26 de setembro de 2020
(9h30 às 17h do Brasil)
I Jornada
Cenários do Viver no Maranhão Colonial
inscrições - plataforma SIGEVENTOS - UFMA
( via - google meet)
A Jornada
A despeito de perspectivas homogeneizantes, que tomam a parte pelo todo e, por isso mesmo, mais encobrem do que revelam o que pretendem mostrar, é certo dizer que, recobrindo um longo e conflituoso processo, o Maranhão se configurou como um mundo marcado por grande complexidade, o que seguramente se deveu às suas características físicas, como e principalmente à imensa diversidade dos homens e mulheres que lhe deram vida. Assim, resultado de um movimento que tivera seus inícios no século anterior, em meados do século XVIII, ilhas e terras firmes, ribeiras dos grandes rios, extenso litoral, matas e sertanias ainda sem limites à vista foram se tornando cenários do viver, chão de história para quantos ali aportavam, depois de terem deixado para trás a terra de seus maiores, por livre e espontânea vontade ou, muito pelo contrário, o fizeram acorrentados, num tumbeiro, realidade diante da qual muitos teriam preferido a morte que fazer a travessia do meio, para uma vida que sabiam qual seria.
Em detrimento, porém, dos desejos e sonhos, esperanças e desenganos de uns e de outros, na terra em que aportaram, suas vidas não só se cruzariam como se entrelaçariam de forma indissociável e para todo o sempre, o que se daria também com as das gentes que nela se encontravam desde imemoriais tempos, precedência e história que havia desenvolvido e cristalizado nelas a certeza de ser a dita terra pertença sua. Assim, como tudo que envolve dominação e exploração, enfrenta resistência, ressalte-se que idas e vindas, avanços e recuos marcaram a dinâmica em tela, além do que, para os objetivos que nos reúnem em torno dessas mesas, importa observar que o mundo que no Maranhão se edificava obedecia a critérios hierarquizantes, formulados a partir das diferenças mais visíveis entre os adventícios e aqueles e aquelas que ali se encontravam, notadamente as de gênero e étnicas, raciais como então se considerava. Em outros termos, devido ao fato de alguém ser homem ou ser mulher, ser branco ou ser preto, ser livre ou “ser escravo”/ter sido escravizado, ser tido como cristão, considerado herege ou seguidor e praticante de outras errôneas crenças instituiu toda sorte de desigualdade nas terras do Maranhão, por conseguinte, instituiu a violência que seria intrínseca a todas as relações travadas entre esses diferentes sujeitos no curso de sua existência.
Com base, na demografia histórica, especialmente nos assentos de batismo da freguesia de N. S. das Dores do Itapecuru – MA, no período áureo da exportação de algodão e arroz, a Profa. Dra. Antônia da Silva Mota abordará a comunicação “Escravidão e Família no Maranhão Colonial”. De acordo com a Profa. Mota, a partir do “auto de desobriga” dos anos 1813/14 da Ribeira do Itapecuru, foi possível verificar uma grande concentração de escravizados de origem africana e pouca presença de populações livres, pois, dos 367 batismos realizados, 92% eram de crianças em situação de cativeiro. Mais significativo ainda foi constatar que 40% delas nasceram em lares legítimos e inúmeras outras tiveram os dois genitores presentes à cerimônia de batismo, ainda que não fossem casados na igreja católica. Donde conclui que, naquela região em especial, os escravizados estavam se unindo em torno dos laços rituais e de consanguinidade, formando Grupos Familiares apartados de seus senhores absenteístas, com implicações sociais importantes. Ou seja, mesmo vivendo sob cativeiro, começaram a se unir em bases sólidas, em torno de laços difíceis de se quebrar e, graças a estes laços geracionais, certamente a ancestralidade africana se preservou em muitos aspectos.
Verso e reverso de uma mesma moeda, fortuna e infortúnio andaram sempre de par no Maranhão daquele tempo, como bem se percebe por meio do tumultuoso processo que animou conversas em esquinas e becos de São Luís, como também em caminhos e veredas, lugares e fazendas, nas ribeiras do Mearim e do Itapecuru, pois que tinha em campos adversários marido e mulher, a respeito de quem dividiam-se as opiniões e os veredictos. Episódio de espetaculosidade tanto maior quando no comando dos que torciam pela mulher tinha-se o governador e chefiando a torcida do marido, ninguém menos que o bispo, o qual é tomado pela Profa. Dra. Maria da Glória Guimarães Correia, com vistas e reconstituir e analisar o viver apaixonado e apaixonante dessas gentes, fazendo-o na comunicação “Pelos vestígios de uma vida”; vida de mulher, com tudo que isso significava em função do tempo, do lugar e dos traços que a definiam.
Em muitas coisas semelhante, mas também apresentando especificidades que o singularizavam nos limites dos domínios portugueses na América, crenças e práticas religiosas desviantes também seriam objeto de perseguição no Maranhão do século XVIIII. Assim, sendo sabido por todos que, do mesmo que se verificava com os escravizados, a condição do ventre em que esse ou aquele havia sido gestado era o que definia sua identidade judaica, ou seja, essa filiação religiosa era transmitida aos filhos e filhas por suas mães, numa decorrência natural desse princípio estruturante do judaísmo, as investidas do Santo Ofício no Maranhão necessariamente teriam sob sua mira aquelas que haviam assegurado ou viriam a assegurar a reprodução do credo de Moisés. Credo que por falso e perverso devia ser de todo extirpado, sobre o que se deterá a Profa. Dra. Marize Helena de Campos em sua comunicação “Por ser gente de nação: notas sobre judaísmo feminino em terras do Maranhão colonial”.
E como se isso não bastasse, nesse mesmo Maranhão de tantos conflitos, não eram poucos os que eram dados a “usar mal de si” em concubinatos, bigamias e outros pecados até de maior gravidade. Isso sem contar toda espécie de feitiçaria que alguns eram mestres em praticar, a título de cura de doenças e solução para todo tipo de problema, de amor, inclusive, para o que casavam e separavam, arrogando-se tanto poderes que não eram dados aos homens e mulheres, pois que eram atributos divinos. Realidade que muito bem mostra a complexidade do viver que pretendemos destacar, para cuja compreensão o Prof. Dr. Raimundo Inácio Souza Araújo muito contribuirá analisando crenças e práticas a que homens e mulheres, ricos e pobres, livres e escravizados, enfim, pessoas de perfis os mais distintos recorreram e que marcaram sua existência no correr do século em apreço, tema de sua comunicação sobre “Visitas pastorais no Maranhão setecentista”.
Grupo de Estudos e Pesquisas “Cenários do Viver no Maranhão” (Profa. Dra. Antônia da Silva Mota; Profa. Maria da Glória Guimarães Correia; Profa. Dra. Marize Helena de Campos e Prof. Dr. Raimundo Inácio Souza Araújo) – Universidade Federal do Maranhão; Colégio Universitário UFMA; ProfHistória UFMA
INSCRIÇÕES
As inscrições devem ser feitas exclusivamente na plataforma SIGEVENTOS - UFMA
A carga horária será de 6h e a certificação oficial fornecida pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Veja abaixo o passo a passo
Acessar o link: https://sigeventos.ufma.br/eventos/public/home.xhtml
Se você já possui cadastro:
* No canto superior direito, clicar em "entrar no sistema", em seguida clicar em "Realizar uma nova Inscrição" e realizar a inscrição no evento.
Se você ainda não possui cadastro:
* No canto superior direito, clicar em "entrar no sistema"
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*Realizar o cadastro com os dados solicitados.
*Clicar no final da página em “cadastrar”.
*Ao receber o e-mail de confirmação, clicar em validar o cadastro.
* Retornar a plataforma e seguir o passo a passo para quem já possui cadastro.
O link de acesso será enviado com 24 de antecedência para o e-mail cadastrado.
Conferencista, Organizadores, Palestrantes e Moderadoras
Conferencista
Prof. Alexandre Pelegrino
Slave Societies Digital Archive
Department of History at Vanderbilt University
Organizadora e Palestrante
Profa. Dra. Antônia Mota
DEHIS - ProfHistória
Universidade Federal do Maranhão
Organizadora e Palestrante
Profa. Dra. Maria da Glória Guimarães Correia
DEHIS - ProfHistória
Universidade Federal do Maranhão
Organizadora e Palestrante
Profa. Dra. Marize Helena de Campos
DEHIS - ProfHistória
Universidade Federal do Maranhão
Organizador e Palestrante
Prof. Dr. Raimundo Inácio Araújo
COLUN - ProfHistória
Universidade Federal do Maranhão
Moderadora
Profa. Dra. Isabel Araújo Branco
Centro de Humanidades - CHAM
Universidade Nova de Lisboa
Moderadora
Profa. Dra. Maria Dávila
Centro de Humanidades - CHAM
Universidade Nova de Lisboa
Saiba mais sobre a
I Jornada Cenários do Viver no Maranhão Colonial
A I Jornada Virtual “Cenários do Viver no Maranhão Colonial, organizada pelo Grupo de Pesquisa “Cenários do Viver no Maranhão” (DEHIS/COLUN/UFMA), propõe um painel das pesquisas desenvolvidas pelos seus integrantes sobre a História do Maranhão no período colonial.
Seu objetivo principal é apresentar estudos sobre o Maranhão Colonial a partir de sua diversidade e das mesclas processadas, bem como das superposições e das diferenças verificadas nas tramas de sua dinâmica cotidiana.
Pensada como um espaço de diálogos e intersecções, a Jornada terá a participação do Historiador Alexandre Pelegrino (Doutorando da Vanderbilt University), que fará a Conferência de Abertura, e das Doutoras Isabel Araújo Branco e Maria Dávila (Investigadoras / Coordenadoras do Centro de Humanidades CHAM da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores), que farão a moderação das Mesas Redondas.