Anais Eletrônico

Conferências/Mesas Redondas

A compreensão da vida e da realidade pelo o que se é: o antropomorfismo metodológico de Hans Jonas em diálogo com as epistemologias feministas - Michelle Bobsin Duarte

O presente trabalho pretende buscar uma via de diálogo entre o tema do antropomorfismo metodológico de Hans Jonas, através da ideia de “incorporação” da experiência subjetiva do estar vivo dos sujeitos epistêmicos, e a denúncia das pensadoras feministas sobre as supostas objetividade e neutralidade do modelo científico hegemônico (neo-positivista), que tem por pretensão a universalidade, mas acaba por privilegiar uma visão de mundo específica, que é a do homem branco europeu. O diálogo se estabelece a partir da crítica que o filósofo faz à postura epistemológica moderna que, através do ideal de objetividade científica, pressupõe a desconexão do sujeito do conhecimento de sua condição de ser vivo. Segundo Jonas, tal postura, que evidencia a construção do conhecimento como despojado da causalidade do corpo, trouxe inúmeros prejuízos à compreensão da manifestação do fenômeno da vida. Algumas pensadoras feministas, como Donna Haraway e Sandra Harding, apontam para o mesmo problema, só que de uma perspectiva que visa denunciar a opressão do patriarcado na construção do conhecimento. 


Medicina como ciência e a arte de cuidar: a morte como fundamento de uma Filosofia da Saúde a partir de Hans Jonas - Viviane Cristina Cândido (UNIFESP)

O tema da morte sempre se impôs à Filosofia, especialmente, quando essa Filosofia pretende tratar do vivente. Do mesmo modo, sempre se impôs à Saúde, considerada como o lugar de atenção, assistência e cuidado do vivente, quando a sua vida pede socorro e, em consequência, lugar em que a ameaça da morte se torna presente de maneira mais veemente. Hans Jonas em seu Técnica, Medicina e Ética considera a prática do princípio responsabilidade na área da Saúde, compreendendo a Medicina como ciência e a prática médica – e dos profissionais de saúde – como uma arte baseada nela. Posto que a técnica empregada no exercício dessa arte supõe, necessariamente, a manipulação do ser humano sobre o próprio ser humano, Jonas aponta um a priori – a técnica moderna deve ser objeto da Filosofia, dada a necessidade de pensar a “imagem do homem”, diante da potencialidade de “reelaborar a constituição humana”, apontando a necessidade de considerar o início e o fim da vida “para iluminar, a partir deles, a responsabilidade humana da arte médica”. Assim, no presente trabalho, pretendemos nos ater à compreensão jonasiana da morte, considerando sua experiência judaica e de Auschwitz, a partir de O conceito de Deus após Auschwitz, uma voz judia, em Mortality and Morality – A Search for the good after Auschwitz, e a leitura de Jonas por Pierre Bouretz em Testemunhas do futuro – Filosofia e messianismo para, a partir desse pensar filosófico, vislumbrar uma compreensão jonasiana de ser humano (e a decorrente percepção da finitude) capaz de contribuir com os fundamentos da Medicina como ciência e da prática baseada nela, o que concorreria para o delineamento de uma Filosofia da Saúde.

O valor da vida: a teoria do valor em Hans Jonas - Pedro Malta

Abordar o conceito de natureza no século XXI é trazê-lo para o centro das discussões nas ciências humanas e naturais, tornando-o um ponto crucial no debate pós-humanista que denuncia os efeitos do humanismo tradicional antropocêntrico. O pensamento de Hans Jonas destaca-se entre os autores que contribuem para a reflexão sobre as questões emergentes da contemporaneidade sobre a natureza. Jonas apresenta uma abordagem que pode ser compreendida como alternativa dentro do paradigma da filosofia ocidental, abrindo um diálogo com diferentes formas de saberes. Aproximando a filosofia dos outros conhecimentos. Ao enfrentar o desafio da técnica moderna e sua capacidade de destruir a vida, surge a indagação fundamental: a vida possui valor? E qual seria seu fundamento, intrínseca ou extrínseca? Essa pergunta sobre o valor da vida está diretamente ligada ao poder de destruição advindo da técnica moderna. Assim, meu objetivo é apresentar a teoria do valor do filósofo Hans Jonas, partindo do pressuposto de que sua interpretação do valor transcende o âmbito epistemológico para abranger o ontológico. Valor é entendido como avaliação, um critério pelo qual a vida faz escolhas. A primeira escolha, considerada o primeiro ato de liberdade, é a própria existência. Quando confrontada com a decisão entre viver e não-viver, a vida escolhe persistir, indicando que o viver é um valor intrínseco, alinhado aos seus interesses fundamentais. No entanto, surgem questionamentos sobre os limites ontológicos e, especialmente, epistemológicos ao discutir o valor intrínseco da vida.

"Homo Pictor", "Estrangeiro", Política e Arte: um breve comentário - André Stock

A intenção da comunicação é um breve comentário sobre a relação entre as noções de “Homo Pictor” (1961) e de “Estrangeiro” (1944) – respectivamente dos filósofos Hans Jonas e Alfred Schütz –  com o intuito de pensar como elas podem se inserir no contexto da arte contemporânea do século XX e do atual estado da política. Tanto Hans Jonas como Alfred Schütz, ambos estudantes de Husserl em Freiburg, conviveram com a ascensão das vanguardas artísticas e do extremismo político dos anos 20 e começo dos anos 30, quando então realizaram seus estudos na filosofia e publicaram suas teses de doutorado – Schütz em 1932 e Jonas em1934. Importantes movimentos da história da arte como o surrealismo, o futurismo e o dadaísmo, entre outras vanguardas, apareceram na mesma época em que a Europa era varrida pelas ideologias nazifascistas. Ao que parece, a época da juventude destes filósofos foi como a que vivemos atualmente: de grande produção cultural e artística e ao mesmo tempo de declínio político. Voltarmos nossa atenção, em retrospecto, para as ideias desses pensadores – concebidas na fuga para o exílio e já como professores e colaboradores na New School of Social Research – parece relevante para que se pense os nexos entre a nova e flamejante arte globalizada e a expansão do extremismo político contemporâneo. Mas também, prospectivamente, pensar oportunidades para novos horizontes possíveis.

A técnica em Marx: aportes ao fetichismo tecnológico - Antônio Valverde (PUC-SP)

A comunicação visa historiar e analisar, criticamente, a conceituação de técnica em Marx, de modo a esclarecer a suposta determinação da tecnologia pelas relações sociais de produção e o fetichismo conexo.

Hans Jonas e a necessidade de aceitar os limites do mundo - Marijane Lisboa (PUC-SP)

As dificuldades encontradas pela 28ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU - que está ocorrendo nesse momento em Dubai - em alcançar um consenso sobre a necessidade de combater o aumento dos GEE reduzindo a produção de combustíveis fósseis indica que a as grandes economias do mundo não conseguem aceitar os limites naturais do planeta. De nada adiantam as advertências dos cientistas, nem os protestos das sociedades civis pelo mundo todo. Com efeito, desde a assinatura da Convenção Marco de Mudanças Climáticas em 1992, a comunidade internacional não só não foi capaz de reduzir as emissões nos níveis acordados pelos cientistas de modo a evitar que a temperatura da Terra subisse a mais do que 1,5º em comparação com o período prévio à Revolução Industrial, como, ao contrário, aumentou essas emissões. E isso mesmo depois que a realidade dos efeitos desse aumento da temperatura se mostraram muito mais graves, intensos e frequentes do que os próprios cientistas haviam previsto. Reconhecer os limites físicos e biológicos do Planeta que habitamos, assim como reconhecer a morte como elemento constitutivo da vida, é algo que Hans Jonas buscou nos alertar em sua obra . A vida na Terra, não só a da nossa espécie, em toda a sua diversidade e singularidade, é um evento extraordinário que não somos capazes de replicar, mas sim, de destruir, dado os enormes avanços da tecnociência. No entanto, estamos perigosamente ultrapassando esses limites e talvez atingindo um ponto do não retorno a partir do qual os cenários da vida no planeta, como hoje conhecemos, se tornam assustadores. A única alternativa a essas projeções sombrias é a adoção de uma economia modesta, sóbria, como propõe Hans Jonas e também o Papa Francisco. A proposta do decrescimento, mas também a do Bem Viver dos povos andinos deveriam nos servir de guia para essa mudança urgente de rumo.

A mudança estrutural digital na esfera pública: observações sobre a atualização do diagnóstico de Habermas - Robinson dos Santos (UFPEL)

O objetivo deste ensaio é identificar e analisar os elementos apontados pelo filósofo e cientista social alemão Jürgen Habermas em seu mais recente trabalho dedicado ao tema da mudança estrutural da esfera pública. Depois de uma breve caracterização do que esta categoria representa no conjunto de sua obra, reconstruo e analiso os tópicos que considero mais relevantes, desenvolvidos pelo autor na segunda metade do seu estudo. O fio condutor que permite compreender a nova mudança estrutural da esfera pública é o advento da digitalização da comunicação. Este processo tem consequências diretas e, todavia, ambíguas e potencialmente ameaçadoras para a democracia.

A utopia antropológica jonasiana contra o utopismo tecnológico e político - Roberto Tibaldeo (PUC-PR) 

A minha intervenção enfoca a “vexata quaestio” da crítica da utopia proposta por Hans Jonas nos capítulos 5 e 6 do Princípio responsabilidade, questão pela qual Jonas opôs-se a Ernst Bloch e parece endossar posições conservadoras. O que eu tentarei salientar é a diferença entre utopia e utopismo, à luz da qual não só é possível reconhecer o papel da utopia na antropologia jonasiana, mas também entender melhor a complexa relação entre Jonas e Bloch. O resultado esperado é, ao mesmo tempo, de contribuir para a clarificação da relevância atual do pensamento utópico. 

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