Quais são os tecidos vegetais e como diferenciá-los;
Qual a função dos meristemas;
Quais são os três sistemas de tecidos de um vegetal;
Qual a importância da histologia vegetal para a agronomia.
Todas as plantas são formadas por tecidos. Neste capítulo, veremos quais os tecidos compõem as plantas e qual a função de cada tecido vegetal. Aprenderemos ainda como é possível diferenciar cada tecido vegetal, que é composto por um arranjo único de células.
Veremos a importância dos meristemas primário e secundário, onde esses tecidos embrionários são encontrados e qual a importância agrícola dos mesmos.
Abordaremos os três sistemas de tecidos de um vegetal: sistema dérmico ou de revestimento, sistema vascular e sistema fundamental. Em especial para agricultura, é importante conhecer os tecidos e a organização destes. Alguns patógenos atacam tecidos específicos, assim como alguns produtos fitossanitários que terão ação também em tecidos específicos da planta.
Ao compreender a histologia vegetal, o(a) engenheiro(a) agrônomo(a) compreende melhor os processos de desenvolvimento de patógenos nas plantas, o que auxilia na manutenção da fitossanidade.
Vamos iniciar a nossa jornada?
Neste capítulo, estudaremos os tecidos vegetais e a importância de cada um desses tecidos para a planta.
Assim como nosso corpo é constituído de tecidos, as plantas também são constituídas de tecidos, e cada um tem uma função específica. Podemos dividir os tecidos das plantas em três diferentes sistemas: existem os tecidos que compõem o sistema vascular, que são chamados de tecidos condutores; existem também os tecidos que protegem as plantas dos ataques de herbívoros e das variações climáticas, esses tecidos fazem a proteção da planta e compõem o sistema dérmico, também chamado de sistema de revestimento; o último sistema, chamado de sistema fundamental, está composto por tecidos que fazem o preenchimento e o armazenamento de substâncias nas plantas.
Conhecer a anatomia vegetal é importante porque esta pode indicar características que atribuem tolerância a diferentes condições ambientais para as plantas cultivadas, como tolerância à seca e características da radiação, tais como a qualidade e intensidade da radiação que incidem sobre as folhas das plantas ou mesmo demais estresses como o alagamento promovendo modificações na espessura do mesofilo, nos tecidos vasculares, na espessura da epiderme, na espessura da cutícula, na densidade e demais características estomáticas para a tolerância a essas condições (RIBEIRO et al., 2012).
Vamos conhecer melhor cada um desses sistemas?
Os meristemas, ou tecidos formativos, não compõe nenhum sistema específico, mas são fundamentais para as plantas, pois são responsáveis por realizar o seu crescimento. Têm duas propriedades básicas: autoperpetuação e proliferação celular.
Podem ser classificados em dois tipos básicos: os meristemas apicais são assim chamados porque são encontrados no ápice de todas as folhas e caules. Esses tecidos são chamados de tecidos embrionários e estão envolvidos, primeiramente, com o crescimento da planta: ápice da raiz e do caule, sendo esse crescimento chamado de crescimento primário. Algumas plantas têm crescimento latitudinal, é o que acontece, por exemplo, conforme uma árvore vai crescendo e seu caule vai engrossando. Esse engrossamento também é realizado por um meristema, nesse caso, é um tecido meristemático responsável pelo crescimento secundário.
O parênquima ocorre em toda a planta como tecido de preenchimento, mas ele também exerce outras funções: em locais onde a planta foi danificada, o parênquima faz a cicatrização. Esse tecido também faz a fotossíntese; nesse caso, é chamado de parênquima clorofiliano ou clorênquima. Observe que, na imagem a seguir, a epiderme é transparente, o que faz com que a folha tenha coloração verde são os cloroplastos encontrados nas células do parênquima, isso explica por que uma folha atacada pela larva do Citrus fica transparente, pois essa larva consome só o mesofilo da folha.
