A função da raiz para a planta e sua importância econômica;
Como classificar as raízes de acordo com a sua morfologia;
A função do caule para a planta e sua importância econômica;
Como classificar os caules de acordo com a sua morfologia.
Um órgão pouco visto nas plantas, mas de extrema importância para sua saúde e produtividade, é a raiz. Neste capítulo, veremos a importância da raiz para a planta e para a agronomia. Aprenderemos, ainda, como é possível classificar as raízes.
Fatores como temperatura, umidade e composição do solo irão influenciar na profundidade da raiz. O recorde de profundidade pertence à espécie Prosopis juliflora, cuja profundidade da raiz superou 53 metros. Geralmente, as raízes ocupam uma área de 4 a 7 vezes maior do que a copa das árvores.
Neste capítulo, também estudaremos os caules, suas partes constituintes e classificações. Você sabia que em muitas espécies de cactos quem faz a fotossíntese é o caule? Este tipo de caule é chamado de cladódio e nestas plantas as folhas foram modificadas em forma de espinhos. As gavinhas, que encontramos em plantas como o maracujá e o chuchu, também são adaptações caulinares.
Ao aprender sobre identificação de estruturas e classificação de raiz e caule, o(a) engenheiro(a) agrônomo(a) compreende melhor os processos fisiológicos das plantas, o que auxilia na manutenção da fitossanidade.
Além disso, é atribuição do(a) engenheiro(a) agrônomo(a) realizar levantamentos florísticos. Aprender a classificação correta o habilita para trabalhar com as chaves de identificação das espécies botânicas.
Vamos iniciar a nossa jornada?
As raízes, embora na maioria das vezes não sejam vistas por estarem abaixo da terra, são de extrema importância para a planta, pois cabem às raízes as funções de:
As raízes fazem absorção da água e dos nutrientes do solo. O cálcio, por exemplo, que é um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas, é considerado um nutriente imóvel, sendo necessário que a raiz cresça até o local onde este nutriente está para conseguir absorvê-lo. Em locais com pouca disponibilidade de água, as plantas apresentam raízes profundas que crescem até chegar ao lençol freático.
As raízes são responsáveis pela fixação do vegetal no solo ou, no caso das plantas epífitas (que vivem sobre outras plantas), no tronco de outras árvores.
Algumas raízes são capazes de armazenar substâncias. O aipim (também conhecido como mandioca ou macaxeira em outras regiões do Brasil) é uma raiz que faz reserva de amido, pois suas células são ricas em amiloplastos. Embora seja mais comum as raízes armazenarem substâncias, em regiões desérticas ou climas áridos as raízes podem armazenar água.
As raízes são responsáveis por conduzir a água e os nutrientes do solo até o caule.
Esse processo é muito importante para a fotossíntese, bem como para o controle de temperatura das plantas.
Muitas raízes apresentam importância econômica. O aipim, que foi anteriormente citado como exemplo, além de ser consumido em diversos preparos de pratos regionais, ainda origina produtos de interesse econômico, tais como a fécula de mandioca, a farinha de mandioca e o polvilho. Tapioca, macaxeira, pão de queijo, farofa e vaca atolada são exemplos de comidas que levam aipim ou seus derivados na preparação.
A cenoura é outra raiz de importância econômica. Utilizada em sopas, caldos, sucos e consumida in natura, é uma riquíssima fonte de vitamina A.
Algumas raízes têm uso medicinal, como é o caso do ginseng e da cânfora, pois hoje as propriedades medicinais estão nesta parte da planta.
As raízes apresentam como característica corpo não segmentado em nós e entre nós, além da ausência de folhas e gemas. Geralmente, as raízes são subterrâneas (com exceção das raízes aéreas e aquáticas).
Com exceção de orquídeas e aráceas, as raízes são geralmente aclorofiladas, apresentam caliptra ou coifa e pelos radiculares. O crescimento é sempre subterminal e geralmente apresentam geotropismo positivo, o que significa que se você plantar alguma planta de “cabeça para baixo”, a raiz rapidamente irá direcionar o seu crescimento em direção ao centro da Terra, isso porque as plantas são capazes de sentir o campo gravitacional.
