DESENHO TÉCNICO: REPRESENTAÇÃO E NORMAS
Prof. Débora Battastini
Prof. Débora Battastini
Normas técnicas utilizadas;
Os tipos de desenhos projetivos;
A formatação das folhas de desenho técnico;
As características dos traços e a caligrafia técnica;
Representações das diferentes áreas profissionais.
Neste capítulo, abordaremos a utilização do desenho técnico como forma de representar projetos nas áreas de arquitetura, engenharia e design. O desenho técnico é uma linguagem universal que apresenta uma série de requisitos regidos por normas técnicas internacionais de forma que sua representação sempre é feita da mesma maneira para que haja uma única interpretação, não gerando dúvidas ou ambiguidades.
No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT é o órgão responsável pela normalização técnica que alinhado a outras associações de nível internacional definem as normas necessárias para a execução correta das representações técnicas de projetos com vistas a uma comunicação uniforme.
Abordaremos neste tema um amplo leque de conhecimentos necessários para a elaboração das representações técnicas dos projetos. Conheceremos as normas técnicas utilizadas, os tipos de desenhos projetivos, a formatação das folhas de desenho, as características dos traços, a caligrafia técnica, a execução das vistas ortográficas e as peculiaridades das representações das diferentes áreas profissionais.
Cada profissão tem sua própria linguagem, a linguagem para a representação de projetos é o desenho técnico. Vamos, portanto, nos apropriar desse importante tema!
Chegamos ao quinto tema, em que iremos abordar as representações técnicas dos projetos das áreas de arquitetura, engenharia e design. Sendo uma linguagem universal de representação, ela está sujeita a uma série de normas que regulamentam como executar a representação de um projeto de forma completa e sem qualquer ambiguidade.
Já citamos na introdução que a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT é o órgão responsável no Brasil pela normalização técnica que, alinhado a outras associações de nível internacional, define as normas necessárias para a execução correta das representações técnicas de projetos. As principais normas que iremos utilizar e que regem a linguagem do desenho técnico são:
NBR 10067 - Princípios gerais de representação em desenho técnico;
NBR 10647 – Desenho Técnico;
NBR 10126 – Cotagem em desenho técnico;
NBR 6492 – Representação de Projeto de Arquitetura;
NBR 12298 – Representação de área de corte por meio de hachuras em desenho técnico;
NBR 16752 – Desenho técnico — Requisitos para apresentação em folhas de desenho;
NBR 16861 – Desenho técnico — Requisitos para representação de linhas e escrita.
Segundo a NBR 10647, que define os termos empregados em desenho técnico, a norma classifica os desenhos segundo seus aspectos geométricos em dois tipos: o desenho projetivo e o desenho não projetivo.
Desenho Projetivo: nesta classificação estão as vistas ortográficas e as perspectivas que são as representações do projeto através dos sistemas de projeção cilíndrica ou cônica.
Desenho não projetivo: outras representações como gráficos, diagramas, fluxogramas, organogramas etc.
Nesta disciplina, iremos nos focar nos desenhos projetivos, executando as vistas ortográficas dos projetos, que são as projeções cilíndricas ortogonais.
Nas áreas profissionais nas quais este conteúdo está inserindo, existem diversos tipos de desenhos projetivos. Na arquitetura podemos citar as representações de projetos de edificações, com suas representações de plantas baixas, cortes, plantas de localização, situação e fachadas. No design, por exemplo, podemos citar o projeto de produtos com a representação planificada de peças de mobiliário, luminárias, eletrodomésticos entre outros. Nas engenharias, podemos nos deparar também com o desenho de edificações, estradas, estruturas, peças mecânicas, máquinas. Apesar de encontrarmos peculiaridades em cada tipo de representação, em todos esses exemplos a base está na representação planificada de um artefato tridimensional.
Quanto ao grau de elaboração: a norma classifica os desenhos em esboço, desenho preliminar, croqui e desenho definitivo.
Quanto ao grau de pormenorização: a NBR 10647 classifica os desenhos em desenho de componente, desenho de conjunto e detalhe. No desenho de componente, cada parte de um conjunto é representada separadamente, como uma peça de um equipamento, por exemplo, no desenho de conjunto se representa todos elementos juntos e como eles se relacionam e, no desenho de detalhe, fazemos uma vista ampliada de um componente ou conjunto. Abaixo, um exemplo de desenho de conjunto:
A NBR 10647 ainda traz outras classificações como a que descreve o material empregado, relativo ao tipo de material usado como lápis, tinta, giz, carvão ou outro material qualquer. Quanto à técnica de execução, o desenho pode ser executado manualmente ou à máquina. Quanto ao modo de obtenção, o desenho pode ser original ou reprodução. Com relação ao desenho de reprodução, a norma classifica como cópia quando a reprodução é na mesma escala do original, como ampliação, quando a reprodução é maior que o original, e como redução quando a reprodução é menor que o original. Abaixo, exemplo de desenho técnico mecânico:
No desenho técnico, as linhas são representadas com diferentes tipos de traço, bem como diferentes espessuras de traço com vistas a distinguir os traços quanto à sua importância e função. Observe os desenhos abaixo e suas características:
Tipos de linhas, conforme a norma:
Para o traçado dos desenhos, sempre iniciamos pelo uso da lapiseira de traço mais fino para depois executar o reforço do traço e representar as linhas largas. No desenho arquitetônico, na representação de plantas baixas e cortes, além das linhas larga e estreita, também utilizamos uma espessura de linha intermediária (linha média) para os elementos não estruturais em corte. Segue exemplo de planta-baixa com as diferentes espessuras de linha:
Para a representação de caracteres, a NBR 16861 traz algumas recomendações. As principais exigências na escrita em desenhos técnicos são a legibilidade, a uniformidade proporcionalidade, viabilidade de redução e ampliação, caracteres claramente distinguíveis entre si, para evitar qualquer erro de interpretação.
A norma prevê a dimensão mínima para as letras maiúsculas de 1,8 mm de altura, sugerimos que para o desenho executado à mão não se utilize um caractere menor que 3mm. No uso de softwares gráficos, podemos utilizar caracteres de no mínimo 2mm de altura. Para a proporção entre letras maiúscula e minúsculas, a norma sugere que a letra minúscula tenha a proporção de 7/10 da altura da maiúscula. Exemplo: letra maiúscula 10mm, letra minúscula 7mm. Letra maiúscula 3,5mm, lera minúscula 2,5mm. Abaixo, tabela com as informações de dimensões dos caracteres na caligrafia técnica:
Ao representarmos objetos reais, nos deparamos com diferentes grandezas. Teremos formas que cabem com seu tamanho real em uma folha de papel, bem como podemos ter objetos que deverão ser ampliados para podermos observar adequadamente seus detalhes, ou ainda reduzidos, para que caibam em uma folha de desenho.
A NBR 16752 traz orientações sobre o emprego de escalas numéricas nos desenhos técnicos.
Segundo a norma, para indicarmos no desenho técnico o uso de escala, devemos utilizar a palavra “ESCALA”, seguida da indicação da relação, onde:
ESCALA 1:1 – escala natural;
ESCALA X:1 – escala de ampliação X>1;
ESCALA 1:X – escala de redução X>1.
Por exemplo, na ESCALA 1:10, temos uma redução de 10x, cada dez unidades da medida real do objeto são representadas com uma unidade no desenho técnico. Na ESCALA 10:1, temos uma escala de ampliação, onde cada unidade do objeto real é representada dez vezes maior no desenho técnico. A palavra “ESCALA” pode ser abreviada na forma “ESC.” A escala deve ser indicada na legenda da folha de desenho técnico. Quando for utilizada no mesmo desenho mais que uma escala, na legenda será indicada a escala geral, e no local onde houver a representação de um desenho em escala diferente da geral a escala especial deve ser indicada abaixo do desenho.
As escalas usadas em desenho técnico são as especificadas na tabela abaixo:
Para a escolha da melhor escala para a representação de um projeto levamos em conta a complexidade do que está sendo representado e a finalidade da representação, e devemos considerar que a escala escolhida garanta a interpretação do desenho e seus detalhes. A folha de desenho que será escolhida para a representação do desenho técnico dependerá da grandeza do que será representado e da escala escolhida.
Na prática de representação de projetos, já existem algumas escolhas padronizadas, como, por exemplo, para a representação do desenho arquitetônico, plantas baixas e cortes a escala mais indicada é a de 1:50 (redução de 50x). Já para a representação de detalhamento de móveis, o mais usual é 1:10 (redução de 10x). Por outro lado, no desenho técnico mecânico, na representação de elementos de pequena grandeza, como partes de um equipamento ou motor, podemos utilizar escalas de ampliação como 2:1, 5:1 ou 10:1, ou até mesmo a escala natural (1:1).
