Telepatia entre casais.
QUESTÃO DE PESQUISA
É possível ocorrer à comunicação extra-sensorial (telepatia) entre casais, no ambiente usual dos mesmos (estando um na residência familiar e o outro no ambiente de trabalho)?
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
A telepatia, bem como outras experiências anômalas não são compreendidas pelo atual conhecimento científico, no entanto são amplamente relatadas (50%) em populações de vários países (Targ, Schlitz & Irvin, 2000) e no Brasil o percentual de prevalência é maior (mais de 80%) (Zangari & Machado, 1997; Machado, 2009), assim investigar tais experiências pode, talvez, contribuir para a compreensão das mesmas.
Alguns métodos que foram utilizados para testar a telepatia em condições de laboratório, incluem a pesquisa com sonhos, na qual uma pessoa tenta influenciar “telepaticamente” (sob condições de isolamento sensorial) o conteúdo do sonho de outra, e a pesquisa com a técnica Ganzfeld, a qual utiliza a privação dos sentidos sensoriais como forma de facilitar a experiência extrassensorial Radin (2008) conduziu meta-análises das pesquisas destas duas técnicas, encontrando resultados altamente significativos para ambas
TELEPATIA ENTRE PESSOAS EMOCIONALMENTE PRÓXIMAS.
As coleções de estudo de caso sobre as EAs relacionadas à psi permitem o levantamento de características destes fenômenos. Dentre os estudos de levantamento de experiências psi mais contemporâneos, destaca-se a coleção de casos feita pela doutora L. E. Rhine, com mais de 10.000 relatos. Esta pesquisadora verificou que quando as EAs relacionadas à psi envolvem duas pessoas, como no caso da telepatia, comumente elas são emocionalmente próximas, o que foi confirmado por vários estudos posteriores (Targ, Schlitz & Irvin, 2000; Irvin, 2007). Este fato pode sugerir que o “laço emocional entre as pessoas é condutivo de comunicação extra-sensorial” (Irvin, 2007, p.35). O conteúdo destas experiências parece ter um significado pessoal para quem as vive, sendo que, freqüentemente, relaciona-se a uma pessoa com vínculos emocionais com aquela que tem a experiência, envolvendo situações de morte, crises pessoais, ou outros fatos importantes (Targ, Schlitz & Irvin, 2000).
Em seus estudos Michael Thalbourne (2001, p, 172, 174) Verificou que pessoas que estão em uma tensão emocional muito grande acompanhada de uma relação conturbada têm maior propensão a ter experiências psi. Pessoas em relações de conflito, envolvendo brigas, separação ou divorcio, parecem apresentar-se mais propensas a ter uma experiência paranormal. Aqui sugere que teremos um paralelo com aqueles estudos que mostram que traumas da vida estão relacionados a psi. Estas questões produzem um alto número de resultados. Por alguma razão que não se pode determinar, nestas investigações foram classificadas pessoas que vivem juntas como casais (não legalmente casadas) e que tinham uma relação conflitante como propensas a ter experiências PSI.
Em complemento existem poucos estudos que buscam levar condições experimentais para ambientes espontâneos, ou seja, verificar se fenômenos anômalos realmente ocorrem nestes ambientes, tal como sugerem os relatos das pessoas. Neste caso, o estudo pode ter implicações sociais importantes, visto que tais fenômenos podem estar integrados as relações afetivas das pessoas, em seu dia-a-dia, nos momentos comuns de sua vida.
Para os pesquisadores, o estudo também se justifica por razões pessoais, que são a busca de levar informação sobre estes fenômenos paras as pessoas e a sociedade em geral, e de verificar experimentalmente algumas vivencias pessoais.
Para os participantes, como o estudo implica em um tipo de testagem (com acertos e erros), os ensaios podem gerar alguma ansiedade, seja durante os testes ou na avaliação dos mesmos (retroalimentação). Os pesquisadores procuram, desde o primeiro contato, informar que o acerto não é o aspecto mais importante do estudo, sendo que tanto erros e acertos são esperados, o importante é o participante aproveitar a experiência para se conhecer um pouco melhor.
OBJETIVO GERAL
Verificar a possibilidade da ocorrência de PES (Percepção extrassensorial entre casais, no ambiente usual do dia-a-dia dos mesmos (estando um na residência familiar e o outro no ambiente de trabalho).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Aplicar um teste de telepatia em casais (localizados distantes um do outro e sob condições de isolamento sensorial entre eles) e avaliar os escores obtidos. Correlacionar dados da ficha de cadastro dos participantes com os escores do teste psi. Avaliar (auto-relato) dados de humor, motivação, clima no ambiente de trabalho-familiar, tempo de convívio e a satisfação conjugal, com os escores psi.