O parênquima também é o tecido responsável pelo armazenamento de substâncias. Sabe aquela batata frita que você tanto gosta? A batata é rica em amido, esse amido é armazenado pelos amiloplastos dentro das células do parênquima. Se o parênquima armazena ar, é chamado de aerênquima; se armazena água, chama-se parênquima aquífero. Como você pode perceber, o parênquima é o tecido que desempenha o maior número de funções na planta.
Ao lado, o parênquima aquífero (tecido especializado em armazenar água). Observe que as células do parênquima aquífero possuem uma bainha de mucilagem para auxiliar na contenção da água.
O colênquima é o tecido responsável por fazer a sustentação dos órgãos jovens em crescimento. Suas células são alongadas e esse tecido é composto por células vivas. O colênquima ocorre como feixes isolados ou como cilindros contínuos sobre a epiderme, nos caules e pecíolos. Também pode ser encontrado margeando as nervuras das Folhas das eudicotiledôneas, as carências da folha do aipo, por exemplo, são formadas pelo colênquima (RAVEN et al., 2018). O colênquima é formado por feixes de células alongadas constituídas apenas por parede primária não lignificada, irregularmente espessada, cuja função é a sustentação do corpo primário da planta (folhas, caules e raízes em crescimento primário).
O esclerênquima é responsável por fazer a sustentação e a proteção mecânica das plantas com crescimento secundário. Esse tecido é composto de células vivas ou mortas. O esclerênquima pode ocorrer basicamente de duas formas dentro das plantas: em forma de esclereídes ou fibras esclerenquimáticas.
As fibras esclerenquimáticas são compostas por feixes de células alongadas com parede primária e secundária espessadas, frequentemente lignificadas e mortas na maturidade. São comumente encontradas juntas ao xilema e floema para dar sustentação ao sistema vascular, mas podem ser encontradas também no córtex do caule. As roupas de algodão que você usa são constituídas de fibras esclerenquimáticas do algodoeiro.
Os esclereídes podem ser encontrados em toda a planta, tem forma variável e sua célula tem parede primária e secundária espessa, e geralmente lignificada. Diferentemente das fibras esclerenquimáticas, podem ser vivas ou mortas na maturidade. A função dos esclereídes é a proteção mecânica, essas células ocorrem juntamente com parênquima e são de extrema importância para os fruticultores. Talvez você não tenha ouvido falar dos esclereídes, mas certamente já ouviu o som de uma maçã ou de uma pêra sendo mordida: esse “croc croc” que você ouve é o som dos esclereídes sendo quebrados. Quanto mais esclereídes uma fruta tiver, mais resistente ela será ao transporte, melhorando sua vida útil na pós-colheita, bem como seu tempo de prateleira.
O sistema vascular é responsável pelo transporte de substâncias, o que pode ocorrer contra ou a favor da gravidade. Se você conhece alguém que tenha dores no joelho, já deve ter ouvido essa pessoa dizer que é muito mais difícil subir uma escada do que descer, mas que o joelho dói mais na descida. Se você já subiu uma serra íngreme dirigindo um carro, deve saber que a mesma marcha que é utilizada para subir a serra deve ser aquela utilizada para descer.
Esses exemplos são importantes para que você entenda que, para as plantas, é mais difícil transportar substâncias contra a ação da gravidade (de baixo para cima), mas essa mesma planta precisa desenvolver mecanismos para controlar a descida das substâncias (fluxo) que estão nas folhas e que precisam chegar até a raiz, e esse é o motivo que explica por que são necessários tecidos diferentes para que as substâncias subam ou desçam dentro de uma planta.
Vamos conhecer esses tecidos?
O xilema é um tecido responsável para fazer com que as substâncias absorvidas na raiz cheguem até o ápice da planta. Certamente, você já esqueceu de irrigar alguma planta, chegou em casa e viu aquela planta murcha e imediatamente colocou água na terra. Em alguns minutos, é possível observar que as folhas começam a mudar o seu formato e, em poucas horas, a planta retoma o seu vigor inicial. Se você já presenciou esse fenômeno, você presenciou o transporte da seiva bruta, que é constituída de água e substâncias inorgânicas. A água que serve para hidratar a planta funciona também como um solvente para os minerais presentes no solo, é através da água que a planta irá absorver os adubos adicionados na terra.
O xilema, principal tecido condutor de água, também está envolvido na condução dos nutrientes inorgânicos, no armazenamento de substâncias e na sustentação. Juntamente com o floema, o xilema forma um sistema contínuo de tecidos vasculares que se estende por todo o corpo da planta (RAVEN et al., 2018).
O xilema pode ser encontrado nas angiospermas de duas formas: traqueídes e elementos de vaso. Ambas as células são mortas na sua maturidade, mas os elementos de vaso são mais eficientes na condução de água por ter um diâmetro maior e perfurações que permitem que a água circule mais livremente e de forma mais rápida dentro do xilema.
O floema é o tecido responsável pela condução da seiva elaborada na planta dependendo do estágio. Essa seiva será conduzida para uma diferente parte da planta.
As principais células condutoras do floema são os elementos crivados, os quais são de dois tipos: as células crivadas e os elementos de tubo crivado. O termo crivo refere-se ao conjunto de poros conhecidos como áreas crivadas. Os elementos de tubo crivado são caracteristicamente associados às células parenquimáticas especializadas chamadas células companheiras, que contêm todos os componentes comumente encontrados nas células vivas das plantas, incluindo um núcleo (RAVEN et al., 2018).
A epiderme constitui o sistema dérmico de folhas, partes florais, frutos e sementes, e também de caules e raízes, até que estes apresentem crescimento secundário considerável. As células epidérmicas são bastante variadas tanto estruturalmente como em função. Além das células não especializadas, que constituem grande parte da epiderme, esta pode conter células-guarda, muitos tipos de apêndices ou tricomas e outros tipos de células especializadas (RAVEN et al., 2018).
Na epiderme, encontram-se os estômatos cuja função é fazer controle de temperatura da planta além da captação do CO2 para realização da fotossíntese. Os estômatos estão compostos pelo ostíolo (poro), pelas células guarda e pelas células anexas ou subsidiárias.
A epiderme é de extrema importância para evitar que a planta sofra ressecamento ou estresse hídrico. A eficiência do uso da água, bem como as características anatômicas, espessura de cutícula e relação diâmetro polar e equatorial dos estômatos são potenciais variáveis de serem utilizadas para verificar como os clones de Coffea canephora se comportam em sistema de irrigação utilizado no Cerrado (SILVA et al., 2019).
A periderme consiste em grande parte de súber ou felema, que é um tecido morto que apresenta parede celular intensamente suberizada na maturidade; a periderme também inclui o câmbio da casca ou felogênio e a feloderme, um tecido parenquimático vivo (RAVEN et al., 2018).
A periderme substitui a epiderme para fazer a proteção das raízes e caules que contêm crescimento secundário. A primeira camada de periderme surge logo abaixo da epiderme, à medida que a planta vai crescendo a periderme vai engrossando. A periderme é constituída em sua maioria por células mortas suberizadas, esse tecido é chamado de súber ou felema. A canela em pau, utilizada para doces, é um exemplo de súber utilizado na alimentação; do súber também são extraídas as rolhas para vinhos e espumantes. Abaixo do felema, está localizado o câmbio ou felogênio, um tecido parenquimático vivo, responsável por produzir as células do súber. Abaixo do felogênio, está localizada a feloderme, que é composta por células parenquimáticas.
Para promover aeração dos caules e raízes em crescimento secundário, a periderme contém células frouxamente organizadas chamadas de lenticelas.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
RIBEIRO, M. N. O. et al. Anatomia foliar de mandioca em função do potencial para tolerância a diferentes condições ambientais. Revista Ciência Agronômica, v. 43, n. 2, p. 354-361, 2012.
SILVA, E. A. et al. Eficiência do uso da água e características anatômicas de clones de Coffea canephora cultivados no cerrado. SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 10. Vitória, ES 2019.
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Diagramação: Vinicius Ferreira
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra