O apanhador de desperdícios – Manoel de Barros

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Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.


O SEPECH – Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Humanas – chega a sua 15ª. edição em 2025 e propõe refletir sobre o tema “Ciências Humanas em tempos de cultura digital”. O evento foi criado em 1996, portanto, consolidado como espaço para divulgação, partilha e discussão das pesquisas e reflexões empreendidas por docentes e discentes de Graduação e Pós-Graduação dos cursos do Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina.

A cultura digital tem impactado nossas vidas das mais diversas formas, incluindo os modos de produção e circulação de conhecimentos, metodologias de pesquisa e ensino, as formas de comunicação e interação – inclusive entre humanos e máquinas. Os novos tempos trazem desafios e preocupações: Como lidar com o atordoante volume de informações que nos atravessa diariamente? Que posturas éticas são exigidas quando a inteligência artificial está pronta (está?) a entregar tantas repostas?  Quais os desafios para as Ciências Humanas diante de tantos excluídos digitais num país de dimensão continental? Como a era digital tem impacto as relações pessoais e sociais, incluindo nosso bem-estar e saúde mental? Essas são apenas algumas das questões que esperamos possam ser discutidas em palestras, mesas redondas e grupos de trabalho que compõem a programação do evento.

Diante de tantas possibilidades que o mundo digital nos apresenta, deixar os pássaros nos conduzir pode ser um alívio no horizonte de incertezas, ocupado por milhares de antenas de transmissão e satélites.  A liberdade dos pássaros pode nos guiar na tomada de decisões, especialmente as que podem nos libertar ou aprisionar nas gaiolas do tempo.