Ainda podemos utilizar outra forma de representação da escala que não é em formato numérico, chamamos de “escala gráfica”. A escala gráfica permite verificar a relação da dimensão gráfica de um objeto para a sua dimensão real sem a necessidade de fazermos cálculos. Ela apresenta a vantagem de não se alterar quando o objeto representado for ampliado ou reduzido por métodos fotográficos, mantendo sempre a proporção verdadeira. É muito útil quando necessitamos indicar a escala de um objeto que não está sendo representado em uma folha de papel, mas sim, em uma tela de computador, por exemplo. Quando acessamos imagens de mapas pelo GoogleMaps, por exemplo, no canto inferior direito da imagem sempre vem a representação de uma escala gráfica.
Esse tipo de escala é representado por meio de um segmento de reta. Veja alguns exemplos abaixo:
Para a escolha adequada da folha de desenho, seus tamanhos, medidas de margens e legendas, utilizamos como base a NBR 16752.
A NBR 16752 determina as dimensões das folhas de desenho a serem aplicadas a todos os desenhos técnicos. A norma também estabelece o layout da folha, orientando sobre dimensões das margens, bem como, da legenda. Segundo a NBR 16752, o original deve ser executado no menor formato possível, garantindo sempre a clareza do desenho. A escolha do formato é feita com base na tabela abaixo e as folhas de desenho podem ser utilizadas tanto na posição horizontal como na posição vertical.
Abaixo, a tabela com as dimensões padrão de folhas de desenho:
Segundo a NBR 16752, todas as folhas possuem as margens (limites totais) e o quadro (moldura interna), conforme ilustração abaixo. As margens obedecem as medidas informadas na tabela acima.
A norma ainda determina qual é a melhor disposição para os espaços da folha de desenho, dividindo-os em três espaços principais:
Espaço para o desenho;
Legenda;
Espaço para informações complementares, quando necessário.
Nas ilustrações abaixo, podemos observar duas situações, uma preferencial e outra alternativa.
Opção preferencial:
Opção Alternativa:
Em caso da necessidade de usar formatos especiais, com dimensões que não se encontram na tabela acima, a norma recomenda a escolha dos formatos de tal maneira que a largura ou o comprimento corresponda ao múltiplo ou submúltiplo do formato padrão. Segue uma ilustração demonstrando os possíveis formatos estendidos.
A legenda é usada para informação, indicação e identificação do desenho, e deve ser traçada conforme a NBR 16752. A dimensão de largura da legenda é de 180mm para todos os formatos.
A legenda deve conter uma série de informações sobre o projeto que está sendo representado e, segundo a NBR 16752, são as seguintes informações que devem estar na legenda:
a) proprietário legal e/ou empresa (nome, marca fantasia ou logotipo);
b) título;
c) número de identificação;
d) tipo de documento;
e) responsável(eis) pelo conteúdo;
f) autor e aprovador;
g) projetista, desenhista e verificador;
h) data da emissão;
i) escala;
j) número ou indicação sequencial da folha;
k) nome do responsável técnico, título profissional e registro no órgão de classe, quando aplicável.
Outros campos podem ser adicionados à legenda para atender às necessidades específicas do desenho, por exemplo:
a) subtítulo;
b) dados do projeto (nome, localização, fase ou outro);
c) classificação ou palavra-chave (identificação, números, registros ou códigos);
d) local, data e assinatura;
e) indicação do método de projeção;
f) nome do arquivo eletrônico;
g) unidade de medida utilizada, se aplicável;
h) índice da versão ou revisão;
i) total de folhas;
j) idioma.
Para informações sobre dobramento e cópia dos desenhos técnicos, consulte a NBR 13142.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 16861:2020: Desenho técnico — Requisitos para representação de linhas e escrita. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
______. NBR 16752 - Desenho técnico - Requisitos para apresentação em folhas de desenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
______. NBR 10647:1989: Desenho técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1989.
______. NBR 6492:1994: Representação de Projeto de Arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
______. NBR 10067:1995: Princípios gerais de representação em desenho técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
______. NBR 13142:1999: Desenho técnico - Dobramento de cópia. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.
CUNHA, Luis Veiga da. Desenho Técnico. 11. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
MONTENEGRO, Gildo A. Desenho Arquitetônico. 4. ed., São Paulo: Blucher, 2001.
MORIOKA, Carlos Alberto; CRUZ, Michele David da. Desenho técnico: medidas e representação gráfica. São Paulo: Erica, 2014.
PROVENZA. Francesco. Desenhista de máquinas. 46.ed. São Paulo: Provenza, 1991.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Lucas Dias
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduim