Como são feitas peças pelos processos de fabricação por fundição utilizando os métodos:
Fundição em areia;
Fundição em cera perdida.
A fundição em areia e em cera perdida são processos de fabricação utilizados pelo homem há milhares de anos. Duas coisas são cruciais para obter sucesso. A primeira delas é ter o metal líquido acondicionado em um recipiente resistente a seu peso e a sua temperatura durante sua fusão. A segunda coisa é ter um local para depositar esse material para que ele se solidifique sem defeitos. Os primeiros moldes foram feitos simplesmente fazendo um leito no solo. Reza a lenda que foi daí que surgiu o termo em inglês para matriz de fundição, casting die, pois é semelhante a um leito de morte. Atualmente, existem aglomerantes e materiais sintéticos de alta resistência para fabricação de moldes mais resistentes, mas os processos ainda continuam muito parecidos aos processos de centenas de anos atrás.
Quer aprender mais sobre esses processos, ver como peças modernas de turbinas de avião a jato e antigas esculturas de bronze estão relacionadas?
Vamos adiante!
A moldagem em areia verde é o processo mais simples de fundir uma peça. O processo utiliza areia, água, amido de milho e argila misturados para se obter uma massa resistente o suficiente para acomodar o metal líquido enquanto ele se solidifica. Para facilitar o processo, utilizam-se caixas bipartidas para inserir o modelo, canais de descida, alimentação, rechupe, armadilhas para escória, saídas de gás, machos e uma série de detalhes necessários ao sucesso da operação.
A areia não tem a cor verde. O termo "verde" significa que o molde não é seco ou sinterizado ("queimado") antes de ser usado; uma vez confeccionado o molde, o metal é vazado no seu interior logo após, conforme Kiminami (2013).
Uma melhoria do processo de areia verde é o de moldagem em areia seca, em que o molde é seco em estufa apropriada após ser produzido. Isso dá a ele maior resistência mecânica, as peças saem mais bem acabadas e com melhores tolerâncias dimensionais. Contudo, tem-se um maior custo devido à estufagem e limitação a moldes pequenos pela dificuldade de secagem, conforme Kiminami (2013).
O material básico na confecção do molde é a areia, que sempre estará presente seja nova ou reciclada de um processo anterior. Já vimos que precisamos mais do que areia para fazer um molde. Precisamos de algo que una os grãos de areia e que permita serem moldados em um certo espaço de tempo, conforme a necessidade do fluxo de produção. Um molde de areia verde deve ser utilizado logo após sua produção, pois se esboroa facilmente com o tempo.
Caso seja necessária a produção de moldes que possam ser armazenados por mais tempo ou que necessitem de maior resistência mecânica e acabamento, devemos utilizar materiais mais resistentes para aglomerar os grãos de areia. Esses produtos para unir os grãos são basicamente adesivos e possuem variada forma de endurecimento, como:
Os componentes são misturados e após determinado tempo eles curam, estando prontos para o vazamento.
Os componentes precisam ser aquecidos em um molde quente ou forno para curar.
Utiliza-se uma resina fotopolimerizável e na presença de determinado comprimento de onda ocorre a cura.
Os elementos ligantes à base de silicatos são curados através da passagem de um gás, como o CO2, por exemplo.
O material mais barato para fazer um molde é sem dúvida a areia verde, mas ela não tem resistência mecânica suficiente para suportar a pressão e a passagem do metal líquido para certas partes do molde, como por exemplo na fabricação de registros, válvulas, torneiras e cabeçotes de motores, que têm um canal interno para passagem dos fluidos a que se destina, como pode ser visto nas Figuras 1, 2 e 3.
Figura 1: Torneira antiga, onde se vê o desgaste do recobrimento de níquel, tornando aparente o material de sua confecção, uma liga de cobre.
Fonte: Pexels.
Figura 3: Cabeçote automotivo com canais, vazios e reentrâncias produzidos pelo macho de areia, como o da Figura 4.
Fonte: Pixabay.
Na Figura 4, vemos os machos de um molde de um cabeçote automotivo. Observe que a areia impede o acesso do metal onde ela se encontra, criando canais, vazios e reentrâncias na peça, conforme pode ser observado na Figura 3.
Na fundição de areia, podemos produzir peças desde algumas gramas até algumas toneladas, como pode ser visto nas Figuras 5 e 6. Esses grandes moldes podem contar com uma base de concreto para suportar a pressão da peça.
A Figura 7 mostra uma típica matriz de areia dividida em duas partes, construída em areia verde e com um macho em areia mais resistente.
O metal líquido é vazado na bacia de vazamento, desce pelo canal, passa pela armadilha de escória, vai até o massalote, entra no canal de ataque, preenche a peça de baixo para cima envolvendo o macho e saindo pelo canal de subida, indicando que a matriz está totalmente preenchida com metal.
A solidificação inicia pela parte menor da peça e vai solidificando em direção ao massalote que continua abastecendo a peça de metal líquido evitando rechupes na mesma.
Esse processo acontece também com outros tipos de matrizes que usam a gravidade para exercer pressão e preencher o molde, como coquilhas metálicas e moldes de cerâmica produzidos com cera perdida, ou moldagem em casca.
Também podemos utilizar um modelo de isopor para fazer a cavidade, preencher seu entorno com areia e quando o metal é vazado na cavidade, dissolve este isopor e assume sua forma.
Cera perdida, fundição de precisão e microfusão são sinônimos do mesmo processo.
Muitas especialidades utilizam este processo, como a Odontologia para fazer próteses dentárias e a Medicina para produzir instrumentos cirúrgicos e ortopédicos. Também os ourives produzem joias desde os tempos do início da civilização com esse método, utilizando cera natural de abelhas, lama do leito de rios e metais nobres como ouro e prata. Modernamente, a indústria aeroespacial e de armamento bélico tem feito grande utilização desse processo para fabricação de seus equipamentos.
As Figuras 8 e 9 mostram o modelo e a peça final de um pingente de prata produzido pelo processo de cera perdida.
A Figura 10 mostra antigas esculturas de bronze de grande porte.
Figura 10: Peça fundida de grandes proporções feita a partir do modelo de cera feito a mão por um artista. Cavalli di San Marco, séc. II d.C.
Fonte: Flickr.
Figura 11: Molde metálico revestido com silicone para fabricar modelos de cera injetados.
Fonte: Flickr.
a) O modelo de cera pode ser esculpido à mão ou produzido com uma matriz de silicone ou metal, sendo injetado na forma líquida;
b) Um ou mais modelos de cera da peça são montados no canal de vazamento também feito de cera, o que chamamos de árvore ou cacho;
c) A árvore é mergulhada numa lama refratária;
d) Recebe uma pulverização de areia;
e) Recebe sucessivas camadas de lama e areia;
f) A cera é aquecida, deixando o molde, dando nome de cera perdida ao processo. Mas não é totalmente perdida, é reutilizada no processo seguinte;
g) O molde cerâmico é aquecido para ser sinterizado e atingir sua máxima resistência;
h) Ainda quente, ele recebe o metal líquido, que solidifica;
i) O molde é quebrado e a peça cortada do cacho.
Possibilidade de produção em massa de peças de formas complexas, que são difíceis ou impossíveis de obter pelos processos convencionais.
Paredes finas e cantos vivos podem ser feitos.
Podem ser produzidas peças de qualquer liga, inclusive de altíssimo ponto de fusão, pois o molde é resistente a isso.
As peças saem quase prontas do processo.
A solidificação pode ser controlada, dando vantagens metalúrgicas.
Pode ser utilizada uma atmosfera controlada, caso precise.
Alta dificuldade em produzir peças grandes, normalmente menores que 5 kg para ter viabilidade econômica;
O processo é relativamente caro.
A principal forma utilizada para forçar o metal a preencher as cavidades é a gravidade, mas existem outros métodos de forçar o metal para a cavidade, como o vácuo e a força centrífuga.
Os processos às vezes são modificados e utilizadas várias técnicas para a confecção de peças.
KIMINAMI, Claudio Shyinti; CASTRO, Walman Benício de; OLIVEIRA Marcelo Falcão de. Introdução aos processos de fabricação de produtos metálicos (livro eletrônico). São Paulo: Blucher, 2013.
LIRA, Valdemir Martins. Princípios dos processos de fabricação utilizando metais e polímeros (livro eletrônico). São Paulo: Blucher, 2017.
MOTT, Robert l. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. Pearson Education do Brasil, 2015.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Vinicius Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes
Revisão ortográfica: Ane Arduim