ESCALA, DIMENSIONAMENTO E CORTES
Prof. Débora Battastini
Prof. Débora Battastini
Execução de cortes;
Execução de secções;
Dimensionamento do projeto.
Bom pessoal, após uma longa caminhada pelo conteúdo da disciplina de Geometria Descritiva e Desenho Técnico, estamos chegando ao último capítulo para o fechamento do assunto abordado, uma etapa importante do domínio da representação técnica de projetos, que é a inserção do dimensionamento do projeto (uso de cotas) e a representação dos modelos através da representação de cortes. Ao final do capítulo, traremos alguns exemplos de diferentes aplicações nas áreas de engenharia, design e arquitetura.
Na etapa do dimensionamento, a inserção de cotas também ocorre regrada por normas técnicas, garantindo que toda a informação necessária sobre as dimensões do projeto esteja disponível no desenho, de uma forma que facilite a legibilidade e sem repetições desnecessárias.
Com relação ao uso de cortes e seções, muitas vezes são necessários para a clara representação de um modelo; na arquitetura, por exemplo, é componente indispensável no desenho arquitetônico. Os cortes são a melhor opção quando a representação de uma determinada vista terá o uso excessivo de linhas ocultas, que em certas situações podem trazer prejuízo à compreensão do que está sendo representado.
Esses conteúdos farão o fechamento do assunto da nossa disciplina.
Boa leitura e bom aprendizado!
A necessidade de execução de cortes em diferentes situações de projeto decorre do fato de que muitas vezes a representação de uma vista pode necessitar o uso excessivo de linhas ocultas. Elas devem ser utilizadas com cuidado, pois em uma vista em que há acúmulo dessas linhas o entendimento do objeto que está sendo representado pode ser prejudicado. Nesses casos, opta-se pelo uso da representação da vista com um recurso que denominamos “corte”, o qual consiste em seccionar o objeto a partir de um plano secante, onde parte do objeto, que fica entre o observador e o plano, fica oculto, representando-se apenas o que está posterior ao plano.
Segundo Luís Veiga da Cunha, a maior vantagem dos cortes é a supressão das linhas ocultas, pois seu uso não faz sentido na representação dos cortes. De uma forma geral, a utilização delas dificulta a leitura e, portanto, não utilizamos linhas ocultas quando utilizamos cortes (CUNHA, 1999).
Nas vistas ortográficas, para indicar corretamente o corte ele é marcado em uma das vistas e representado em outra das vistas. A NBR 10067 estabelece orientações para a execução dos cortes segundo a norma. Quando a localização de um plano de corte for clara, não há necessidade de indicação da sua posição e identificação. Por outro lado, quando a localização não for clara, ou tivermos de distinguir entre diversos planos de corte, a posição do plano de corte deve ser indicada por meio de linha estreita-traço-ponto, larga nas extremidades e na mudança de direção, no caso de cortes em desvio. O plano de corte deve ser identificado por letras maiúsculas e o sentido de observação por meio de setas.
Como visto nas ilustrações acima, os cortes ou seções são evidenciados através de hachuras, e, conforme a NBR 12298, mais adiante, vamos apresentar os diferentes tipos de hachuras para a representação de diferentes materiais. A NBR 10067 orienta que no caso de cortes longitudinais não são hachurados dentes de engrenagem, parafusos, porcas, eixos, raios de roda nervuras, pinos, arruelas, contrapinos, rebites, chavetas, volantes e manípulos.
Outra forma de representação, muitas vezes necessária em desenho técnico, é a utilização de secções, ao invés de cortes. Nos cortes representamos completamente a parte do objeto que fica atrás dos planos secantes, porém, quando é representada apenas a superfície seccionada, temos a representação de uma secção.
Segundo Francesco Provenza, tanto o corte como a secção são utilizados para representar detalhes ou perfis não revelados claramente nas outras vistas (PROVENZA, 1991). Esses métodos permitem ver por dentro dos objetos a representar, sendo vantajoso quando se trata de representações de objetos com configurações interiores difíceis de definir em projeções ortogonais.
Corte Total:
Chamamos corte total quando o objeto é cortado em toda a sua extensão, ou seja, abrange o objeto inteiro. Essa é a forma mais convencional de representação de cortes.
Meio-corte:
Quando utilizamos o recurso do meio-corte, a metade da representação da peça é mostrada em corte, permanecendo a outra metade em vista. Esse tipo de corte é peculiar às peças simétricas.
Corte parcial:
No corte parcial, apenas uma parte da peça é cortada para enfocar um detalhe, e a área deve ser delimitada por uma linha contínua estreita à mão livre ou por uma linha estreita em zigue-zague, conforme a NBR 16861.
Corte em desvio:
No corte em desvio, o objeto é cortado em toda a sua extensão por mais de um plano de corte, dependendo da sua forma particular e dos detalhes a serem mostrados.
A NBR 12298 estabelece orientações para o uso de hachuras na execução dos cortes e secções. Segundo a norma, hachuras são linhas ou figuras com o objetivo de representar diferentes tipos de materiais nas áreas de cortes ou secções, o tipo de linha, segundo a NBR 16861, é sempre uma linha contínua e estreita. Para a representação geral de qualquer material, utilizam-se linhas paralelas inclinadas a 45º em relação às linhas principais do contorno do objeto ou de seus eixos de simetria.
Para a hachura de uma mesma peça, utilizamos sempre a mesma direção.
Para desenhos de conjuntos, as hachuras em peças adjacentes devem ser feitas em direção opostas ou espaçamentos diferentes.
O espaçamento da hachura é decorrente da área a ser hachurada e nunca deve ser menor que 0,7mm, conforme preconiza a NBR 16861. Em áreas de corte muito grandes a norma sugere que as hachuras sejam representadas na vizinhança do contorno, deixando a parte central em branco.
Podemos optar por substituir a hachura pelo preenchimento sólido do trecho seccionado em cor preta. Esse recurso é utilizado quando o trecho a ser hachurado possui uma espessura muito fina, que dificulta a utilização da hachura convencional. Se nesse caso existirem superfícies adjacentes, devemos deixar pequenos espaços em branco entre elas, de, no mínimo, 0,7mm.
Quando é necessário colocar dentro da área hachurada alguma informação em forma de número ou texto, a hachura deve ser interrompida.
A NBR 12298 também prevê que as hachuras podem ser utilizadas, em alguns casos, para a representação de algum tipo de material. Nesse caso, ela sugere algumas hachuras, mas permite a utilização de outras desde que identificadas. No caso do desenho arquitetônico, por exemplo, a NBR 6492 traz uma lista de tipos de hachuras que podemos utilizar nos cortes de projetos arquitetônicos.
Nos capítulos anteriores, trabalhamos com diversos assuntos para chegarmos efetivamente à etapa final, que é a completa representação de um projeto pelo uso do desenho técnico. Destacamos que para a representação de um objeto é necessário preocupar-se com a sua forma, suas dimensões e sua utilização. O dimensionamento, também denominado cotagem, é parte crucial da representação técnica e está sujeito ao regramento dado pela NBR 10126.
Definição de cotagem segundo a NBR 10126:
Representação gráfica no desenho da característica do elemento, através de linhas, símbolos, notas e valor numérico em uma unidade de medida.
A etapa de cotagem deve considerar o que preconiza a norma, evitando situações de informação incompleta, repetitiva ou ambígua.
São elementos de cotagem, a linha de cota, as linhas auxiliares, o limite da linha de cota e a cota.
Linhas auxiliares e linhas de cota:
As linhas auxiliares devem ser prolongadas ligeiramente além da respectiva linha de cota. Um pequeno espaço deve ser deixado entre a linha de contorno e a linha auxiliar. Esse espaço normalmente deve ser de no mínimo 1mm.
As linhas auxiliares devem ser perpendiculares ao elemento dimensionado, entretanto, se necessário, pode ser desenhado obliquamente a ele, (aproximadamente 60°), porém paralelas entre si.
Linhas auxiliares e cota, sempre que possível, não devem cruzar com outras linhas.
Nunca devemos interromper uma linha de cota, mesmo que o objeto esteja representado com alguma interrupção.
Podemos utilizar a linha de centro e a linha de contorno como linhas auxiliares, mas nunca como linhas de cota. Quando a linha de centro é utilizada como linha auxiliar, ela deve continuar como linha de centro até o contorno do objeto.
Limites da linha de cota:
Os limites da linha de cota, que é ponto de intersecção entre a linha de cota e a linha auxiliar, é feito por meio de setas ou traços oblíquos. Quando se faz uso de setas, elas podem ser abertas ou fechadas preenchidas, com linhas curtas formando ângulos de 15°. Para o uso de traços oblíquos, utilizamos uma linha curta com inclinação de 45°. O formato e tamanho utilizado na representação de um desenho técnico deve ser sempre o mesmo, entretanto, quando o espaço for muito pequeno, pode-se utilizar outra forma de indicação do limite. As setas de indicação do limite devem ser representadas preferencialmente entre as linhas auxiliares da cota, porém, quando o espaço for pequeno, elas podem ser representadas externamente, estendendo um traço que acompanha a linha de cota para a área adjacente ao limite. Na cotagem de raios, apenas uma seta de delimitação é utilizada, que pode estar posicionada dentro ou fora do contorno do que está sendo cotado.
As cotas:
As cotas devem apresentar legibilidade, uniformidade e adequação à microfilmagem ou a outros processos de reprodução, conforme indicado na NBR 16861. Elas devem estar localizadas de tal forma que não sejam cortadas ou separadas por qualquer linha.
A NBR 10126 prevê dois métodos de cotagem, mas observa que apenas um deles deve ser utilizado na representação de um mesmo desenho.
Método 1:
No método 1, as cotas devem ser localizadas acima e paralelamente às suas linhas de cotas e preferivelmente no centro.
Para cotas em linhas de cotas inclinadas, observar a ilustração abaixo:
Para cotagem angular, são válidos quaisquer dos métodos abaixo:
Método 2:
No método 2, as cotas devem ser lidas da base da folha de papel. As linhas de cotas devem ser interrompidas, preferivelmente no meio, para inscrição da cota. Para as cotas angulares, é aceito o método ilustrado logo abaixo.
Símbolos utilizados nas cotas:
Os símbolos abaixo são utilizados para facilitar a compreensão do formato do que está sendo cotado, e devem preceder a cota. Os símbolos de quadrado e diâmetro podem ser suprimidos quando a forma for claramente indicada.
Demais considerações sobre o processo de cotagem:
Quando o objeto estiver representado em um trecho, fora de escala e a linha de interrupção não for utilizada, deve-se sublinhar a cota com linha reta, destacando essa condição.
Cotagem de circunferências:
Em circunferências completas, cota-se o diâmetro e, em segmentos de circunferências, cota-se o raio. Quando o centro de grande raio estiver localizado fora do limite do desenho, o raio poderá ser representado por uma linha quebrada duas vezes ou apenas por um trecho do raio real.
Cotagem em série e em paralelo:
Na cotagem em paralelo, as cotas devem ser organizadas de dentro para fora da menor para a maior, para evitar o cruzamento de linhas de cota com as linhas de chamada.
Na cotagem em série, sempre que possível, as cotas devem ser colocadas alinhadas.
Cotagem de elementos repetitivos:
Para a cotagem de elementos repetitivos, pode-se definir a quantidade de elementos de mesmo tamanho e, assim, evitar a repetição da mesma cota, conforme ilustrações abaixo:
Chanfros e escareados:
Para a cotagem de chanfros, podemos utilizar os formatos apresentados
abaixo:
Para a cotagem de escareados, utilizamos os métodos ilustrados abaixo:
Estas são as principais orientações da NBR 10126. Para alguma situação específica não descrita neste material, pode-se consultar a norma.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 10126:1987: Cotagem em desenho técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.
______. NBR 6492:1994:. Representação de Projeto de Arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
______. NBR 10067:1995: Princípios gerais de representação em desenho técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
______. NBR 12298:1995: Representação da área de corte por meio de hachuras em desenho técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
BATTASTINI, Ivan. Computação gráfica aplicada à produção. Organizado por Universidade Luterana do Brasil. Canoas: ULBRA, 2015.
CUNHA, Luis Veiga da. Desenho Técnico. 11. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
MONTENEGRO, Gildo A. Desenho Arquitetônico. 4. ed. São Paulo: Blucher, 2001.
PROVENZA. Francesco. Desenhista de máquinas. 46. ed. São Paulo: Provenza, 1991.
ZATTAR, Izabel Cristina. Introdução ao Desenho Técnico [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes, 2016.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Lucas Dias
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduim