Poética como oráculo de si


“A LITERATURA COMO ORÁCULO

O oráculo de Delfos funcionava da seguinte forma: fazia-se uma pergunta à sacerdotisa que, em transe mediúnico, respondia em versos, como um poema, como a Ilíada. Esses versos, como os poemas, não tinham um significado único – palavras ambíguas que se desdobravam em metáforas pouco óbvias, sendo necessário interpretá-las. Por isso, uma má interpretação poderia levar um rei à ruína. É interessante que, assim como Delfos, a maioria dos oráculos adotem sempre uma linguagem poética, nunca informativa (...). Um oráculo nunca diz só o que ele diz – ao contrário, ele sempre diz outra coisa.”


“A CONSTRUÇÃO DO ORÁCULO

Instruções: 1) Pense durante uma hora no que gostaria de perguntar; de preferencia dê um longo passeio a pé enquanto isso. Quando tiver certeza do que gostaria de saber, e se realmente gostaria de saber o que você acha que gostaria de saber, sente-se num lugar calmo, pegue papel e caneta e escreva e reescreva quantas vezes for necessário até chegar à pergunta exata. Adianto que o sucesso do oráculo está justamente aí, na pergunta. A arte de perguntar é muito antiga e complexa, exige longo treinamento, perseverança, mas não desista, com o tempo você vai percebendo que as perguntas vão ficando cada vez melhores, cada vez mais exatas. Quando elas se tornarem perfeitas você não precisará mais das respostas. 2) Com a pergunta em mente”, escolha uma das cartas do oráculo.

Carola Saavedra, O mundo desdobrável, com uma pequena alteração [em itálico]

ORÁCULO