O que são recursos ergogênicos nutricionais;
Quais as subcategorias dos recursos ergogênicos;
Quais os principais suplementos alimentares disponíveis e quais as suas ações no organismo.
Quem nunca entrou em alguma farmácia e não se deparou com prateleiras lotadas de suplementos alimentares? Há alguns anos, essa é uma realidade que vivemos e que muitas vezes geram dúvidas quanto às suas composições, procedências e, principalmente, nos faz pensar se os usuários, e quem vende, têm conhecimento da composição desses produtos e quem deve utilizá-los.
Neste capítulo, discutiremos melhor esse assunto e sanaremos algumas dessas dúvidas para que possamos melhor orientar nossos alunos/pacientes/atletas.
No sentido literário da palavra, recurso significa “ato de recorrer”, ou “invocação de auxílio”, enquanto que o termo ergogênicos é derivado das palavras gregas ergo que significa trabalho e gene, que significa produção. Portanto, um recurso ergogênico é um auxílio na produção de trabalho e, neste caso, o trabalho pode ser entendido como o desempenho físico/esportivo visando saúde, estética ou performance.
Os recursos ergogênicos nutricionais são comercialmente conhecidos como suplementos alimentares. O termo “suplemento” também tem um significado que deve ser muito bem compreendido que é “suprir algo que está FALTANDO”, ou seja, será que todos os praticantes de exercícios físicos precisam suplementar? Provavelmente não, e essa avaliação deve ser feita por um nutricionista, que avaliará a alimentação do indivíduo e, caso seja necessário, recomendará a suplementação do macro ou micronutriente em déficit.
Embora atualmente os suplementos alimentares já tenham se tornado ferramenta indispensável tanto para desportistas profissionais quanto para praticantes regulares de exercícios físicos, o assunto ainda gera uma certa polêmica e dúvidas quanto aos benefícios e, principalmente, às recomendações, dosagens e escolha do suplemento mais apropriado para cada caso.
Os recursos ergogênicos podem ser classificados quanto a sua ação em diretos e indiretos, conforme esquema abaixo.
Pela legislação brasileira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) inclui os ergogênicos como suplementos alimentares enquadrados na categoria de alimentos utilizados por praticantes de atividade física regulamentados pela Portaria 222/98 do Ministério da Saúde.
Repositores hidroeletrolíticos (bebidas energéticas);
Repositores energéticos;
Alimentos proteicos;
Alimentos compensadores;
Aminoácido de cadeia ramificada.
Fica claro que os suplementos em nenhum momento visam substituir a alimentação normal das pessoas e muito menos o treinamento. Sua contribuição está relacionada à ingesta adequada de nutrientes necessários ao organismo. Esses produtos também são indicados para praticantes de atividades físicas e atletas como aditivo para melhorar o desempenho e encurtar o tempo de recuperação muscular, não podendo substituir a alimentação. Os suplementos alimentares ou dietéticos são normalmente vendidos na forma de comprimidos, cápsulas, cápsulas gelatinosas, líquidos, pós e barras. São preparações destinadas a complementar a dieta e fornecer nutrientes, como vitaminas, minerais, fibras, ácidos graxos ou aminoácidos, que podem estar faltando ou não podem ser consumidas em quantidade suficiente na dieta de uma pessoa.
Agindo como estimulante central ou periférico do sistema nervoso;
Ex: cafeína, anfetaminas.
Aumentando o armazenamento ou a disponibilidade de algum substrato limitado. Ex: carboidrato, creatina, carnitina;
Agindo como fonte de combustível suplementar. Ex: triacilgliceróis;
Reduzindo ou neutralizando os coprodutos metabólicos inibidores do desempenho. Ex: bicarbonato de sódio;
Facilitando a recuperação. Ex: carboidrato de alto índice glicêmico e aminoácidos.
A partir desses efeitos, espera-se que o indivíduo/atleta consiga suportar maiores intensidades e volumes de treinamento, gerando adaptações importantes como a hipertrofia muscular, aumento da velocidade e potência e, inclusive, na profilaxia de lesões.
A realização de exercícios aumenta a produção de calor, de modo que o organismo precisa acionar mecanismos para eliminá-lo. Uma das formas de manter o equilíbrio térmico é através da sudorese, implicando na perda de água e eletrólitos pelo organismo. Através da produção excessiva de suor, perdemos inúmeros minerais, dentre eles o SÓDIO.
Repor a água perdida durante o exercício pela sudorese;
Fornecer substratos energéticos para a realização do exercício;
Repor os eletrólitos perdidos juntamente com a água.
Em atividades com duração superior a 30 minutos, os repositores hidroeletrolíticos são mais eficazes do que a água, pois com a concentração de até 8% de eletrólitos e CHO são absorvidos tão rapidamente quanto a água pura, além de estimular significativamente a absorção intestinal de fluidos, reduzindo a diurese em comparação com a água.