Ganzfeld
A história da pesquisa Ganzfeld
Os experimentos realizados no centro médico de Maimonides evidenciaram que o sonho é favorável a ocorrência da psi. Embora esses experimentos tenham obtido resultados excelentes, a sua replicação é muito difícil. Os sujeitos precisam dormir muitas noites no laboratório, um ambiente que lhes é estranho. Nem o pesquisador nem o emissor (no caso da pesquisa de telepatia) podem dormir durante as noites de experimentos e, além disso os equipamentos são muito caros (por ex. EEG), bem como os profissionais treinados para operá-los. (Eysenck, Sargent, 1993; Zangari, 1996)
Quando o programa de pesquisas em Maimonides estava terminando, concluiu-se que os requisitos de dinheiro e tempo eram grandes obstáculos e que se precisava desenvolver um estado que induzisse a PES tão favoravelmente quanto o sonhar, mas que fosse mais barato e rápido. (Eysenck, Sargent, 1993)
Charles Honorton (1946-1992) fez parte das pesquisas com sonhos de Maimonides e posteriormente trabalhou em Princeton e em Endimburgo. (Eysenck, Sargent, 1993) Honorton achava que a direção tomada pelas pesquisas – explorando os EAC - estava correta. (Zangari, 1996) Seu enfoque baseava-se na análise de estudos de casos espontâneos; no estudo de textos antigos, como os Sutras de Patanjali e nos escritos de médiuns e psíquicos, entre outros. A partir desses estudos ele encontrou algumas condições comuns, favoráveis ao aparecimento da psi: a. relaxamento e vazio mental, b. aquietamento dos sentidos sensoriais, c. atitude mental de introversão. Com base nesses e outros estudos, e inspirado na pesquisa com sonhos, Honorton passou a utilizar em suas pesquisas uma técnica de privação sensorial conhecida por Ganzfeld. (Eysenck, Sargent, 1993) Ganzfeld é uma palavra alemã que significa campo completo ou campo homogêneo. Essa técnica tem sua origem na psicologia da Gestalt, na década de 50. Lewis, Witkin e Bertini utilizaram-na para pesquisar a relação dos estímulos visuais e auditivos com a criação de imagens mentais. (Zangari, 1996; BARRIONUEVO, 1994) Na técnica original os sujeitos eram imersos em tanques de água com a temperatura igual a do seus corpos, além disso o ambiente no qual permaneciam era totalmente escuro e silencioso. (Eysenck, Sargent, 1993)
No Ganzfeld clássico utiliza-se um emissor e um receptor, que ficam em salas diferentes, separadas por uma certa distância para reduzir-se a possibilidade de alguma comunicação sensorial.
Quando eles chegam no laboratório, devem ser recebidos calorosamente. É importantíssimo criar uma boa relação com os participantes, principalmente porque a técnica Ganzfeld induz o receptor a uma situação muito exposta e vulnerável. Por isso é muito importante que se sintam seguros e psicologicamente confortáveis. Deve-se também explicar-lhes todo o processo e mostrar-lhes todas as salas que serão utilizadas.
A sala onde se conversará com os participantes deve ser agradável porém sem quadros ou imagens nas paredes. Ao explicar-se sobre o experimento não se deve sugerir nenhum possível alvo a ser transmitido ou recebido, porque o participante tentará se adequar as expectativas do experimentador.
Após as explicações e as visitas a todos os locais, começa a preparação do receptor, sendo que esta deve ser auxiliada pelo emissor. (Dalton, 1997)
Num ambiente muito tranqüilo e sem nenhuma ameaça, o receptor é solicitado a sentar numa poltrona confortável ou deitar numa maca ou colchão, e relaxar. Esse procedimento reduz a estimulação cinestésica, física. Coloca-se nele então, o microfone de lapela, os fones de ouvido e usa-se uma fita de relaxamento que induz a um relaxamento físico (relaxamento progressivo de Jacobson) e mental profundo. O relaxamento visa eliminar o ruído interno.
Esta fita, que dura cerca de 15 minutos, também sugere ao sujeito, que focalize ou imagine gentilmente a informação alvo. Solicita que assuma uma postura de passividade em relação ao teste. Ele não deve fazer nenhum esforço pois o esforço bloqueia a psi. Deve passiva e gentilmente focalizar-se sobre o alvo, mas não deve fazer esforço.
Ao final dessa fita coloca-se um ruído branco (ruído que tem todas as freqüências mas não segue padrões) que tem a duração de 30 minutos. Esse ruído tem duplo objetivo, produz um isolamento dos sons externos e oferece um estímulo auditivo que por uma habituação acaba não mais sendo percebido, fazendo com que a atenção volte-se para os processo internos. O cérebro está preparado para perceber as mudanças dos estímulos, se não ocorrerem mudanças ele acaba por não prestar atenção e focaliza-se noutro lugar, os acontecimentos internos.
Além disso coloca-se sobre os olhos do sujeito metades de bolas de ping pong, que podem ser recobertas nas bordas por algodão e devem ser fixadas por um esparadrapo poroso. Os seus olhos devem permanecer abertos durante todo o experimento.
Após colocar-se as bolas de ping pong, liga-se uma lâmpada vermelha que deve ser focalizada sobre elas. O material das bolinhas deve ser translúcido o suficiente para que a luz vermelha ao incidir sobre elas se difunda uniformemente criando uma luminosidade morna e brumosa que em
pouco tempo fica uniforme, homegênea. A luz vermelha estimula os cones e os bastonetes dos olhos, que enviam mensagens ao cérebro de que se está olhando para alguma coisa, embora que só o que se pode ver é um campo uniforme. Isso faz com que a mente crie imagens mentais para suplementar esse estímulo. (Dalton, 1997; Eysenck, Sargent, 1993)
Após o preparo do receptor, fecha-se a porta da sua sala e o emissor segue para a sala dele. Neste momento deve-se testar e acertar a altura do sistema de comunicação. O pesquisador deve poder ouvir num fone de ouvidos o que o receptor fala, e este também deve poder ouvi-lo no seu fone de ouvidos. Já o emissor também ouvirá o receptor num fone de ouvidos. A fita de relaxamento é escutada por todos, receptor, emissor e pesquisador. O ruído branco é escutado somente pelo receptor. py5jra
Durante os 30 minutos o emissor estará tentando transmitir um alvo (uma fotografia ou imagem impressa ou um vídeo clip – com cerca de 1 minuto) para o receptor, que estará ouvindo o ruído branco e descrevendo em voz alta as suas impressões, pensamentos, imagens mentais, etc. Ao ouvir o que o receptor está falando o emissor fica sabendo se está conseguindo transmitir o alvo com sucesso ou não. Com essa retroalimentação ele pode aperfeiçoar a sua técnica de transmissão. Estimula-se que quando o receptor relatar corretamente o que está sendo transmitido, o emissor reforce positivamente a nível mental esse acerto. Já o pesquisador, ao ouvir o receptor, anota o seus relatos.
No final desses 30 minutos o pesquisador volta a contatar verbalmente com o receptor (utiliza-se de um microfone que está conectado com o fone de ouvidos do receptor) para revisar tudo o que foi dito e anotado. Isso tem dupla função, confirmar se as anotações estão corretas e lembrar o receptor do que ele disse.
Depois dessa revisão o pesquisador pede ao receptor que retire as bolinhas de ping pong dos olhos e entra na sala com uma bandeja que já contém os 4 alvos abertos e visíveis (fotografias ou imagens) para serem julgados pelo sujeito, sendo que somente um deles foi transmitido pelo emissor. O sujeito deve ordená-los preferencialmente, de acordo com o grau de semelhança com as suas percepções, preencher e assinar uma ficha específica para essa avaliação. Esse processo deve ser orientado pelo pesquisador. No caso de experimentos automatizados e que tenham vídeos clips como alvo, essa avaliação se dá de forma diferente. O pesquisador apenas comunica ao receptor que siga para uma outra sala, na qual ele assistirá sozinho os 4 clips e fará sua avaliação. Em ambos os casos o emissor continua a ouvir o receptor e a torcer até o último momento para que o mesmo faça a escolha certa.
Terminada a avaliação o receptor chama o emissor pelo microfone e o alvo é revelado. Após a revelação do alvo o receptor e o emissor terão muito o que conversar. Esse é um momento importante para acomodar racionalmente os fatos, tanto no caso de acerto como, e principalmente, no caso de erro. (Dalton, 1997). py5jra
Bibliografia
BARRIONUEVO, Vera L. O. C. Seguindo os passos de Charles Honorton: Uma apostila sobre os experimentos Ganzfeld. Curitiba : Ed. própria, 1994. Apostila.
BEM, Daryl J. Bem. O experimento Ganzfeld. In: Journal of Parapsychology, n. 57/2, p. 101, jun. 1993. Tradução de Vera Lúcia O. C. Barrionuevo.
DALTON, Kathy. Os experimentos Ganzfeld. Palestra proferida na FACBIO, Curitiba, 14 out. 1997.
EYSENCK, Hans J.; SARGENT, Carl. Explicando lo inexplicado. Barcelona : Editorial Debate, 1993.
ZANGARI, Welligton. A psicologia do Ganzfeld. In: PRIMER ENCUENTRO IBEROAMERICANO DE PARAPSICOLOGIA, (1.: 1996 : Buenos Aires.) Atas. Buenos Aires : Alejandro Parra - Instituto de Psicologia Paranormal,1996.