A classificação utilizada neste capítulo segue a proposta de Vidal e Vidal (2000). O primeiro passo para classificar as raízes é observar se essa raiz é aérea, aquática ou subterrânea.
As raízes aquáticas são aquelas que vegetam na água. Para este tipo de raíz há apenas esta classificação.
As raízes aéreas são aquelas encontradas acima da superfície do solo. Podem ser classificadas em:
Cinturas ou estranguladoras – são raízes adventícias que abraçam o outro vegetal, muitas vezes o hospedeiro morre.
Grampiformes ou aderentes – são raízes adventícias que fixam a planta trepadora a um suporte.
Respiratórias ou pneumatóforos – são raízes com geotropismo negativo, pneumatódios (lenticelas) e aerênquima bem desenvolvido.
Sugadoras ou haustórios – são raízes adventícias com órgãos sugadores (haustórios) que penetram no corpo da hospedeira para sugar sua seiva (parasitas).
Suportes ou fúlcreas – são raízes adventícias que brotam em direção ao solo, auxiliam na fixação e podem atingir grandes profundidades.
Tabulares ou sapopemas – ampliam a base da planta, dando maior estabilidade. São em parte aéreas e em parte subterrâneas.
As raízes subterrâneas são aquelas encontradas abaixo da superfície do solo. Podem ser classificadas em:
Axial ou pivotante – raiz principal muito desenvolvida e com ramificações ou raízes secundárias pouco desenvolvidas em relação à raiz principal.
Ramificada – a raiz principal logo se ramifica em secundárias e estas em terciárias e assim sucessivamente.
Fasciculada – aquela que, por atrofia precoce da raiz principal é constituída por um feixe de raízes, todas de espessura semelhantes.
Tuberosa – a raiz dilatada pelo acúmulo de reserva de nutrientes. Pode ser axial tuberosa (cenoura, beterraba, nabo, rabanete) ou secundária tuberosa (aipim).
Nas plantas, é o caule o responsável por fazer a ligação entre a raiz e as folhas e, portanto, levar água e nutrientes do solo até a parte mais alta da planta. Além da condução da seiva bruta e elaborada, o caule também é responsável pela produção e suporte de ramos, flores e frutos. Além de ser o responsável pelo crescimento e propagação vegetativa, este órgão pode fazer ainda reserva de substâncias em algumas situações especiais, como é o caso dos baobás, que armazenam água. Ele também faz a fotossíntese, como é o caso dos caules das plantas epífitas como as orquídeas.
Talvez a maior importância econômica dos caules na história da humanidade tenha sido o fornecimento de madeira, utilizado na construção de casas, barcos, paliçadas de proteção, fornecimento de energia e calor (madeira para fogueira), produção de móveis, entre outros. Com o desenvolvimento das civilizações, os caules passaram a ser utilizados para produção de superfícies para escrita, como é o caso do papiro e até mesmo das folhas de ofício utilizadas ainda hoje.
Os caules também tiveram um papel importante na alimentação de diversos povos. A batata, por exemplo, tem o mérito de ser um dos mais importantes alimentos do mundo, sendo superado em produção apenas pelo trigo, milho e arroz. De origem Andina, após a descoberta das Américas a batata passou a ser cultivada em diversos locais no mundo, sendo uma importante fonte de alimento. A batata era a base da alimentação de muitos povos.
Em 1840, as plantações de batata dos campos da Irlanda foram devastadas pela doença da requeima (Phytophthora infestans), levando à morte por inanição cerca de um milhão de irlandeses e levando à imigração cerca de dois milhões (BARBIERI e STUMPH, 2008).
Além da produção de madeira e da utilização na alimentação, alguns caules apresentam propriedades medicinais, como é o caso da canela em pó. Você sabia que a canela em pó não tem sabor, apenas aroma? Se não acredita, feche o seu nariz com auxílio dos dedos da mão e coloque um pouquinho de canela na ponta da língua.
