ARTROLOGIA

Prof. Reni Volmir dos Santos

Neste capítulo, você vai aprender

  • Os tipos de articulações;

  • Os componentes das articulações;

  • As articulações conforme suas funções.

Introdução

Neste quarto tema, será abordado o assunto referente à artrologia. Inicialmente, serão apresentados os tipos de articulações para que assim se compreendam suas características e também a descrição e função das estruturas.

Na sequência, serão descritas as articulações com ênfase nas estruturas-chave.

A sindesmologia ou artrologia é a parte da anatomia que trata das articulações.

Articulação é o conjunto de partes moles e duras que servem como meio de união entre dois ou mais ossos próximos.

Podem ser classificadas quanto à dinâmica, em 3 classes: móveis, semimóveis e imóveis. As móveis são as junturas sinoviais ou diartroses; as semimóveis são as anfiartroses e as imóveis, as sinartroses.

As diartroses apresentam 7 gêneros:

  1. Esferóide ou enartrose: quando de um lado há uma superfície esférica (cabeça) articulando-se numa cavidade correspondente. Ex.: articulação do quadril e ombro;

  2. Condilar ou condilartrose: de um lado, encontra-se uma superfície saliente, alongada em um dos sentidos, que recebe o nome de côndilo, a qual se articula com a componente cavidade do outro osso. Ex.: articulação temporomandibular, do joelho e metacarpofalangeanas;

  3. Elipsoide: uma das superfícies é saliente e tem um dos eixos alongados, porém seus movimentos se realizam no sentido dos dois eixos (ântero-posterior e látero-medial). Ex.: articulação radiocárpica;

  4. Gínglimo ou trocleartrose: na extremidade de um dos ossos, encontra-se uma tróclea e no outro encontram-se acidentes correspondentes. Ex.: articulação úmero-ulnar (cotovelo) e interfalangeana;

  5. Trocoide: um cilindro ósseo como um pino gira dentro de um anel ósteo-fibroso. Ex.: articulação rádio-ulnar proximal;

  6. Selar ou por encaixe recíproco: várias superfícies côncavas e convexas correspondendo a superfícies convexas e côncavas do osso vizinho. Ex.: articulação calcaneoculboídea;

  7. Planas ou artróidias: são duas superfícies planas ou quase planas que se articulam. Ex.: processos articulares das vértebras cervicais.

As anfiartroses são classificadas em dois tipos.

  1. Junturas sinfibrocondrose simples ou anfiartroses típicas: encontra-se uma fibrocartilagem em forma de interpondo-se às superfícies ósseas. Ex.: articulação dos corpos vertebrais entre si;

  2. Junturas sinfibrocondrosecavitária ou diartroanfiartrose: verifica-se a presença de um esboço de cavidade articular. Entre as superfícies ósseas, dispõe-se um disco fibrocartilagíneo perfurado. Ex.: sínfise púbica.

As sinartroses são divididas em:

  1. Junturas fibrosas: apresentam 3 gêneros fundamentais:

    • Suturas: o tecido fibroso pequeno se interpõe entre os ossos. Ex.: articulações da cabeça, com exceção da articulação temporomandibular;

    • Sindesmose: encontra-se quantidade de tecido conjuntivo interposto às extremidades ósseas. Ex.: articulação tíbio-fibular inferior;

    • Gonfose: ex.: dentes na cavidade alveolar.

  2. Junturas cartilagíneas ou sincondrose: são as que apresentam tecido cartilagíneo interposto às extremidades ósseas, que vão se ossificando. Ex.: articulação do esfenoide com o occipital.

ELEMENTOS ARTICULARES

As articulações podem apresentar todos, ou somente alguns dos seguintes elementos:

  1. Superfícies articulares: são as superfícies dos ossos que entram em relação, em contato com o osso vizinho. De um modo geral, sempre que em um osso há uma saliência, no outro há uma depressão para a devida correspondência;

  2. Cartilagem articular: as articulações móveis são revestidas por tecido cartilaginoso do tipo hialino (cartilagem uniforme e transparente);

  3. Fibrocartilagem marginal: em diartroses do tipo esferoide, encontra-se, ao lado da superfície côncava, uma fibrocartilagem, que se dispõe no contorno da superfície óssea representando como que uma moldura, e com isso ampliando consideravelmente a área articular;

  4. Discos (meniscos ou fibrocartilagens intra-articulares): são elementos anatômicos que se destinam a proporcionar o perfeito ajuste das superfícies ósseas;

  5. Cápsula articular: é o principal ligamento das articulações móveis. Forma um verdadeiro manguito que se prende pelas aberturas das extremidades dos dois ossos que se articulam;

  6. Ligamentos: extracapsulares e intracapsulares. Os ligamentos extracapsulares podem ser de dois tipos: ligamentos de reforço ou acessórios (são os que justapõem à cápsula articular para reforçá-la) e ligamentos a distância (apesar de estarem mais ou menos longe da cápsula articular, inserem-se nos ossos em articulação, contribuindo para a manutenção de sua aproximação. Os ligamentos intracapsulares estão situados por dentro da cápsula, geralmente curtos e muito resistentes, prendendo-se nas duas extremidades ósseas. Encontrados nas articulações do quadril e do joelho;

  7. Membrana sinovial: reveste interiormente toda a cavidade, com exceção das superfícies ósseas articulares que são recobertas pela cartilagem articular. Forra a cápsula articular, mas não passa sobre a cartilagem articular. O líquido secretado pela sinovial é o líquido sinovial ou sinóvia, que tem a função de lubrificar a articulação, mas também nutre a cartilagem articular.

ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Juntura sinovial (diartrose) condilar. É uma articulação par, que funciona sinergicamente.

  • Superfícies ósseas articulares: no osso temporal, encontra-se posteriormente à fossa mandibular (cavidade glenoide) e anteriormente ao tubérculo articular temporal (côndilo temporal). Na mandíbula, observa-se a cabeça (côndilo) da mandíbula;

  • Cartilagem articular: constituída por tecido fibroso e raras células cartilaginosas;

  • Disco articular (menisco): é representado por uma lâmina oval em forma de capuz, que envolve a cabeça da mandíbula, inserindo no contorno do colo e também na cápsula articular. O disco realiza o ajuste das superfícies ósseas: apresenta uma saliência e uma reentrância para cima e uma saliência para baixo. Acompanha os movimentos da mandíbula;

  • Cápsula articular: insere-se no temporal e no colo da cabeça da mandíbula;

  • Ligamentos:

    • Ligamento lateral: zigomático-mandibular;

    • Ligamento esfenomandibular: se estende da espinha do esfenoide à mandíbula;

    • Ligamento estilomandibular: vai do processo estiloide do temporal à borda posterior do ramo e ao ângulo da mandíbula.

  • Membrana sinovial: está desdobrada para revestir os dois compartimentos separados pelo disco;

  • Movimentos: os movimentos são de abaixamento e elevação, protusão (projeção para frente) e retração (retorno à posição anterior) e movimentos de lateralidade.

ARTICULAÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL

  • Superfícies ósseas: são representadas pelas faces superiores e inferiores do corpo das vértebras. E dos processos articulares entre si, em que são mais ou menos planas nos processos articulares das vértebras cervicais e torácicas; nas lombares, os superiores são côncavos no sentido vertical e os inferiores são convexos no mesmo sentido, o que faz com que se ajustem reciprocamente;

  • Discos intervertebrados: encontram-se entre os corpos vertebrais, apresentam o anel fibroso e, no centro, o núcleo pulposo;

  • Ligamentos: dois ligamentos correm longitudinalmente na linha mediana. Ligamento longitudinal anterior (por diante) e ligamento longitudinal posterior (por trás);

  • Cápsulas articulares: bastante frouxa e auxiliada por diversos ligamentos acessórios;

  • Membrana sinovial: também se caracteriza por sua elasticidade, pois é sempre muito frouxa;

  • Movimentos: flexão, extensão, inclinação, rotação e circundação.

ARTICULAÇÃO DO OMBRO (escápulo-umeral ou glenoumeral)

É uma juntura sinovial (diatrose) esferoide.

  • Superfícies ósseas: da parte da escápula, encontra-se a cavidade glenoide no ângulo lateral, que é rasa e relativamente pequena. E no úmero a cabeça;

  • Cartilagem articular: tecido cartilaginoso que recobre ambas as superfícies articulares;

  • Lábio glenoidal: é uma fibrocartilagem marginal que se implanta em todo rebordo glenoidal, aumentando a área articular;

  • Cápsula articular: insere-se por fora do lábio glenoidal para cima e no colo anatômico do úmero, para baixo;

  • Ligamentos: ligamento córaco-umeral: vai do processo coracoide da escápula ao sulco intertubercular do úmero e reforça a parte superior da escápula. Ligamentos glenoumerais: superior, médio e inferior e vão do rebordo glenoidal ao úmero;

  • Membrana sinovial: forra toda a cavidade, exceto as superfícies articulares, e secreta o líquido sinovial;

  • Movimentos: flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa e circundução.

ARTICULAÇÃO DO COTOVELO

Juntura sinovial tipo gínglimo (diartrose trocleoartrose). É uma articulação complexa porque nela entram 3 ossos, que são o úmero, o rádio e a ulna, unindo o braço ao antebraço.

O úmero articula-se com a ulna por meio de um gínglimo ou trocleartrose, enquanto que a articulação que o úmero faz com o rádio é do tipo condilar, mas o conjunto funciona como gínglimo (dobradiça).

  • Superfícies ósseas: no úmero, encontra-se a tróclea umeral, situada medialmente, e o capítulo. Na ulna, há a incisura troclear, e, no rádio, há a cavidade glenoide na extremidade superior;

  • Cartilagem articular: cobre em continuidade todos os acidentes ósseos.

  • Cápsula articular: envolve as epífises dos 3 ossos;

  • Ligamentos: anterior (anular), posterior (ligamento colateral ulnar, feixe posterior), lateral (ligamento colateral radial) e medial (ligamento colateral ulnar, feixe medial). Reforçam a cápsula articular;

  • Membrana sinovial: forra toda a cavidade articular com exceção das superfícies ósseas revestidas pela cartilagem articular. O líquido sinovial lubrifica a articulação;

  • Movimentos: flexão e extensão.

ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR PROXIMAL

É uma juntura sinovial (diatrose) trocoide típica.

  • Superfícies ósseas: no rádio, a superfície articular é constituída pelo contorno da cabeça do rádio. Na ulna, encontra-se o anel ósteo-fibroso, constituído pela incisura radial da ulna e o ligamento anular;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies articulares;

  • Cápsula articular: a cápsula articular do cotovelo envolve essa juntura;

  • Membrana sinovial: é a mesma de toda a articulação do cotovelo;

  • Movimentos: a cabeça do rádio gira como um pino dentro do anel ósteo-fibroso. Movimentos de pronação e supinação.

ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR DISTAL

É uma juntura sinovial (diartrose) trocoide imperfeita.

  • Superfícies ósseas: cabeça da ulna e incisura ulnar do rádio na epífise distal;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies ósseas;

  • Cápsula articular: recobre a articulação;

  • Membrana sinovial: forra a cavidade articular com exceção da cartilagem articular;

  • Movimentos: pronação e supinação.

Obs.: essas duas articulações têm um ligamento chamado membrana interóssea do antebraço, inserindo-se em toda a altura da borda lateral da ulna e medial do rádio.

ARTICULAÇÃO RADIOCÁRPICA (articulação do punho)

É uma juntura sinovial elipsoide (diartrose condilartrose) que une o antebraço à mão.

  • Superfícies ósseas: na extremidade distal do antebraço, há uma espécie de cavidade glenoide elíptica, situada entre os dois processos estiloides (rádio e ulna). No carpo, encontra-se saliência elíptica constituída pelo escafoide, semilunar e piramidal;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies ósseas;

  • Cápsula articular: forma um manguito que envolve toda a articulação;

  • Ligamentos: radiocárpico palmar, radiocárpico dorsal, colateral radial e colateral ulnar;

  • Membrana sinovial: forra a cavidade articular com exceção da cartilagem articular e do disco articular;

  • Movimentos: flexão, extensão, desvio ulnar (adução), desvio radial (abdução) e circundução.

ARTICULAÇÃO DO QUADRIL

Juntura sinovial (diartrose) esferoide.

  • Superfícies ósseas: acetábulo do quadril e cabeça do fêmur;

  • Lábio acetabular: é uma espessa fibrocartilagem que se insere em todo rebordo do acetábulo e, depois de envolver a cabeça do fêmur, se afunila;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies ósseas;

  • Cápsula articular: insere-se para cima, logo por fora da inserção do lábio acetabular e para baixo, no colo anatômico do fêmur. Anteriormente, a cápsula vai até a linha intertrocantérica;

  • Ligamentos: ileofemoral, isquiofemoral e pubofemoral se inserem superiormente no osso do quadril e inferiormente no fêmur. Ligamento redondo liga a cabeça do fêmur ao acetábulo;

  • Membrana sinovial: forra a cavidade articular passando por fora do lábio acetabular;

  • Movimentos: flexão, extensão, adução, abdução, rotação interna e externa e circundução.

ARTICULAÇÃO DO JOELHO

Juntura sinovial condilar (diartrose trocleartrose).

  • Superfícies ósseas: superfícies articulares dos côndilos do fêmur, superfície patelar e superfície articular superior da tíbia;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies ósseas dos 3 ossos;

  • Meniscos: fibrocartilagem intra-articular, que permitem o ajuste das superfícies do fêmur, cujos côndilos são desproporcionalmente mais volumosos. O menisco lateral tem formato de “O” e o medial tem forma de “C”;

  • Cápsula articular: tubo fibroso que liga a epífise distal do fêmur com a epífise proximal da tíbia;

  • Ligamentos: anteriormente, está o ligamento patelar. Posteriormente, a cápsula é reforçada pelos ligamentos poplíteo oblíquo e ligamento poplíteo arqueado. Lateralmente, encontra-se o ligamento colateral fibular e medialmente o ligamento colateral tibial. Interiormente, estão os ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior. O ligamento cruzado anterior fixa-se na área intercondilar anterior da tíbia, e depois se dirige para cima e lateralmente na face medial do côndilo lateral do fêmur. O ligamento cruzado posterior insere-se na área intercondilar posterior da tíbia dirigindo-se para cima e medialmente no côndilo medial do fêmur;

  • Membrana sinovial: forra toda cápsula e, juntamente com esta, prende-se nas margens dos meniscos;

  • Movimentos: flexão e extensão, e com o joelho em flexão observa-se rotação interna e externa.

ARTICULAÇÃO TALOCRURAL (articulação do tornozelo).

Juntura sinovial tipo gínglimo (diartrose trocleartrose).

  • Superfícies ósseas: superfície articular inferior na tíbia, superfície articular do maléolo na fíbula e face superior do tálus;

  • Cartilagem articular: recobre as superfícies ósseas;

  • Cápsula articular: tubo fibroso que envolve toda a articulação;

  • Ligamentos: ligamento talofibular anterior, talofibular posterior, ligamento calcâneo-fubular (lateralmente) e tibionavicular, tibiotalar anterior, tibiotalar posterior e tibiocalcâneo (medialmente);

  • Membrana sinovial: forra a cavidade articular com exceção da cartilagem articular;

  • Movimentos: flexão, extensão, adução, abdução, pronação, supinação e circundução. Inversão (adução + supinação) e eversão (abdução + pronação).

Infográfico

Referências

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Créditos

Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado

Design: Gabriela Rossa

Diagramação: Marcelo Ferreira

Ilustrações: Marcelo Germano

Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra