Terça-feira, 22 de novembro de 2022

08h00 - Sessões de comunicação

Fabricio José Pinheiro Coimbra (UFMA)

Aplicação do método de extensão e intensão no Sistema S1

Natalia Pereira Pinheiro (UFMA)

Raciocínios sob incerteza: uma introdução ao conceito de probabilidade epistêmica

Resumos:

Aplicação do método de extensão e intensão no Sistema S1 (Fabricio J. P. Coimbra)

Carnap em Meaning and Necessity (1956), desenvolve um método de extensão e intensão, o qual tem como objetivo fazer uma análise semântica adequada da linguagem. Assim, o método semântico carnapiano será aplicado nas expressões denominadas de designadoras (sentenças declarativas, predicados e expressões individuais) do sistema de linguagem simbólica S1. Rudolf Carnap compreende que as abordagens semânticas que se utilizam do método de nome-relação trazem consigo conceitos imprecisos e ambíguos para análise semântica; logo, entende-se a necessidade de tornar os respectivos conceitos precisos. É com base nessas concepção que Carnap modifica e estende conceitos que serão fundamentais para o desenvolvimento e aplicação do método de extensão e intensão. Dessa forma, Rudolf Carnap desenvolve os conceitos-L (verdadeiro-L, falso-L, implica-L, equivale-L), os quais podem ser definidos somente por regras lógicas sem referências a fatos extralinguísticos. Esses conceitos são explicata para conceitos analíticos. Os conceitos de equivalente e equivalente-L que funcionavam apenas para sentenças, terão seu uso estendido para outros designadores com objetivo de realizar a aplicação do método de extensão e intensão nos demais designadores do sistema S1. Se dois predicados são equivalentes têm a mesma extensão, a condição para que duas expressões tenham a mesma extensão os conjuntos tem que se corresponder, já a condição para que duas expressões tenham a mesma intensão; isto é, dois predicados equivalentes-L, as propriedades têm que se corresponder. Logo, a extensão de um predicado é um conjunto, e a intensão é uma propriedade. Nas sentenças declarativas devemos considerar a extensão de uma sentença declarativa algo que sentenças equivalentes têm em comum. Logo, a escolha natural é o valor de verdade; enquanto a intensão de uma sentença é algo que sentenças equivalentes-L têm em comum. Portanto, a proposição é a intensão que a sentença expressa. Aplicando as noções de extensão e intensão nas expressões individuais, observamos que descriptum é o que há em comum entre duas expressões individuais equivalentes. Dessa forma, a extensão de uma expressão individual é o descriptum, e conceito individual é o que se tem em comum entre duas expressões individuais equivalentes-L; logo, a intensão de uma expressão individual é o conceito individual.

Raciocínios sob incerteza: uma introdução ao conceito de probabilidade epistêmica (Natalia P. Pinheiro)

Não há uma definição unânime para a probabilidade. Matemáticos, economistas, estatísticos e filósofos têm compreensões distintas da concepção de probabilidade e diferentes aplicações para a teoria da probabilidade. Mas, grosso modo, ela serve para representar estados de incerteza e possui dois significados gerais: i. probabilidade objetiva, que descreve eventos ou fatos do mundo, e ii. probabilidade subjetiva, que representa o julgamento que os indivíduos fazem a partir das informações que possuem sobre a chance de algo ocorrer. Dentro dessa noção subjetiva temos as interpretações epistêmicas de probabilidade, que relacionam a probabilidade ao conhecimento, em particular, aos graus de crença racional dos agentes. O objetivo aqui é apresentar a concepção de probabilidade epistêmica e analisar seus desdobramentos conceituais.

09h30 - Palestra

Leonardo Ruivo (NELF/UEMA)

É racional acreditar no que os especialistas dizem?

O conceito de dependência epistêmica foi cunhado e apresentado pela primeira vez em um artigo de John Hardwig (1985) para descrever a situação de um leigo quando aceita o testemunho de um especialista. Dado o fato da assimetria epistêmica entre leigos e especialistas, como justificar que é racional para o leigo aceitar o testemunho especializado? A tese da Dependência Epistêmica Forte (DEF) diz que é racional para um leigo aceitar passiva e acriticamente o testemunho de especialistas (cf Hardwig, 1985, p. 343).

Na primeira parte do trabalho apresentaremos e criticaremos os argumentos de Hardwig em defesa de DEF. Na segunda parte mostraremos que a Teoria da Autoridade (TA), defendida por Zagzebski (2012) e Thomas Gundmann (2021), é um tipo de DEF. Embora TA consiga evitar algumas das críticas endereçadas a Hardwig acaba por sucumbir através de críticas adicionais. Concluiremos apontando possíveis caminhos para uma teoria da dependência epistêmica moderada.

10h30 - Conferência de abertura - Assista a gravação

Catarina Dutilh Novaes (VU Amsterdam)

As Raízes Dialógicas da Dedução

Catarina Dutilh Novaes falará sobre seu mais recente livro, The Dialogical Roots of Deduction (CUP 2020), ganhador do Prêmio Lakatos 2022. No livro, a autora abordada as práticas dedutivas a partir de uma perspectiva multidisciplinar, integrando perspectivas da filosofia, história, psicologia, ciência cognitiva e prática matemática. Catarina Dutilh Novaes recorre a essas disciplinas para defender uma concepção abrangente da dedução como prática dialógica, destacando sua natureza profundamente humana e social, embutida em práticas humanas reais.

Quarta-feira, 23 de novembro de 2022

08h45 - Sessões de comunicação

Jéssica Caren da Silva Melo (UFMA)

Exame dos Termos Singulares em Enunciados de Atitude Proposicional: uma análise do caso à luz do fregueanismo

CANCELADO Leonardo Passos Ribeiro (UFMA)

O debate entre Monismo e Pluralismo lógico

Resumos:

Exame dos Termos Singulares em Enunciados de Atitude Proposicional: uma análise do caso à luz do fregueanismo (Jéssica C. da S. Melo)

A pesquisa vem apresentar que a análise da ocorrência de termos singulares em contextos de enunciados de atitude proposicional vem a se constituir numa aporia, pois permitem uma leitura opaca e uma leitura transparente do mesmo enunciado, então, a partir dos modelos fregueanos não é possível oferecer uma resposta objetiva ao problema tal como aponta Kripke e Quine. O problema dos enunciados que envolvem verbos de atitude proposicional (crer, saber) é que o princípio da substituição parece não se aplicar nestes casos. Esse princípio afirma que: se dois termos referenciais são co-extensivos (isto é, têm o mesmo referente), então são permutáveis salva veritate. Por isso, Frege assume que nomes próprios, dentro do escopo semântico de um verbo de atitude, não podem se referir ao objeto que em um contexto extensional, seja o seu referente usual. Isso porque, em tais contextos, as pessoas não estariam se referindo ao designatum, mas associando diferentes sentidos aos nomes. Ou seja, os nomes próprios co-designativos sempre falham em ser permutáveis quando ocorrem em enunciados de atitudes ou de relatos de atitudes, devido a uma diferença nos modos de apresentação que os falantes associam a esses nomes. Ocorre então, nestes contextos, de acordo com Frege, que os nomes próprios se referem ao modo de apresentação do objeto que é referido pelo nome ocorrido, em contextos extensionais, ou seja, referem ao seu sentido. De acordo com sua visão de nomes próprios nestes contextos, os quais ele chama de oblíquos, referem-se ao seu sentido costumeiro, isto é, ao modo de apresentação do objeto referido em contextos retos. Pois, as pessoas associam diferentes modos de apresentação a um nome. Para o Kripke, o sentido que um dado falante atribui a um nome, como por exemplo, “Cícero”, depende de qual asserção começando com “Cícero” ele aceita, e qual dessas ele considera como definindo o nome. Todavia, qual dessas descrições deve prevalecer sobre as outras? Se ele estiver certo e as descrições definidas de fato fracassam em seu propósito semântico de oferecer a referência inequívoca do nome, referência essa que definiria o seu valor semântico, então, teremos de admitir que o fracasso do princípio da substituição em contextos de crença não pode ser explicado pela diferença de sentido dos nomes. Kripke nos dá algumas razões para rejeitar a tese fregeana-russeliana concernente à explicação e solução para o problema da referência nos nomes próprios em contextos de crença. Segundo ele, embora em tais contextos nomes próprios não sejam referencialmente transparentes, dizer que a referência nestes casos é o sentido costumeiro não resolve, porque as pessoas podem associar a mesma descrição a dois nomes co-designativos e não saber que se trata de uma única pessoa, ou de duas pessoas distintas, pois, geralmente, as pessoas não atribuem sentido aos nomes que inequivocamente identificam o objeto. Enquanto que Quine tem enfatizado que contextos como estes são naturalmente ambíguos. E dessa ambiguidade decorre o que ele chama de opacidade referencial. Para ele, os termos singulares são naturalmente transparentes. A prova disso é que termos singulares co-referencias estão sujeitos ao princípio da substituição. Entretanto, essa transparência é obstruída quando esses termos são partes constituintes de enunciados de atitudes proposicionais. Tomemos o exemplo (1) Ralph acredita que alguém é um espião. De acordo com Quine (1) tem dois sentidos distintos: um nocional e outro relacional. O que pode ser detectado expressando (1) em termos quantificacionais: (1’) Ralph acredita que (∃x) (x é um espião), (1’’) (∃x) (Ralph acredita que x é um espião), (1’) expressa o sentido nocional de (1) e (1’’) o sentido relacional. Afinal Ralph tem alguém em mente ou ele apenas pensa que há espiões? A propósito o que parece tratar de uma diferença de escopo dos quantificadores (uma ambiguidade sintática), é na verdade, de acordo com Quine uma importante diferença semântica. Ele explica que normalmente a ocorrência de um termo singular é puramente referencial e o critério para julgar um termo como tal é sua obediência ao princípio da substituição. O problema com a ocorrência desses termos em contextos de atitudes proposicionais é que são referencialmente opacos. Portanto, Quine compreende que nos contextos de atitude proposicional, os termos singulares os quais normalmente são referencialmente transparentes, isto é, usados para especificar um objeto, naqueles contextos tornam-se não referenciais.

09h30 - Palestra

Allysson Vasconcelos Lima Rocha (UFMA)

Por que ainda discutir a estrutura da justificação?

Pretendo argumentar que há uma maneira de organizar determinado debate na Epistemologia que permitiria alcançarmos melhores resultados na discussão, esclarecendo a sua importância. Minha argumentação, com isso, é fortemente voltada a temas de caráter metaepistemológico. O primeiro passo é fornecer razões para sustentar a importância dessa abordagem. De forma geral, as razões se pautam por identificar como a abordagem da normatividade epistêmica é confusa no debate. O segundo passo é fornecer uma saída para como podemos dar ordem a essa situação, algo possível se atentarmos a maneira como princípios epistêmicos são propostos e como deveriam ser propostos. Esse segundo passo irá fornecer um caminho para que as contribuições que venham a ser feitas estejam minimamente dentro de um quadro de diálogo entre as partes, ou ao menos possamos agora interpretá-las a partir desse enquadramento. Por fim, no terceiro e último passo, alerto para como a noção central para o debate obtém, no novo enquadramento, sua importância devidamente identificada e promissora para esclarecer demais questões da Epistemologia. A noção a que me refiro é a da justificação epistêmica. No presente caso, recebe especial atenção o que comumente se caracteriza enquanto estrutura dessa justificação. O debate em torno da estrutura é organizado em torno de respostas ao conhecido problema do regresso, isto é, a dificuldade em justificar uma crença que emerge quando reconhecemos que para cada razão oferecida há a exigência de outra para sustentar devidamente a crença inicial. Como essa exigência promove o regresso, teríamos como inviável a justificação de quaisquer de nossas crenças. Em termos metaepistêmicos, as dificuldades começam quando, observando o presente estado do debate, não há acordo quanto ao que é o problema, algo que pretendo explicar. A razão para essa discordância, como argumento, está nas diferentes maneiras pelas quais princípios epistêmicos são assumidos. A depender do princípio assumido, a elaboração do que é problema sofre alterações. Uma situação como essa impede que tenhamos um ambiente promissor para tratar seja da justificação epistêmica, seja da sua estrutura. Explico que o cenário se estabelece também em razão de que a própria noção de justificação epistêmica padece da mesma solidez normativa que conhecimento teria, por exemplo. A saída começa por tratar os princípios oferecidos em inúmeras posições a respeito do tema na perspectiva de uma gradação, isto é, quais se mostram mais próximos de princípios ideais da Epistemologia e quais se mostram como não ideais. A estratificação permite uma perspectiva mais unificadora do debate e aponta, argumenta, para o ideal de não arbitrariedade como sendo o guia de todas as teorizações. Visto dessa forma, é possível entender o que está por trás das avaliações epistêmicas propostas no debate. É possível, ainda, entender como a noção de estrutura da justificação pode ser fundamental para trabalhar outras questões da Epistemologia. Mas isso só é possível se entendermos estrutura como não apenas algo abstrato, em termos ideais, à parte de quem quer as tente captar cognitivamente. Mas como algo também não ideal, presente no cotidiano de práticas epistêmicas que guiam inúmeras pessoas no dia a dia, e onde a normatividade da justificação pode ser melhor compreendida.

10h30 - Conferência - Assista a gravação

Diego Tajer (MCMP-LMU)

Pluralism, Correctness, and Carnapian Tolerance

The concept of "logical pluralism" is typically understood as the claim that there are two or more correct logics. However, in some areas of logical practice, the notion of correctness does not play a fundamental role. With regards to some epistemic aims, such as dealing with paradoxical sentences, many logics are on a virtual tie. Theories can certainly be compared, but there is no criterion to decide among them. Logicians provide new theories that are not worse than the others, but arguably not much better. In this sense, they are not supposed to find the correct logic, but to provide an original approach.

In this talk I will describe a different version of logical pluralism, which applies more adequately to these problematic logical disputes. According to this view, logic (as a science) establishes the rules for acceptability of logical theories; while logicians can contribute by providing new, original, and solid approaches. This can be understood as a Carnapian pluralism, where everyone is free to build their own logic. But this freedom is restricted by methodological constraints. This form of pluralism is closer to religious or political pluralism: religious pluralism does not mean that there are two or more "correct" religions or political views, but that everyone is entitled to have their own approach. It is also a form of non-factualism, but unlike Field, I will not claim that these logics are necessarily normative. Indeed, I will explain why this Carnapian approach regarding semantic paradoxes and theories of truth is compatible with less pluralistic views in contexts that involve a stronger normative load.

Quinta-feira, 24 de novembro de 2022

08h00 - Sessões de comunicação

Jéssica Gonçalves Rodrigues (UFMA)

Paradoxos de autorreferência e a incoerência do dialeteísmo

Matheus Marques Rodrigues da Costa (UFMA)

As críticas de Quine acerca da distinção analítico/sintético

Resumos:

Paradoxos de autorreferência e a incoerência do dialeteísmo (Jéssica G. Rodrigues)

Os dialeteístas, como Graham Priest, afirmam que o dialeteísmo, a tese de que há contradições verdadeiras, tem como vantagem fornecer uma solução unificadora para os paradoxos de autorreferência (paradoxo do Mentiroso, de Curry, de Russell, etc.). Esses paradoxos, por sua vez, são considerados como estruturalmente semelhantes, uma vez que, segundo Priest, suas estruturas satisfazem um mesmo elemento subjacente: o Esquema de Inclusão; e além disso compartilham de uma mesma solução. Essa solução é garantida pelo Princípio da Solução Unificadora (PSU), que diz que paradoxos do mesmo tipo devem ser solucionados de modo igual. Com base nisso, Priest garante que o dialeteísmo, com o auxílio da paraconsistência, é a teoria capaz de fornecer uma solução unificadora para os paradoxos de autorreferência. No entanto, Burgis & Bueno (2019) apontam que o dialeteísmo não consegue garantir uma solução unificadora para todos os paradoxos de autorreferência, e um exemplo disso é o contraste entre os tratamentos fornecidos para os paradoxos do Mentiroso e de Curry. No caso do Mentiroso, frases como “Esta sentença é falsa”, por meio da preservação dos recursos básicos das línguas naturais levam à contradição que, por sua vez, é salvaguardada pela adoção de uma lógica paraconsistente – lógicas que derrogam o princípio da explosão. Já no caso de Curry, frases como “Se esta sentença for verdadeira, então tudo é verdade”, não faz uso da contradição e mesmo com o apoio da paraconsistência leva à trivialização direta. Como consequência, o tratamento dialeteísta ao paradoxo de Curry promove o colapso da Solução Unificadora que, em última instância, atua como um ponto positivo para a abordagem dialeteísta. Frente a isso, nosso objetivo é apresentar de maneira geral a incoerência do dialeteísmo em relação aos paradoxos de autorreferência, em especial o Mentiroso e de Curry.

As críticas de Quine acerca da distinção analítico/sintético (Matheus M. R. da Costa)

Em seu ensaio “Dois Dogmas do Empirismo”, Willard Van Orman Quine ataca duas visões cruciais na epistemologia: a distinção entre declarações analíticas e sintéticas e o reducionismo. Embora sua rejeição de ambos os dogmas tenha sido recebida com críticas, nossa apresentação se concentrará em sua refutação da distinção analítico/sintético. Primeiro, Quine criticou o conceito de significado e sinonímia como base para a analiticidade. Alguém pode afirmam que as verdades são analíticas se forem verdadeiras puramente pelo significado. Quine aponta que o significado é claramente diferente de nomear ou denotar. Por exemplo, enquanto os nomes “Estrela da Manhã” e “Estrela da Noite” denotam o objeto Vênus, o significado das palavras permanece separado da denotação porque o referente dos nomes era uma questão de descoberta (ou de fato). Desta forma, o significado não é algum tipo de objeto ou entidade e parece ser algo muito mais evasivo. Sem alguma ‘entidade de significado’ para fornecer uma base para analiticidade, pode-se oferecer que definições fornecem uma base utilizando a sinonímia entre as palavras. Por exemplo, 'solteiro' e 'homem solteiro' são sinônimos em virtude de terem definições semelhantes/idênticas. No entanto, Quine destaca que para criar essas definições é preciso pressupor, em primeiro lugar, a sinonímia. Se se começa com “solteiro” e tenta-se pensar num novo termo que teria a mesma definição, deve-se considerar quais termos seriam sinônimos. De fato, Quine argumenta que a única as definições que não pressupõem sinonímia são abreviaturas. Por exemplo, pode-se usar 'B2' para se referir a 'cisne', caso em que B2 é sinônimo de cisne por pura convenção. Quine considera mais algumas opções na tentativa de preservar a analiticidade, mas todas provam-se insuficientes ou circulares. Primeiro, Quine considera o uso da intercambialidade em contextos linguísticos, exceto entre aspas, isso não altera o valor de verdade como padrão para analiticidade. O problema com esse tipo de intercambialidade, como aponta Quine, é que é insuficiente para o que é necessário com analiticidade. A mera permutabilidade não é suficiente; o que realmente se quer é algo que preenche 'sinônimo cognitivo' de tal forma que qualquer substituição do termo X pelo termo Y carrega o mesmo significado relevante. No entanto, Quine mais uma vez afirma que isso ainda requer uma pressuposição de sinonímia. Em segundo lugar, Quine tenta usar regras semânticas para contornar o significado e completamente a sinonímia. Sem entrar em detalhes, Quine argumenta que a analiticidade só pode entrar em uma linguagem por meio de regras semânticas se as regras pressupõem a própria analiticidade. Quine, depois esgotando todas as opções apresentadas até agora, conclui que não há base no significado, sinonímia, ou regras semânticas para analiticidade. Nossa apresentação consiste em analisar as críticas de Quine, cuja base reside, sobretudo, em sua rejeição à distinção analítico-sintético e suas principais discussões na atualidade.

09h30 - Palestra

Ederson Safra Melo (NELF/UFMA)

Uma entrada dialeteísta na filosofia da paraconsistência de Newton da Costa

Newton da Costa nos Ensaios Sobre os Fundamentos da Lógica avança uma concepção dialeteísta via um tipo especial de paradoxos. Na perspectiva de Da Costa, um paradoxo pode apresentar uma solução negativa ou positiva. Uma solução negativa resolve o paradoxo mostrando que ele consiste em uma falácia. Já uma solução positiva resolve o paradoxo ao aceitar a conclusão do paradoxo. Considerado um paradoxo não falacioso com uma contradição em sua conclusão, uma solução positiva estabeleceria que há contradições verdadeiras. Podemos dizer que a abordagem negativa é a resposta tradicional, enquanto a abordagem positiva se tornou possível pela existência das lógicas paraconsistentes: poder manter uma contradição, sem trivialidade. Todavia, a lógica não nos informa que tipo de solução é adequada para os paradoxos, já que do ponto de vista formal podemos ter lógicas adequadas tanto para uma solução negativa (e.g. lógica clássica), quanto para uma solução positiva (alguma lógica paraconsistente). Diante disso, Da Costa aponta para as aporias como uma espécie de via para contradições na realidade. Uma aporia é um paradoxo cuja a solução envolve modificações substanciais nos princípios básicos da ciência e que, além disso, há uma disputa sobre os tipos de solução adequadas. Com base nisso, Da Costa questiona se a dificuldade com as aporias não estaria justamente em procurar descrições consistentes para uma realidade inconsistente. Entretanto, da Costa também aponta para o caráter histórico das aporias: o que é considerado uma aporia em um determinado contexto histórico pode ser considerado uma falácia em outro contexto histórico. Em nossa apresentação vamos contrastar a aporia como via para contradições verdadeiras e a sua dimensão histórica. Vamos argumentar que, assim como a lógica, uma visão particular sobre o comportamento do paradoxo (a aporia dotada de uma dimensão histórica) também não pode decidir sobre a existência de contradições e nem sobre o tipo de estratégia a ser adotada diante de fenômenos que envolvem contradições. Vamos defender que, até então, a saída mais razoável parece seguir uma atitude naturalista em relação ao problema.

10h30 - Conferência - Assista a gravação

Jonas Becker Arenhart (UFSC)

Lógica como modelo: mais do que apenas representação

Segundo a abordagem da lógica como modelos, teorias lógicas devem ser entendidas de forma similar aos modelos matemáticos em ciência empírica. Com isso, os papéis da idealização, simplificação, abstração e dos objetivos epistêmicos na própria criação dos modelos são mais claramente reconhecidos quando se propõe uma teoria lógica, abrindo novas perspectivas para a discussão acerca da correção de um sistema de lógica. Nesta fala, gostaríamos de discutir características envolvidas no uso dos modelos que a abordagem em lógica pode herdar da discussão filosófica existente na filosofia da ciência. Vamos focar no uso exploratório dos modelos, no uso dos modelos como fundamentos para experiências de pensamento, e como ferramentas que permitem generalizações matemáticas mais acessíveis. Essas dimensões do uso dos modelos na lógica permitirão que diversos aspectos da prática dos lógicos seja iluminada, e que a disputa filosófica pela lógica correta seja deslocada do centro das atenções, deixando de ser o único alvo epistêmico de interesse.

Sexta-feira, 25 de novembro de 2022

08h00 - Sessões de comunicação

Ian Salles Botti (UFMA)

What is intellectual humility? A brief overview of the current debate

Renato Semaniuc Valvassori (Unicamp)

A Teoria dos Objetos de Meinong e seus primeiros objetores

Resumos:

What is intellectual humility? A brief overview of the current debate (Ian S. Botti)

This presentation is an overview of the debate on how to define intellectual humility (IH). Many analyses have been proposed in the last few decades, characterizing (IH) in various terms, such as low intellectual self-esteem, low concern for status, accurate evaluation of the epistemic status of one’s own beliefs and owning of one’s intellectual limitations. Thus, there is a broad disagreement concerning (IH) analysis. I will make a brief mapping of the main conceptions of (IH), based on two distinct ways of categorizing and evaluating them:

1. The first one, proposed by Battaly, conceives character traits as complex dispositional profiles that include cognitive, behavioral, motivational and affective dispositions. This model organizes the analyses by their level of complexity. The simplest analyses are those in which intellectual virtue is defined only in terms of cognitive dispositions. The most complex ones are those in which all four types of dispositions are included. Battaly considers complete conceptions as the strongest ones because they successfully manage arguments against the conceptions that ignore some part of the dispositional profile of the trait. Conceiving (IH) simply as a cognitive disposition, for instance, has the disadvantage of conceptualizing intellectual humility as being compatible with vicious action, motivation, or emotion. Therefore, in Battaly’s view, the criteria of individualization of kinds of analyses implies an evaluative hierarchy whereby the simplest ones are, ipso facto, weaker than the most complete ones.

2. The second way of categorizing analyses of (IH) is proposed by Tanesini and by Kallenstrup and Pritchard. It distinguishes between three groups of analyses, each of which conceives intellectual humility as a virtue of ignorance, or accuracy, or non-egotism, respectively. The first group contains analyses including negative elements, such as underestimating oneself intellectually, or having a low intellectual self-esteem. The second group consists of the ones focusing on the accurate evaluation of oneself as an epistemic agent, counterposing humility with vices such as intellectual arrogance. The third group contains conceptions focused on the interpersonal dimension of the trait, instead of considering some kind of epistemic self-evaluation as necessary to intellectual humility. In this categorization, the first group of theories is taken to be the weakest, for it includes an epistemic error in the analysis and also because it has difficulties to explain what it is that makes intellectual humility a virtue.

Finally, I will argue that this last categorization, by Tanesini, Kallenstrup and Pritchard, has advantages over Battaly’s, since it (i) does not depend on assumptions concerning the nature of character traits; (ii) doesn’t favor one of the categories; and (iii) accommodates interpersonal conceptions of intellectual humility.

A Teoria dos Objetos de Meinong e seus primeiros objetores (Renato S. Valvassori)

Em seu famoso artigo Über Gegenstandstheorie, escrito em 1904, Alexius Meinong apresenta os princípios fundamentais de sua teoria dos objetos e, em especial, defende a ideia de que é possível teorizarmos e adquirimos conhecimento acerca de objetos inexistentes, dando forma ao que futuramente viria a ser chamado de metaontologia meinongiana - isto é, uma maneira de conceber a tarefa da ontologia, inspirada por Meinong, e que compreende a possibilidade de quantificação sobre objetos inexistentes como um aspecto fundamental de uma teoria adequada à compreensão do fenômeno da intencionalidade mental.

Seu primeiro grande objetor foi Bertrand Russell, o qual acusou de inconsistência a teoria elaborada por Meinong em seu celebrado ensaio On Denoting (1905). Alguns anos depois, Willard van Orman Quine escreve o artigo On What There is (1953) e realiza novas críticas à teoria dos objetos de Meinong, lançando as bases para uma metaontologia que viria a se tornar predominante em filosofia analítica nos anos subsequentes - a chamada metaontologia quinena, a qual compreende que a quantificação em âmbito filosófico/científico sobre um certo domínio de objetos nos compromete com a existência de tais objetos.

Já em 1982, Richard Sylvan (até então conhecido como Richard Routley) publica uma resposta à Quine com a intenção de dissolver as principais objeções à teoria meinongiana e salvaguardar a metaontologia por ela concebida.

O objetivo da apresentação será expor resumidamente os principais aspectos da Teoria do Objetos de Alexius Meinong, dividindo-a em seis princípios fundamentais, e discutir as principais objeções à ela levantas por Russell e Quine. Ao final da apresentação, dicutirei como Sylvan responde a essas objeções com a finalidade de defender a metaontologia meinongiana.

09h30 - Palestra

Raoni Wohnrath Arroyo (CLE/Unicamp)

Revelando uma bomba-relógio: quase-verdade entre estruturalismo e empirismo

(em co-autoria com Otávio Bueno, University of Miami)

De acordo com o realismo estrutural, devemos acreditar na existência de estruturas que representam fenômenos empíricos. As principais motivações são: responder à meta-indução pessimista e ao problema da subdeterminação. Uma versão significativa do realismo estrutural exige a adoção de estruturas parciais para resolver o último. Usamos um exame atual da mecânica quântica não relativística para ilustrar as questões relevantes e argumentar que o conceito de quase-verdade envolve uma concepção epistemológica embutida na formulação de estruturas parciais. Em questão aqui estão teses inseparáveis ,​​que muitas vezes não são reconhecidas. Formulada em termos de quase-verdade, a abordagem realista estrutural da subdeterminação afirma que podemos aceitar (mas não acreditar) cada uma das teorias quânticas alternativas, na medida em que todas são quase-verdadeiras—ou seja, empiricamente adequadas. Uma mudança significativa da crença e da verdade foi implementada. Mas as distinções entre crença e aceitação, bem como entre representação e adequação empírica, são características do empirismo, não do realismo. No final, argumentamos que o realismo estrutural não pode fazer uso de estruturas parciais se ainda quiser permanecer uma postura realista. (Apoio: processo No 2021/11381-1, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP))

10h30 - Conferência de encerramento - Assista a gravação

Décio Krause (UFRJ)

Quantum Negation

In classical logic, negation is a unary operator that applies to formulas to generate their contradictories: in a consistent framework, you cannot have both. But in quantum logics a formula and its (quantum) negation do not exclude one another: they can be both false, yet not both true in the same context. I suggest treating a formula and its quantum negation as contraries using Aristotle's Square of Opposition. In this talk, I contrast classical negation, quantum negation, and paraconsistent negation (sub-contrariety). In particular, I argue that, contrary to the standard parlance, Schrödinger’s cat is not both alive and dead before measurement.