivo ou patrimônio líquido devem ser reconhecidos no balanço patrimonial, e somente itens que atendem à definição de receitas ou despesas devem ser reconhecidos na demonstração do resultado.
O reconhecimento é o processo de entendimento das informações e inclusão no balanço patrimonial (BP), na demonstração do resultado do exercício (DRE). Resumidamente, é reconhecer o valor contábil, classificá-lo e inseri-lo no seu devido lugar na demonstração financeira.
Para inserir uma informação nas demonstrações, é necessário mensurá-la em valor monetário. Para isso existem conceitos sobre a mensuração que é dada mediante o custo histórico do ativo ou do passivo e suas respectivas receitas e despesas, sendo assim, utilizam o preço da transação ou outro acontecimento (evento) que deu origem ao dado registrado. Também pode ser registrado pelo valor de mercado e a chave de escolha é o que for de menor valor.
Antes dos conceitos constantes na Estrutura Conceitual, o arcabouço para levantamento das demonstrações financeiras era a Resolução CFC n. 750/93, que versava sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, a saber:
O princípio da entidade versava que o patrimônio da entidade não se confunde com o patrimônio dos sócios.
Afirmava que as demonstrações contábeis devem ser levantadas com a expectativa de que a entidade seguisse sua marcha operacional.
Os registros contábeis devem ser registrados sempre que ocorridos de forma tempestiva.
As transações devem ser registradas pelo valor original, em moeda corrente nacional.
As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período período em que ocorrerem, ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento.
O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do Ativo e do maior para os do Passivo.
Os princípios contábeis exerceram um papel importante na história da contabilidade do Brasil e, como podemos ver, eles continuam presentes dentro da estrutura conceitual do CPC 00 ainda que não tenham o mesmo nome, mas seu legado é perfeitamente identificável.
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