ELEMENTOS MINERAIS, HÍDRICOS E EXERCÍCIO FÍSICO

Prof. Fabiano Moraes Miguel

Nesta unidade temática, você vai aprender

Introdução

Você já parou para pensar o quanto de energia você gasta durante as 24h do seu dia? Realmente essa tarefa não é muito simples mas é extremamente importante, para que possamos realizar ajustes na nossa alimentação. 

Nosso organismo é uma máquina eficiente mas que requer energia para realizar todas as funções, inclusive a digestão dos alimentos para obter os nutrientes necessários para gerar energia, ou seja, mesmo dormindo gastamos energia. 

Neste capítulo iremos discutir como é possível calcular o gasta energético durante o exercício físico e as demais tarefas do dia-a-dia, como limpar a casa ou cortar a grama. 

Portanto, papel, caneta e calculadora na mão, pois temos muito trabalho pela frente!

GASTO ENERGÉTICO DURANTE A ATIVIDADE FÍSICA/EXERCÍCIO FÍSICO

A atividade física e o exercício físico interferem de forma importante no dispêndio (gasto) energético diário. As atividades físicas diárias são responsáveis por algo em torno de 15 a 30% do gasto energético diário total (GEDT) de uma pessoa. Exercícios que envolvam grandes grupamentos musculares como, por exemplo, a natação, corrida e o ciclismo, podem aumentar o gasto energético em até 10x se comparado ao gasto energético de repouso.

Além do envolvimento em atividades físicas recreativas e laborais, o efeito térmico do alimento também influencia no GEDT e corresponde ao aumento do metabolismo energético necessário para a realização dos processos de digestão, absorção e assimilação dos nutrientes. Essa demanda irá variar dependendo do tipo e da quantidade de alimento ingerido e normalmente alcança o pico uma hora após o momento da refeição. Uma refeição rica em proteínas, por exemplo, costuma induzir um efeito térmico que costuma atingir 25% do valor calórico ingerido na refeição.

Portanto, o GEDT (Figura 1) representa toda a energia dispendida ao longo das 24h do dia e representa a soma entre a TMB e repouso, das influências termogênicas (efeito térmico dos alimentos) e da energia dispendida durante atividades físicas/exercícios físicos. Fatores ambientais como temperatura baixa e período de gestação, também influenciam o GEDR e, consequentemente, o GEDT. 

FIGURA 1: Percentuais aproximados de contribuição do GEDT. 

Todas as atividades cotidianas, como escovar os dentes ou varrer a casa, requerem energia e, portanto, influenciam no GEDT e podem ser medidas através do consumo de oxigênio e pela própria frequência cardíaca (FC). 

MET

Esse termo significa taxa metabólica da tarefa e é determinado através da relação entre o consumo e oxigênio por quilo corporal por minuto, onde cada litro de oxigênio consumido corresponde a 5 kcal despendidos. Dessa forma, a intensidade das atividades físicas pode ser classificada dentro de cinco níveis: leve, moderado, pesado, muito pesado e excessivamente pesado. Esses níveis ainda apresentam diferenças entre homens e mulheres.

Fique de olho!

Para chegar aos valores do MET, mediu-se o consumo de oxigênio (Figura 1) de repouso de diversos indivíduos e, então, se estabeleceu uma média de referência populacional em consumo de oxigênio por quilo, peso e minuto.  O valor encontrado de 3,5 ml/kg/min é o que se convencionou chamar de MET. A partir disso, as atividades físicas podem ser classificadas em relação ao número de METs, ou seja, quanto de aumento em relação ao repouso essa atividade representa. 

A partir da taxa metabólica atribuída a determinada atividade, o gasto calórico pode ser calculado da seguinte maneira: 

Por exemplo, uma pessoa de 75 kg que corre por 1 hora diariamente em uma velocidade aproximada de 17 km/h pode perder até 1.350 calorias. O cálculo utilizado nesse caso foi:

GASTO CALÓRICO = MET x PESO CORPORAL x TEMPO DA ATIVIDADE

Onde:

1.    MET para corrida nessa intensidade = 18;

2.    Peso do indivíduo = 75 kg;

3.    Tempo da atividade = 1 hora.

Gasto calórico = 18 X 75 x 1 = 1.350 calorias, aproximadamente.

Quando não é possível estimar o consumo de oxigênio, uma alternativa é fazer a correlação com a frequência cardíaca, pois o aumento de ambos se mostra linear durante uma ampla gama de intensidades do exercício aeróbio. Através do entendimento dessa relação, a frequência cardíaca do exercício proporciona uma estimativa de captação de oxigênio e, consequentemente, do dispêndio de energia, e, dessa maneira, através do comportamento da FC, pode-se encontrar a MET correspondente e, consequentemente, o gasto calórico. 

Efeito da Massa corporal no dispêndio de energia

O tamanho corporal costuma desempenhar um papel importante nas demandas energéticas do exercício. Essa relação entre gasto energético e peso corporal existe em exercícios em que o peso corporal é sustentado, como na caminhada ou corrida. Nesses casos, a relação é tão significativa que é possível calcularmos o gasto energético quase com exatidão. Já no ciclismo e natação existe pouca relação, pois o gasto energético não está diretamente condicionado à sustentação do peso corporal. Dessa forma, pessoas que pesam mais gastam mais energia do que aquelas que pesam menos durante a realização de exercícios que envolvam a sustentação corporal.  

Seguindo o mesmo raciocínio, atividades/exercícios que envolvam maiores grupamentos musculares apresentam maior custo energético, proporcional ao maior volume de oxigênio captado. Obviamente, a intensidade da atividade/exercício também irá influenciar no gasto energético, assim como a composição corporal, pois indivíduos com mais massa muscular apresentam maior gasto energético, pois o músculo esquelético consumo aproximadamente 18% do total de energia gasta durante o repouso. Durante o exercício intenso, o gasto energético da musculatura esquelética ativada pode aumentar em até 100 vezes em relação ao repouso.

Não à toa, alguns autores estimam o gasto energético em repouso a partir do peso isento de gordura (PIG), sendo necessário, portanto, avaliar a composição do indivíduo. Então, é correto afirmar que a manutenção da massa muscular e, inclusive, o seu aumento, é de extrema importância para o controle do peso corporal, pois menos massa muscular acarretará em menor gasto energético, o que pode contribuir para o acúmulo de gordura corporal, caso a ingesta calórica esteja superior ao gasto.

Na tabela abaixo, podemos observar a diferença no dispêndio de energia em diferentes pesos corporais em algumas atividades recreativas. 

Adaptado de McArdle, 2013. 

QUOCIENTE RESPIRATÓRIO (QR)

Além de podermos estimar o dispêndio de energia durante o repouso, atividades recreativas e físicas, é possível, ainda, conhecer a origem dessa energia despendida, ou seja, de qual substrato energético ela teve origem. Essa identificação é possível, pois a produção de CO2 por unidade de O2 consumido varia de acordo com o tipo de substrato devido às diferenças químicas na composição de carboidratos, gorduras e proteínas. O QR corresponde à relação da troca gasosa metabólica da seguinte maneira: 

QR = CO2 produzido ÷ O2 consumido

A oxidação completa de uma molécula de glicose requer seis moléculas de oxigênio e produz seis moléculas de dióxido de carbono e de água, portanto o QR é 1,00. As gorduras possuem mais átomos de hidrogênio e de carbono do que átomos de oxigênio, consequentemente, o metabolismo da gordura requer mais oxigênio em relação à produção de dióxido de carbono, sendo assim, o QR do ácido palmítico (ácido graxo típico) fica em torno de 0,696. As proteínas requerem mais oxigênio em relação ao dióxido de carbono produzido e o valor geral do QR para as proteínas é de 0,82.

Existe ainda para cada QR um valor calórico correspondente por litro de oxigênio consumido, podendo ser utilizado para determinar o dispêndio de energia durante o exercício.

Após termos visto o valor calórico dos alimentos no capítulo anterior e após o entendimento do quanto gastamos  de energia ao longo do dia, podemos melhor entender o conceito sobre balanço energético (Figura 2), e o que isso significa para a nossa composição corporal e, consequentemente, para a nossa saúde. 

Figura 2: Balanço energético 

Referências

MCARDLE, W. D.; KATCH. I & KATCH V. L. Fisiologia do exercício energia nutrição e desempenho humano. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 1061 p., il.

POWERS, S.; HOWLEY, E. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e desempenho. 5ª ed. São Paulo: Manole, 2005. xxi, 576 p., il.

SOUZA JUNIOR, Tácito Pessoa de. Suplementação Esportiva: auxílios ergogênicos nutricionais no esporte e exercício / Tácito Pessoa de Souza Junior, Benedito Pereira - São Paulo: Phorte, 2012.

TIRAPEGUI, J. Nutrição – fundamentos e aspectos atuais. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2012. 

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 5ª ed. Barueri: Manole, 2013. 620 p., il. 

Créditos

Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado

Design Instrucional: Gabriela Rossa

Diagramação: Vinicius Ferreira

Ilustrações: Rogério Lopes e Lucas Dias

Revisão ortográfica: Ane Arduim