Ao falar em caule, não podemos deixar de citar o látex, que é produzido através da extração da seiva da seringueira. O látex é utilizado na fabricação de diversos produtos, entre eles: borracha, luva cirúrgica, galochas, botas de borracha, tênis e capas de chuva. O Brasil viveu o ciclo da borracha entre 1879 e 1945.
Para ser um caule, é necessário ter o corpo segmentado em nós e entre nós. Além disso, os caules apresentam folhas e gemas, são geralmente aéreos (ou seja, vegetam acima do solo, exceto os caules subterrâneos como é o caso do caule da bananeira).
Os caules são geralmente aclorofilados, ou seja, não apresentam coloração verde porque não têm a função de fazer fotossíntese, exceto os caules herbáceos e de algumas epífitas, como as orquídeas. Geralmente, os caules apresentam geotropismo negativo e fototropismo positivo, o que significa que se você plantar um pé de tomate de cabeça para baixo a raiz crescerá em direção ao solo e o caule em direção à fonte de luz mais próxima.
Quanto ao habitat, os caules podem ser classificados em aéreos, aquáticos ou subterrâneos.
Os caules aquáticos são aqueles que vegetam na água, como no caso da vitória régia. Para esses caules não há outra classificação.
Os caules aéreos eretos podem ser classificados em:
Tronco – lenhoso, resistente, cilíndrico ou cônico, ramificado.
Haste – herbáceo ou fracamente lenhificado, pouco resistente.
Estipe – lenhoso, resistente, cilíndrico, longo e em geral não ramificado.
Colmo – silicoso, cilíndrico, com nós e entre-nós bem marcantes (cheios ou ocos).
Escapo – não ramificado, áfilo, com flores nas extremidades.
São os que sobem num suporte por elementos de fixação ou a ele se enroscam.
Os caules aéreos trepadores podem ser classificados em:
Volúveis – enroscam-se, mas sem auxilio de órgãos de fixação (sinistrosos – direita ou dextrosos – esquerda).
Demais tipos de caules aéreos:
Rastejantes – são apoiados ou paralelos, com ou sem raízes, de trechos em trechos.
Estolão – broto lateral apoiado no solo ou abaixo dele, que de espaço em espaço formam gemas com raízes.
Os caules subterrâneos podem ser classificados em:
Rizoma – geralmente horizontal, emitindo de espaço em espaço brotos aéreos, folhosos, dotados de nós, entrenós, gemas e escamas.
Tubérculo – geralmente ovóide, com gemas ou “olhos”, dotado de reservas nutritivas como amido.
Bulbo – formado por um eixo cônico que constitui o prato (caule) dotado de gema, rodeado por catáfilos, em geral com acúmulo de reserva, tendo na base raízes fasciculadas.
a) Bulbo escamoso: folhas (escamas) mais desenvolvidas que o prato, imbricadas, rodeando-o.
b) Bulbo tunicado: folhas (túnicas ou escamas) mais desenvolvidos que o prato, concêntricas, envolvendo completamente o prato.
c) Bulbo composto: apresenta um grande número de pequenos bulbos.
d) Bulbo sólido ou cheio: prato mais desenvolvido que a folha, revestido por catáfilos semelhantes a uma casca.
Quanto ao desenvolvimento, os caules podem ser classificados em: aéreos, aquáticos ou subterrâneos.
Erva – pequeno porte e caule pouco desenvolvido.
Subarbusto – arbusto pequeno até 1 m de altura, base lenhosa e o restante herbáceo.
Arbusto – até 4m, lenhoso e ramificado desde a base.
Árvore – grande porte, com tronco nítido e despido de ramos na parte inferior. Parte superior: copa.
Liana – cipó trepador que pode atingir muitos metros de altura.
BARBIERI, Rosa Lía; STUMPF, Elisabeth Regina Tempel. Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2008.
VIDAL, Waldomiro Nunes; VIDAL, Maria Rosária Rodrigues. Botânica: organografia. Viçosa: UFV, 2000, p. 124.
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Revisão ortográfica: Ane Arduim