O projeto Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural pretende a constituição de um repositório de memórias, através da realização de entrevistas a mulheres no espaço rural alentejano. Desta forma, parte-se do dia 25 de Abril de 1974 explorando o período anterior e posterior à transição de regime, na busca de compreender as transformações sociais ocorridas.
Mulheres entrevistadas no âmbito do projeto
Neste espaço iremos partilhar algumas histórias relatadas durante as entrevistas que recolhemos
Monte Alentejano
4 irmãos pequeninos viviam no “monte” onde os pais trabalhavam. Ficavam ao cuidado uns dos outros, na maior parte do dia.
O “monte” era visitado de longe em longe pelos patrões, que se deslocavam de automóvel. Visitas curtas. A senhora quase nunca saía do carro. Os meninos só a vislumbravam através do vidro.
Um dia a senhora abriu a janela e deu indicações às crianças para se aproximarem do carro. Foram as 4.
Através de sinais ela foi dando a entender que apenas a mais pequenina se devia chegar até junto do automóvel. Quando ela se aproximou deu-lhe um rebuçado.
A história acaba aqui.
Para os meus amigos não alentejanos, o “monte” é constituído por uma ou mais construções destinadas à habitação, mas também ao apoio às actividades agrícolas no Alentejo.
Os “montes” constituem, no seu conjunto, uma forma de povoamento disperso, numa paisagem caracterizada por cidades, vilas e aldeias onde se concentra a população.
Ao longo das últimas décadas, com o declínio da agricultura e pecuária tradicionais, muitos “montes” foram abandonados. Restam alguns por serem muito grandes ou por ficarem próximos das povoações.
Manuela Oliveira
Trabalhadores rurais em Portel- década de 1960
Uma entrevistada de Viana do Alentejo, com mais 80 anos, ainda trabalhou em jornadas em regime “de sol a sol” (do nascer ao pôr do sol), só abolidas em 1962 em Portugal, depois de muitas lutas dos trabalhadores rurais, referiu a expressão.
Nessa época, e em períodos de campanhas agrícolas (ceifas, mondas, apanha de azeitona, etc.) os trabalhadores deixavam as suas casas das vilas e aldeias e passavam a viver em barracões dos “montes”, sem quaisquer condições de dignidade.
Folgavam ao domingo, o que significava que iam a pé para as suas casas, quase sempre a quilómetros de distância.
Nos fins de tarde de sábado e na madrugada de segunda-feira, tinham então direito a “1/4 de sol”. Isto queria dizer que tinham 2 horas de sol para a deslocação da aldeia para o “monte” e vice-versa.
Tantas histórias de vida ouvidas, tantas mulheres incríveis!
Manuela Oliveira
Vila de Portel
Um grande proprietário agrícola fez uma filha a uma sua empregada (facto que não era tão raro assim…).
Nunca a reconheceu legalmente, embora tenha apoiado com dinheiro e bens a sua criação e educação, enviando regularmente um emissário à casa onde a criança vivia com a mãe.
Um dia, o sr. proprietário morreu. Um sobrinho tomou conta da herança, as propriedades e a casa grande do centro da vila.
As pessoas não se conformaram com a injustiça, já que era do domínio público a existência da sua filha.
Então reuniram-se no Largo, maioritariamente mulheres, abriram a porta grande, subiram a escadaria e confrontaram o sobrinho com a situação, que saiu pelo seu pé.
Instalaram a filha na casa que sabiam ser sua por direito.
Poucos anos depois, o Tribunal deu razão à descendente e legalizou esta acção de solidariedade popular.
Manuela Oliveira
Podcast
Este episódio teve por base o tema da educação e da escolarização das mulheres, através de um conjunto de entrevistas realizadas no âmbito do projeto “Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural”.
Partindo de Portel, seguimos até Nossa Senhora de Machede, Vimieiro, Arraiolos e terminamos nas Ilhas de Arraiolos, escutando as vozes destas mulheres que relacionam as suas experiências pessoais, com as das comunidades onde se inserem.
As primeiras notícias dos acontecimentos ocorridos a 25 de Abril de 1974 foram vividos de forma diferente por cada pessoa e nas suas comunidades. Nessa perspetiva, fomos ouvir os testemunhos das mulheres do Alentejo.
As entrevistadas foram as senhoras Maria Leonarda Madeira, Francisca Ramalho, Maria Amélia Paiva, Esmeralda Zambujo, Ana Ourives, Maria José Serra, Isaura Serra e Ivone Lopes.
No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril de 1974, está a ser desenvolvido o projeto “Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural”, pelo CIDEHUS.
Neste primeiro episódio da série “à conversa com a história”, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques irão apresentar este projeto.
Notícias
No dia 26 de setembro de 2025 realizou-se mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores, em Évora. À semelhança dos últimos anos, o projeto "Sharing Memories: voices of community" levou atividades à NEI. A linha de investigação "Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural" participou com um vídeo online, acerca do projeto e a partilha de testemunhos recolhidos no âmbito da investigação em curso.
O Centro Interpretativo de Molinologia Foros de Arrão acolheu a apresentação do projeto “Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural”, no município de Ponte de Sor. No dia 12 de julho de 2025, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques deram a conhecer à população, os objetivos do projeto, os formatos da recolha audiovisual e fotográfica e o Arquivo da Universidade de Évora, onde se encontram depositadas as entrevistas. De seguida, tiveram lugar momentos de troca de experiências, onde foram abordados temas como a escolarização, as condições de vida, o trabalho e a vida quotidiana.
No passado dia 7 de maio de 2025, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques participaram na 2ª Edição do Colóquio “Género, Diversidade e Cidadania”. O evento decorreu no Colégio Luís António Verney- Universidade de Évora e pretendeu dar continuidade à 1ª edição, organizada em 2007.
A comunicação intitulada “Mulheres e participação no espaço público no Alentejo rural, do Estado Novo à Democracia. Uma proposta de interpretação” explorou a alfabetização das mulheres na vida adulta, a sua participação nos movimentos sociais e políticos no período pós-revolucionário, bem como a manutenção e as mudanças nas relações de género. Em discussão esteve a delimitação de papéis de género, as diferenças geracionais das entrevistadas, as experiências no Alto Alentejo e no Ribatejo, mas também a abertura das mulheres ao espaço público.
A linha de investigação Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural, no âmbito do projeto Sharing Memories: voices of community, a investigadora Diana Henriques participou no passado dia 24 e 25 de Abril de 2025 no Young Research Marathon, em Badajoz. Este encontro acolhido pela Universidad de Extremadura reuniu jovens investigadores das 9 instituições pertencentes à EUGREEN.
A comunicação intitulada “April 25th in Rural Areas: Transformation of Women’s Roles” abordou as mudanças na sociedade portuguesa após 1974, explorando os papéis de género e as decorrentes transformações. Partindo dos testemunhos recolhidos, teve-se como objetivo compreender de que forma as mulheres participaram na vida da sua comunidade, numa cronologia que se estende do período pós-revolucionário até à atualidade.
A investigadora Maria Ana Bernardo esteve no podcast 90 Segundos de Ciência, focado na recolha de entrevistas do projeto "Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural".
Nos dias 24 e 25 de outubro de 2024 realizou-se o I Congresso Internacional do CIDEHUS- Universidade de Évora, assinalando os 30 anos do centro de investigação. Sob o tema “Social Changes in the south: Interdisciplinary approaches” esteve em análise as transformações ocorridas no sul. As investigadoras Diana Henriques e Maria Ana Bernardo apresentaram “As mulheres e o 25 de Abril de 1974 no Alentejo rural- memórias de participação cívica e política”. O debate centrou-se nos silêncios das fontes em relação às mulheres, nos usos da memória pública e no recurso à história oral enquanto metodologia.
O colóquio internacional "La femme, les espaces d’habitation et les objets du quotidien au fil du temps : perspectives historique et patrimonial" decorreu no dia 4 de outubro de 2024, no Colégio do Espírito Santo- Universidade de Évora.
O evento organizado pelo Mestrado Erasmus Mundus TPTI- Techniques, patrimoine, territoires de l’insdustrie contou com a participação das investigadoras Maria Ana Bernardo e Diana Henriques, com a comunicação “Les entretiens comme moyen de connaître la vie quotidienne des femmes dans d’Alentejo”.
Decorreu na Praça 1º de Maio, em Évora, a Noite Europeia dos Investigadores. A noite de 27 de setembro de 2024 foi preenchida de atividades, entre as quais participaram as linhas de investigação que complementam o Sharing Memories. Sob o mote “um brinde à ciência, uma cerveja, um cientista, uma conversa” os investigadores reuniram-se trocando impressões acerca dos papéis femininos, os agentes escolares e o cante nas comunidades alentejanas. A este grupo juntou-se a Dra. Aurora Rodrigues que partilhou com os presentes as suas memórias.
No passado dia 19 de setembro de 2024, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques apresentaram a linha de investigação com o título “Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural: a Memória e a História”. A participação contou com um pequeno vídeo sobre as entrevistas e com uma discussão acerca dos arquivos, da história oral e a memória pública.
A comunicação “Vozes Plurais: mulheres em perspetiva – O 25 de Abril no Alentejo rural – uma interseção entre a História e a Antropologia” foi apresentada no passado dia 27 de junho de 2024, na Biblioteca do Palácio das Galveias, em Lisboa.
O convite da Associação Bento de Jesus Caraça, abordou-se o cruzamento metodológico da Antropologia e da História, bem como esteve em discussão o 25 de Abril de 1974, contemplando um arco temporal mais amplo, desde o período anterior até à atualidade.
O Museu do Aljube- Resistência e Liberdade, nos dias 6 e 7 de junho, acolheu o II Congresso de História Pública em Portugal: Usos do Passado nos 50 anos da Revolução dos Cravos. O evento contou com a participação da investigadora Diana Henriques que apresentou a comunicação intitulada: “O 25 de Abril no Alentejo rural. Memórias da participação das mulheres nas dinâmicas de transformação da sociedade”.
Em discussão estiveram temas como a transformação da sociedade portuguesa nos últimos 50 anos, as particularidades históricas do meio rural, a memória coletiva e a participação das comunidades, sob a ótima das mulheres.
A investigadora do CIDEHUS, Diana Henriques no passado dia 15 de maio de 2024, apresentou o projeto “Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural” na Escola D. João I, na Baixa da Banheira (Barreiro).
A participação contou com um diálogo com os alunos, seguido da apresentação de um vídeo com o tema “Ir à escola no feminino”, em que algumas entrevistadas abordam a sua experiência escolar.
No passado dia 21 de maio de 2024, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques apresentaram o projeto “Vozes plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural” na ASSP- Associação de Solidariedade Social dos Professores. No final, houve algum tempo dedicado a um debate, onde foi destacado o papel dos professores nas localidades com traços rurais mais vincados.
As investigadoras Manuela Oliveira e Diana Henriques participaram no passado dia 9 de maio, no Seminário “Mulheres com História e o 25 de Abril de 1974”. Na Universidade Autónoma de Lisboa debateu-se a memória coletiva associada às mulheres e, em particular, a comunicação apresentada no âmbito do projeto “Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural”.
O NEHEV- Núcleo de Estudantes de História, Arqueologia e Património Cultural da Universidade de Évora organizou o evento “Resistência e Liberdade 50 anos do 25 de Abril”. A investigadora Diana Henriques apresentou a comunicação intitulada “Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural”, com particular incidência sobre o 25 de Abril de 1974 e a experiência das mulheres entrevistadas no âmbito do projeto.
No passado dia 16 de Abril, as investigadoras Maria Ana Bernardo, Manuela Oliveira e Diana Henriques apresentaram o projeto “Vozes Plurais: mulheres em perspetiva. O 25 de Abril no Alentejo rural” na Escola André de Resende, em Évora. A participação desdobrou-se com um vídeo temático “Ir à escola no feminino. As diferenças entre a Ditadura e a Democracia”, onde se incluem testemunhos das mulheres entrevistadas cruzando a sua experiência pessoal, com as da sua comunidade.