Provas brasileiras de que p

  • Alexandre Machado. Esta prova ficará mais fácil de entender se usarmos exemplos concretos e não pensarmos apenas abstratamente. Então, vejamos um exemplo concreto, q. Ora, q implica p. Logo, p.
  • Roberto Horácio. Suponhamos uma mulher frígida, Mary, que não sabe o que é p. Eu sei o que é p (hehe). Logo, p.
  • Oswaldo Porchat. Aparece-me que p. Logo, p, mas não sei que p.
  • Marilena Chauí. A odiosa classe média brasileira diz não-p. Logo, p.
  • Fernando Fleck. Há controvérsias sobre p. Mas não vamos querelar. Logo, p.
  • Flávio Williges. Eu me emociono pensando que p. Logo, p.
  • Valério Rohden. Kant disse que p. Logo, p.
  • Sílvia Altman. Na verdade, Kant disse que p*. Logo, p*.
  • Eros Carvalho. Em nossas interações erótico-ecológicas com a natureza, temos affordances de p. Logo, p.
  • José Eduardo Porcher. Delírios de que p são recorrentes em filósofos. Estatisticamente, se você está aqui, provavelmente delira que p. Logo, p (para você -- e eu).
  • Alexandre "Alcibíades" Teles. Eu votei em Raphel Zillig para o IX Prêmio ANPOF de filósofo mais bonito do Brasil. O meu único voto deu a ele 100% de aprovação, pois só eu votei. Não me arrependo. Ele envelheceu bem. Enfim, como eu ia dizendo, p.
  • Jorge Visintiger. O p para mim não é nada. Levanto 200 kg de p com um braço só. Fichinha.
  • Denis Rosenfield. Isso nos remete a p. Logo, p.
  • Paulo Faria. Como escreveu Wittgenstein, Moore viu o galo cantar mas não sabe onde. [Nota de rodapé 23: By the way, Frege é o João Batista da filosofia analítica, que só começou pra valer com Russell e Moore.] [... longo parágrafo, cortado aqui...] O extraordinário é que alguém ache que seja preciso uma prova de que p. Na verdade, isso apenas revela a vulnerabilidade e fragilidade de nossa condição cognitiva e humana. [Nota de rodapé 54, com dez referências bibliográficas e um poema de Ezra Pound que ninguém conhece ...] [... continua ...]
  • Wilson Mendonça. Se é possível provar que p? Há duas respostas para essa pergunta, a curta e a longa. A curta é "não". A longa é "É claro que não".
  • Jônadas Techio. No meu seminário de pós sobre o brostolamento de polenta na Universidade do Povoado de Migliavacca (UNIPOVACCA - Qualis A1), com maturação pós-doutoral de 12 anos em barris de Oxford e Chicago, eu provo que p sem dizer nada. O cinema mudo ajuda muito nesse sentido, pois os filmes mostram algo que a filosofia não consegue dizer. p é indizível, mas dá pra provar mostrando. Eu ao menos não vejo muito problema nisso. Quer dizer, se vocês acham que tem, tudo bem. Eu acho que não, mas sei lá, se vocês quiserem fazer diferente por mim tudo bem também...
  • João Carlos Brum Torres. A proposição p está ali no limite, na fronteira mesma do sentido, costeando o alambrado. Do lado de lá, já é Uruguai ou Argentina. Como se diz em inglês, "I bite the bullet", quer dizer, eu mato no peito. Eu mato o p no peito, não refugo p.
  • Róbson Ramos dos Reis. p somente é compreensível porque antes de compreender p, já se compreendeu o peiar de p, ou seja, o sentido de p é a diferença entre p e o peiar de que-p. O nada da di-ferença entre p e o peiar de p, o a-peiar de p (alfa privativo), é o fundamento sem fundo de que-p ou p. Sem o nada, não p nem que-p. Na nossa língua alemanoalegreteana, o nega-cear do apeiar de p é que torna p e que-p peossíveis (cf. Madrugadea, último dos Cadernos Negros, GA 100.01).
  • Gilson Olegario. A proposição p não é realista nem antirrealista, mas irênica. Eu também sou irênico. Na lógica não há moral! Eu provo p sintaticamente no framework da matemática, provo p empiricamente no framework da física, provo p no framework que vocês quiserem. Mas o que eu queria mesmo era ser um músico sem habilidade musical, como o Heidegger.
  • Tamires Dal Magro. Estou há 72h sem dormir, então talvez eu não consiga provar que p sem usar diagramas. Mas não tem problema, pois as provas diagramáticas são tão legítimas quanto as discursivas. Inclusive, posso provar isso também.
  • Don Eduardo Vicentini. Venho tentando provar que p desde meu primeiro casamento. (Parênteses para declamar um poema antropofágico.) Mas eu realmente acredito no casamento. Prova disso é que já estou no quinto.
  • Vítor da Filosofia. p é uma metafora da finitude humana. Mas é preciso carregar esse p todos os dias ao alto da montanha com um sorriso nos lábios, mesmo sabendo que durante a noite, enquanto dormimos, ele rola montanha abaixo.
  • Marco Zingano. O manuscrito Ab (Laur. 87.12) do livro Theta da Metafísica (ver também Gama, III, a12-b24) menciona duas apodeíxeis de pi. São cinco, na verdade, embora três sejam inanes, como resta evidente no manuscrito E (Paris. Gr. 1853), citado ironicamente por Andrônico de Rodes e corroborado pelo notável comentário de Antíoco de Ascalão. Um pequeno erro na interpretação focal da declinação de mýges foi corrigido por Alexandre de Afrodísias. É provável que essa seja a exegese correta de pi, no mais das vezes.
  • O Analítico de Bagé. Se o sujeito me chega aqui manso, eu provo que p no galpão. Mas se é meio intuicionista ou paraconsistente, eu o levo atrás do galpão e reduzo o p dele ao absurdo no más. Minha lógica é mais clássica que caixa de maizena.

Algumas celebridades opinam sobre p e ficam satisfeitas consigo mesmas:

  • Luciano Huck. Comi um p na Madero Burger e me fez bem.
  • Alexandre Frota. p é foda. pqp. Entendeu eu disse p.