São produtos formulados com nutrientes que permitam o alcance e ou manutenção do nível apropriado de energia para atletas. Devem apresentar na sua composição no mínimo 90% de CHO. Normalmente, são consumidos antes e após os treinamentos e competições, visando manter os estoques de glicogênio muscular, o que interfere positivamente na performance, principalmente de exercícios de endurance prolongados e com intensidade intermediária.
A ingesta de CHO pré-treino e/ou competição merece atenção, pois há necessidade de aguardar o nível glicêmico se estabilizar para que o pico de insulina não coincida com o exercício físico, podendo promover uma hipoglicemia de rebote. Portanto, quanto mais próximo do treinamento ou de uma competição, a quantidade a ser ingerida deve ser menor.
Alguns exemplos de suplementos repositores energéticos:
Ao contrário do que ocorre com os CHO e lipídios, as proteínas não são uma fonte significativa de fornecimento de energia durante o exercício. Mesmo em situações em que essa utilização é máxima, estima-se que a contribuição total desse nutriente para o exercício não ultrapasse 5-15% do total calórico gasto.
No caso de exercícios intensos com sobrecarga, acredita-se que a contribuição seja menor ainda. No entanto, as proteínas continuam sendo um elemento vital para a promoção bem-sucedida do processo de hipertrofia muscular em decorrência do exercício com sobrecargas.
A principal contribuição das proteínas não ocorre durante o exercício, mas no período de recuperação. Pesquisas demonstraram que em indivíduos envolvidos em treinamento de força ocorreu aumento de síntese proteica, quando o consumo de proteínas passou de 0,9 para 1,4 g/kg/dia.
Há observações de que indivíduos com histórico familiar de problemas hepáticos e dos rins podem apresentar reações adversas ao consumo de proteínas. Portanto, uma boa avaliação das funções hepática e renal faz-se necessária antes de decidir por iniciar uma suplementação com esse macronutriente.
Doenças como gota podem ser agravadas pelo consumo excessivo de proteínas, uma vez que essa prática pode aumentar a deposição de ácido úrico nas articulações. Algumas pesquisas sugerem que, se a ingestão excessiva de proteínas fizer parte de uma dieta energeticamente desbalanceada, podem surgir problemas de diminuição do conteúdo de cálcio nos ossos.
Em inúmeras situações, o consumo excessivo de proteínas é realizado por meio de alimentos de origem animal. Com isso, também se eleva o consumo de gordura saturada e colesterol. Diante dessa realidade, a suplementação com proteínas pode ser uma ótima alternativa, pois nesse caso pode-se consumir apenas a proteína de forma concentrada e sem aumentar o consumo de lipídios e CHO, além de facilitar a digestão e acelerar o processo de absorção.
Seguem alguns dos principais suplementos de proteínas consumidos atualmente:
Carboidratos: abaixo de 90%;
Proteínas: do teor de proteínas presente no produto, no mínimo 65% deve corresponder à proteína de alto valor biológico;
Gorduras: do teor de gorduras, a relação de 1/3 gordura saturada, 1/3 monoinsaturada e 1/3 poliinsaturada;
Opcionalmente, esses produtos podem conter vitaminas e ou minerais.
São produtos compostos por maiores teores de carboidratos, médios teores de proteínas e lipídios e que contêm vitaminas e minerais. Os hipercalóricos, como também são chamados, fornecem calorias e energia, indicados para adequar os nutrientes à dieta.
A sua suplementação tem sido muito estudada em função do papel desses aminoácidos (leucina, isoleucina e valina) na instalação do quadro de fadiga central durante o exercício prolongado. Sua menor concentração plasmática favorece a entrada do triptofano-livre no SNC, levando à geração de 5 hidroxi-triptaminas, precursor da serotonina. Esta, por sua vez, é um dos principais neurotransmissores envolvidos no processo de fadiga central.
O aumento na concentração de insulina, glicose e aminoácidos circulantes favorece o músculo esquelético com maior disponibilidade de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), aumentando assim a complexa síntese de proteínas miofibrilares.
Sendo assim, praticantes tanto de exercícios aeróbios quanto de força utilizam os aminoácidos para manter o metabolismo energético, principalmente pela oxidação de leucina durante a realização de exercícios físicos.
Após, essa rápida explanação sobre os principais recursos ergogênicos alimentares ou, simplesmente, suplementos alimentares, cabe ressaltar que independentemente da classe de nutrientes a qual pertença, ele só será necessário caso haja carência ou dificuldades em conseguir tais nutrientes pela alimentação tradicional e que cabe a um profissional de nutrição esportiva fazer tal avaliação.
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Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduim